Com Brás, Mercado Livre visa competir com popularidade de players asiáticos

Ao firmar parcerias com lojistas do comércio popular, marketplace pretende ganhar espaço no mercado de moda e competir com players internacionais.

No fim do primeiro semestre deste ano, o Mercado Livre anunciou um projeto para trazer os lojistas do Brás, polo comercial popular do centro de São Paulo, para o marketplace.

A empresa irá selecionar 400 lojas de pequenos e médios empreendedores para obter acompanhamento in loco, suporte direto e consultoria do Mercado Livre ao longo de três meses.

Marketplace amplia oferta de produtos acessíveis (Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock)

Essa não é a primeira vez que um e-commerce tenta levar os empreendedores do Brás para o ambiente online. Maya Mattiazzo, professora do hub de moda e luxo da ESPM, já participou de duas iniciativas com o mesmo propósito, mas cita duas dificuldades principais nessa empreitada: educar lojistas e estoque.

Adaptação do offline para o digital

Segundo a executiva, os marketplaces, incluindo o Mercado Livre, tem regras rígidas e uma base de anúncios inflacionada, o que, para um entrante, pode representar um desafio de gestão, cobertura de estoque, competitividade de preço, agilidade e manutenção dos produtos nas páginas da empresa.

“Para o lojista isso pode assustar. Se ele achar que é só colocar os produtos lá e não fazer mais nada, ele irá se frustrar”, diz. Ao mesmo tempo, Maya reconhece que vender no ambiente online é uma necessidade, tendo em vista que essa é a forma que o mercado consumidor tem se acostumado a comprar e os lojistas podem apresentar a vantagem do preço.

De acordo com uma pesquisa conduzida pela Consumoteca em 2022, 77% compram itens de moda em canais online. Já segundo a Nuvemshop, a categoria de moda faturou R$ 548 milhões.

Alimentos e moda, os próximos passos do Mercado Livre

“Os lojistas do Brás sempre fabricaram para vender volume. E as vendas aconteciam de forma muito rápida. Ensinar o ciclo do e-commerce é novo para eles. Mas é o modelo que o mercado cobra agora. Os clientes entenderam que comprar direto do fabricante traz o benefício do preço e, na hora que mexe no bolso, o caminho é sem volta”, explica.

A manutenção do estoque é importante, a medida que, no e-commerce, o cliente paga o produto de forma adiantada, o que não ocorre normalmente em lojas físicas.

Mercado Livre quer se consolidar no segmento de moda

Esse projeto também faz parte de uma estratégia do marketplace para se aproximar de polos de moda no Brasil, além de apostar em segmentos que contam com vendas mais recorrentes. Ao mesmo tempo que os lojistas do Brás podem alcançar novos públicos ao estar na plataforma, o Mercado Livre se beneficia ao se fortalecer em um setor pelo qual não é lembrado. Assim, o marketplace se torna canal para itens de qualidade e valor acessível.

“Nesse momento, homologar os lojistas é fundamental para que tenhamos produtos de qualidade duvidosa na plataforma. Por isso ,eles têm trabalhado tão perto dos lojistas, visitando suas operações para garantir qualidade para o cliente final e evitando a entrada de vendedores que comercializem produtos piratas”, esclarece a professora da ESPM.

Além disso, o projeto reforça uma tendência observada por Maya, que é a eliminação de intermediários, como lojas multimarcas, nas negociações de moda.

Competição com o mercado internacional

Com a eliminação do intermediário e o preço acessível, a empresa adiciona uma vantagem diante da ascenção das plataformas internacionais Shein e Shopee.

Mercado Livre: “não fazemos tecnologia por tecnologia”

Para Marina Roale, head de pesquisa na Grupo Consumoteca, a decisão do Mercado Livre atende a mudanças no comportamento de compra do consumidor, que procura um custo-benefício melhor. Diante do encerramento de lojas físicas durante a pandemia, marcas com experiência digital sobressaíram, principalmente em plataformas com boa logística de entrega, política de preço e boa navegabilidade. Por sua vez, isso proporcionou um terreno fértil para as plataformas internacionais.

“Diante de um consumidor com menos poder aquisitivo e muita quilometragem de experiência digital, ter uma marca sólida na moda não será mais privilégio de quem conta um bom storytelling ou possui lojas conceito, mas quem fala a língua do pragmatismo também. Os consumidores estão caindo no gosto dessa ideia de ‘tudo num só lugar’. Nestes canais, a lógica de fidelização de marca muda. Estamos vendo consumiores mais fiéis às próprias recompensas de quem vende do que a marcas que oferecem os produtos”, argumenta.

Da mesma forma, a mobilização beneficia os fornecedores, que também competem com as plataformas citadas.

Entretanto, Maya considera que o Mercado Livre apresenta vantagens, como sua presença e reconhecimento no mercado brasileiro, estratégias de gameficação e entrega, o que resulta em fidelidade por parte dos consumidores.

Impacto em toda cadeia

A iniciativa tem  potencial de retorno para os fabricantes e lojistas que não estavam no digital e,  agora, podem comercializar com mais margem de lucro. Para o próprio Mercado Livre, Maya acredita que o potencial é “gigantesco”, descreve.

“Veja que o Mercado Livre é o e-commerce mais acessado do Brasil. É uma marca amada pelos brasileiros e que ultrapassou as barreiras de ser um e-commerce ou uma marketplace. O Mercado Livre é um ecossistema, resolve problemas das pessoas, mas faltava resolver o problema da moda.
Acredito no fortalecimento da plataforma com a entrada da moda, podendo se tornar um hub importante até para B2B. Isso irá gerar um incremento de receita significativo”, avalia.

Por fim, a tática antecipa adaptações feitas ao consumidor do presente e do futuro, que é parte da Geração Z. Segundo Mariana, esse grupo valoriza players que entregam produtos desejo a preços acessíveis para seu bolso, variedade, preço e diversidade.

“Eles romperam com a má reputação de que players chineses entregavam produtos diferentes dos anunciados. Estes jovens amam a sensação de barganha e já apontam marketplaces como o canal favorito de compra. No Tiktok não faltam vídeos de achados e truques de compras nestas plataformas. Se pro millennial a peça barata era aquele básico escondido em um look high-low, para o Gen-Z, pagar barato é motivo de orgulho e passaporte para o novo #aesthetics do momento. Hackear um boa jornada de compra é tão desejado que eles dão cursos sobre como fazer bons garimpos na Shein e na Shoppe. Agora, nos resta saber se teremos aulas de achadinhos no Brás versão Mercado Livre”, reflete.

‘https://www.meioemensagem.com.br/marketing/bras-mercado-livre-moda

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