Como o abismo da inclusão digital afeta o e-commerce

Anos atrás, parecia fácil descrever o estereótipo do “internauta”: jovem, tatuado, que fala inglês e interessado em tecnologia. Por muito tempo, tudo que estava on-line, incluindo as vendas, era voltado para esse tipo de usuário. Mas focar nesse perfil até hoje é um erro que precisa ser corrigido.

No Brasil, existem 152 milhões de internautas com mais de 10 anos de idade, o que corresponde a 81% da população. No entanto, o acesso à internet não é igual entre todos. Esse fato chama a atenção para os desafios da inclusão digital em um país de desigualdade social, sobretudo, ao considerar que essas pessoas podem ser consumidores em potencial.

“Apesar de o brasileiro estar comprando mais on-line, o e-commerce não é tão disseminado para classes C, D e E quanto para A e B. Mas isso deve mudar”, pontua Renato Meirelles, presidente e fundador do Instituto de Pesquisa Locomotiva. O executivo participou do Fórum E-Commerce Brasil – Grand Connection, na terça-feira (14).

Ele ressalta o crescimento da participação de classes de baixa renda no consumo e nas vendas pela internet, impulsionadas pelas dificuldades causadas pela pandemia. “Dois terços dos brasileiros perderam renda durante a pandemia. Mas, entre os conectados, dois terços mantiveram ou aumentaram a renda nesse período. Estamos vendo um modelo de geração de renda em uma camada importante da sociedade brasileira. Isso faz com que essas pessoas ‘realimentem’ o ecossistema do e-commerce. Para isso, antes temos que superar problemas estruturais da sociedade de acesso digital”, avalia.

Barreiras de acesso
Uma das principais barreiras de acesso pode ser notada pela questão geracional: 96% dos jovens entre 16 e 24 anos estão conectados, enquanto apenas metade dos idosos de mais de 60 anos são usuários de internet.

A renda econômica e a localização do indivíduo é outro tópico responsável por mais um “gap digital”. Os mais ricos e moradores de áreas urbanas são mais conectados do que os mais pobres e que vivem em áreas rurais.

A barreira educacional também afeta os usuários, sendo os estudantes de escolas privadas e com nível superior os mais digitalizados.

Em uma perspectiva mais aprofundada, avaliando o universo de conectados, Meirelles aponta limitações que os brasileiros enfrentam em seus cotidianos on-line. Para apresentar as diferentes formas de exclusão experimentadas pelos usuários, sobretudo das classes C, D e E, o Instituto Locomotiva criou o “Índice de Privação Online”.

“Somente 29% dos usuários ainda fazem parte daquele estereótipo de internauta que pensávamos há alguns anos, que são considerados os ‘plenamente conectados’ e são, em maioria, brancos, escolarizados e das classes A e B”, afirma o fundador do instituto.

No índice, é possível encontrar outros três grupos: os “parcialmente conectados”, que representam 26% dos brasileiros com acesso à internet e fazem parte das classes C e D; os “subconectados”, 25%, das classes D e E; além dos 20% que formam os “desconectados”, composto por pessoas mais velhas, não alfabetizadas, das classes C, D e E.

Desigualdade digital
Meirelles afirma que a renda está totalmente ligada a esses grupos, construindo o que ele chama de “abismo digital”. “Esses brasileiros não conseguem ter uma relação igual com a internet, o que acaba criando um ciclo vicioso na sociedade, porque afeta também o acesso dessas pessoas à escola, trabalho e qualidade ou existência de conexão à internet”.

Essa desigualdade pode ser observada por dois eixos: a infraestrutura e o letramento digital. Com a infraestrutura nacional de Telecom sobrecarregada e a distribuição de sinal desigual entre áreas urbanas e periféricas, a conexão para os mais pobres é drasticamente afetada.

O pouco investimento em equipamentos públicos à disposição da sociedade e as limitações de dados oferecidos pelas operadoras para o acesso à internet domiciliar e individual contribuem para acentuar a lacuna entre as classes sociais. Ou seja, sem acesso, é difícil exigir habilidade dos menos favorecidos para o uso da internet.

Ao compreender o cenário econômico do consumidor, é possível concluir que a defasagem no letramento digital do brasileiro e a infraestrutura precária comprometem negativamente o resultado de vendas on-line. Contudo, é também uma chance de perceber o quanto o e-commerce poderia crescer se a desigualdade for superada.

“Estamos em um jogo de ‘rouba-monte’ em vez de crescimento e temos o desafio de fazer com que essa situação não se perpetue”, conclui Meirelles, que sugere como ponto de partida a exigência de políticas públicas que garantam o acesso à internet como um direito fundamental do cidadão. “Se não for por valores sociais, que seja por inteligência: o abismo digital atrapalha os lucros”.

Brasil avança cinco posições e alcança 57º lugar no Índice Global de Inovação

Apesar da melhora na classificação em relação ao ano passado, país tem retrocesso em comparação a 2011, quando ocupou o 47º lugar.

O Brasil subiu cinco posições no Índice Global de Inovação (IGI) em relação ao ano passado e chegou ao 57º lugar entre 132 países. Apesar do avanço, o país apresenta uma classificação baixa e está 10 colocações abaixo da recebida em 2011, quando atingiu a melhor marca, a 47ª posição. No topo, aparece a Suíça, seguida por Suécia e Estados Unidos.

O ranking foi divulgado nesta segunda-feira (20) pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI – WIPO), em parceria com o Instituto Portulans, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Indústria Indiana (CII), a Ecopetro e a Assembleia de Exportadores Turcos (TIM), com o apoio do Conselho Consultivo do IGI e de sua Rede Acadêmica.

Dentre os 18 vizinhos da América Latina e Caribe avaliados, o Brasil aparece em 4º lugar, atrás do Chile (53º), do México (55º) e da Costa Rica (56º). Em relação aos BRICS, o Brasil ficou em penúltimo, à frente apenas da África do Sul, que está em 61º lugar. A China é a 12º colocada, a Rússia está no 45º lugar e a Índia, no 46º.

Parceira na produção e divulgação do IGI desde 2017, a CNI avalia a classificação brasileira como “incompatível” com o fato de o país ter sido considerado a 12ª maior economia do mundo no ano passado. A entidade também confronta a posição com a realidade do setor empresarial nacional, uma vez que o país é 13º lugar entre 45 países no ranking internacional para o desempenho da produção da indústria, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

“O crescimento sustentável e a superação da crise agravada pela pandemia de Covid-19 passam pela via da inovação. Uma estratégia nacional ambiciosa, que priorize o desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação para o fortalecimento da indústria, tornará a economia mais dinâmica, promovendo maior equidade e bem-estar social”, analisou Robson Andrade, presidente da CNI.

O executivo lembrou que a pandemia aumentou a importância que ciência, tecnologia e inovação (CT&I), por exemplo no desenvolvimento e produção de vacinas. Diante disso, defendeu que os investimentos na área são imprescindíveis para que o país avance e sua indústria seja competitiva.

Colocação brasileira
O Índice Global de Inovação é calculado com base na média dos cinco pilares do subíndice insumos de inovação (instituições, capital humano e pesquisa, infraestrutura, sofisticação de mercado e sofisticação empresarial) e dos dois pilares do subíndice produtos de inovação (produtos de conhecimento e tecnologia e produtos criativos), distribuídos em 81 indicadores.

De acordo com a CNI, alguns fatores que permitiram que o país melhorasse a posição em relação ao ano passado. Um deles é retração do PIB, que dá uma falsa percepção de avanço, pois a medida é usada em alguns indicadores. A inserção de novos indicadores no ranking e a boa atuação empresarial também contribuíram. O uso de dados de outros anos e o plano de combate ao backlog de pedidos de patentes também colaboraram.

O país, contudo, apresenta o melhor desempenho em insumos de inovação do que em resultados de inovação, ocupando o 56º lugar (59º em 2020) e 59º (64º em 2020), respectivamente. Na avaliação da CNI, ainda é necessário avançar nas políticas de incentivo à inovação, que vêm sofrendo com cortes de financiamento público.

Os dados também apontam que as principais lacunas do país estão relacionadas a formação bruta de capital, facilidade para abrir uma empresa, facilidade para obtenção de crédito e taxa tarifária aplicada.

Já os maiores avanços ocorreram nos indicadores de crescimento da produtividade no trabalho (58 posições) e de castos totais com software (46 posições). Como o primeiro é baseado na média dos três últimos anos em relação ao PIB, a alta se deve à queda do PIB, apesar da redução de empregados, criando uma falsa impressão de maior produtividade. O segundo, cuja referência é 2020, é atribuído ao aumento de investimentos em software durante a pandemia e sua relação com o percentual do PIB.

Os 10 primeiros colocados do IGI:
1 – Suíça

2 – Suécia

3 – Estados Unidos

4 – Reino Unido

5 – Coreia do Sul

6 – Holanda

7 – Finlândia

8 – Cingapura

9 – Dinamarca

10 – Alemanha

Posição dos países dos BRICS:
12 – China

45 – Rússia

46 – Índia

57 – Brasil

61 – África do Sul

Governo Federal inicia Semana Brasil 2021

Campanha Semana Brasil é um oportunidade de celebrar o patriotismo, combinando ofertas e promoções no comércio.
Aedição da “Semana Brasil 2021” acontece entre os dias 3 e 13 de setembro e vai unir diversas empresas de comércio e de varejo do país para celebrar, juntamente com a população, a nossa pátria e a retomada do crescimento da economia.

Com base no impacto das últimas duas edições do evento, a que se inicia nesta sexta-feira (03/09) pode ser ainda mais relevante, pois acontece em um momento de recuperação do crescimento do país. As ofertas especiais oferecidas durante o período do evento deverão contribuir para a retomada da economia. A expectativa do Governo Federal é que o evento apresente melhores resultados em relação aos anos anteriores.

Semana Brasil

Criada em 2019, a Semana Brasil é baseada em três pilares: colaboração, otimismo e oportunidade.

Um dos objetivos da campanha é celebrar a Independência do Brasil, realçando o sentimento de patriotismo e estimulando um maior aquecimento da economia, por meio de promoções e ofertas no comércio.

A Semana Brasil pretende engajar, novamente, todos os setores econômicos. O varejo, por exemplo, se uniu por meio de suas entidades para amplificar o alcance do evento, dando condições para que pequenas e médias empresas também possam participar e se beneficiar dos possíveis resultados.

O Governo Federal realiza a Semana Brasil 2021, cujo tema é “Vamos em frente com cuidado e confiança”, em parceria com a IDV – Instituto para Desenvolvimento do Varejo, ACSP – Associação Comercial de São Paulo e com o apoio de diversas entidades, unindo todos os setores econômicos e concorrentes, com o objetivo de levar vantagens reais aos consumidores para estimular o consumo, bem como gerar riquezas e empregos.

Logística reversa avança no Brasil e contribui para a preservação ambiental

O consumidor pode ajudar com descarte adequado de materiais como pilhas e baterias, pneus e óleo lubrificante.
Instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos e frente importante de atuação do Programa Lixão Zero, do Ministério do Meio Ambiente, a logística reversa tem avançado no país. A logística reversa é o procedimento que permite ao consumidor retornar à empresa um produto após seu consumo, de forma que o fabricante possibilite um descarte correto.

Em 2020, o Brasil bateu recorde reciclando 97,4% das latas de alumínio que entraram no mercado, segundo dados do setor. Com o Lixão Zero, o Governo Federal também avançou na logística reversa de baterias de carro, eletroeletrônicos, medicamentos e óleo lubrificante.

O secretário de qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente, André França, detalhou como esse processo contribui para a preservação do meio ambiente e destacou o papel do cidadão para ajudar na implementação da logística reversa.

O que prevê a logística reversa e o que ela representa para a melhoria da gestão ambiental e da correta destinação dos resíduos sólidos?

A logística reversa é um instrumento muito importante da Política Nacional de Resíduos Sólidos que neste mês de agosto completou 11 anos. A política data de 2010 e um dos instrumentos que precisavam ser efetivamente implementados é a logística reversa que é um sistema que permite o retorno dos produtos e embalagens após o uso pelo consumidor. É o retorno desses materiais para o ciclo produtivo, assim, eles podem ser reutilizados, reciclados ou ter outras formas de destinação final ambientalmente adequados. E tudo isso gerando emprego e renda com sustentabilidade, ao mesmo tempo que também evita o descarte desses materiais em locais inadequados como os lixões e aterros controlados. Então, a logística reversa tem esse propósito.

Como o consumidor pode participar desse processo?

O consumidor participa fazendo descarte adequado desse produto ou dessa embalagem. Alguns exemplos para que o consumidor tenha mais familiaridade, estamos falando aqui das embalagens de forma geral, das pilhas e baterias, dos pneus, também do óleo lubrificante usado ou contaminado, embalagem desse óleo lubrificante usado ou contaminado, as lâmpadas fluorescentes, as latas de alumínio e também os eletroeletrônicos. São exemplos de materiais que devem ser descartados em um dos pontos de entrega voluntária. Tem mais informações sobre isso no nosso site, o www.gov.br/mma. O descarte adequado é o primeiro passo para que esses materiais sejam destinados de forma adequada e retornem para o ciclo produtivo.

É possível estimar quantos produtos podem ser devolvidos pelo consumidor por meio da logística reversa?

Temos números bastante expressivos. Um deles é a lata de alumínio para bebidas que no ano passado bateu recorde. Foram mais de 30 bilhões de latas recicladas no país. Também outros números atualizados bastante expressivos, por exemplo, as embalagens de defensivos agrícolas, foram 45.500 toneladas recolhidas em 2019.

Pilhas e baterias foram 155 toneladas recolhidas e destinadas de forma adequada. O pneu tem duas formas de logística reversa, primeiro a própria reutilização por meio da reforma de pneus, uma atividade importante. Só aí são sete milhões de pneus de transporte de carga reformado, mais de cinco milhões de pneus automotivos, ou seja, mais de 12 milhões de pneus reformados. Além daqueles que são descartados para reciclagem, em 2019 foram aproximadamente 420 mil toneladas.

Um outro dado importante é o do óleo lubrificante usado ou contaminado. Foram quase 490 milhões de litros, em 2019. Um litro de óleo lubrificante usado pode contaminar até um milhão de litros de água. Então veja a importância que é um sistema de logística reversa, que recolhe e envia para reciclagem cerca de 490 milhões de litros em um ano.

Para citar um exemplo recente, que foi aprovado por meio de decreto pelo Presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, temos também a logística reversa de medicamentos vencidos. Esse sistema começou em 2020 a ser estruturado e hoje está presente em mais de 1.800 pontos de entrega. O cidadão pode fazer o descarte adequado do seu medicamento vencido que ele vai ter a destinação adequada.

Quais são os desafios para a implementação total da logística reversa?

A logística reversa vem avançando nessa gestão. É prioridade do Ministério do Meio Ambiente, tanto que três novos sistemas foram instituídos. Sobre as baterias automotivas – as baterias de chumbo – foi instituído em agosto de 2019 o instrumento que prevê o recolhimento dessas baterias de chumbo e envio para reciclagem.

Esse sistema foi projetado para abranger 16 milhões de baterias de chumbo por ano, o que permite uma reciclagem de mais de 155 mil toneladas de chumbo. Chumbo esse, que se fosse descartado de forma inadequada, traria contaminação do solo e das águas. Mas a logística reversa permite que esse material seja recolhido e enviado para unidades especializadas, que farão a desmontagem dessa bateria e é utilizado na fabricação de novas baterias. Então, esse é um bom exemplo da logística reversa. Você evita a poluição ao mesmo tempo que gera emprego e renda com a reciclagem, com a reutilização.

Outro sistema criado recentemente foi o de eletroeletrônicos, também sancionado pelo Presidente Jair Bolsonaro em 2020, que projeta a implantação de mais de 5 mil pontos de entrega voluntária, em todo país, para o que cidadão possa fazer o descarte adequado, desde o fone de ouvido até a geladeira, para que esse material siga para unidade desmontagem. Dali, cada tipo de material é enviado para reciclagem ou outra forma de destinação final adequada.

Têm medicamentos que nós já citamos e dois outros sistemas foram aprimorados: a logística reversa de óleo lubrificante usado ou contaminado e também o da logística reversa das latas de alumínio para bebidas, que foi aperfeiçoado.

Temos excelentes exemplos no Brasil de logística reversa. Um deles é a lata de alumínio para bebidas que, no ano passado, alcançou uma marca recorde de mais de 97% das latas recicladas. Isso totaliza um universo de mais de 30 bilhões de latas, de forma que a lata fica fora desse ciclo produtivo por apenas 60 dias, segundo dados do setor. Esse é o tempo de uma lata voltar a ser uma nova lata no âmbito da logística reversa.

Esse resultado nos coloca a frente de países como Japão, Estados Unidos e União Europeia, países da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Ninguém ganha do Brasil. O Brasil é primeiro lugar disparado no que diz respeito à logística reversa da lata de alumínio e também assume posição de destaque em outros segmentos, como a reciclagem de pneus, a reciclagem de embalagens de defensivos agrícolas, óleo lubrificante usado ou contaminado. Também somos referência para o mundo nesses outros segmentos.

Quais os outros investimentos do governo brasileiro para incentivar esse processo?

Tudo isso está contido no Programa Lixão Zero. Esse programa foi lançado em 2019 e abrange 12 ações estratégicas para aumentar a coleta seletiva, a reciclagem, o aproveitamento dos orgânicos com aquela fração que não é passível de ser reciclado ou reutilizado, o reaproveitamento energético. Alguns resultados importantes do programa, por exemplo, foi o lançamento do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos, o Sinir, que era aguardado desde 2010 e foi lançado em 2019. Hoje temos as informações da gestão de resíduos informatizadas e também a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Para além disso, o ministério tem desenvolvido editais para apoiar municípios e consórcios para melhorar os seus resultados de coleta, de reciclagem, de valorização dos orgânicos e também do aproveitamento energético sempre que você não tiver a reciclagem disponível no local específico.

Então, são várias as medidas em curso. Já são mais de R$ 180 milhões mobilizados para apoiar municípios, consórcios, mas também permitindo uma maior participação da iniciativa privada como, por exemplo, na logística reversa que vem justamente dar cumprimento à Lei 12.305 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ou seja, possibilitando que esses materiais retornem para o ciclo produtivo e atribuindo responsabilidades aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes.

Mas tudo isso, importante reforçar, só funciona se o cidadão fizer o descarte adequado do lixo, separar os recicláveis. Muita gente pergunta, mas como é que eu vou saber o que é reciclável? No dia a dia começa separando as embalagens que, no geral, têm indicação do que é reciclável. Começa separando o material seco do material orgânico e dali, junto a informações que podem ser obtidas no nosso site, o cidadão vai poder fazer o descarte adequado.

As empresas também são beneficiadas com esse tipo de reciclagem por gerar economia para elas, não é isso?

Exatamente. Muitos desses materiais que voltam para o setor produtivo, o país demanda inclusive importação. É o caso das baterias de chumbo. Então, quando esse material retorna para o setor produtivo, isso também estimula, na medida em que além de apresentar um impacto ambiental positivo, porque preserva também os recursos naturais, evita o descarte inadequado e evita a poluição, isso também representa matéria-prima voltando para o ciclo produtivo.

Se a gente observar bem, o que é o lixo? Nada mais é do que matéria-prima ou energia fora do lugar. Se o descarte for feito de maneira adequada e isso começa com o cidadão, na sua casa, no seu local de trabalho, na rua, evitando jogar lixo no chão, evitando jogar o lixo misturado de qualquer jeito, porque isso depois diminui a efetividade das ações de triagem para reciclagem. Isso já faz uma grande diferença.

E tem uma vertente que combate o lixo no mar. Pode falar sobre isso?

Outro programa relacionado ao Lixão Zero é o nosso plano de combate ao lixo no mar. Sabe qual o item que mais se encontra, em geral, nas ações de limpeza das praias, dos rios e dos mangues? É justamente a bituca de cigarro. A pessoa tende a achar que uma bituca de cigarro não vai causar impacto porque é algo tão pequeno, mas quando a gente faz esses mutirões de limpeza é o item que mais encontramos. Justamente porque todas aquelas pessoas acharam que aquele item pequeno não ia fazer diferença. Mas no final faz muita diferença. Em quantidade é o item que costuma liderar em relação ao que é retirado do meio ambiente.

Então, lembrar que aquele lixo jogado perto do bueiro invariavelmente vai parar nos rios, vai parar no mar, afeta o meio ambiente e, mais do que isso, afeta também a qualidade de vida das pessoas. Então, essa orientação é muito importante. Muita gente pergunta o que eu posso fazer para um meio ambiente melhor e a gente responde: começa separando o seu lixo, separando os recicláveis e evitando o descarte inadequado desses materiais, que muito de positivo já vem a partir daí.

É importante lembrar que 85% da nossa população vive nas cidades e são as cidades que acumulam os principais desafios ambientais. Cada um fazendo a sua parte, não fica pesado para ninguém.

Magalu: a estratégia por trás do KaBum! e das mais de 20 aquisições

Empresa líder em e-commerce do país executa plano em que aquisições são ‘peças de um quebra-cabeça’ para montar um ecossistema cada vez mais abrangente de produtos e serviços.

A aquisição do KaBum!, maior plataforma de games e tecnologia do país, por cerca de R$ 3,5 bilhões é a mais nova peça do quebra-cabeça montado de maneira minuciosa e estratégica pelo Magazine Luiza (MGLU3). Desde o começo de 2020, já foram 20 aquisições. O KaBum! é a 21ª dessa lista que ainda vai crescer por mais tempo.

“Vamos continuar comprando. São peças que se encaixam de um quebra-cabeça, aquisições estratégicas, para endereçar necessidades específicas” disse Roberto Bellissimo Rodrigues, diretor executivo financeiro do Magalu, à EXAME em entrevista recente, há dois meses, sobre os planos da companhia.

“Nosso objetivo estratégico de digitalização do varejo brasileiro é muito amplo”, disse o executivo.

Sem contar o KaBum!, foram 20 aquisições nos últimos 12 meses, todas financiadas com recursos próprios originados na forte geração de caixa operacional da companhia.

Veja abaixo a lista das 21 aquisições do Magazine Luiza desde o início de 2020:

Em 2020:

1. Estante Virtual
2. Hubsales
3. Betta
4. canaltech
5. Inloco
6. Stoq
7. Aiqfome
8. GLF
9. Sinclog
10. ComSchool
11. Hub Fintech

Em 2021:

12. VipCommerce
13. Steal The Look
14. ToNoLucro
15. GrandChef
16. SmartHint
17. Jovem Nerd
18. Bit55
19. Plus Delivery
20. Juni

“Temos uma estrutura de capital sólida e uma posição de caixa líquido de mais de 4 bilhões de reais. E conti­nuamos a gerar caixa para pagar pelos investimentos”, disse Rodrigues há dois meses. A situação mais recente de caixa será conhecida no próximo dia 4 de agosto, quando será divulgado o resultado do segundo trimestre.

Uma diferença fundamental desta vez é que o Magalu decidiu lançar uma oferta subsequente de até R$ 4,6 bilhões (contando as ações adicionais) para financiar a operação.

Será apenas o terceiro follow on da Magazine Luiza desde que abriu o capital na bolsa há pouco mais de 10 anos. O último follow on foi concluído em novembro de 2019 e movimentou R$ 4,3 bilhões.

De 3 bilhões para 150 bilhões
Nos 10 anos de capital aberto, a tradicional rede de varejo do interior de São Paulo se tornou um grupo de tecnologia com 550.000 investidores (eram 20.000 nos tempos do IPO) capaz de rivalizar no território nacional com gigantes como Mercado Livre e Amazon.

O valor de mercado de 3 bilhões de reais há dez anos foi multiplicado 50 vezes, para 150 bilhões de reais. As vendas saltaram de 1,7 bilhão de reais no primeiro trimestre de 2011 para 12,5 bilhões no mesmo período neste ano.

Atualmente, cerca de 70% das receitas da companhia são obtidas por meio do e-commerce. Há dez anos, eram 10%. O objetivo é aumentar a recorrência, nome dado à frequência de compras pelos usuários. Para tanto, o Magalu ampliou o investimento para oferecer produtos de supermercados, de moda e de beleza e entrou no disputado segmento de food delivery.

O aumento da frequência de compra, por sua vez, envolve dois desafios: o tempo das entregas, estendendo às dezenas e até centenas de milhares de sellers do marketplace o mesmo prazo oferecido para quem compra os produtos diretamente do Magalu.

“Dez anos atrás, quem comprasse algum produto no e-commerce tinha de esperar cinco, seis dias ou mais. Hoje fazemos metade das entregas em até 24 horas, a partir de estoque próprio. E 70% em até 48 horas. Queremos fazer isso para nossos parceiros e mais rápido do que isso: queremos entregar no mesmo dia os produtos próprios.”

Há um mês, o Magalu anunciou a entrega em até uma hora em 11 cidades brasileiras: Aracaju, Belém, Campina Grande, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Recife, Ribeirão Preto, São Paulo, Salvador e Teresina.

Outro desafio apontado pelo executivo é construir o maior e mais relevante super app do Brasil. Isso passa necessariamente por adicionar novos serviços financeiros, como a conta digital e o cartão de crédito com cashback recém-lançados, que vão ampliar a fidelização do cliente e gerar mais ativação dentro do aplicativo.

Ao olhar para os próximos dez anos, Rodrigues disse para a EXAME que há um longo caminho na digitalização do varejo. “O e-commerce no Brasil ainda é uma superoportunidade. Representa cerca de 10% do varejo, enquanto em alguns países chega a 30%. O jogo está só começando”, afirma o executivo.

A China avança, aprende e ensina

Se tem algo que não mudou na transição do governo de Donald Trump para o de Joe Biden nos Estados Unidos foi a preocupação com o crescente protagonismo da China no mundo e seu poder de influenciar outras economias por meio de alianças multilaterais e acordos econômicos bilaterais.

Mas a China está também cada vez mais atenta às demandas globais e, em setembro do ano passado, Xi Jinping, presidente do país e secretário-geral do Partido Comunista, propôs tornar sua economia neutra em carbono até 2060, o que teria forçado Biden, já no início de seu mandato, a anunciar a mesma meta antecipada para 2050.

A pandemia precipitada pela Covid-19 contribuiu para acelerar e redesenhar a geopolítica global, antecipando um outro processo de polarização que já se desenhava há muitos anos entre a influência norte-americana e a chinesa.

Como, por exemplo, a ação recente do grupo G7 das economias mais industrializadas do mundo que, influenciado pelos Estados Unidos, propôs o imposto corporativo internacional que seria também usado para financiar projetos de infraestrutura em economias emergentes nas quais cresce a influência chinesa.

Ou todo o esforço para conter a participação chinesa nas áreas de tecnologia, da Indústria 4.0 e do avanço global do 5G como forma de reduzir a velocidade de crescimento de sua influência em outras economias. Este elemento está presente no projeto estratégico da já maior economia mundial pelo critério PPP, de Paridade de Poder de Compra, e que deverá se consolidar como tal, em qualquer critério, estima-se, até 2030.

Paralelamente a tudo isso, neste 1º de julho o Partido Comunista Chinês completa 100 anos e conduz o país em suas conquistas na área econômica, avanços na área social e de sustentabilidade e crescente projeção no cenário global, ao mesmo tempo que promove marcante expansão do consumo interno e exporta modelos de organização, como no caso dos Ecossistemas de Negócios.

Sem entrarmos na discussão ideológica de modelos políticos, é preciso reconhecer a visão estratégica, a capacidade de planejar tendo décadas e séculos como unidade de tempo, a competência na execução, o senso de urgência, a velocidade na transformação positiva da realidade e a capacidade de inovação em todos os aspectos, mas em especial na tecnologia, que a China oferece ao mundo.

Haveria também, sem dúvida, muito a ser dito sobre aspectos negativos de seus métodos coercitivos e impositivos e ações no campo político, mas no momento preferimos nos concentrar nos avanços positivos que podem nos inspirar, sem nos deixarmos intimidar na análise dos fatos pela discussão ideológica das virtudes e problemas do comunismo e da democracia.

A transformação positiva em muitos aspectos que ocorre na China e é exportada no seu projeto de expansão global tem nos influenciado de forma marcante. Transformou o país no maior parceiro comercial do Brasil e, de longe, no maior importador de produtos brasileiros com compras na ordem de US$ 68 bilhões em 2020, mais de três vezes o que é importado pelos Estados Unidos. Sem falarmos na crescente influência e participação de empresas de origem chinesa no mercado brasileiro nas mais diversas áreas, que vão da agricultura ao setor financeiro, passando por e-commerce, eletrônicos e eletrodomésticos, tecnologia e muito mais.

Não se pode dizer que o acontece na China fica na China. O que lá acontece tem influenciado de forma relevante o mundo e o Brasil em particular. Tudo aquilo que no passado nos obrigava a conhecer, estudar, avaliar, discernir e nos inspirar com os Estados Unidos devemos fazer agora com um olho na China e outro nos Estados Unidos. É por aí que o mundo está e continuará se transformando. E nos inspirando e/ou preocupando.

Nota: Durante o Latam Retail Show virtual de setembro deste ano, haverá em paralelo o 1º Encontro Brasil-China para Desenvolvimento do Varejo e Consumo, em edição aberta e gratuita com inscrição prévia, mostrando as experiências e aprendizados de empresas brasileiras desses setores na China e, da mesma forma, das empresas chinesas no Brasil. No próprio programa do Latam Retail Show, acontecerá o 1º Latam Business Ecosystem Summit, reunindo aprendizados globais e locais sobre esse modelo de organização empresarial e o lançamento do livro “Ecossistemas de Negócios Made in Brazil”. Para conhecer mais, clique aqui.

KPMG classifica desempenho de 40 setores um ano após início da pandemia

A KPMG realizou um levantamento analisando os quatro padrões de retomada dos 40 principais setores da economia brasileira após um ano de início da pandemia da covid-19. Segmentos como telecomunicação, agronegócio, varejo e seguros encontram-se na categoria de crescimento, indicam o estudo. As outras três classificações de recuperação estipuladas pelo relatório são: retorno ao normal, transformar para emergir e reiniciar.

De acordo com a pesquisa, podem ser consideradas em processo de crescimento, as indústrias e empresas que miram o mercado pós covid-19, com o comportamento do consumidor favoravelmente alterado durante a crise. Nesse caso, os investidores perceberam um potencial de liderança e fornecem capital para crescer agressivamente durante o período de recuperação. A categoria inclui ainda os setores de tecnologia, construção e higiene.

No segundo estágio de retomada, classificado como retorno ao normal, aparecem saúde, bancos, químicos, renováveis, farmacêuticas, prestadoras e operadoras, pagamentos, bens de consumos cíclicos, transporte urbano, utilidade pública, rodovia e private equity.

Para a KPMG, essas organizações são vistas como essenciais. Elas sofreram efeitos da recessão do distanciamento social, mas se recuperarão mais rapidamente à medida que a demanda do cliente retornar em volumes semelhantes.

O terceiro grupo, “transformar para emergir”, abrange as áreas que se recuperarão, mas ao longo de um caminho prolongado, exigindo reservas de capital para resistir e transformar modelos operacionais e de negócio. Entre elas estão os setores de logística, óleo e gás, açúcar e etanol, cursos técnicos, mídia e esporte, varejos (serviços de alimentação), energia elétrica, automotivo, imobiliário, governos federal e estaduais, bens de consumo não cíclico e gerenciamento de ativos, mineração e metais.

Por fim, em reiniciar, estão as organizações que lutam para se recuperar devido à demanda permanentemente reduzida por ofertas, capital insuficiente para evitar recessão prolongada ou má execução da transformação digital. Aviação, ensino superior, aeroportos e indústria compõem essa categoria.

“A análise destaca que líderes de diferentes mercados têm buscado enfrentar esse momento com resiliência, informação e planejamento estratégico. O estudo aponta as especificidades dos setores abordados, incluindo as tendências, as medidas que as empresas têm adotado para mitigar os reflexos do atual cenário, os principais desdobramentos observados neste último ano, as lições aprendidas e os riscos inerentes aos mercados”, analisa o sócio de clientes e mercados da KPMG no Brasil e América do Sul, Jean Paraskevopoulos.

 

 

Países do Mercosul assinam acordo sobre comércio eletrônico

Os países que compõem o Mercosul assinaram um acordo de comércio eletrônico que facilita as transações digitais e proíbe a criação de barreiras comerciais sobre esse segmento. Segundo os Ministérios da Economia e das Relações Exteriores, o instrumento aprofunda a integração regional, ao regular um tema cada vez mais relevante do comércio global.

O acordo estabelece um marco jurídico comum que impede a criação de possíveis obstáculos ao comércio eletrônico entre os quatro países do bloco – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Entre as medidas acertadas, estão a proibição a tarifas sobre downloads, streaming (transmissões eletrônicas) e compras em lojas de aplicativos que sejam incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Pelo acordo, os países do Mercosul também não poderão exigir que empresas prestadoras de serviços digitais instalem servidores (computadores) em território nacional. Dessa forma, uma plataforma que funcione no Brasil não precisa, por exemplo, instalar um servidor na Argentina para poder atender a consumidores do país vizinho.

Apenas, as instituições financeiras precisam seguir a exigência, por determinação dos Bancos Centrais dos países do bloco. Embora seja abolida na maior parte do planeta, a obrigação de uma empresa instalar computadores nos países em que atua é exigida em países como a China, permitindo que uma determinada plataforma seja derrubada por ordem das autoridades locais.

Outros pontos do acordo são a aceitação de assinaturas digitais nos países do Mercosul, o alinhamento das normas nacionais de proteção ao consumidor on-line com as regras do bloco e a adoção e manutenção de marcos legais de proteção de dados pessoais e a proteção contra spam (mensagens comerciais não pedidas).

Avanços

Em nota conjunta, o Itamaraty e o Ministério da Economia informaram que o acordo se baseou nas recomendações mais avançadas de fóruns internacionais como o G20 (grupo das 20 maiores economias do planeta) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo o comunicado, o acordo regional representa uma contribuição à criação de regras internacionais para o comércio eletrônico dentro da OMC.

Desde 1998, os países que integram a OMC têm renovado, a cada dois anos, o compromisso de não impor tarifas sobre o comércio eletrônico. Dessa forma, o acordo do Mercosul firma-se como proteção regional para o segmento na ausência de um acordo global. O texto assinado, destacam o Ministério da Economia e o Itamaraty, é semelhante ao acordo comercial fechado com o Chile em 2018.

Assinado na última quinta-feira (29) em Montevidéu e detalhado na sexta-feira (30), o acordo sobre comércio eletrônico do Mercosul, na avaliação do governo brasileiro, aumentará a previsibilidade e a segurança jurídica das transações comerciais digitais dentro do bloco, contribuindo para o aumento da circulação de bens e serviços nos quatro países membros. “Sua conclusão reforça, mais uma vez, o compromisso do Mercosul com a integração comercial e o fortalecimento das condições de competitividade de suas economias”, concluiu a nota conjunta.

Cidades de fronteira

Também na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional com o texto do Acordo sobre Localidades Fronteiriças Vinculadas do Mercosul, assinado durante a 55ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em 2019.

O acordo visa fornecer as bases jurídicas de direito internacional para que os governos do Mercosul garantam aos cidadãos das localidades vinculadas dos países participantes o direito de obter documento de trânsito vicinal fronteiriço, que facilita circulação entre os países e confere benefícios nas áreas de estudo, trabalho, saúde e comércio de bens de subsistência.

Os portadores do documento fronteiriço poderão estudar e trabalhar dos dois lados da fronteira. Terão também direito a transitar por canal exclusivo ou prioritário, quando disponível, nos postos de fronteira. O direito de atendimento nos sistemas públicos de saúde fronteiriços poderá ser concedido em condições de reciprocidade e complementaridade.

O acordo também dispõe sobre cooperação entre instituições públicas nessas regiões em áreas como vigilância epidemiológica, segurança pública, combate a delitos transnacionais, defesa civil, formação de docentes, direitos humanos, preservação de patrimônio cultural, mobilidade de artistas e circulação de bens culturais e combate ao tráfico ilícito de referidos bens.

Panorama Mercado&Consumo: o que esperar da economia nos próximos dias

Perspectivas positivas nos Estados Unidos e inflação preocupante no Brasil.

As perspectivas continuam positivas nos Estados Unidos diante do avanço da vacinação contra a Covid-19, mas a diminuição da velocidade do crescimento na China preocupa. No Brasil, a inflação também gera apreensões, embora a expectativa seja de que ela caia no segundo semestre. Esses e outros temas são tratados no “Panorama Mercado&Consumo” desta semana, produzido pelo time da Gouvêa Analytics, integrante da Gouvêa Ecosystem. Confira, a seguir, os principais pontos de atenção nos próximos dias na economia.

Cenário econômico internacional

Os Estados Unidos continuam com uma perspectiva muito positiva. Os números estão muito bons e ainda há muito incentivo para entrar na economia (US$ 1,9 trilhão de dólares). Ainda pode haver um novo pacote de infraestrutura. O que preocupa o Banco Central Americano (FED) ainda é o mercado de trabalho para pessoas de mais baixa renda, que sofreram demais na crise. Incentivos fiscais, monetários e vacina em ritmo acelerado devem garantir um ano excelente. O mercado tem, no entanto, um ponto de preocupação: a inflação.

Por outro lado, a diminuição da velocidade do crescimento na China também gera apreensão. Apesar do crescimento de 18,3% do trimestre em relação ao trimestre anterior, a variação positiva em relação ao último trimestre do ano passado foi de apenas 0,6%. O mercado de trabalho, principalmente para jovens, está muito fraco, e auxílios fiscais e monetários do governo são limitados por restrições macroeconômicas. O alívio veio com o crescimento forte das vendas do varejo (32%), que estavam muito deprimidas nos últimos meses. O país deve crescer bem neste ano – o que preocupa é a intensidade deste crescimento.

Cenário econômico no Brasil

O panorama mostra, ainda, que a resolução que o governo federal deu ao Orçamento foi “pegar o caminho mais fácil”. Alguns programas foram deixados fora do teto de gastos, como o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, o BEm, e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronampe. Ou seja: eles foram retirados e estão livres de limite.

Na análise da Gouvêa Analytics, o melhor caminho a ser seguido para a economia era manter o orçamento de calamidade por mais algum tempo, tendo como pano de fundo o recrudescimento da pandemia e a necessidade de mais recursos para salvar empresas e auxiliar a camada mais pobre da população. Para a unidade da Gouvêa Ecosystem, deixar alguns programas fora do controle do teto é perigoso e dá ao governo uma discricionariedade que não é desejável – mercado e companhias de administração de risco questionam e criticam a saída.

A inflação ainda preocupa, segundo o “Panorama Mercado&Consumo”, mas é inflação “importada”. O mundo já começou a crescer pós-pandemia e levantou os preços em dólar das commodities. Mas as incertezas políticas e no Orçamento, juntamente com os juros baixos, fizeram com que o dólar subisse demais aqui. Assim, os preços das commodities, principalmente petróleo, soja e milho, subiram excessivamente em real. A expectativa da Gouvêa Analytics é chegar a algo entre 7% e 7,5% no IPCA em doze meses em junho. O índice deve arrefecer no segundo semestre e fechar próximo a 5%. Essa alta já motivou o início de um ciclo de alta de juros que deve fechar o ano entre 5% e 5,5%.

Por outro lado, o IBC-BR, índice do Banco Central que é um indicador de antecedente do PIB, subiu fortemente em fevereiro em relação a janeiro (1,7%). Isso praticamente garantiu que o Brasil não terá queda na economia no primeiro trimestre e afastou a possibilidade de recessão técnica em 2021 (dois trimestres seguidos de queda do PIB). O mês de março deve mostrar uma queda na margem, mas não deve levar o trimestre para negativo, pois, para isso, seria necessária uma queda de mais de 8%, dessazonalizado. O País deve registrar um arrefecimento do crescimento por conta das novas restrições da pandemia.

O câmbio continua muito dependente do ambiente político-econômico interno, aponta o panorama quinzenal. As condições macroeconômicas, com subida de juros do Banco Central, apontam para valorização, mas o ambiente interno tenso não permite essa folga. A tendência é que ele não mude muito no curto prazo.

Gouvêa Analytics é a unidade de mapeamento de tendências econômicas da Gouvêa Ecosystem.

 

O que muda com a criação da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA)?

Documento visa nortear ações para o desenvolvimento da tecnologia no país; especialistas ouvidos pela Consumidor Moderno avaliam o documento como um bom ponto de partida, mas criticam falta de profundidade.

No início de abril, o governo federal lançou uma norma que prevê a primeira política pública orientada ao uso da inteligência artificial no Brasil. Trata-se da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), instituída pela Portaria 4.617, do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações. O EBIA pode ser o ponto de partida para a regulação de algoritmos no País.

A EBIA possui 6 objetivos estratégicos:

  • Contribuir para a elaboração de princípios éticos para o desenvolvimento e uso de IA responsáveis;
  • Promover investimentos sustentados em pesquisa e desenvolvimento em IA;
  • Remover barreiras à inovação em IA;
  • Capacitar e formar profissionais para o ecossistema da IA;
  • Estimular a inovação e o desenvolvimento da IA brasileira em ambiente internacional;
  • Promover ambiente de cooperação entre os entes públicos e privados, a indústria e os centros de pesquisas para o desenvolvimento da Inteligência Artificial.

O estabelecimento desses pilares vai servir de parâmetros para a criação de leis que envolvam inteligência artificial. Um dos assuntos é a possibilidade de regulação de algoritmos, evitando assim que façam escolhas consideradas machistas e preconceituosas de uma maneira geral.

Segundo Aline Trivino, professora e advogada especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Digital, o que muda para o cidadão é que a estratégia busca trazer um maior controle sobre o uso da IA. “Ela visa não só a manipulação de dados em massa, mas também (quem exerce a) influência dessa manipulação. Um maior controle de como essa utilização é feita pode nos ajudar no desenvolvimento de negócios”, avalia.

Um bom ponto de partida

Para Luiz Augusto D’Urso, advogado especialista em Direito Digital, professor no MBA da FGV e presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da ABRACRIM (Associados Brasileira dos Advogados Criminalistas), toda e qualquer iniciativa nacional de fomento à tecnologia e inovação é positiva. “A preocupação do poder público em relação à evolução da IA é importantíssima; por meio de uma estratégia será possível fomentar o avanço tecnológico e, também, controlar a situação da substituição do homem pela máquina. ”

O especialista diz que o impacto da tecnologia nas relações de consumo é muito grande e, portanto, o controle da Inteligência Artificial para o entendimento humano deverá ser regulamentado. Ele pondera, no entanto, que a EBIA é apenas um ponto de partida em um debate que deve ser continuado e aprofundado.

“É claro que a Inteligência Artificial é muito maior do que a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial. Ela muda e altera todo um cenário na sociedade, então nunca devemos nos dar por satisfeitos com uma estratégia inicial. Os estudos utilizados pela EBIA devem servir também de reflexão e aprimoramento de uma estratégia mais completa, e, claro, trazendo também o viés político que deve acompanhar a importância dessa evolução, trazendo questões legislativas sem dificultar o avanço da tecnologia. ”

“Um documento desprovido de espírito”

O Brasil não é o primeiro país a aprovar uma diretiva com os princípios do uso da inteligência artificial. Especialistas ouvidos pela Consumidor Moderno apontam para mais de 20 países que já possuem uma norma similar. E esse é justamente o ponto de partida das críticas direcionadas a EBIA.

A principal crítica é de que a EBIA seria apenas um “pontapé inicial” na discussão sobre o assunto, capaz apenas de trazer discussões genéricas. “É um documento desprovido de espírito. Sócrates provavelmente classificaria o documento como sendo de autoria dos Sofistas”, diz Marcelo Chiavassa de Mello Paula Lima, professor de Direito Civil, Digital e Inovação do Mackenzie.

Segundo Chiavassa, a EBIA peca em adequar as diretrizes à realidade brasileira, sendo uma espécie de “compilado” de estudos e medidas de diferentes instituições e países, boa parte deles relativamente antigos, realizados em 2018 e 2019.

“Apesar de identificar muito bem os problemas existentes no mundo atual, a propositura de soluções é pouco – ou quase nada – concreta. A EBIA se limita a dizer que precisa incentivar, precisa financiar, precisa fazer, mas não esclarece como fazer, quem irá financiar e nem o que precisa fazer. Ela parece mais um draft, ou seja, uma iniciativa ainda não finalizada, do que propriamente um trabalho sólido e que tenha como ambição ser o pontapé inicial no projeto brasileiro de regulação dos diferentes impactos da Inteligência Artificial. ”

O especialista lista algumas questões que explicitam a falta de concretude dessa Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, especialmente na seção destinada à Educação Digital.

“O documento fala em instituir programas de formação tecnológica para professores e educadores, ampliar a oferta de cursos de graduação e pós-graduação ligados à inteligência artificial, e uma série de outras medidas. Questiona-se: quando isso vai ser feito? Quem será o responsável por coordenar essas iniciativas? Como se dará a ampliação da oferta de cursos? Essas medidas abrangem educação pública e privada? Haverá incentivo financeiro? Qual a meta a ser cumprida (10 novos cursos? 20? 50?)? Em quanto tempo essa meta deverá ser atingida?  Quantos anos mais teremos que esperar para que essas ações estratégicas ganhem concretude? ”, conclui Chiavassa.