A caixa de surpresas do AliExpress para o Brasil

Empresa chinesa é sinônimo de e-commerce entre produtores, intermediários e consumidor final e (quase) em silêncio já tem por aqui seu quinto maior mercado.

Para entender o que o AliExpress quer do Brasil no futuro próximo é preciso olhar para a China do passado recente. Em 1999, ano em que foi fundado o Alibaba – grupo sob o qual está esse gigante do e-commerce –, o PIB chinês havia acabado de passar a casa do trilhão de dólares e 224 milhões de pessoas no país viviam com menos de US$ 1 por dia, de acordo com o Banco Mundial. Dava 18% da população. Pequim decidiu acelerar essa redução com um mantra que para muitos liberais do Ocidente até hoje ainda não foi percebido: se na revolução industrial foi preciso ter legiões de operários, na era digital é preciso ter de consumidores. Assim, eliminar a pobreza foi uma decisão econômica de Estado. Jack Ma, o bilionário criador do conglomerado Alibaba, percebeu. E intuiu que o varejo global se resumiria a uma palavra: conexão. Foi o que fez. Conectou empresas com empresas (B2B), empresas com pessoas (B2C), pessoas com pessoas (C2C). Uma das soluções é o AliExpress. “A gente conseguiu presença mundial em duas centenas de países. O Brasil é um dos cinco maiores”, afirmou à DINHEIRO Yan Di, o country manager no País. Nesta entrevista, o executivo de 41 anos casado com uma brasileira de ascendência italiana, fala sobre as cinco armas que o gigante do e-commerce preparou.

“Antes de falar em experiência do usuário é preciso conhecê-lo. Saber a dor dele” Yan Di, Country Manager

ARMA 1 EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO: PREÇO
Yan Di afirma que antes de oferecer qualquer experiência ao usuário, é preciso “saber qual a dor dele.” Para tanto, é necessário entender o comportamento do usuário. Foi o que fez. Formado em literatura, Di, que nasceu em uma família ligada ao mundo das artes – o pai é pintor e a mãe atua no comércio de instrumentos musicais –, se mudou para o Brasil há 20 anos para trabalhar na Huawei. Como diz, passou por todas as áreas. Supervisionou redes de infraestrutura de telecomunicação, foi gerente administrativo, de RH e do marketing. Foram 11 anos na empresa. E isso o obrigou a rodar por todo o Brasil e a América Latina. É dessa experiência que ele fala. “Viramos xodó do brasileiro, 90% do público em geral conhece a nossa marca”, disse. “Porque a gente é campeão mundial absoluto de preço. E 54% dos brasileiros, no momento de fazer compra on-line, consideram preço o fator decisivo.” Como grande hub de conexão entre produtores e a ponta final, uma arma potente nessa guerra é o fato de a plataforma ter 8,7 milhões de vendedores chineses. “A maioria fabricante, oferecendo o preço de fábrica.” Yan Di afirma que não é segredo que muita gente compra no Ali Express para revender em outros marketplaces.

ARMA 2 LOGÍSTICA
AliExpress é por definição um ambiente cross border – de compras e envios transnacionais. O problema para o brasileiro é que a China fica literalmente do outro lado do mundo. E se preço é o primeiro apelo na compra, receber num prazo razoável é o segundo. No site ReclameAqui, a marca fica para trás de Amazon, Americanas, Magazine Luiza e Mercado Pago nas avaliações. Boa parte das queixas recentes está relacionada a entregas. Esse nó a empresa atua para contornar. Para a chegada dos itens, o AliExpress passou a realizar quatro voos semanais para o Brasil e já garante entregas em São Paulo num prazo de até 12 dias. “Hoje, se você despacha um produto do Paraná para o Amazonas leva mais de 12 dias”, afirmou Di. A estratégia inclui ainda uma equipe de atendimento que fala em português. Foi mudada inclusive a política de devolução. “Se por qualquer motivo você não gostou do que comprou, pode trocar em ambiente nacional, não precisa devolver para a China. É a satisfação total para o consumidor.”

ARMA 3 EXPERIÊNCIA CHINESA
O e-commerce no Brasil, que explodiu na pandemia, foi pouco superior no ano passado a US$ 15 bilhões. Na China, é de US$ 1 trilhão – 65 vezes mais. “A China é o primeiro país do mundo em que o e-commerce chegou a 50% do varejo total”, afirmou Yan Di. O executivo visita seu país natal de três a quatro vezes por ano. “Não dá para não voltar para a China por muito tempo. Você acaba desatualizado.” Beber na fonte da principal e maior fronteira do e-commerce global é uma vantagem competitiva que seus concorrentes terão como barreira. É uma Curva de Aprendizagem orgânica para o AliExpress. Isso significa inclusive tendências de marketing, e não apenas de experiências dos usuários nas plataformas. O live commerce, por exemplo. “Foi uma grande inovação da China e quem inventou foi o grupo Alibaba”, disse. “Já responde por 10% do e-commerce chinês inteiro e neste ano deve dobrar.” Yan Di destaca que o live commerce é um modelo mais inclusivo de vender porque basta ter um celular e sair fazendo um vídeo oferecendo seu produto ou serviço. “Isso é extremamente útil no momento de dificuldade econômica.”

ARMA 4 SOLUÇÕES FINANCEIRAS
Antes de assumir o cargo principal do AliExpress no Brasil, em abril em 2020, Yan Di foi por um ano o country manager do Ant, braço financeiro do Alibaba Group no País. A atuação é ainda tímida. De reconhecimento do mercado brasileiro. Enquanto esteve à frente da operação, o Ant trabalhou no levantamento de dados e informações. Por ora, o modelo aqui se baseia principalmente no serviço de conta digital. Ainda não chegou a um nível universalizado de uso como na China. Mas a entrada full virá. “Vai ser uma peça importante para a família AliExpress porque facilitará o pagamento. Mas estamos abraçando esse ecossistema gradualmente.” O primeiro passo foi de desembarque e reconhecimento de terreno. Outro será de apoio a operações da plataforma. Um terceiro mais atuante no sistema. Uma clássica abordagem chinesa.

ARMA 5 SEDUÇÃO
Uma sedução comercial, é claro. Mas hoje o brasileiro se comporta apenas como um consumidor. Seu papel no AliExpress é o de quem compra. Uma arma infalível será inundar o marketplace com quem vende. Como já fazem russos e turcos, acessando mercados globais – e principalmente o mercado chinês – com seus produtos. Uma via de mão dupla. “A China não é apenas o maior parceiro comercial do Brasil por alguns anos consecutivos, deve ser também uma grande fonte de inspiração tecnológica”, afirmou Di. “É uma questão de tempo até a gente abrir a nossa porta para os brasileiros venderem para o resto do mundo.” Xi Jinping, Jack Ma e Yan Di conjugam um mesmo norte. O de que ser o maior país do mundo exigiria o óbvio: ser o maior comerciante do mundo. É por esse motivo que o AliExpress olha o Brasil com atenção.

Yan Di, country manager da operação AliExpress no Brasil, vive no País há 20 anos, é casado com brasileira e diz amar Florianópolis e Rio de Janeiro. Mas é acima de tudo um propagador da China moderna e das mudanças pelas quais passa sua terra natal. Seu perfil no LinkedIn é um espaço de publicidade dessa Nova China. Aqui, ele cita quatro destinos imperdíveis para quem quer visitar o oriente e, segundo ele, “voltar transformado”

Fonte : istoedinheiro.com.br

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