Operação contra entregadores falsos afeta entregas e gera caos no delivery

Na última semana o advogado Antônio Carlos Silveira esperou mais de duas horas pela pizza que pediu em um aplicativo de entregas. Quando entrou em contato com o entregador, entendeu a razão: o trabalhador havia sido parado em uma das ações da Polícia Militar para coibir crimes de falsos entregadores. Apesar dos contratempos, entregas atrasadas e até mesmo canceladas, as plataformas e os profissionais apoiam o trabalho da polícia, mas os clientes seguem protestando por atrasos no delivery.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, as polícias do Estado de São Paulo mantêm diálogo com os trabalhadores e com as empresas de aplicativo e estudam, de forma integrada, novas medidas para garantir a segurança dos entregadores e da população em geral. Desde o começo de maio, têm sido realizadas diversas ações para coibir bandidos que realizam crimes se passando por entregadores. Como resultado, cerca 73,6 mil motocicletas foram vistoriadas e 3,6 mil recuperadas após terem sido roubadas ou furtadas. A grande questão é que o trabalho, por mais que tenha um bom resultado, afeta o cotidiano da população.

Edgar Francisco da Silva, conhecido como “Gringo” e presidente da AMABR – Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil, explica que a categoria acha necessário ter mais segurança na rua, mas enxerga formas mais eficientes de resolver o problema. “Parar todos os motofretistas na rua pode dar um resultado momentâneo, mas não resolve a situação. Primeiro, porque o bandido pode passar a arma para um parceiro de carro no momento da abordagem, segundo, porque quando as ações pararem, eles podem voltar a atuar”, pondera Gringo.

A solução, para a AMABR, é encontrar alternativas que diferenciem o motofretista (entregador) de um motociclista comum e, assim, dificultar que bandidos se passem por trabalhadores.  A proposta é que a atividade dos entregadores de aplicativo também seja regulamentada pela Lei municipal de motofretistas, 14.491.  “Se a Lei for aplicada, os entregadores terão que participar de um curso profissionalizante de 30 horas e utilizar os acessórios de segurança exigidos, como protetor de perna, colete refletivo, aplique refletivo na moto, além de um baú e placa vermelha.

Fica mais fácil identificar um profissional à distância, dificultando a ação do bandido que se passa por entregador”, informa o presidente da associação. Segundo Gringo, para se regularizar, existe um custo médio de R$ 900 e um prazo de três meses. “Mas esse custo não deve ser cobrado do trabalhador, e sim das plataformas. Além disso, a ideia é que exista um calendário de regularização, já que 90% dos entregadores de São Paulo, hoje, não estão dentro das normas.”

iFood e Rappi aprovam ações da polícia. As plataformas não comentam os contratempos gerados pelos atrasos nas entregas, mas aprovam as ações policiais. O iFood afirma que tem acompanhado de perto os casos de criminosos que tentam se passar por entregadores para cometerem crimes, e tem trabalhado e colaborado com o Poder Público e com as autoridades policiais para criar soluções tecnológicas para enfrentar esse desafio. “No paralelo, também estamos realizando comunicações de valorização do entregador de verdade que está na rua gerando renda para o seu sustento.

São iniciativas essenciais para preservar a imagem e o trabalho honesto de milhares de entregadores que atuam com a plataforma, bem como garantir a segurança de clientes, parceiros e da sociedade em geral”, afirmou, por meio de nota. Por outro lado, a empresa alega que não concorda com soluções “analógicas” (sic), como a troca de mochilas por baús, como sugere a AMABR. “Essa proposta visa criar mais uma reserva de mercado e interessa apenas a um pequeno grupo em detrimento da autonomia e flexibilidade de atuação de muitos.

Hoje, apenas na cidade de São Paulo, por exemplo, se todos os entregadores tivessem que colocar placa vermelha, baú de carga e obter Condumoto, a capacidade instalada do município demandaria em torno de 16 anos para essa transição, sem qualquer comprovação de eficácia sobre a melhoria na segurança pública.”

O Rappi diz que condena os criminosos que se passam por entregadores para cometer delitos. “A empresa vem se reunindo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo para cooperar na busca por soluções desse grave problema de segurança pública. A empresa considera inadmissível que os profissionais independentes de entrega estejam sendo prejudicados por criminosos, e está constantemente desenvolvendo medidas para assegurar a atuação dos entregadores em todas as cidades do país em que atua.”

Fonte : https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2022/06/06/operacao-contra-entregadores-falsos-da-resultado-mas-gera-caos-no-delivery.htm

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