Gustavo Artuzo é o rei do armário. O empreendedor fundou a Clique Retire em 2019 com uma tese simples: instalar lockers em pontos de alto fluxo, como metrôs e shoppings, para funcionarem como local de retirada de produtos para o ecommerce.
O ex-CFO da Cury Construtora e da Dellys (a empresa de logística de foodservice do Pátria) mirou no que viu e acertou no que não viu. Apenas quatro meses depois, veio a pandemia, que acelerou de forma brutal a penetração do ecommerce — antecipando em alguns anos o business plan que Gustavo havia desenhado.
“Na pandemia surgiu uma hipótese de que quem estava disseminando o vírus eram os entregadores, então as pessoas começaram a não querer ter contato com os entregadores e os nossos lockers viraram uma questão de saúde pública,” o fundador disse ao Brazil Journal. “Os lojistas de shoppings também passaram a nos procurar muito para instalarmos lockers nas entradas dos shoppings para o consumidor passar e pegar o produto.”
Esse período deu um impulso brutal à Clique Retire, que soube surfar a onda. Hoje a startup já tem 1.500 lockers (com mais de 30 mil compartimentos) espalhados pelo País, consolidando-se como o maior player desse mercado. Segundo o fundador, a startup está crescendo num ritmo de 30 a 50 novos lockers por mês. (Cada locker demanda um investimento de R$ 30 mil, e a fabricação é feita pela própria Clique Retire). A startup faturou R$ 25 milhões ano passado cobrando mensalidades que variam de R$ 1 mil a R$ 3 mil por armário.
Em 2022, a receita havia sido de R$ 8 milhões. Segundo Gustavo, a Clique Retire atingiu o breakeven em setembro e está usando o lucro da operação para construir novos armários. Mesmo com os números redondos, a Clique Retire está preparando uma nova rodada de captação com o objetivo de levantar R$ 50 milhões.
A startup já está conversando com alguns fundos, e a expectativa é fechar a rodada em março. Desde que foi fundada, a Clique Retire fez outras quatro captações, levantando R$ 105 milhões com investidores como a GLP, a empresa de Singapura especializado em logística; a família Valadares Gontijo, controladora da Direcional Engenharia; o family office Arbitral e fundos da Itaú Asset. Com a nova rodada, a startup quer acelerar o crescimento, construindo e instalando ainda mais lockers. “Neste mercado, o player que se estabelece primeiro vira o dominante, porque é difícil conseguir instalar um outro armário do lado,” disse o fundador. “Além disso, quando você tem mais escala, isso se torna uma proteção para os cancelamentos, porque ninguém vai cancelar para adotar uma empresa com presença menor.”
O plano é usar 80% dos recursos da captação para a construção e a instalação de 15.000 novos lockers nos próximos quatro a cinco anos. Segundo Gustavo, isso já levaria a receita da startup para perto de R$ 500 milhões. “Com isso, já teríamos tamanho para um IPO,” disse o CEO. “Nossa ideia é que essa seja a última rodada, porque o negócio é muito gerador de caixa, então com o tempo vamos conseguir financiar todo o crescimento só com esse cashflow.”
O fundador disse que vê espaço para 50.000 lockers no País antes de começar a pensar em internacionalizar o negócio. A Clique Retire já está presente em 19 estados, mas a grande maioria dos armários estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dada a maior concentração do PIB. O principal benchmark da Clique Retire é a InPost, uma empresa polonesa que fez seu IPO na Holanda em 2021 e chegou a valer US$ 11 bi na Bolsa. Hoje, ela vale quase US$ 7 bi e negocia a cerca de 3x receita.
Fonte: “O plano da Clique Retire para chegar a 15 mil lockers – Brazil Journal”