Já algumas empresas tentam apostar num novo sistema de entregas de última milha: a distribuição múltipla. Neste sistema, um veículo de maior dimensão leva grandes quantidades de encomendas para chegar o mais longe possível dentro das cidades, passando de seguida a uma entrega mais direcionada, com veículos de menor dimensão como bicicletas.
A utilização do Big Data para melhorar este método de distribuição pode facilitar as entregas de última milha, e Matthias Winkenbach, director do Laboratório de Logística de Mega-cidades do MIT, explica ao Observatório das Empresas que conseguem ajudar a desenhar esses sistemas através de métodos quantitativos, “para perceber onde colocar os volumes, que bicicletas e quantas utilizar, como as distribuir, que percursos devem fazer”.
Existe, no entanto, um grande desafio pela frente, e Matthias aponta dois motivos para isso acontecer, a urbanização, devido à ascensão das mega-cidades, e o comércio electrónico.
“Quando as cidades atingem os limites físicos da sua expansão geográfica têm de começar a aumentar a densidade populacional”, explica o responsável. “É essa densidade que torna o transporte mais complexo. Cria congestões e incerteza, e situações aleatórias, como os acidentes, alteram o processo logístico”, revela.
Relativamente ao comércio electrónico, Matthias confirma as dificuldades que os profissionais sentem todos os dias. Estes serviços permitem que o cliente escolha a hora de entrega, a sua rapidez, separar os pedidos em envios individuais, mas isso cria uma “fragmentação dos envios”. Explica que “cada vez mais se enviam encomendas pequenas para grandes centros urbanos, aumentando assim o número de entregas e dificultando o planeamento de rotas eficientes para as realizar”.
Outro dos problemas apontados foi o dos custos associados. Revela que os clientes foram mal habituados por grandes empresas do sector para as melhorias de serviço sem custos adicionais, como a não existência de custos associados ao transporte, por vezes mesmo gratuitos no próprio dia. “Nem pensamos no que custa aos serviços logísticos fornecer um serviço com essas características”, defende.
A resposta, revela, está nos dados. “Há uns anos as empresas não pesquisavam, porque o seu problema era a falta de dados. Hoje em dia, o problema é terem demasiados dados e demasiados problemas”, conta, acrescentando que elas não sabem que dados devem ou não usar para solucionar os seus problemas.
“Usamos as ferramentas quantitativas de que dispomos como académicos para os ajudar a tomar melhores decisões no futuro”, explica, e desmistifica a ideia de que é necessária uma grande e complexa quantidade de dados para tomarem melhores ideias.
“Podemos obter muitas informações valiosas a partir de dados simples que quase todas as empresas têm, como registros de encomendas, de entregas ou de clientes.” – Matthias Winkenbach.
Do ponto de vista logístico, o director do Laboratório de Logística do MIT revela que o mais interessante é poder combinar e geo-referenciar as informações de que dispõem, tornando-as em rotas que visam facilitar as entregas. “Os dados geo-espaciais são muito importantes para nós, bem como os dados de movimento como, por exemplo, os dados de GPS dos veículos de entregas, que muitas empresas armazenam, mas não utilizam”, explica.
Defende ainda que os autónomos são uma grande revolução para as entregas de última milha, mas que ainda existe um grande caminho a percorrer. “Os passageiros de um veículo autónomo sabem quando têm de sair, e saem sozinhos. As encomendas não”, pelo que é necessário haver um elo de comunicação entre os autónomos e os edifícios ou instalações que irão receber as encomendas”.
“A infra-estrutura necessária para um sistema de distribuição totalmente autónomo é impressionante, e é provavelmente um desafio maior do que conseguir os veículos autónomos.” – Matthias Winkenbach.
O responsável do MIT defende que a combinação entre a distribuição com drones e veículos potencialmente autónomos poderia resultar numa grande mudança no panorama logístico, por poder combinar a capacidade de movimentar várias encomendas de forma autónoma com o transporte aéreo de última milha de um drone, tornando o processo logístico mais eficiente.
Fonte : Supply Chain Magazine