Por que a logística é um problema no Brasil?

De acordo com um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nos últimos 20 anos, o Brasil investiu somente 2,18% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, um valor muito baixo se comparado com as demais economias emergentes, que investem entre 4 e 5% do PIB para melhorar a infraestrutura.

Outro dado que confirma a falta de investimento do Brasil neste setor é o ranking do Banco Mundial sobre contratação de obras de 2015: entre os 189 países analisados, o Brasil ocupa a posição 169ª, atrás de países vizinhos como Chile e Peru que ocupam a posição 24ª e 48ª, respectivamente. Já na análise de 2018 do Logistics Performance Index and its Indicators (LPI), o Brasil ocupa a 56ª posição de 167 países, apresentando a nota 3,1 de 5 no quesito “competência logística”.

Essas informações são só a ponta do iceberg que denuncia os grandes problemas de logística enfrentados pelos brasileiros e que atrapalham o desenvolvimento do mercado interno e externo. Ao mesmo tempo, setores predominantemente dependentes da estrutura logística se encontram em expansão, como é o caso do e-commerce e do agronegócio, gerando um grande desequilíbrio entre a demanda e capacidade de entrega do setor logístico do país.

Alguns estudiosos do tema apontam que esse desequilíbrio não será superado tão cedo, afirmando que os problemas de logística vão permanecer na realidade brasileira, pelo menos, nos próximos 15 anos, principalmente em relação ao transporte terrestre, com destaque para o rodoviário, responsável por transportar 80% dos produtos no país.

E são diversos os fatores que tornam o transporte rodoviário tão ruim: a qualidade das rodovias é muito baixa, assim como a sua manutenção e conservação; os gastos com pedágios são altos e numerosos; os combustíveis utilizados – baseados em petróleo – além de muito caros, prejudicam o meio ambiente ao lançarem muitos poluentes ao ar e sofrem muita instabilidades nos valores – somente em 2017 foram 115 ajustes no valor da gasolina do Brasil.

Nesse cenário caótico, cabe ao empreendedor/a compreender melhor sobre a logística do país para que possa encontrar soluções criativas e menos custosas para esse grande gargalo que traz muitos prejuízos e problemas operacionais às mais diversas empresas. Para isso, vale responder algumas perguntas básicas.

Como a área de transportes funciona no Brasil?

O Brasil é um país extenso e muito plural em sua geografia, por conta disso, sempre foi pontuada como uma dificuldade para o país o desenvolvimento de uma rede de transportes sólida e interligada. De fato, até hoje o Brasil enfrenta muitos problemas de deslocamento, principalmente por conta do acumulo do tráfego nas redes rodoviárias e falta de investimento estatal no setor.

De qualquer modo, a rede de transportes brasileira é dividida em cinco modais cuja responsabilidade é a realização do transporte e logística de produtos e/ou pessoas, sendo que cada modal apresenta características particulares:

Modal ferroviário

De acordo com o Anuário Estatístico de Transportes de 2017, o Brasil possui 30,6 mil km de estradas de ferro, distribuídos em 32 estradas diversas sob a responsabilidade de 13 concessionárias. A rede ferroviária é responsável por 21% do transporte de mercadoria realizado no país, sendo que este modal é majoritariamente utilizado para transporte de commodities.

Apesar desta opção de transporte ser positiva em relação ao custo-benefício, o Brasil apresenta uma rede ferroviário muito incipiente, pois enfrenta diversas dificuldades na padronização das linhas devido à diversidade da geografia – e relevos – do país. Ao mesmo tempo, a garantia de segurança e manutenção é bastante difícil no modal ferroviário.

Modal rodoviário

Mesmo com todos os problemas da malha rodoviária brasileira, este modal é o mais utilizado pelo país, sendo responsável por mais de 60% da carga transportada. A principal vantagem do modal rodoviário é a sua extensão por todo o território brasileiro, já que é o único que consegue chegar a praticamente todos os pontos de envio e recebimento do país.

Por outro lado, a lista de desvantagens é enorme: alto custo para os motoristas, seja por conta da manutenção, combustíveis ou pedágios, o fato é que o custo do transporte rodoviário é alto. Em termos de logística, a média do frete praticado pelo modal ferroviário em 2016 foi de R$ 140, segundo dados da Aprosoja.

Ao mesmo tempo, o Estado paga caro para manter as rodovias conservadas e enfrenta muitas dificuldades em aplicar um padrão de qualidade de conservação geral. Da mesma forma, a manutenção da segurança nas estradas é igualmente desafiante, seja por conta do alto índice de roubo de cargas ou por causa da alta taxa de acidentes no trânsito.

Modal aeroviário

O transporte aéreo é responsável por apenas 0,4% do transporte de cargas brasileiro, sendo reservado para a logística de produtos preciosos ou extremamente perecíveis. Apesar deste modal apresentar como características centrais a agilidade e alto nível de segurança, a pouca utilização do transporte aéreo advém do custo elevado desta modalidade, assim como maior limitação dos espaços e a existência de poucos aeroportos no país.

Modal hidroviário

14% do transporte de cargas do Brasil é realizado via aquaviária, que carregam grande parte das commodities – como grãos e minérios. Apesar de o número parecer expressivo, este modal é subutilizado por aqui, tendo em vista que somente 14 mil km são explorados no país. Países como Rússia e China exploram 102 mil e 110 mil km de seu modal hidroviário, respectivamente, muito acima do que é realizado no Brasil.

Dentre as principais vantagens deste tipo de modal, encontra-se o baixo custo de manutenção e utilização, muito abaixo do rodoviário e ferroviário. Por conta disso, seria interessante se o governo realizasse mais investimentos neste setor, principalmente na modernização e ampliação do alcance dos portos.

Modal dutoviário

É um modal bastante incomum e que possui 19 km por todo o país, sendo responsável pelo transporte de grãos sólidos, substâncias líquidas e gasosas – como combustíveis.

Quais os principais desafios de logística enfrentados?

A infraestrutura é com certeza um ponto de atenção quando o assunto é logística. E, neste aspecto, duas considerações são válidas:

i) a extensão do país e sua grande diversidade tornam quase impossível para somente um responsável garantir a expansão e manutenção de toda a rede de transportes. Ao mesmo tempo, a aplicação de inovação neste setor enfrenta as mesmas dificuldades, aliadas à grande desigualdade social e econômica do país nas diversas regiões;

ii) já que é difícil para somente um ator se responsabilizar pela tarefa, o governo tem adotado como política pública as terceirizações e concessão de licitações a empresas privadas – externas e internas – para a expansão e manutenção das redes de transportes, porém, essa solução esbarra em duas questões.

Por um lado é difícil manter um nível eficaz de padronização em todos os projetos, já que eles são executados por mais de uma empresa responsável, ou seja, aplicar um gestão eficiente e homogênea é um desafio enorme; por outro lado, o país enfrenta um grande histórico de corrupção, de modo que o setor de transportes e construtoras têm um papel de destaque na questão. Portanto, garantir uma gestão de qualidade ainda enfrenta o fantasma da corrupção tão fincada na realidade do Brasil e que tanto atrapalha o desenvolvimento do país.

Falta de infraestrutura

De qualquer modo, pode-se pontuar como os principais desafios da logística brasileira a falta de infraestrutura de qualidade, a defasagem da estrutura de transporte, a ausência de conexão entre os diferentes modais, a grande concentração do transporte no setor rodoviário e falta de segurança nas vias.

Outro desafio marcante é o tempo, pois é impossível pensar e aplicar soluções eficazes para resolver todas essas questões dentro de um período curto, mas o mercado tem evoluído de maneira cada vez mais rápida e exige que as soluções lhe acompanhem. Esse desalinho pode aumentar ainda mais a desigualdade entre demanda e entrega no futuro.

Da mesma forma, a falta de especialização do mercado neste setor é ao mesmo tempo uma oportunidade e um desafio. Enquanto oportunidade, aponta-se que há grande espaço e possibilidade de desenvolvimento do setor de logística – para se ter uma noção, a única empresa que consegue atender o comércio país em termos amplamente nacionais é o Correios, que é uma empresa pública.

Solução complexa

Enquanto desafio, voltamos à questão de um só responsável por um projeto monstruoso. Voltando ao exemplo dos Correios, o ideal seria a maior participação de empresas privadas ou mesmo empresas públicas, mas que pudessem “dividir” o problema entre si. Ao quebrar as operações, a eficiência poderia ser aumentada. O monstro não seria tão assustador, já que a setorização de tarefas e regiões tornaria o processo mais localizado.

O fato é que a solução para esse grande problema é mais complexa e complicada, e não cabe dentro de uma análise geral como esta, mas a utilização de técnicas de gestão aliadas ao emprego da tecnologia pode tornar o cenário mais agradável e menos abrasivo. Para isso, o primeiro passo é investir na produção de conhecimento e estudos acerca da logística, de maneira que a teoria e a prática possam se interligar de modo eficiente e produtivo.

Fonte: ecommercebrasil.com.br

Como uma startup americana faz para dar 70% dos fretes grátis aos consumidores

Farmstead tem aprofundado a mudança nos processos de delivery nos Estados Unidos com um pressuposto que parece óbvio, mas pouco respeitado pelas empresas que atuam com esse sistema: a maioria das pessoas pede as mesmas coisas toda vez que faz compras.

Segundo Pradeep Elankumaran, fundador e CEO da Farmstead, essa percepção traz ganhos operacionais consideráveis ao seu negócio. “No caso da Farmstead, isso nos ajuda a prever a demanda, reduzindo nossos custos e melhorando a eficiência. Em vista disso, conseguimos reduzir nossos preços em certos produtos básicos e, ao mesmo tempo, tornar o negócio lucrativo”, afirmou em comunicado publicado pelo portal Retail Wire.

A empresa de venda de alimentos e delivery, criada em São Francisco (EUA) em 2016, oferece entrega semanal gratuita para pedidos acima de 30 dólares em uma janela específica de tempo, quando consegue otimizar entregas para um mesmo local. Compras acima de 35 dólares têm frete grátis e entrega para o mesmo dia em qualquer horário.

Segundo dados da própria empresa, setenta por cento de seus clientes recebem entrega gratuita. Os ganhos estão, portanto, nos 30% restantes de pagadores de frete e nos contratos com a indústria. A operação da Farmstead continua limitada às redondezas da Baía de São Francisco, mas a empresa pretende expandir seu negócio para outros mercados ainda em 2019.

Para oferecer uma porcentagem tão alta de entregas sem custo de frete, a empresa lançou o programa Refill & Save, para otimizar a logística de pedidos recorrentes. A Farmstead enfileira automaticamente os pedidos semanais dos clientes como uma espécie de clube de assinaturas. Os clientes podem adicionar ou excluir quaisquer itens da semana ou cancelar um pedido semanal até uma hora antes da janela de entrega.

A empresa também oferece condições especiais para colocar dentro do programa famílias que já estão na rota de entrega da empresa e que não gerariam um custo extra importante de deslocamento.

Inteligência artificial e machine learning

Para reduzir ainda mais os custos de última milha (um verdadeiro desafio para varejistas e startups) a empresa usa inteligência artificial para escolher rotas com uma espécie de Waze próprio que incorpora informações de trânsito em tempo real para economizar tempo e combustível.

Os modelos preditivos de machine learning da empresa combinam dados históricos de vendas e de tendências, que surgem a partir de recomendações do consumidor. O sistema também inclui informações relacionadas a feriados (que possuem uma lógica própria de perfil de pedido).

Os dados armazenados pela Farmstead relacionados à validade dos produtos são essenciais para evitar quebra ou overstocks. A empresa afirma que seu desperdício de comida perecível está abaixo de 10%, enquanto os sistemas tradicionais de controle de estoque (à base de papel e caneta ou planilhas de excel) permitem quebras na indústria de 35% a 40% de todos os alimentos perecíveis, o que impacta diretamente a redução da margem de lucro.

Carros autônomos. Impossível?

Segundo o portal The Spoon, especializado na indústria e no comércio de alimentos nos Estados Unidos, a Farmstead está apostando também em projetos pilotos com veículos autônomos que são controlados por códigos. Os veículos não só devem fazer a entrega, mas também criar um sistema de aperfeiçoamento de rotas para os demais veículos da rede.

A ideia de carros autônomos ainda pode parecer distante, mas já há projetos em operação nos Estados Unidos. Em São Francisco, onde opera a Farmstead, a AutoX (empresa de tecnologia especializada em carros autônomos) está testando seu programa de entrega de compras sem piloto. No Arizona, a Kroger está experimentando a entrega autônoma em parceria com a Nuro, outra empresa de tecnologia especializada em robôs autônomos.

Fonte: portalnovarejo.com

GPA vai acelerar conversão de lojas regionais

Após duplicar lucro líquido na comparação interanual – chegando a R$ 1,3 bilhão –, o grupo GPA Alimentar pretende intensificar o movimento de conversão e revitalização de lojas do multivarejo a fim de fortalecer a atuação das bandeiras regionalmente.

“Em 2018, conduzimos um grande plano de otimização do portfólio de lojas com iniciativas de conversão, de renovação e também de novos conceitos, que permitiu mais assertividade na entrega de produtos e serviços aos nossos clientes. Registramos um avanço de 10,7% no faturamento bruto do GPA Alimentar, chegando a quase R$ 54 bilhões no ano de 2018”, afirmou o diretor presidente do grupo em teleconferência ao mercado, Peter Estermann.

De acordo com o executivo, essas estratégias tiveram êxito em virtude no volume aportado no ano passado. “Os nossos investimentos de quase R$ 1,7 bilhão, 30% superior ao de 2017, mostram a nossa confiança na execução da nossa estratégia de negócios”, disse o executivo, ressaltando que o volume de investimentos estimados para 2019 gira em torno de R$ 1,8 bilhão – o maior volume aportado na história da companhia.

Uma das bandeiras que foi reativada e vem se expandindo de forma regional é a rede de supermercados Compre Bem – com foco no público pertencente às classes B e C. Segundo o balanço realizado pela companhia, após a conversão de 13 lojas com a bandeira Mercado Extra para Compre Bem, o volume de vendas aumentou 50% no quarto trimestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior.

“Nosso foco tem sido a aproximação com o consumidor por meio da categoria de perecíveis, apostando na venda de produtos na padaria, açougue e também hortifruti. Isso envolveu reestruturação logística no recebimento diário desses alimentos”, disse ao DCI diretor executivo da bandeira Compre Bem, Sérgio Leite.

Ainda de acordo com o executivo, o objetivo é atender o cliente que faz reposição diária de alimentos na residência. “Estamos trabalhando com um calendário promocional muito agressivo. O tíquete médio tem evoluído também desde o processo de conversão no último trimestre”, afirmou Leite.

O executivo também conta que houve a necessidade de remodelar a disposição de gôndolas dentro das unidades convertidas, com o objetivo de promover maior visibilidade para os alimentos perecíveis. Em relação à possibilidade de novas conversões para a bandeira Compre Bem em 2019, Leite explica que “nesse momento a equipe está estudando o nível de aderência do modelo em cada região.”

Em nota, a corretora de valores Coinvalores avaliou o desempenho da rede varejista como bom e ressaltou os “os ganhos de eficiência operacional” no trimestre. “Além disso, a companhia mantém caixa líquido para suportar o seu plano de crescimento via abertura de lojas e continuidade de sua estratégia omnicanal, oferecendo aplicativos de fidelização”, disse a corretora por meio de comunicado.

No balanço trimestral, a companhia salienta a intenção de continuar investindo em iniciativas voltadas para a venda online de alimentos nas plataformas de e-commerce e aplicativos. Para o segundo trimestre de 2019, o grupo prevê expandir os serviços de entrega por meio do aplicativo James Delivery para a cidade de São Paulo e para mais dez centros urbanos até o final do ano. Por ora, iniciativa opera apenas em Curitiba.

Além disso, a companhia ressaltou o potencial de crescimento do recém-lançado e-commerce voltado para a venda de vinhos, denominado como Pão de Açúcar Adega. “Seguimos consistentes no processo de transformação digital”, diz Estermann.

Fonte: dci.com.br

Empresa de logística utiliza bicicleta e patinete elétrico como modalidades de entrega em SP

A partir deste mês, a B2log, www.b2log.com, startup de logística especializada em e-commerce, começa a operar com uma nova modalidade de entrega utilizando patinetes elétricos e bicicletas. A ideia surgiu para atender a demanda das regiões da capital paulista com trânsito intenso. “85% das nossas frotas são de carros de passeio, dependendo da região, um entregador pode levar de 40 minutos a 1 hora entre trajetos que poderia fazer em 15 minutos”, diz Juca Oliveira, CEO e founder da companhia. “Somos pioneiros no serviço de entrega com patinete elétrico. Queremos oferecer praticidades e continuar entregando um serviço de qualidade aos nossos parceiros”, completa.

A iniciativa prevê trabalhar com entregadores autônomos que deverão se cadastrar no aplicativo da B2Log para receber o itinerário das corridas. A expectativa, segundo Juca, é dobrar o número de entregas feitas no mesmo dia em que o consumidor compra seu produto na loja virtual, que hoje representam 20% da demanda.

A empresa possui em seu portfólio clientes como Dafiti, Netshoes, Decathlon, Ricardo Almeida, Livraria Cultura, Shop2gether, Kanui, Tricae, Rihappy, MyShoes, Emporionaka, Vestem, Trousseau, Longerie, Oqvestir, Mob, Synapcom, entre outros.

De acordo com Juca, essa modalidade trará benefícios ainda maiores aos seus parceiros de e-commerces, aumentando a satisfação de seus consumidores finais.

Fonte: logweb.com

As promessas de iFood, Rappi e Grow para otimizar os serviços de delivery

De shoppings centers a startups, empresas se movimentam de olho no potencial do segmento de entregas, que ainda se beneficia de novas opções de modais.

Para combater o custo logístico da chamada ‘última milha’ no serviço de delivery, as grandes varejistas têm despejado bilhões de dólares em desenvolvimento de sistemas de drones, carros autônomos e robôs entregadores. A preocupação não é por acaso. Esse trecho final de entrega custa, na média, 30% do total do frete para o varejista eletrônico.

Os segmentos do varejo que mais sofrem com isso são de alimentação e refeição. O primeiro ainda conta com a cultura brasileira de ir ao mercado. O segmento de refeição, porém, precisa oferecer praticidade para fazer sentido ao consumidor. Esse filão de entrega de refeições teve um faturamento de R$ 10 bilhões em 2017, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Apesar do número importante, o segmento ainda tem um enorme potencial de crescimento. E é de olho nisso que duas startups do setor de mobilidade urbana estão se juntando. Em janeiro, a mexicana Grin, que aluga patinetes elétricos, se uniu à Yellow, de bikes compartilhadas. Além do mercado de compartilhamento de veículos, a Grow (empresa que nasceu dessa fusão) promete impactar o mercado de delivery de refeições.

Ricardo Kauffman, diretor de Relações Públicas da Yellow, assume que a Grow tem interesse em dividir o mercado de delivery com as já estabelecidas iFood, Rappi e Uber Eats. “A Grow tem uma vantagem significativa em termos de custo/cadeia de suprimentos, pois poderá aproveitar a capacidade da Yellow de fornecer suas bikes localmente no Brasil, ao invés de importá-las da China, como outros players do mercado”, explica Kauffman.

A porta de entrada da Grow nesse mercado pode ser uma parceria com a própria Rappi. As duas empresas já trabalham juntas, mas a atuação está limitada ao desbloqueio dos patinetes da Grin por meio do aplicativo da Rappi. Kauffman afirma que pretende expandir essa parceria com a empresa colombiana para as bikes da Yellow, que também poderão ser desbloqueadas pelo app da Rappi. O executivo não confirma, porém, a extensão da parceria para o delivery.

Anunciada no início de fevereiro, a fusão que criou a Grow mantém as marcas Grin e Yellow funcionando de maneira independente, por enquanto. Juntas, as empresas atuam em sete Países da América Latina. Kauffman explica que “a soma das estruturas das companhias oferecerá serviços de mobilidade, entrega de alimentos e pagamentos digitais”.

Se a parceria for confirmada, a Rappi deve contar com uma nova solução em mobilidade, as bikes elétricas da Yellow, que começarão a ser testadas nas próximas semanas. A Rappi trabalha para reduzir os tempos de entrega, em especial nas regiões de maior densidade demográfica, além de ensinar os seus clientes que é possível recorrer ao delivery para além dos serviços alimentares. “Delivery é uma realidade não só na comida. Queremos trazer mais tempo para o nosso consumidor final em todos os serviços”, diz Camila Velzi, head de bussiness development da Rappi, que quer ganhar terreno entregando também produtos de farmácia, livros e eletrônicos.

Para reforçar essa imagem de empresa que entrega de tudo, a Rappi fechou uma parceria com o Shopping Tucuruvi, em São Paulo. Os clientes fazem suas compras em um ambiente dedicado ao Shopping dentro do próprio app da startup, sem sair de onde estiverem. “Nesse primeiro momento, a maior aderência deve ser de alimentação e conveniência, como farmácias e mercados. Mas a médio e longo prazo, até segmentos que ainda não têm tanta aderência na internet devem ser incluídos”, prevê José Bernardo Milek, superintendente do Shopping Metrô Tucuruvi.

Localizado na periferia de São Paulo, o Shopping Metrô Tucuruvi recebe um enorme fluxo vindo dos terminais de ônibus e da estação de metrô. As entregas via aplicativo têm o potencial de atrair um público que mora mais longe para o shopping, que pode incluir consumidores de maior renda e que entreguem um tíquete maior por compra.

Com a parceria, o shopping pretende atender clientes num raio de até 20 quilômetros, abrangendo parte considerável da zona norte da cidade e de Guarulhos, o que expande a zona de atuação do shopping para dentro da área de concorrentes, como o Internacional Shopping Guarulhos, Center Norte, Santana Parque Shopping, entre outros.

O superintendente não crê que vá haver uma canibalização das vendas nas lojas físicas por conta da adesão on-line. “A gente tem diversos atrativos para tirar o cliente de casa e trazê-lo até nós”, avalia, referindo-se a experiências como cinema, área de lazer para crianças e academia. “O maior objetivo é oferecer mais um ponto de contato para o cliente. Cada vez mais, é ele quem escolhe a forma como quer comprar e nós temos que nos adaptar”.

A iniciativa de entrega via Rappi será inaugurada ainda neste mês, depois de pouco mais de dois meses de negociação. “A gente começou as conversas com o Rappi há mais ou menos 50 dias. E o processo foi rápido pelo interesse mútuo das empresas, tanto do Rappi em trabalhar com shoppings quanto nosso, em tornar o shopping omnichannel”, explica Milek.

O Supermercado Now tem uma solução parecida com a da Rappi, mas foca nas mercearias. A empresa mostra o enorme potencial do delivery alimentar no Brasil. A plataforma que liga os varejistas aos consumidores triplicou o número de pedidos em 2018 em comparação ao ano anterior. A expectativa para 2019 é receber até cinco vezes mais pedidos do que no ano passado.

A companhia fundada em 2016 faz parcerias com as redes para receber os pedidos online e fazer as compras pelos clientes. Os 150 compradores parceiros da marca usam carros e motocicletas para entregar os produtos.

Marco Zolet, CEO e cofundador do Supermercado Now, destaca três pontos do negócio:

1. Rapidez – as entregas são feitas em até duas horas. “Usar a economia compartilhada faz com que nossa logística fique muito bem otimizada”;

2.Integração – “A loja tem o estoque, o sortimento, está próxima ao consumidor e usá-la é muito importante. O Supermercado Now vai alavancar as vendas das lojas e vai trazer mais clientes colocando as lojas no mundo online”;

3.Personalização – “A plataforma tem uma usabilidade legal, promoções e a organização é baseada no comportamento de compra do cliente”.

Os compradores/entregadores da plataforma chegam a fazer alguns percursos a pé. Por isso, o Supermercado Now vai testar o uso de bicicletas e patinetes nos próximos meses. Zolet conta que a empresa está negociando com outras companhias que oferecem soluções de micro mobilidade.

A Loggi também vai testar novos modais para fugir do tradicional. A empresa tem uma área de atuação maior em comparação com o Supermercado Now, trabalha com varejistas de todos os setores. O diretor de e-commerce da empresa, Francesco Losurdo, conta que a ideia é começar com as cidades pequenas: “você não conecta o Brasil se só conecta cidades grandes. O desafio é chegar ao nível molecular dessa malha logística”, diz Losurdo. A Loggi também vai começar a trabalhar com pontos de coleta.

A empresa de logística é outra que mostra o momento positivo do mercado de delivery. O objetivo para 2019 é ir além das 33 cidades atendidas atualmente e, depois de chegar a todas as capitais, impactar 98% dos municípios. Até o fim de 2020, a Loggi pretende atender 95% da população brasileira.

Mais 70 shoppings

Camila Velzi, da Rappi, anunciou mais parcerias entre a startup e empreendimentos para os próximos meses. Conversas com mais 70 shoppings já estão em andamento para acordos iguais ou semelhantes à parceria com o Shopping Metrô Tucuruvi. As negociações ainda estão em curso, mas mostram a agressividade da estratégia.

O varejo pode se beneficiar de soluções como as da Rappi em dois aspectos: agilidade e visibilidade. Os consumidores que usam o aplicativo da startup, via de regra, já decidiram o que comprar, mas não conseguem ir até a loja. A plataforma intermedeia vendas que provavelmente não aconteceriam, como acredita o superintendente do Shopping Metrô Tucuruvi.

Além disso, os varejistas ganham mais exposição. O aplicativo funciona como um canal de vendas extra. Soluções que aparentemente impactam apenas o consumidor, também têm efeito positivo para o varejo.

Novas soluções, próximas e distantes

Em 2018, o iFood cresceu 128% em relação ao ano anterior. A startup recebeu aporte recorde para investir na expansão da rede e triplicar o número de restaurantes parceiros. A ideia é chegar a 150 mil lojas conectadas ao app. A startup já tem em seu radar soluções de entrega, como robôs autônomos e drones, mas ainda não colocadas em prática. Para os drones, o principal entrave é regulatório, com restrição forte relacionada ao tráfego aéreo. Sobre os robôs, a ideia é começar testando em condomínios fechados. Ainda não há data para iniciar os testes.

Assim como na Grow, as apostas do iFood para o futuro próximo do delivery estão nas bikes e nos patinetes. Hoje, são 14 milhões de pedidos mensais atendidos por uma gama de 120 mil entregadores. Hoje, o iFood tem 15 bicicletas e 10 patinetes, todos elétricos, rodando em São Paulo em esquema de teste. A ideia é ter 300 modais desse tipo (150 bikes e 150 patinetes) rodando na capital paulista até fim de março.

O iFood tem realizado estudos de altimetria para saber quais regiões de São Paulo podem receber patinetes e bikes, já que o terreno acidentado da cidade inviabiliza esses tipos de modal em algumas regiões muito íngremes. “A gente já tem até alguns restaurantes parceiros fazendo entregas só por patinete porque não têm estacionamento e as motos não podem estacionar perto”, explica. Fernando Martins, gerente de inovação em logística do iFood.

Martins ressalta que a estrutura logística das cidades onde o iFood atua oferecem desafios para novos modais de entrega, “mas com as ciclovias e com uma nova consciência para respeitar esses modais, a gente vê novas oportunidades”, afirma.

O problema da falta de espaço nas ruas e desafios de topografia não são exclusivos das cidades brasileiras. Mesmo as cidades mais organizadas do mundo procuram soluções para atender os consumidores de maneira eficiente no deslocamento de seus produtos pelas cidades. O estudo “Logística da Cidade: Luz e Eletricidade”, organizado por acadêmicos da Universidade de Roterdã, na Holanda, apontou que as ruas do Reino Unido estão entupidas por vãs e veículos pequenos de carga, pouco eficientes na entrega dos produtos em tempo hábil e que acabam apertando os carros de passeio no trânsito caótico. Segundo o estudo, o tráfego de vans cresceu 71% no Reino Unido em 20 anos, quando o número de carros comuns subiu 13%.

Em mais um estudo realizado na Holanda, dessa vez pelo município de Amsterdã, ficou constatado que. no último ano, as vendas de pequenos caminhões e vans na cidade cresceram 20%, o que traz dificuldade extras de locomoção. Além disso, o estudo apontou também que uma van ou um caminhão pequeno demoram cerca de 12 minutos para descarregar, enquanto as e-cargobikes (bicicletas elétricas de carga) são capazes de realizar o mesmo trabalho em apenas três minutos.

A Volkswagen levará às ruas da Alemanha ainda neste ano o e-cargotrike, um veículo elétrico semelhante ao antigo triciclo, que será capaz de carregar entre 210 e 350 kg (descontando o peso do motorista) por entre os corredores ou mesmo no espaço de pedestres, equilibrando agilidade semelhante ao das motocicletas com um poder de carga próprio das vans. Segundo um comunicado da sede da montadora na Alemanha, o e-cargotrike deve ser “o menor veículo comercial Volkswagen de todos os tempos”.

Logística e mobilidade urbana

Mas nem tudo é agilidade e praticidade para os veículos elétricos. O estudo realizado pela prefeitura de Amsterdam constatou que há problemas no convívio entre as bikes cargueiras e os carros quando precisam dividir o mesmo espaço e que também nas ciclovias a presença do veículo é problemática por conta do tamanho muito superior aos veículos normais. Em São Paulo, por exemplo, as ciclovias não podem receber mais de 250 kg (somando veículo, carga e motorista).

Uma matéria da Forbes de outubro de 2018 destacou a iniciativa do governo britânico para subsidiar a compra de bikes de carga. Foi criado um fundo de 2 milhões de libras para subsidiar a troca de frotas das transportadoras, o que pode economizar os gastos dessas empresas com seu core business em 20%. A ideia é retirar das ruas gradativamente as vans mais antigas, maiores e mais poluentes.

Para Larissa Campagner, coordenadora do comitê técnico do Conselho de Política Urbana (CPU) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apenas as relações comerciais não serão capazes de alterar a mobilidade das grandes metrópoles. Ela afirma que é preciso um planejamento que leve em conta como a cidade é ocupada. “Esses novos modais (bikes e patinetes) são importantes, mas não têm impacto significante no modo como os paulistanos se locomovem. Precisaríamos de um movimento em uma escala muito grande para a gente sentir diferença nisso”, diz Larissa, sobre os congestionamentos que tiram 2h43, em média, dos paulistanos diariamente.

Fonte: portalnovarejo.com

Atacadistas oferecem novos serviços para conter ida de cliente ao atacarejo

Ascensão do modelo misto de vendas faz com que distribuidores intensifiquem proximidade com pequenos varejistas de bairro; análise do sortimento e pronta entrega são tratados como ‘trunfos’.

Diante de um ambiente mais competitivo, sobretudo com o avanço agressivo do modelo de atacarejo nos últimos anos, o setor atacadista mira o pequeno varejista para agregar valor aos serviços de entrega logística e organização no sortimento de produtos.

“Quando a pessoa vai até o atacarejo, ela busca economia – mas também gasta tempo e combustível se deslocando até lá para pegar o produto na prateleira. Já quando o cliente vai até o atacado, existe um serviço logístico sendo executado por esse canal”, defendeu ao DCI o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), Emerson Luiz Destro.

De acordo com o executivo, os pequenos varejistas têm valorizado esse canal em virtude da curadoria no mix de itens, organização das gôndolas e processo de profissionalização do negócio. “Atuando regionalmente, se o pequeno lojista tiver um bom nível de serviço, um amplo sortimento de produtos e um bom volume de estoque talvez não sofra no momento em que uma grande rede chegar no mesmo local”, declarou Destro, destacando que o pequeno varejista tem a vantagem de estar mais próximo do consumidor final e, consequentemente, pode ajustar a mercadoria conforme a demanda local.

Para ele, atualmente, existe um processo de canibalização no mercado brasileiro. “Infelizmente, esse mercado recessivo está fazendo com que muitas empresas não operem dentro de uma ética”, complementou.

Partilhando de perspectiva similar a do presidente da entidade, o vice-presidente do Dipalma Comércio, Distribuição e Logística, João Alberto Pereira, afirmou que os menores players de varejo alimentar sustentaram o crescimento do setor atacadista neste ano. “O que nos ajudou muito em termos de desempenho foi a presença dos comerciantes de bairro – no sentido que vêem assumindo um papel importante na reposição dos lares e consequentemente crescendo muito rápido”, afirmou Pereira.

Segundo dados preliminares divulgados pela Abad, em outubro de 2018 – ante o mesmo período do ano passado –, o setor atacadista apresentou crescimento nominal de 7%. Já no acumulado do ano, esse avanço está em 0,5%.

“No atacado, o distribuidor tem que ter em mente sempre categorias rentáveis para o próprio negócio e também para seus clientes. Isso vai ficar cada vez mais definido na medida em que, tanto o atacarejo como os distribuidores, se especializarem em determinadas linhas de produto, como por exemplo cafés, bazar, biscoitos e massas”, salientou ele.

Além disso, ele menciona a necessidade de levar “informação” a esses pequenos empresários, como análises sobre as categorias com maior aderência nas regiões onde opera.

“Na minha opinião, o pequeno varejista deveria se preocupar mais em vender do que comprar, permanecendo no seu estabelecimento e procurando atender seu cliente. Se a diferença de preço é pequena [entre atacarejo e atacadista], não é uma decisão inteligente o comerciante perder tempo do seu dia comprando em outro local”, disse Pereira.

Outro exemplo de player atacadista que tem foco nos pequenos negócios é o distribuidor Vila Nova, localizado no Estado de Minas Gerais. “Esses comércios menores representam mais de 50% da nossa base e isso vem aumentando com o tempo”, afirmou o diretor do negócio, Leonardo Miguel Severini.

Para o executivo, após o período eleitoral, “a economia deve caminhar para um patamar de estabilização” e fortalecer o varejo local como uma “forma de conveniência no consumo”. Com isso, Severini diz que tem perspectiva de crescimento de 10% em termos reais de volume de vendas para o ano que vem.

Movimentações políticas

Com as articulações políticas e econômicas em andamento, o setor atacadista também tem se movimentado no Congresso Nacional para defender seus interesses por meio da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (Unecs).

“Tivemos na quarta-feira passada (21) com a equipe de transição do governo Bolsonaro. Nessa reunião, levamos nossos principais pleitos, no sentido de destravar e melhorar o ambiente de negócio”, afirmou o presidente da Abad.

O dirigente exemplificou um dos entraves. “Nos transportes de cargas, existem regulamentos que criam certa complexidade e custos adicionais que vão parar no bolso do consumidor. Como estruturar a mercadoria tendo que fazer a separação de cada categoria num caminhão com poucos m²? Você acaba tendo que mandar o caminhão com meia carga, e isso é custo. No pedágio, se o caminhão passar cheio ou pela metade não tem desconto”, afirmou Destro, destacando que uma flexibilização poderia resultar em maior competitividade e beneficiar o consumidor final.

Fonte: dci.com.br