A visão estratégica da Amazon, uma empresa que gosta de propor o futuro

A multifacetada gigante organiza evento em sua cidade-sede, Seattle, em que apresenta seu horizonte de inovação.

Estamos em Seattle, cidade no noroeste dos Estados Unidos, famosa por seu clima inglório, úmido e sempre nublado e também por ser o berço do grunge e de Jimi Hendrix, guitarrista que, como um meteoro, reinventou a história do instrumento na segunda metade dos anos 1960.

Seattle também é conhecida por ser a sede de um punhado de empresas que escreveram histórias ambiciosas do empreendedorismo americano: UPS, de logística; Boeing, de aviação; Microsoft, que ditou as diretrizes da primeira onda de computação pessoal e hoje é uma das protagonistas nas soluções de produtividade; Starbucks, que redefiniu os princípios da interação das pessoas com o café (e aqui, sem juízo de valor); e, claro, a Amazon, a gigante de e-commerce, tecnologia e serviços, que revolucionou nossa relação com o comprar, escrevendo algumas das linhas mais inovadoras e polêmicas do e-commerce desde 1995.

E é justamente em sua sede, nos ambientes chamados “The Spheres”, que a Amazon recebe jornalistas do mundo todo em uma iniciativa denominada #DeliveringtheFuture. Um evento exclusivo, com foco na demonstração e apresentação de inovações que aterrissam a visão de futuro da própria empresa.

Sphere visão de futuro amazon seattle

The Spheres, ambiente de trabalho e reunião da Amazon em sua sede em Seattle

Amazon abraça a sustentabilidade com inovação
É sempre importante buscarmos entender as motivações e objetivos de uma empresa dominante como a Amazon, que modificou a paisagem competitiva nos mercados em que atua. Nos EUA, a Amazon é vista como temor e com admiração. Sua rede de negócios se estende do e-marketplace para exportação, saúde, tecnologia, Inteligência Artificial, Smart Home, logística, retail media e muito mais. A empresa emprega e movimenta um ecossistema trilionário e, ao mesmo tempo, desconstrói negócios tradicionais. Conhecer sua visão de futuro é necessário, urgente e uma fonte de conhecimento relevante para compor estratégias dos mais diversos tipos de negócios.

No ambiente das “Spheres”, com sua ecologia particular, que combina uma notável presença de vegetação nativa de 50 países, a abertura oficial do evento trouxe um painel com Kara Hurst, vice-presidente global de Sustentabilidade, Udit Madan, vice-presidente de Transporte, apresentado por Hope King, senior business reporter na Axios, sobre como as inovações da Amazon ajudam consumidores e comunidades, além do meio-ambiente.

Tudo indica que a Amazon quer reforçar uma imagem de preocupação com sustentabilidade. Kara Hurst é a responsável por criar as experiências mais sustentáveis para os consumidores, e o processo de descarbonização das atividades da empresa. Considerando a complexidade logística dos negócios da companhia e seu nível de interdependência, estamos diante de um conjunto de aprendizados que trará consequências para muitos negócios e empresas no mundo todo. Mas será que isso será percebido pelos consumidores? Em países de renda média como o Brasil, sustentabilidade é um valor percebido. Mas será que é tangível?

Entregas com carbono zero
Kara Hurst e Udit Madan elencaram diversas ações que evocam sustentabilidade de uma forma que realmente afeta positivamente a vida das pessoas. Basicamente, a logística orientada a carbono zero, como o uso de bicicletas elétricas com carrinhos acoplados, que permitem uma distribuição inteligente e sem emissões de poluentes, em uma escala bem apropriada para grandes cidades.

Udit Madan destacou o desenvolvimento dos veículos elétricos, incluindo uma van de entregas totalmente elétrica e repleta de sensores, para tornar o trabalho de delivery mais confortável para os colaboradores, e que inclui toda uma infraestrutura de apoio implantada, com 12 mil veículos e carregadores distribuídos em 100 postos de serviço nos Estados Unidos.

Durante a pandemia, a Amazon “plugou” mais de 450 empresas em seu ecossistema para buscar inovações. Uma das atividades das quais a empresa mais se orgulha é a Climate Pledge Arena, a primeira arena completamente sustentável do mundo. Ela coleta água da chuva para gerar o gelo da quadra de hockey onde o time do Seattle Krakens tem o mando de seus jogos na liga americana, a NHL. Todas as refeições distribuídas são entregues com materiais de apoio sem emissões e frutos de um conceito de economia. circular completo (Consumidor Moderno irá à arena para constata cada detalhe).

E quanto às inovações que vão ao encontro das expectativas dos consumidores? Kara Hurst entende que os clientes estão buscando essas opções de forma proativa. Essa postura motiva muito um trabalho coletivo com os cientistas de dados da empresa e depois em um programa analisando quais podem ser as certificações mais qualificadas e quais são os padrões mais altos em termos de produtos associados a bem-estar, saúde e sustentabilidade. A empresa inicialmente mapeou 20 produtos e agora já tem mais de 800 itens de alta qualidade e padrões que encontram afinidade com consumidores variados.

A cultura Amazon como fator de potencial competitivo
Um dos aprendizados mais valiosos da cultura da Amazon, e que realmente merece atenção de empresas que buscam criar uma cultura de inovação – e de proteção contra o poder imenso da empresa – é realmente entender o que caracteriza os pedidos dos clientes e o que funciona bem na maneira de trabalhar: estamos diante de uma companhia e de uma organização que abomina trabalhar em silos, mas prioriza o trabalho entre equipes, sejam as pessoas que gerenciam a loja aos esquemas de dados de experiência da loja.

Segundo Kara Hurst, “a equipe de operações pode fazer isso como uma espécie de programa e lançar uma inovação numa segunda-feira, após uma demanda ser detectada, e então compreender quais os prazos mais convenientes para cada tipo de consumidor: escolher um ou dois dias por semana ou o fim de semana para fazer as entregas mais rapidamente. e tudo isso levando em consideração quais comunidades desejam uma entrega em um dia específico”.

A Amazon tem condições de saber melhor e mais rapidamente do que governos quais são os gargalos logísticos, as carências e as deficiências de planejamento urbano


As Spheres reúnem mais de 40 mil plantas no QG da Amazon

Em resumo, a visão de futuro da Amazon é claramente direcionada pela massa de dados exponencial coletada dia após dia de consumidores do mundo todo. A empresa tem condições de saber melhor e mais rapidamente do que governos quais são os gargalos logísticos, as carências e as deficiências de planejamento urbano que impedem a adoção mais rápida do modal elétrico, por exemplo.

A Amazon consegue identificar e prever o que é relevante para o consumidor em termos de eficiência energética, alimentação saudável e boa qualidade de serviço de saúde. Consegue mapear movimentos de mudança de comportamento prever tendências de demanda, além de apontar qual atitude sustentável ganhará mais tração proximamente.

A vice-presidente global de Sustentabilidade destaca que a cultura da empresa é uma virtude excepcional. “Considero que o mais legal desse trabalho é também assumir um desafio de aprendizado constante, um exercício de curiosidade intelectual permanente que move as pessoas rumo à busca de soluções, e isso inclui melhorar o planeta e a novos padrões de desenvolvimento”.

A questão a ser enfrentada é: até que ponto não queremos um planeta mais limpo, que faça produtos melhores e que trabalhe de um modo mais inteligente e menos agressivo? Evidente que essas questões são importantíssimas, mas esbarram nas crenças e necessidades de mercados menos maduros. Novamente, considerando um Brasil onde há mais urgência por produtos básicos, por conforto material essencial, a ideia geral de inovação só se sustenta se atender a esses requisitos.

A Amazon mostra estar se movendo no sentido de ser uma empresa mais “limpa” e consciente, mais sintonizada com valores mais universais de qualidade e respeito ao planeta, mas enfrenta os desafios de seu próprio gigantismo e de sua penetração em mercados francamente heterogêneos e complexos.

Cabe refletir até que ponto esse investimento em sustentabilidade não se opõe, ou se complementa, com forças reguladoras que consideram a influência da empresa excessiva? Veremos muitos desdobramentos dessa visão no futuro próximo, porque a Amazon tem capacidades e habilidades únicas de movimentar um ecossistema e potencializar a atitude competitiva de concorrentes nos diferentes mercados em que atua. Novas fronteiras de negócio serão ultrapassadas na busca pelo interesse pelo engajamento do consumidor. A ele cabe o veredicto sobre o acerto das estratégias e das ações. Em última análise, ele está dando aval para que a Amazon invista nessas iniciativas.

* Jacques Meir é diretor de Conhecimento do Grupo Padrão e viajou a Seattle à convite da Amazon
‘https://consumidormoderno.com.br/2023/10/17/visao-de-futuro-amazon/?utm_campaign=cm_news_181023&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

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