Com lojas físicas abertas, vendas do varejo reagem em maio

Com a reabertura do comércio, as lojas voltaram a ocupar espaço nas vendas, e tiveram peso relevante na aceleração da demanda em maio sobre abril em bens duráveis e vestuário. Os primeiros números sobre esse movimento mostram uma curva em suave alta nas lojas de rua e mais acelerada nos shoppings nas últimas semanas, segundo relatório elaborado pela Cielo para a Abrasce, associação dos shoppings, obtido pelo Valor.

O levantamento considera a venda em determinada semana versus a mesma semana do mês anterior – ou seja, não é feita em cima da base fraca de 2020, que naturalmente “turbinaria” os números deste ano. Redes e associações ouvidas ponderam, no entanto, que o reaquecimento ocorre de forma desigual, concentrado em grandes cadeias, e ainda ser muito sensível às variáveis de aumento de vacinação e melhora na renda do consumidor.

Paralelo a isso, há aumento da compra parcelada e no número de parcelas oferecidas ao cliente, nas redes com caixa para isso, na tentativa de ajudar a compra a caber no bolso do consumidor. O on-line continua crescendo no semestre, mas aos poucos vem perdendo fatia no bolo total, segundo números recentes da empresa de pesquisas e consultoria GfK.

Os dados da Cielo mostram uma aceleração no varejo geral a partir da primeira semana de abril (quando as lojas foram reabrindo), e isso ocorre de forma contínua até o Dia das Mães. A data, inclusive, está acima do patamar de venda do Natal e da segunda semana de fevereiro, antes da última onda da covid. Após o Dia das Mães, há queda, como historicamente ocorre todos os anos.
A antecipação da primeira e segunda parcelas do 13º salário dos aposentados, no total de R$ 53 bilhões, como informado pelo governo dias atrás, pode acelerar essa recuperação, dizem as lojas. Os recursos devem ser pagos de maio a julho. “A venda está indo bem, no mês de maio a receita cresceu 32% sobre abril. Mas temos ouvido da indústria que isso ainda não se espalhou a todo o mercado, mesmo com a reabertura das lojas. A chegada das parcelas do INSS pode ajudar também cadeias menores mais afetadas pela crise”, diz José Guimarães, CEO da varejista de produtos eletrônicos Novo Mundo, com 150 lojas.
Segundo o comando da GfK Brasil, que recebe dados de vendas semanais de grandes redes, de forma positiva, pesam nesses números o maior volume de lojas abertas, com período de funcionamento mais estável, e o afrouxamento da demanda reprimida dos consumidores que pouparam na pandemia. “Apesar da alta no desemprego em 2020, aqueles que se mantiveram no mercado de trabalho, e estavam segurando os gastos por conta da crise, estão retomando a confiança”, diz Felipe Mendes, diretor da GfK Brasil.
“Obviamente é algo gradual, mas que acaba se traduzindo em venda com o aumento na circulação de pessoas”, afirma. “Foi um Dia das Mães forte, e um maio melhor para itens de volta às aulas e celulares, por exemplo. As lojas vêm aumentando o peso na venda. Essa relação está em 50% das vendas pelo digital e 50% pela lojas, e era 65% e 35%, respectivamente, no fim de 2020”. Ele diz que os valores vendidos pelo on-line continuam altos, e se não houver novo fechamento de lojas, o peso do digital no bolo total deve cair neste ano.
Segundo a Abrasce, a associação nacional dos shoppings, a retomada está diretamente relacionada à abertura das lojas, mas ainda é “muito volátil”.
“Quem tem ido aos shoppings vai para comprar, é um fluxo direcionado. Só que temos aspectos ‘macro’, como renda ainda muito pressionada, o risco de uma nova onda com a cepa de vírus vindo de outros países, e a possibilidade maior de uma terceira onda de fechamentos de shoppings que nos preocupa muito”, disse Glauco Humai, presidente da Abrasce.
Segundo ele, até o Dia das Mães, apesar de 52% dos empreendimentos estarem operando com menos de doze horas ao dia, 100% estavam abertos, o que ajudou diretamente nas vendas. Porém, nos últimos dias, em algumas cidades do país, o comércio voltou a fechar totalmente afetando os empreendimentos. “Pode ser um início de terceira onda de fechamentos, vamos acompanhar de perto porque mesmo com o avanço do digital, a retomada depende de as lojas estarem em funcionamento”.
No varejo de moda, Marisa e Pernambucanas operavam até a semana passada com 100% dos pontos abertos, e têm registrado alta nas vendas sobre anos anteriores.
Na Pernambucanas, no Dia das Mães, a venda de itens para o lar cresceram 45% e os de vestuário, 38% sobre o mesmo período de 2019 (em lojas com mais de um ano de operação). A venda on-line avançou 517% e 113%, respectivamente, sobre 2019, quando a base do digital era menor.
Após a reabertura das lojas, os itens para o lar cresceram 43,2% e vestuário 32,4% sobre 2019, com manutenção das taxas no digital num patamar semelhante.
A Marisa teve o melhor Dia das Mães desde 2016, em relação a taxa de crescimento de ano contra ano. Houve melhora também na venda sobre 2019, algo que começou a ser verificado já em março no Norte e Nordeste, que neste ano reabriram as lojas antes que o Sul e Sudeste. A rede, de capital aberto, não antecipa números.
“Nessas regiões as vendas já estavam muito boas em março sobre 2019, e ali vimos que talvez a retomada viria mais forte do que planejávamos”, afirmou o CEO da Marisa, Marcelo Pimentel. “Depois disso, reabrimos em São Paulo após abril, e temos registrado expansão de dois dígitos sólidos. Vimos que isso foi se espalhando a outras praças do país”.
Na avaliação de Pimentel, é algo que reflete um provável aumento na concentração de mercado em moda, após lojas de pequeno porte terem fechado as portas (o saldo negativo ficou em 23 mil encerramentos no ano passado), e a existência de uma demanda reprimida, especialmente em coleções infantis e voltadas à rotina dos escritórios.

Fonte : iponews.com.br

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