Cresce a demanda por transporte aéreo de produtos de alto valor agregado

O transporte de cargas no modo aeroviário vem crescendo em um ritmo superior a 10% no Brasil, nos últimos dois anos, impulsionado pela segurança e rapidez que oferece para as cargas de maior valor agregado como fármacos, eletroeletrônicos, equipamentos médicos e automotivos. O volume de cargas e correios transportados no ano passado chegou à casa de 1,25 milhão de toneladas, com o transporte internacional sendo responsável pela movimentação de 821,2 mil toneladas (65%), segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Segundo Priscila Miguel, professora da Fundação Getúlio Vargas e pesquisadora do GVcelog, Centro de Excelência em Logística e Cadeias de Abastecimento da FGV, “o crescimento foi possível graças à modernização dos aeroportos.

Entretanto, ela destaca as limitações do modal que vão além do preço. “O modal aéreo não pode transportar produtos perigosos nem volumes muito grandes, por exemplo”, diz.

O crescimento expressivo do modal aéreo vem sendo observado também no armazenamento de cargas pela Wilson Sons Logística. A empresa registrou um aumento superior a 150% entre 2017 e 2018 na movimentação na Estação Aduaneira de Interior (EADI), em Santo André (SP), a partir dos aeroportos de Guarulhos e Viracopos. A unidade integra a Plataforma Sudeste, formada também por um Centro de Distribuição.

“São cargas de maior valor agregado, porque o custo do frete aéreo é maior que o marítimo. Geralmente, são produtos e insumos mais perecíveis, então o tempo é determinante”, explica a diretora Comercial do Tecon Salvador e da Wilson Sons Logística, Patrícia Iglesias.

De acordo com a executiva, os bons números fizeram com que o serviço passasse a ser oferecido desde o segundo semestre de 2018 pela Plataforma Nordeste, localizada no município de Ipojuca (PE), a um quilômetro do complexo industrial de Suape.

“As cargas movimentadas são, em sua maioria, produtos fármacos, eletroeletrônicos, equipamentos médicos e automotivos”, confirma. A operação de transferência da carga para a zona secundária envolve desde a desconsolidação até a nacionalização e armazenagem, de forma integrada, com maior agilidade e com segurança legal.

DHL também promoveu uma reformulação total no gateway de importação e exportação localizado no aeroporto internacional da capital paulista. A divisão de cargas expressas da DHL fez aportes de R$ 23 milhões para modernizar e aumentar a eficiência do seu gateway no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Com a nova configuração, o terminal, que processa as exportações brasileiras para cerca de 220 destinos no exterior e as importações provenientes do nordeste da Ásia, da Europa e de parte dos Estados Unidos, atingiu a capacidade de processar 1,8 mil remessas por hora, o que representa quase o dobro do que ocorria anteriormente.

Além disso, o gateway reduziu em 30 minutos o processo de preparo das remessas para o exterior. As obras foram realizadas ao longo do ano passado e o terminal começou a funcionar totalmente renovado em janeiro deste ano.

Os investimentos foram feitos devido ao aumento de demanda. Em 2018, segundo a CEO da DHL Express Brasil, Mirele Griesius Mautschke, houve um crescimento de mais de 70% no volume de cargas. “Apesar das dificuldades, 2018 foi um ano muito bom. O novo gateway amplia nossa capacidade, eficiência e qualidade no processamento de importações e exportações.

É também mais uma garantia de agilidade para nossos clientes em suas operações internacionais, impulsionadas tanto pelo crescimento do e-commerce quanto pela gradativa recuperação da economia brasileira”, declara.

O comércio eletrônico representa cerca de 30% das cargas que passam pelo gateway. Outro fator que tem impulsionado os resultados da empresa é o segmento de produtos biológicos e farmacêuticos.

“Agora, temos uma área dedicada às remessas refrigeradas que exigem trocas de gel antes do embarque, para garantir que o produto chegue ao seu destino na temperatura correta“, afirma Mautschke.

“Ampliamos nossa atuação nesse nicho, principalmente no que se refere às pesquisas clínicas. Para isso, adequamos nossas instalações e conseguimos as licenças necessárias.”

Os principais mercados nos segmentos biológico e farmacêutico estão no Brasil, Colômbia, Chile, México e Panamá. A DHL Express transporta mercadorias de diferentes segmentos, como eletrônico, químico, automotivo, têxtil e moda.

“Os setores são bem diversificados. E o Brasil tem muito potencial para crescer no e-commerce, principalmente na exportação. Estamos preparados para esse incremento”, diz a CEO da DHL.

Para ela, ainda existem algumas barreiras para que o setor tenha uma expansão mais significativa. “Existe uma regulamentação excessiva no Brasil, o que cria barreiras para as empresas. A infraestrutura deficiente e os custos de operação também prejudicam bastante.”

Segundo a executiva, as reformas deram grande atenção às questões de desembaraço aduaneiro e demais normas regulatórias. O espaço conta com salas para inspeção de remessas selecionadas pela Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que são equipadas com ar-condicionado, mobiliário adequado e câmeras de segurança. Todas as encomendas retidas pela fiscalização são armazenadas no próprio gateway, para melhorar a logística de armazenamento e o fluxo de liberação.

No caso da importação, as remessas são recebidas a partir de oito voos comerciais provenientes de Miami, Madri, Frankfurt, Santiago, Amsterdã, Barcelona, Buenos Aires e Lima. Já as exportações são expedidas por meio de 14 voos comerciais, que se conectam às malhas aéreas internacionais da DHL em todo o mundo.

Com uma equipe de mais de 140 pessoas, o tempo médio de liberação das remessas na importação é inferior a 24 horas.

“Dentro de nosso processo, as esteiras motorizadas têm papel importante. São mais de 350 metros quadrados de esteiras modernas e interligadas, que permitem que as remessas selecionadas pelos órgãos aduaneiros sejam disponibilizadas para inspeção física de forma segregada e com maior agilidade. Com isso, reduzimos o tempo de liberação de remessas na exportação, por exemplo”, conta Mirele Mautschke.

As instalações são monitoradas em tempo integral, com rígido controle de acesso, atendendo aos requisitos de certificação Tapa e OEA, e as áreas para cargas refrigeradas e perigosas estão de acordo com as normas da International Air Transport Association (Iata).

Para facilitar o processo de carregamento e descarregamento, foram instalados o sistema de caster deck, com rodas deslizáveis, e o equipamento fast global, que ajudam no manejo de contêineres e na sua movimentação. A DHL é a única empresa a ter um terminal de courier exclusivo no aeroporto de Guarulhos.

COMÉRCIO VIRTUAL

De acordo com Mike Parra, CEO da DHL Express Américas, o Brasil ainda irá crescer muito no e-commerce. A tecnologia tem mudado a realidade das pessoas, que passaram a comprar mais pela internet. Este fenômeno, que começa a se desenvolver no Brasil, amplia a entrada de produtos de diversos países, estimulando este tipo de comércio. “Em razão disso, esperamos um crescimento impressionante para o país nos próximos cinco anos”, comenta.

Para Parra, o país está apenas dando os primeiros passos neste segmento. “O Brasil está começando a crescer nessa modalidade, diferentemente de outros mercados como Rússia, Índia e China, por exemplo, que estão maduros. Por isso, o potencial aqui é enorme.”

A empresa acredita, ainda, no aumento da exportação por pequenas e médias empresas brasileiras, que pretendem expandir sua presença em outros países. ”Atualmente, as companhias de pequeno e médio portes representam 80% dos clientes na América Latina. A tendência é que as empresas comecem a investir mais na venda de seus produtos no exterior. Tradicionalmente, temos ainda mais importações, mas isso deve mudar em breve”, espera Parra.

Empresas aéreas também estão de olho nesta fatia do mercado e pretendem ampliar suas operações no segmento com uma estratégia de baixo orçamento.

Mesmo sem possuir aviões cargueiros e sem pretensão de abrir novas rotas no país, a Golplaneja crescer no setor de transporte de carga aéreo, otimizando o espaço nos porões dos aviões de passageiros. As projeções para este ano estimam crescimento aproximado de 25%, gerando receita de R$ 1 bilhão.

Em entrevista ao Valor Econômico, o diretor de cargas da Gol, Eduardo Calderon, indicou que os investimentos serão realizados em consonância a expansão do e-commerce e com a melhora da economia brasileira.

A logística está intimamente ligada ao desenvolvimento do comércio eletrônico, e ambos estão atentos às mudanças no perfil de compra dos consumidores. Neste sentindo, o transporte aéreo tem muito a contribuir, principalmente por ser capaz de atender o segmento de Same daydelivery para longas distâncias.

Desafios para o crescimento do modal aéreo

Para especialistas, o crescimento do e-commerce tem balanceado alguns dos fatores externos que estão provocando gargalos no transporte de cargas aéreo. Entre os fatores que geram preocupação no setor estão as diminuições das encomendas recebidas pelas fábricas para exportação e os prazos mais longos dos fornecedores, principalmente no mercado asiático. As tensões comerciais entre governos também provocam preocupação, já que elevações tarifárias nas fronteiras diminuem o comércio global.

Ainda que tais aspectos estejam além das atribuições das atividades aéreas, estar atento aos desafios contribuirá com os objetivos a serem alcançados pelo setor. Apostar em estratégias que podem contribuir com a atividade diária irá acelerar as operações, otimizar os processos trazendo maior eficiência, fidelizando clientes e por fim expandindo a parceria com o varejo eletrônico, que vem contribuindo para o crescimento do modal aéreo.

Fonte: Logística Brasil

Download

Deixe um comentário