Venda digital perde fôlego e varejistas seguram despesas

Projeção de expandir 8% cai para 5% no ano; plataformas cortam custos e tiram benefícios do cliente.

“O Mercado Livre entregava com frete grátis se a compra [de supermercado] chegasse a R$ 79 ou mais. Agora [o valor] é R$ 199”, desabafava no Twitter, dias atrás, um dos clientes da plataforma, Gabriel Belusio. “Finalmente um cupom de frete grátis na Shopee sem preço mínimo”, comentava na sequência a consumidora sob o pseudônimo “Ash”, na última quinta-feira, data de um evento da Shopee no Brasil. O que se vê nas últimas semanas nas redes sociais, em centenas de mensagens sobre as ações das plataformas, é só um dos reflexos da mudança no ambiente do mercado digital no país.

O “boom” do comércio eletrônico após a pandemia perdeu força rapidamente neste ano, os custos logísticos e de mídia têm subido, e esse ciclo negativo já atingiu o consumidor que se acostumou, após a euforia nas vendas de 2020, a benefícios e vantagens na hora da compra. Esses ganhos vêm sendo revistos na busca dos grupos por maior eficiência.

Essa pressão cresce mais com a inesperada queda nas vendas no comércio eletrônico neste ano, com os primeiros recuos em abril (-6,4%) e maio (-1%), segundo dados de vendas mensais da empresa de pesquisas MCC/Neotrust. Era projetado desaquecimento, dizem analistas, mas não recuos seguidos. E isso ocorre não só pela base de comparação forte de 2021 e a volta do comércio nas lojas, mas há efeito da perda de renda e alta inflação nos preços. Americanas, Mercado Livre, Magazine Luiza e Via vêm crescendo em ritmo menor neste ano frente a 2021. A Shopee estaria mantendo ritmo pela base de vendas menos madura.
Nos últimos dias, o Valor reuniu junto a executivos e especialistas exemplos de alterações em políticas nas empresas, que podem afetar projetos e investimentos no ano. Por exemplo, aumentaram os valores mínimos de gastos em compras, definidos para obter entrega gratuita ou descontos. E parou de subir o peso da venda com frete grátis dentro do bolo total.

“Pelas nossas pesquisas, esse frete gratuito já se estabilizou no ano e não duvido que caia dentro do total no segundo semestre”, diz Fabrício Dantas, CEO da Neotrust. “É outro cenário hoje frente a 2020 e 2021. Está difícil estimar para frente, mas decidimos rever nossas projeções com a queda recente nas vendas”.
A estimativa no começo do ano era de uma alta no faturamento on-line de 8%, diz Dantas, e se espera agora crescer 5%, para R$ 169 bilhões. São R$ 8 bilhões a mais em vendas (mas quase R$ 5 bilhões a menos do projetado antes). Em valor, é a menor adição à base total desde 2019.

“Esperamos uma reaceleração do GMV [vendas pelas plataformas] no terceiro trimestre, porém mais lento. A expansão de 20% ao ano até 2025 caiu para 16%”, disse, dias atrás, em relatório, Daniel Federle, analista do Credit Suisse.
Esse cenário leva a revisões de prioridades nos grupos e afeta a relação com o cliente, apesar de eventual esforço para não cair o nível do serviço.

Desde o início do ano, grandes “marketplaces” como Renner, GPA, Magazine Luiza e Via falam em ser mais “racionais” na estratégia, com atenção maior à rentabilidade. “Temos sido muito acionados para ajudar a rever alguns processos. Não faz mais sentido ficar ‘comprando’ cliente digital a qualquer CAC [sigla de custo de aquisição de cliente], e sem conseguir diluir isso, pelos níveis baixos de venda”, diz Luciana Batista, sócia da consultoria Bain & Company.
“ Há análises sendo refeitas em investimentos, por exemplo, em ‘dark- stores’ [lojas que estocam produtos para entrega on-line] e sobre a real eficiência dos mini-hubs no país [pontos com ampla área de estoque]”, diz. “Será que vale mesmo abrir três ‘dark-stores’ no ano, com custo por metro quadrado alto, para a entrega a clientes num prazo mais curto, se o cliente da região aceita receber em prazo maior? Outro ponto tenho lojas com estoque que cobrem as entregas on-line em 75% da área, por que investir em mais mini hubs? Há projetos que estão ficando em stand-by ”, afirmou.
O comando da Petz disse, a analistas em maio, que fez “ajustes táticos”. “Havia alguns incentivos que a gente dava em programa de fidelidade, ou de descontos para ‘ship from store’ [venda on-line de estoque da loja], que não necessariamente traziam todo o benefício versus, eventualmente, a gente fazer um investimento maior no ‘Minhas Ofertas’ [no app próprio da rede ]”, disse a vice-presidente financeira, Aline Penna. “Estamos focando mais os investimentos em ‘pricing’, naqueles programas que nos trazem mais retorno”.
Em relatório na semana passada, analistas do Credit Suisse citam que a Vtex, fornecedora de tecnologia a empresas on-line, adotou uma postura mais conservadora neste ano depois que “começou a notar um crescimento mais fraco na sua base de clientes, em adição a uma implementação mais lenta de projetos em andamento”, diz o informe. Sobre a questão, a Vtex diz que cresce acima da média e vem gerando valor a seus clientes.

Fornecedora de serviços ao comércio eletrônico, a Infracommerce diz que “há clientes falando em segurar um pouco mais novos projetos”, segundo o vice-presidente de finanças Fabio Bortolloti.
Outra iniciativa envolve um aumento de investimento nas ações de marketing nos apps e sites das plataformas, e uma racionalização maior dos incentivos em buscadores, após a alta na inflação dos “cliques” entre 2020 e 2021. Empresas pagam se a venda é oriunda dos buscadores, como Google. “Essa é uma das maiores despesas dessas empresas digitais e a mais fácil de ser mexida. Como se trata de uma compra de mídia de performance, ela é fundamental hoje, mas há maior flexibilidade em ajustá-la”, diz Marcelo Tripoli, fundador da agência digital Zmes.

Ainda aumentaram as ações para incentivar a venda pelo sistema de retirada da compra on-line na loja. “Com o combustível caro, tem rede dando um agrado para fazer o cliente pegar o item na loja. A cada retirada, posso diminuir a minha rota de entrega. Além disso, o subsídio ao frete vem caindo, a depender do perfil do comprador”, diz um executivo da área de moda.

Nas últimas semanas, algumas medidas que afetam o consumidor vêm se tornando públicas, como a decisão do Mercado Livre de subir, a partir do dia 7 de junho, de R$ 79 para R$ 199, o valor mínimo para obter frete grátis na compra de itens de supermercado. Isso tende a diminuir o subsídio da empresa ou dos lojistas aos clientes.

Aos lojistas, a empresa disse em comunicado que está “reduzindo custos para que [o vendedor] possa baixar seus preços na seção”. Em receita, o Mercado Livre cresceu 63% no Brasil de janeiro a março, abaixo do ritmo dos trimestres anteriores, mesmo cenário visto no Magazine, Via e Americanas – efeito da base de comparação e da menor demanda, dizem analistas.
Na Shopee, consumidores já vêm mencionando em redes sociais há meses a política mais restritiva na concessão de benefícios. Em maio, ela aumentou, de R$ 20 para R$ 29, o preço mínimo para o cliente ter acesso ao frete grátis. A empresa cita, em balanços trimestrais globais, perda menor nas entregas no Brasil. “O dinheiro ‘enxugou’, e mesmo plataformas estrangeiras vêm adotando uma racionalização maior” diz Gabriel Lima, CEO da consultoria Enext.

Também existe hoje no mercado uma nova onda de repasses de custos aos lojistas, iniciada no fim de 2021. São medidas para absorver custos financeiros e operacionais maiores no ano. O Mercado Livre aumentou de até cinco dias para oito dias o prazo de pagamento a lojistas nas vendas feitas pelo Mercado Envios (para itens novos e vendedores com boa nota na plataforma). Ou seja, o valor ficará mais tempo com a companhia. Para itens usados e lojistas sem reputação, serão 12 dias.

A mudança vale a partir do dia 20. O parcelamento de vendas acima de R$ 500 também caiu de 12 vezes sem juros para 10, desde o dia 30 de junho, na categoria “premium”. Isso reduz custos de financiamento da empresa, em tempos de juros altos. Procurada, a companhia diz que são “ajustes em sua política de custos em função do cenário econômico” e isso afeta serviços como frete e formas de pagamento. Afirma que são atualizações necessárias para seguir com o objetivo de oferecer um melhor ecossistema de negócios.

O Valor já antecipou na semana passada que, desde a sexta-feira, a Via parou de antecipar o pagamento a lojistas de maior porte em seu “marketplace”. E após o dia 13, o Magazine Luiza passa de 16% para 18% a taxa cobrada do lojista que quiser receber o valor de sua venda à vista, na maioria das categorias de sua plataforma.

Walmart compra veículos elétricos para entregas last mile

O Walmart oficializou, na última terça-feira (12), um acordo para compra de veículos elétricos voltados às entregas last mile. O pedido conta com quantidade mínima de 4,5 mil produtos, chegando até 10 mil veículos do modelo Lifestyle Delivery Vehicles da Canoo.

A startup de veículos elétricos responsável pela entrega das vans elétricas também confirmou o negócio com o Walmart. O acordo, segundo especialistas, é um salto positivo para a Canoo, que viu suas ações subirem mais de 70% nas negociações de pré-mercado após a notícia da encomenda ser anunciada. No momento, o preço de cada ação está em US$ 4.

O planejamento do Walmart consiste em utilizar as vans para entregas locais de itens comprados por meio do e-commerce. Os veículos serão construídas na fábrica da Canoo em Oklahoma, entrando em serviço, no entanto, somente a partir de 2023. Os termos do acordo não foram divulgados.

A Canoo é uma das várias startups de veículos elétricos sediadas nos EUA que se tornaram públicas por meio de fusões com empresas de aquisição de propósito específico, ou SPACs.

As ações da empresa subiram brevemente para mais de US$ 20 após sua estreia no mercado de ações no final de 2020 , mas caíram desde a saída do cofundador e CEO Ulrich Kranz no ano passado.

Micro, pequenas e médias empresas foram as que mais sofreram na pandemia, mostra Alibaba

O Alibaba mostrou que, em todo o mundo, as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) respondem por 90% dos negócios, 70% dos empregos e 50-60% do PIB. Porém, seu estudo aponta que até 70% das PMEs em todo o mundo tiveram queda nas vendas. Outros dois terços, neste caso, disseram que as vendas caíram 40% — menos de um quarto das MPMEs sobreviveram à pandemia sem queda nas vendas.

Para Zhang Kuo, presidente do Alibaba, o principal problema dessa queda foi uma suspensão repentina e quase total da demanda. “Isso ocorreu devido aos efeitos dos mandatos de bloqueio em indústrias com foco no físico, como turismo e hospitalidade. Afinal, são pontos onde as pequenas e médias empresas estão fortemente representadas”, disse.

Aumento de custos às micro, pequenas e médias empresas
A pandemia também desencadeou custos crescentes no comércio e na logística globais. À medida em que suas receitas de vendas diminuíram, as MPMEs relataram uma proporção maior de crises de liquidez. Por consequência, isso levou a uma onda de fechamento de negócios e ao desemprego.

Um quarto dos entrevistados com menos de 10 funcionários fechou completamente, em comparação com 13% das grandes empresas com mais de 250 funcionários que relataram desligamentos completos.

Micro, pequenas e médias empresas do setor B2B
Uma pesquisa anterior do Alibaba descobriu que, nos EUA, 61% das micro, pequenas e médias empresas do B2B viram suas vendas aumentarem no ano passado. Por outro lado, somente 34% das empresas B2B que não estão no online conseguiram esse feito no período.

“As micro, pequenas e médias empresas do B2B precisam ser atualizadas em um monte de habilidades para serem eficazes e serem capazes de usar adequadamente essas ferramentas”, disse James Howe, consultor sênior do International Trade Center (ITC) das Nações Unidas.

Inflação no comércio eletrônico deve crescer 0,27% em junho

Maiores altas foram nos preços de notebooks, panelas elétricas e bicicletas.

O Índice de Inflação na Internet (E-Flation), que mede a variação no preços dos produtos comprados virtualmente, deve crescer 0,27% em junho, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar). No acumulado dos últimos seis meses, o índice deve manter estabilidade.

“Apesar das alterações bastante significativas mês a mês, nos últimos seis exercícios, os preços na internet ficaram praticamente estáveis no acumulado do semestre, ou seja, uma variação positiva de apenas 0,8%. No mesmo período, apenas como referência, pois se trata de uma outra cesta de bens, o IPCA cresceu 5,5%”, analisa Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar, em nota à imprensa.

Em junho, as maiores altas no E-Flation foram nos preços de notebooks, com aumento de 6,54%; panelas elétricas, com 2,92%; bicicletas, com 2,76%; e lavadora de roupas, com 2,61% aparecem em seguida.

Os itens que apresentaram menor variação de preço foram TVs, com queda de 3,58%; geladeiras, com baixa de 3,17%; fones de ouvidos, com 2,75%; e micro-ondas, com 1,63%. A única categoria a se manter estável no mês foi a de calçados. O Ibevar coletou informações de preços dos produtos mais vendidos no ambiente digital em 35 categorias.

Luiza Trajano: ‘Não depende da economia, negócio bom a gente compra’

Empresária minimiza queda das ações, diz que varejista vai abrir até 50 lojas este ano e comemora marca de 200 mil sellers na plataforma.

Presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza, a empresária Luiza Helena Trajano diz não se preocupar com o mau momento da varejista na Bolsa (as ações do Magalu caíram 67,59% no primeiro semestre). Segundo suas palavras, ela “nem olha”: “O importante é que a empresa está com caixa muito bom, graças a Deus”. E avisa que, após a varejista comprar 21 empresas nos últimos três anos, não vai pisar no freio, mesmo com o cenário econômico adverso: “Negócio bom a gente compra”.

Pela primeira vez, Luiza será garota-propaganda da marca, na Caravana Magalu, que começou em maio e chega agora em João Pessoa, na Paraíba. No evento, a empresa capta vendedores para sua plataforma, que bateu na semana passada 200 mil sellers.

Em entrevista ao GLOBO, concedida dois dias antes de ir à Bienal de São Paulo apresentar o livro sobre ela escrito pelo jornalista Pedro Bial, Luiza conta ainda que pegou “mais uma causa”: mudar o mercado livreiro para evitar o sufoco das pequenas livrarias no país;

O primeiro semestre foi bem ruim para as varejistas, as ações da Magalu caíram muito. Como a senhora vê o cenário de inflação e juros mais altos?

Inflação a gente já estava até esperando, porque toda pandemia dá uma inflação porque diminui o produto. Não se fabrica o que precisa, então está no mundo inteiro. O que acontece no Brasil é que a gente tem que conter a inflação com juros altos. Saímos de um dígito para dois (em juros) muito rapidamente. A área de varejo vendeu muito na pandemia. Quase triplicamos as vendas. Faturamos R$ 54 bilhões ano passado. E aí, lógico, vem a ressaca.

Tanto é que a linha de roupa, de sapato, está vendendo mais que TV, computador, coisas de casa que as pessoas trocaram. Agora, as ações, eu nunca mandei ninguém comprar ação. Quando dá baixa, sou a primeira e minha tia (Luiza, fundadora da rede) a comprar. E, para te falar a verdade, nem olho isso. O importante é que a empresa está com caixa muito bom, graças a Deus.

Estou até indo a campo fazer a caravana. Sou garota-propaganda. A empresa é sólida, é moderna, foi uma das primeiras de lojas físicas do mundo que se digitalizou sem largar a loja física. A gente já sofreu esses altos e baixos de Bolsas. Sou diplomada nisso.

Em maio, começou a rodar a Caravana Magalu, da qual a senhora é a garota propaganda, para captar novos vendedores para o marketplace da empresa. Por que os pequenos são tão importantes para a Magalu?
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Sempre o Frederico (Frederico Trajano, filho de Luiza e CEO da empresa) falou: “A gente vai digitalizar o Brasil pequeno e médio”. Primeiro que faz parte da nossa missão digitalizar o Brasil. Segundo, que o marketplace é o nosso foco, certo? Nós vendemos de tudo no aplicativo. E aí a gente resolveu ir para lugares que estão pouco digitalizados no Brasil.

A gente atingiu 200 mil sellers (vendedores no marketplace). Hoje estamos comemorando. Nós não somos mais uma empresa de varejo. Nós somos um super app. A gente comemorou no rito, batemos palmas (a marca dos 200 mil vendedores). Ter seller conosco vendendo através do Magalu é um dos nossos objetivos. E a gente cresceu muito.

Foi a primeira vez que o Frederico me usou como garota propaganda mesmo. Eu faço filme, estou no outdoor, na rádio convidando. E a gente vai estar olho no olho. Eles (empresários) vão poder ver cursos que nós compramos, o que eles podem fazer, gratuito. Eu vou ser madrinha da loja física deles. Tem uma identidade.

O Magalu foi muito pioneiro na digitalização. Qual é a sua relação com a tecnologia?
Eu sempre fui muito novidadeira. Eu nem conseguia escrever um livro porque amanhã já tinha acabado o ontem para mim. O (Pedro) Bial é que foi persistente. Eu mesma dei pouquíssima entrevista no livro.

Eu dei mais agora que estou defendendo os livreiros. Aí, eu sempre comprei tudo o que é novo, celular, tablet. Mas eu nunca, até uns oito anos atrás, tinha entrado nas redes sociais. Aí eu pedi ao meu netinho que, na época tinha 5 anos, o mais velho disse: “Treina, treina, treina todos os dias, não desiste”.

Eu faço as minhas redes sociais. Eu acompanho, eu respondo e eu fui aprendendo. Não sou uma expert, mas eu aprendo e sou esforçada para aprender, sabe? Quando eu abri meu Instagram, minha filha falou “Puxa, que fotos horríveis e você ainda abre?”. Eu falei: “Menina, eu sou pública”. Você aprende.

Eu fico curiosa descobrindo o que lança o que não lança, como que faz, como que o story fica melhor, não fica. Sou curiosa. Me exige muito mais do que um jovem que já sabe. Mas eu falo nas minhas palestras: “Se eu consegui, qualquer um consegue”.

E como é a campanha com os livreiros?
Antes de pensar no livro, logo que começou a pandemia, logo que comecei o Unidos pela Vacina (movimento para ajudar a levar a vacina da Covid a todo o Brasil), eu fui convidada por vários grupos, cientistas, médicos, inclusive livreiros. Essas lives. E lá eu descobri uma coisa, gente: o que acontece em um país em que o livro é muito importante? Durante um período que você lança o livro, de seis meses a um ano, ninguém pode abaixar o preço do livro. Porque se abaixar, quebra os pequenos.

Fiquei sabendo nessa live (com os livreiros). Como eu sou comerciante, entendi rápido. Os grandes colocam isso como chamariz, a gente chama de boi de piranha. O livro está vendendo muito, eles abaixam o preço para poder chamar outros livros. Aí os pequenos quebram. Fiquei com isso na cabeça. Quando veio meu livro, eu achei que pudesse vender. Eu perguntei para a editora o que poderíamos fazer. Junto com um advogado nosso fizemos um contrato que se abaixar (o preço) o livro, ela (a loja) para de receber. É o único jeito que eu posso.

Outra coisa que eu cuidei foi de logística. Antes de lançar, eu queria que estivesse em todas as pequenas livrarias do Brasil inteiro. Eu acompanhei. Todo mundo queria que eu lançasse na Arena Magalu, que é imensa aqui, toda digital. Eu falei que não, quero lançar numa livraria, e lancei na da Cultura, que foram 1.500 pessoas. Compraram de tudo.

E agora aonde eu for eu vou lançar em uma livraria, pequena que seja. Não dei livro para ninguém, nem para minha assistente. Eu digo para elas comparem na livraria. É mais uma causa que eu estou pegando e parece que aí todo mundo começa a entender, porque eu sou boa para explicar, né.

Como estão enfrentando a concorrência das varejistas asiáticas? A Shopee chegou a superar a Magazine Luiza no download de aplicativos.
A concorrência sempre é saudável, eu nunca deixei falar mal de concorrência, mas acho que tem que ter o mesmo jogo. Se é para não pagar (imposto), que ninguém pague. Se é para pagar, que todo mundo pague. É o que IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) está lutando.

Como é que pode chegar de fora, não gera emprego aqui e, de repente, não tem a mesma igualdade de deveres (tributários). Por exemplo, não paga imposto e a gente, o varejo, paga 38%, 40%. Então, ninguém do varejo está contra a concorrência. Estamos contra a desigualdade que existe.

O Magazine Luiza fez várias aquisições sobretudo nesse momento de digitalização. Vai seguir o ritmo ou pisar no freio com a economia mais desaquecida?
Independentemente da economia, nós sempre crescemos e estruturamos. Negócio bom a gente compra. As nossas empresas (compradas pela rede), acho que foram 21 nesses últimos três anos, foram dentro de três pilares: tecnologia, para facilitar cada vez mais; diversidade, maior número de produtos, no Magalu tem de tudo, foi o nosso lema; e na parte de logística. A gente abriu 140 lojas físicas por ano nestes últimos três anos. Agora, nós vamos abrir mais 40 a 50 neste ano ainda.

Valeu a pena ter ido para o Rio?
Ah, a gente ama ter ido para o Rio. A gente tinha muito medo de segurança, minha tia até, né? (Luiza Trajano já falou que a rede não vinha para o Rio porque sua tia, fundadora da empresa, tinha medo de assaltos). E o Rio não tem nada mais do que a gente vive, sabe.

Quero tirar essa imagem do Rio. Lógico, tem assalto em loja por causa de celular. Mas o Rio não tem mais do que outros estados. Esse sempre foi o medo da minha tia porque ela sempre foi muito preocupada com a vida dos funcionários, dos clientes.

O programa para trainees negros criou muita polêmica quando foi lançado. Três anos depois, quais foram os resultados? E quais são os próximos passos?
A gente faz o que sempre fez essas frentes. Eu fiz de mulher, quando na época não tinha mulher. Há 13 anos, eu saí falando que era a favor de cota. Apanhava. Apanhava da própria mulher. Meritocracia, né. Está bom, então. Oportunidade para todos. Depois, coloquei a questão da violência contra a mulher dentro da empresa com linha direta, diversidade, aqui é proibido. Uma das nossas normas é proibido qualquer tipo de preconceito. A gente tem depoimentos maravilhosos aqui.

Aqui na empresa eu tenho o destaque do mês. Vários de todas as áreas. E eu comecei a ficar impressionada que a hora que eu dava a palavra, bem bate papo, “Eu entrei grávida, sou muito grata”. A gente faz tão naturalmente que eu falei para o TV Luiza pegar uns depoimentos de duas grávidas porque todo destaque tem duas agradecendo, porque eu quero até mostrar para os meus companheiros que, quando contrata grávida ela fica tão grata que vira destaque (ou seja, funcionário com bom desempenho dentro da empresa).

Esses dias eles fizeram um filme sobre as grávidas. Comecei a perceber que as grávidas entravam, tinham o bebê e depois queriam produzir tanto que virava destaque e eu nunca pensei nisso.

Vou falar do negro. Eu sempre trabalhei o movimento negro, mesmo no Mulheres do Brasil. Eu falava para a diretora de RH: “Põe mais dois, três trainees que eu pago do Conselho. Vamos botar trainee negro, não aparecia”.

Aí o Frederico fez uma estatística em janeiro de 2019 e viu que tem muito negro até gerente, mas não tem de diretor executivo e falou para elas. Elas disseram: “Olha, a Luiza sempre pede e nunca aparece”. Ele teve a brilhante ideia de fazer um treinamento só para negros. E quando foi uma sexta-feira às 15h ele lançou e me chamou. Foram 72 horas que eu nunca vi tanta paulada na minha vida, foram profundas, não compra mais, muito foram agressivos. Aí no domingo o Frederico mandou uma carta “Gente, estou querendo mudar a minha empresa, não estou querendo mudar o mundo”. Quem não quiser, não muda, ele quis dizer. Que ele assustou um pouco até.

Agora vou te contar os ganhos. Em um ano que eles ficaram aqui (os trainees), eles fizeram um documentário de 20 minutos que eu transformei em três e mostro nas minhas palestras. Vocês não acreditam. Não tem ninguém que não se emocione, mesmo aqueles que acham que é mimimi. É uma coisa tão verdadeira. O que ganhamos? Primeiro, que o nível deles é maravilho. Quando sobra 30 para 20 vagas, quem entrevista os 30 são os executivos. E na época eles disseram que tinha horas que tinham que desligar o vídeo de tão emocionados que ficavam. Se você vier ao Magazine, tem muito colorido e, além disso, representam muita a parte da população.

A gente começou sem pedir inglês completo. Não teve um que que não tinha, olha que interessante. A única coisa que aumentamos foi a idade, porque como eles não tinham oportunidade levamos até 27, 28 anos. E eles vão rapidamente para cargo mais alto. O mundo inteiro pede opinião para nós. O mundo inteiro.

Eu fico surpresa agora que ganhei estes prêmios. Ganhei prêmio na Inglaterra, pela Financial Times, entre as 25 mulheres mais… e pela Times, e pela Câmara Econômica Brasil- EUA. Então, eu dei muita entrevista internacional. É impressionante o que eles falam do programa de trainee. É um ganho muito grande.

A empresa lançou um programa para pessoas mais velhas. É uma iniciativa que veio do Mulheres do Brasil?
O grupo Mulheres do Brasil tem um comitê de 50+ e a gente trabalha muito isso. O Magazine ajuda Mulheres e o Mulheres ajuda o Magazine. Eu não dependo de uma coisa para fazer. Nós começamos em Franca, no SAC, botar pessoas de 50+ e tem sido uma experiência muito legal. Estamos fazendo um período de experiência para depois aumentar.

Pensa em se aposentar um dia?
Não penso, não. De jeito nenhum. Acho que se eu ficasse à toa, eu daria tanto trabalho para todo mundo, para os meus filhos. Eu não tenho muito tempo, é uma delícia. Acho que nem dá muito tempo de pensar na velhice. E eu faço com muito amor tudo o que eu faço, sabe? Eu faço para os outros o que gostaria que fizesse para mim.

Como a Shopee vem contribuindo com a economia digital no País

Empresa celebra dois anos de vendedores brasileiros e causa impacto relevante na vida de 6 em cada 10 empreendedores, segundo levantamento.

Foi em julho de 2020 que a Shopee abriu o marketplace para vendedores brasileiros. Desde então, a plataforma vem conectando consumidores e empreendedores locais e se consolidando como uma grande facilitadora de negócios online no País, com apoio e ferramentas para incentivar a digitalização e alavancar vendas de pequenas e médias empresas, além de grandes marcas. Hoje, mais de 85% das vendas da plataforma no País são de lojistas brasileiros, que já são mais de 2 milhões registrados.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Shopee em maio deste ano com 4.900 vendedores brasileiros, 60% dos participantes afirmaram que a plataforma causou uma mudança relevante em suas vidas. O levantamento ainda estima que a Shopee é a principal fonte de renda para mais de 300 mil empreendedores na plataforma. É o caso de Tatiane Santos, 27 anos, fundadora da Vesti SP Moda.

A empreendedora trabalhava em lojas especializadas em roupas de festa, mas, diante do cancelamento dos encontros pessoais em decorrência da pandemia, sua renda diminuiu drasticamente. Com um filho pequeno, decidida a empreender, ela se inscreveu na Shopee no dia de abertura da plataforma para vendedores brasileiros. Investiu toda a reserva na compra de um estoque de roupas plus size e hoje tem seu espaço e produção própria. “Conquistei a independência financeira e a oportunidade de estar presente no dia a dia do meu filho. Tudo graças à Shopee. Antes eu saía de casa às 6h da manhã e só voltava à noite”, conta Tatiane.

Outro dado que a pesquisa trouxe é que mais de 430 mil empreendedores ingressaram no comércio online via Shopee. Além disso, mais de 55% da base de vendedores é composta por mulheres que empreendem no marketplace. A vendedora do Rio de Janeiro Denise Ferreira, 47 anos, fundadora da Bolsa & Cia, era proprietária de três lojas físicas de bolsas e acessórios e precisou demitir metade dos funcionários por conta da pandemia de covid-19. Foi quando conheceu a Shopee e, sem nunca ter feito vendas pela internet, ingressou na plataforma. O resultado de R$ 2,5 mil no primeiro mês se transformou em R$ 78 mil no terceiro mês e, hoje, já passa de R$ 500 mil mensais, o que possibilitou a criação de 20 empregos com carteira assinada.

“Temos um compromisso com o empreendedorismo brasileiro e queremos continuar ajudando no crescimento do ecossistema de comércio eletrônico no País”, diz Felipe Lima, responsável por Business Development na Shopee Brasil.

Compromisso com o Brasil

Uma das diversas iniciativas que fortalecem o relacionamento próximo com os parceiros é a oferta de ferramentas de capacitação e recursos de alavancagem de vendas. Desde fevereiro de 2021, o Centro de Educação ao Vendedor já capacitou mais de 60 mil pessoas em mais de 30 tipos de aulas. Há também um programa de incubação e acompanhamento de negócios, iniciativa que inclui um grupo privado no Facebook para troca de conhecimento e informações entre os participantes.

“Nos últimos dois anos, nossa equipe local se dedicou a compreender as necessidades locais para ajudar pequenos e médios empreendedores na digitalização e grandes marcas a escalarem suas vendas. O momento é de celebrar as conquistas e estimular a chegada de novos vendedores,” explica Lima.

Em um momento festivo como o aniversário de dois anos de vendedores brasileiros na plataforma no Brasil, é claro que não poderiam faltar benefícios para os consumidores e, por extensão, aos lojistas. A campanha “7.7 Aniversário Shopee” inclui cupom de frete grátis sem mínimo de compra no dia 7 de julho, R$ 6 milhões em vouchers de descontos e muitas ofertas para que os usuários aproveitem a plataforma e movimentem ainda mais negócios locais para gerar renda para os empreendedores.

A Shopee considera que conectar mais negócios brasileiros ao e-commerce é uma forma de atender melhor às expectativas e necessidades de seus consumidores locais. Para fomentar esse processo, a plataforma oferece cadastro de forma fácil, isenção para publicação de produtos, isenção de taxas de comissão em cancelamentos e visibilidade da loja para milhões de consumidores, entre várias outras facilidades.

O processo descomplicado se estende também aos consumidores, que têm acesso simples, rápido, seguro e divertido, via aplicativo, a mais de 30 categorias de vendedores brasileiros e internacionais. Para os usuários terem ainda mais tranquilidade durante as compras, a experiência inclui recursos como a Garantia Shopee, que retém o pagamento ao vendedor até o consumidor receber o produto conforme esperado. Para aumentar a diversão, a plataforma oferece gamificação por meio de jogos e Moedas Shopee que garantem descontos em compras futuras.

Em forte expansão no Brasil, a Shopee inaugurou em abril o segundo escritório no País, ocupando quatro andares de um prédio no Largo da Batata, em Pinheiros, São Paulo. A sede da empresa fica ali perto, na Avenida Faria Lima. Já são mais de 1.500 colaboradores na operação brasileira e mais de 150 vagas abertas neste momento.

Com vendas online em alta, PMEs faturam R$ 1,2 bilhão no 1° semestre de 2022

De acordo com dados da Nuvemshop, as PMEs de sua base faturaram R$ 1,2 bilhão nos seis primeiros meses do ano. Como comparativo, trata-se de um crescimento de 20% em relação ao mesmo período de 2021 (foi de R$ 1 bilhão, conforme mostramos aqui).

De acordo com a Nuvemshop, Moda foi o segmento que liderou as vendas no período, com R$ 471,1 milhões. Na sequência, estão Acessórios (R$ 97 milhões) e Saúde & Beleza (R$ 87,4 mi). Dentre os produtos mais vendidos, destacam-se: óculos de sol, boné, meia, perfume e vestido.
Entre janeiro e junho de 2022, segundo o levantamento, 21,8 milhões de produtos foram vendidos. Os pedidos tiveram um ticket médio de R$ 243,20, representando um aumento de 10% em comparação ao ticket do primeiro semestre de 2021 (R$ 219). Moda foi o segmento que liderou as vendas no período, com R$ 471,1 milhões. Na sequência, estão Acessórios (R$ 97 milhões) e Saúde & Beleza (R$ 87,4 mi). Dentre os produtos mais vendidos, destacam-se: óculos de sol, boné, meia, perfume e vestido.

Vendas de PMEs por região
Acerca das regiões do Brasil, o estado que liderou as vendas online foi São Paulo, que registrou um faturamento de R$ 612,7 milhões. Entre os cinco estados com maior faturamento de PMEs ficaram:

Minas Gerais (R$ 128,1 milhões);
Rio de Janeiro (R$ 79 milhões);
Ceará (R$ 66 milhões);
e Santa Catarina (R$ 64,8 milhões).
Dos cinco, o estado que apresentou o maior crescimento em faturamento foi o Ceará, com aumento de 35,8% em relação ao ano passado.

Datas comemorativas garantem alta no faturamento
O mês em que os e-commerces mais faturaram foi em maio. Neste caso, a relevância foi por conta do Dia das Mães, que resultou em um faturamento de R$ 232,9 milhões no mês.

Na análise de vendas das PMEs, foram consideradas as transações realizadas entre janeiro e junho de 2021 e 2022, com base nos mais de 100 mil lojistas da Nuvemshop.

Cresce vendas para festas juninas no e-commerce após 2 anos sem celebração

Após dois anos sem eventos presenciais por conta da pandemia, a volta das festas típicas em 2022 registram crescimento no comércio online. Segundo levantamento da OLX, o volume de anúncios de itens relacionados à festa junina subiu 85% em junho em comparação ao mês anterior, com aumento de 225% na procura e de 396% nas vendas.

No comparativo de junho deste ano com o mesmo período do ano passado, o número de anúncios teve aumento de 75%, enquanto que o de procura e venda subiu cerca de 172%.

Entre os itens, é possível encontrar na plataforma vestidos, chapéus e acessórios para cabelo, além de cestas e kits relacionados ao tema.

“A retomada dos eventos refletiram também nos números da OLX, pois cada vez mais as pessoas procuram pelo melhor custo-benefício para quem compra e também para quem vende. Acreditamos que não é porque é um item usado que não é novo para outra pessoa”, explica Regina Botter, general manager da OLX.

Não pode faltar comida
Um outro levantamento, realizado pelo Mercado Livre entre os dias 30 de maio e 06 de junho, mostrou que houve aumento também nas buscas por alimentos típicos para a festa. Em comparação à semana anterior, o marketplace registrou aumento de 43% nas vendas pelo quitute essencial para o preparo da paçoca e do pé de moleque.

Outras guloseimas encontradas nos arraiás também venderam bem, como é o caso dos chocolates e doces típicos, com aumento de 39%, e da pipoca e da canjica em grãos, com aumento de 37%.

Além disso, para o tradicional quentão, houve aumento de 10% nas vendas de cachaça.

A Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas), viu com otimismo o retorno das festas populares: “A festa junina movimenta fortemente o consumo de amendoim, sendo o produto com alto custo-benefício, alto valor nutricional, e que faz parte cada vez mais do dia a dia do brasileiro”, afirma Ubiracy Fonsêca, presidente da entidade.

Compras no AliExpress e Shopee serão afetadas com novo regulamento da Receita? Entenda

Instrução normativa sobre mercadorias importadas permite que receita determine o valor de produtos em alguns casos.

A Receita Federal publicou, no Diário Oficial da União da quinta-feira (23), uma Instrução Normativa (IN) que dispõe sobre a declaração e o controle do valor aduaneiro de mercadorias importadas. O texto explica que, entre outras coisas, o órgão pode determinar o preço de um produto caso a documentação apresentada seja considerada insuficiente.

Para os consumidores que adquirem produtos em sites de compras com fornecedores internacionais, como AliExpress e Shopee, a determinação causa preocupação. Pois há o temor de que um produto adquirido por um preço poderia ter seu valor aumentado conforme o entendimento da Receita, implicando em um maior valor do imposto a pagar.

Contudo, a nova Instrução Normativa não deve ter impactos nas compras feitas nesses marketplaces. Segundo a advogada Andrea Aquino, especialista em direito aduaneiro e coordenadora na Comissão de Direito Tributário (CDTrib) da OAB Ceará, “apesar de ter ocorrido uma solidificação dessas regras, atualmente já existe uma análise risco aduaneira feita por sistema de inteligência artificial e cruzamento de dados”.

“Então, se ocorrer essa fiscalização e dúvidas acerca do preço, o fiscal já solicita documentos para fins de comprovação”, explica.

REGULAMENTAÇÃO DE ACORDO INTERNACIONAL
Andrea Aquino explica que esta IN “veio basicamente para ratificar regras do GATT (acordo internacional de valoração aduaneira ratificado pelo Brasil)”.

GATT é a sigla em inglês para General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral de Tarifas e Comércio). Conforme esse acordo, o valor de transação é o que deve ser considerado como base cálculo para fins de incidência de tributos. No Brasil, ele também é chamado AVA (Acordo de Valoração Aduaneira).

O ponto de destaque na Instrução Normativa para a advogada é a previsão de que o valor de transação pode ser desconsiderado caso o importador não apresente a documentação solicitada pelo fisco.
A opinião é compartilhada pelo presidente da CDTrib, Hamilton Sobreira ao apontar que “a Fazenda pode desconsiderar o valor declarado e abre oportunidade ao importador para justificar referido preço”.

Segundo ele, “a norma traz de forma mais clara a fiscalização e suas possibilidades”. Além disso, esclarece, a IN não altera especificamente as condições sobre o controle do valor aduaneiro para um ou outro setor.

Sobreira destaca ainda que o mais importante nesse controle não seria “acabar com a faixa de isenção, mas aumentar o controle fiscal para subprecificação, e isso a norma fez”.

CRITÉRIOS DE PRECIFICAÇÃO
Nos casos em que o valor da impostação não puder ser verificado, há uma série de critérios que devem ser respeitados pela Receita Federal, de maneira sucessiva, para a definição de um novo preço:

1º Método – Valor da Transação
2º Método – Valor de transação de mercadorias idênticas
3º Método – Valor de transação de mercadorias similares
4º Método – Valor de revenda (ou método do valor dedutivo)
5º Método – Custo de produção (ou método do valor computado)
6º Método – Último recurso (ou método pelo critério da razoabilidade)
“O 1º método é o valor de transação, valor declarado pelo importador. Daí, se ele [o fiscal] está com dúvidas, além de ter que observar os métodos, ele tem que observar outros critérios”, explica Andrea Aquino, também conselheira no Brasil Export (Fórum Nacional de Logística e Infraestrutura Portuária).

“Por exemplo: se ele está com dúvida do preço de uma caneca comprada em janeiro de 2022, e não se convence das justificativas do importador quanto ao preço, ele desconsidera o valor de transação e teoricamente teria que ir para o segundo método e comparar com mercadoria idêntica do mesmo país de origem, mesma época, composição, marca e fornecedor”.

E-commerce ganha com o estímulo do Cadastro Positivo aos bons pagadores

O Cadastro Positivo foi abraçado pelo brasileiro e isso é muito bom! Segundo dados da Associação Nacional de Bureaus de Crédito (ANBC), os inscritos no sistema passaram de seis milhões em 2017 para mais de 130 milhões atualmente. O programa fornece insumos para os tradicionais birôs de crédito traçarem o perfil de pagador positivo de cada cidadão. Ele atribui uma nota de zero a mil em uma escala de bom pagador.

O objetivo do Cadastro Positivo é gerar um banco de dados de bons pagadores.

O objetivo do Cadastro Positivo é gerar um banco de dados de bons pagadores. Com isso, as fintechs, os bancos, as lojas e as empresas podem oferecer juros mais baixos e condições mais favoráveis para esses clientes. As chances de um cliente com boa pontuação no score não ficar inadimplente são maiores. Quanto mais informações na base de dados, melhor para fazer esse perfil.

E isso vem como uma recompensa para aqueles que se esforçam e conseguem pagar suas contas antes da data de vencimento. Segundo estudo divulgado pelo Banco Central (BC), os cidadãos que têm seus dados disponibilizados no Cadastro Positivo conseguiram acesso a taxas de juros mais baixas ao solicitar empréstimos pessoais ou financiamento para consumo. Isso inclui o crediário, e conseguimos ver uma diferença considerável no chamado spread bancário. Trata-se do efeito que mede a diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar dinheiro e os juros que cobram dos clientes.

No geral, as taxas ficaram 10,4% menores para pessoas que estavam no sistema. Em fintechs especializadas em crédito, que muitas vezes já disponibilizam taxas mais em conta e personalizadas para cada solicitante, conseguiram baixar ainda mais os juros, facilitando as análises de crédito e aumentando as chances de aprovação.

Vantagens para o e-commerce
Para os e-commerces, a vantagem se destaca principalmente na oferta de modalidades de pagamento. O crediário digital, por exemplo, inclui pessoas sem limite de crédito ou até mesmo sem conta bancária. Assim, ele amplia o alcance das vendas para milhões de brasileiros. No entanto, também demanda uma análise de crédito que envolve o histórico financeiro do consumidor.

Com maior transparência em relação às informações disponibilizadas pelo Cadastro Positivo, é possível fortalecer ainda mais o poder de compra dos brasileiros. Segundo estudo da ANBC, os consumidores das classes C, D e E que estão cadastrados no programa tiveram suas notas de crédito elevadas em 70% dos casos.

Nesse sentido, ao utilizar as informações do Cadastro Positivo para auxiliar a liberação de crédito em meios de pagamento diversificados, como o crediário digital, os varejistas conseguem atrair novos clientes com a inclusão e o empoderamento dos desbancarizados do país, que chegam a 34 milhões, de acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva.

Por fim, se há tantas consequências pelo não pagamento de contas, afetando principalmente as solicitações de crédito, por que não sermos reconhecidos por sermos bons pagadores? Afinal, muitos brasileiros lutam e se esforçam diariamente para honrar seus compromissos e merecem ser recompensados por isso.