Logística em favelas e áreas de risco: como otimizar as entregas do seu e-commerce

Entrega de produtos em locais de difícil acesso, como as favelas, deve ser feita de maneira amigável, e não ostensiva”. Essa foi apenas uma das constatações apresentadas no Intelipost Connection, evento de logística que aconteceu nessa última terça-feira, 18/06.

Quem abriu o painel de conversa foi André Duarte, pesquisador da Insper, respondendo à questão da logística dentro das favelas. “Há alguns anos fomos procurados por empresas para encontrarmos soluções para otimizar suas entregas em favelas. Fizemos alguns estudos e entendemos que haviam duas oportunidades ali: aproximação e faturamento”, disse.

Sobre o estudo de logística

Entre as constatações obtidas com o estudo realizado em favelas do Rio de Janeiro, André descobriu, por exemplo, que a cada 1 km percorrido dentro da favela o valor do frete aumenta em R$ 30 reais, assim como o tempo de entrega: sobe em até 2 dias. Abaixo, você confere alguns dados levantados a partir do estudo realizado pelo instituto de ensino e pesquisa:

  • Entender as características do seu produto;
  • Favelas são diferentes entre si, tanto em relevo como infraestrutura;
  • Usar entregadores locais (as favelas desenvolvem soluções para o last mile;
  • Criar pontos de retirada próximos da favela (pick-up points);
  • Entregar pela manhã e de forma discreta;
  • Manter bom relacionamento com a comunidade local (usar pessoas da própria comunidade, a exemplo do Grupo Carteiro Amigo;
  • Utilizar segurança e escolta em último caso (além de caro, não é uma boa prática);
  • Foco maior em eficácia do que em eficiência.

De acordo com André, o estudo foi possível porque receberam muita assistência de pessoas de dentro das comunidades. “É preciso entender que as favelas são um ponto específico e os processos lá dentro são diferentes, com suas particularidades. Fizemos uma parceria com a CUFA (Central Única das Favelas), por exemplo, que foi fundamental para levantarmos os dados. Você só vai conseguir fazer negócios em favelas se envolver parceiros lá de dentro. Quando se sentem parte do negócio e percebem que será benéfico também a eles, acolhem muito bem a parceria”.

Nesse mesmo palco, Flávio Amaral, responsável pelo supply chain e operações logísticas da Natura, confirmou as palavras de André. “Em relação a 2016, reduzimos em 80% os problemas de entrega às nossas consultoras em âmbito nacional, com uma queda de sinistros em 45%. E isso só foi possível quando entendemos o valor da parceria com a organização não-governamental, além de ONGs e outras empresas”. A Natura, que faz mais de 17 milhões de entregas/ano, teve um incremento nas entregas no Rio de Janeiro de 15%.

Rede de amigos

Hoje, a parceria da Natura com os moradores das comunidades só aumenta, e o processo de entregas já nem se compara ao praticado anteriormente. “Entendemos que o contato da empresa com os colaboradores deve ser amigável, e não mais ostensivo. Tanto que cortamos 60% das escoltas e, com isso, conseguimos reduzir o custo dos pedidos em 15%, com 110 mil famílias impactadas”, afirmou Flávio.

E a parceria da Natura não termina aí! Muitas das questões de aprimoramento das entregas são sugeridas pelos próprios colaboradores na rede social da empresa. “Eles estão engajados no negócio e querendo que tudo prospere. Constantemente sugerem parceiros de entregas e soluções para aperfeiçoar a logística”, lembrou Flávio. Por conta do bom relacionamento, houve até casos de roubo de cargas em que os colaboradores ajudaram na localização dos produtos.

Além dos Correios

Questionados sobre o que fazer em uma possível falta da assistência dos Correios em regiões de difícil acesso, como as Ribeirinhas, os especialistas reagiram. “É interessante pensar em iniciativas de redes de microdistribuidores. Vale investir em pessoas físicas, que possuem uma bicicleta e bom conhecimento em uma área de 2 quilômetros quadrados, por exemplo. Antes de qualquer investimento, porém, é preciso entender a dinâmica desses pequenos distribuidores para gerar um elo de parceria e confiança”, recomendou André.

Para Flávio, isso já é uma realidade, uma vez que dos 180 pontos de entregas, 20 estão localizados no Amazonas. “Para atender a esses locais, fizemos um árduo trabalho de reconhecimento dos moradores locais. Foi a partir disso que conseguimos os dados para refinar a logística. Eles sabem de todos os riscos, fluxo dos rios de acordo com o período… Não há outra forma de trabalhar se não for por meio dessas parcerias”, finalizou.

Fonte: ecommercebrasil.com.br

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