Venda on-line tem o pior 2º trimestre desde 2018

Relatório do banco Goldman Sachs prevê que canal on-line seja 14% das vendas totais do varejo neste ano.

A venda on-line volta a cair no país pelo terceiro mês consecutivo e o setor fecha o trimestre de abril a junho com um recuo de 4,2% frente a 2021, segundo dados da empresa de pesquisas MCC/Neotrust, apresentados ontem em relatório do banco Goldman Sachs. É a primeira queda num segundo trimestre na história do levantamento da MCC, realizado desde 2018.
Em junho a queda foi de 5,7%, após duas retrações em abril (-6,4%) e em maio (-1%).

A participação do comércio eletrônico no varejo total ainda deve aumentar no menor ritmo do setor nos últimos anos, mesmo comparado com o período anterior à pandemia. Pelo relatório da equipe de análise do Goldman, o on-line deve representar 14% das vendas do varejo em 2022, 0,5 ponto acima de 2021. É o menor crescimento em percentual desde, pelo menos, 2018 (início dos comparativos anuais do relatório). São utilizados dados do IBGE, da consultoria Ebit, além de informações da área de pesquisa do banco.

Houve um salto nessa fatia do segmento no bolo total após a pandemia (de 7% em 2019 para 13,5% em 2021), e era projetado uma alta menos forte desse índice pelo efeito da base de comparação de 2021. Mas a elevação está mais discreta do que o previsto no começo do ano. Para 2023, a equipe estima participação de 16%.

Relatório do banco Goldman Sachs prevê que canal on-line seja 14% das vendas totais do varejo neste ano

A Neotrust projetava, meses atrás, alta de 8% nas vendas dos canais digitais em 2022, e neste mês, reviu para 5%. Se fechar nesse patamar, ainda ficará acima das estimativas para o varejo físico no ano (3,5% a 4% no ano, a depender da casa de análise). Entrada de recursos do governo com benefícios recém-aprovados pode acelerar essa taxa, dizem economistas.

Nos dados do segundo trimestre, há o efeito da desaceleração da demanda e da queda do poder de compra que afeta parte do comércio virtual de produtos de alto valor. Dados coletados mensalmente pela GfK Brasil, diretamente nas empresas de varejo de bens duráveis, mostra que o peso do on-line na venda total está se estabilizando nos últimos meses em cerca de 45% (lojas físicas registra os 55% restantes). Está abaixo da taxa de mais de 50% registrada no primeiro ano de pandemia.

O material da equipe do banco, liderada pela analista Irma Sgarz, revê projeção de crescimento de todas as empresas de comércio on-line, menos para o Mercado Livre. Estima que Americanas e Magazine Luiza vão se expandir no segundo trimestre em vendas no “marketplace” (plataforma que reúne lojistas) à metade da velocidade do Mercado Livre.

Para os analistas, a volta mais forte da venda física em shoppings, o consumidor transferindo parte de seus gastos de produtos para serviços, além da necessidade do consumidor reduzir gastos em categorias discricionárias ou de alto tíquete (Mercado Livre é menos exposto a esses itens) pressionam parte desse mercado on-line.

O banco projeta que Mercado Livre crescerá em vendas totais transacionadas (GMV, da sigla em inglês) 17% no segundo trimestre. Apesar da desaceleração frente a taxas de 2021 (de mais de 80% no trimestre) ainda está acima da estimativa do banco para o setor (recuo de 4%). Para o ano de 2022, a equipe acredita que o GMV do grupo deve se expandir 19%, versus alta de 13% para o mercado.
A equipe comenta a informação, antecipada pelo Valor neste mês, de alterações na política junto aos lojistas. Os principais “marketplaces” estão repassando os aumentos no custo do dinheiro e nas despesas aos lojistas que operam nas plataformas. Isso inclui os estrangeiros, como Shopee e Amazon. A primeira onda de repasses começou em dezembro e a segunda onda, em junho.

O Mercado Livre, por exemplo passou a exigir, após junho, que o consumidor gaste R$ 199 (era R$ 79 antes) na cesta de supermercados para ter frete grátis. Outra medida tomada foi subir o valor da compra mínima para parcelamento grátis de R$ 300 para R$ 500. “Enquanto o Mercado Livre pode restringir seletivamente o investimento em iniciativas de crescimento de médio prazo, o investimento contínuo em logística e em equipes da empresa contrasta com o notável ‘trade-off’ entre crescimento e lucratividade que seus principais pares estão sendo forçados a fazer”, dizem os analistas da área de varejo.

“Acreditamos que esse trade-off é mais pronunciado para Magazine Luiza, Via e Americanas devido a um custo médio de aquisição de clientes relativamente mais alto”.
Para a Americanas, o Goldman, projeta um crescimento de GMV de 7% no segundo trimestre e para Magalu, 9%. Na Via, a equipe estima um recuo de 9% no GMV.

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