A COP e a transição energética no transporte

No Brasil, está tramitando no Congresso Nacional a regulação do mercado de carbono; é importante perceber que esse é um passivo que vai chegar para todos, de fora para dentro.

Tive o privilégio de ser convidado para representar a Bravo na COP28, maior e principal evento do mundo para debater e buscar soluções para a crise climática global. O convite aconteceu por meio da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) para dividir o palco em um painel e falar sobre transição energética no transporte.

Foi uma oportunidade incrível ver tanta diversidade de povos e pessoas envolvidas na questão climática, olhando pelo planeta. Por outro lado, também trouxe algumas inquietações: a mudança climática já chegou e a transição energética está apenas começando.

O apelo feito ao final da COP28 por quase 200 países a favor de uma transição energética que permita abandonar progressivamente o uso dos combustíveis fósseis, foi um aceno importante. Não me arrisco a discutir se ainda há tempo de contermos o avanço da temperatura ou não, até porque não sou especialista em clima, mas é importante perceber que precisamos transformar as intenções em ações e o verbo agir precisa ser conjugado na primeira pessoa, é hora de ser protagonista e não seguidor.

E vale questionarmos: quanto a mudança climática pode afetar os nossos negócios? Muito. Estamos falando de secas, inundações, catástrofes, interrupção no fornecimento de energia, restrições na logística e mudanças de hábitos de consumo. Aqui no Brasil está tramitando no Congresso Nacional a regulação do mercado de carbono e é importante perceber que este é um passivo que vai chegar para todos, de fora para dentro.

Tudo indica que a partir de determinados limites de emissão, teremos responsabilidades no mercado regulado para reportar, reduzir e compensar. Importante termos consciência de que mudanças virão e nos prepararmos para elas — como pessoas e como empresas. É recomendável revermos nossas matrizes de riscos e agirmos antes que seja tarde para assegurar a longevidade dos nossos negócios.

Lembrando que risco e oportunidade caminham juntos. Muitos compromissos de redução de emissões de GEE (gases de efeito estufa) foram assumidos pelos mais diversos setores e as empresas de logística que se prepararem para atender as demandas de baixo carbono, encontrarão um mercado cada vez mais ansioso por novas soluções.

Não existe bala de prata, nem solução pronta que possa resolver a questão das emissões de GEE no transporte de uma forma geral. Qualquer solução tem prós e contras e precisa ser planejada em cada contexto. O caminhão elétrico, por exemplo, é uma solução com emissão zero, se a origem da geração da energia for de fonte renovável, mas que apresenta restrições de autonomia, sendo indicada para rotas curtas e mobilidade urbana. Já o biodiesel misturado ao diesel fóssil é tema de discussão sobre qual o percentual de mistura é adequado.

Os testes do B100 100% de biodiesel foram iniciados sob autorização da ANP. O biometano, já famoso nas discussões, tem grande potencial de crescimento e promete ser uma boa alternativa, mas deve encontrar soluções para a falta de infraestrutura de abastecimento. O HVO é o sonho de todo o transportador, pois é “drop in”, é abastecer e sair rodando nos veículos Euro 5 e Euro 6, mas tem alto custo e falta escalabilidade.

O hidrogênio verde surgiu como a grande promessa a longo prazo, mas tem a tecnologia de produção do veículo e combustível em desenvolvimento. Por fim, o diesel fóssil continuará a ser a matriz dominante nos próximos anos e deve ser utilizado de forma mais eficiente por meio de veículos com menor consumo e programas para redução de consumo e emissões.

Aqui na Bravo estabelecemos uma estratégia de combate às mudanças climáticas baseada em três pilares: malha logística, multimodalidade e transição energética. Com isso, buscamos soluções inovadoras, às vezes encontrando mais perguntas que respostas, mas no final trazendo de forma pioneira soluções de baixo carbono para os nossos clientes.

Mas temos a consciência de que estamos em uma jornada de aprendizado e desafios, já que temos um negócio com características específicas e rotas de longo percurso, o que dificulta abastecimento dos veículos com combustíveis renováveis, não disponíveis na cadeia de abastecimento tradicional.

Quando falamos em redução das emissões, não podemos resumir a transição energética ao transporte rodoviário — que corresponde a cerca de 11,8% das emissões no Brasil —, mas a cada um de nós, as ações de todos como uma comunidade. Olhando do ponto de vista pessoal, o quanto cada um de nós está contribuindo para o todo? Estamos dispostos a fazer mudanças? Que combustível utilizamos nos nossos veículos, quais os nossos hábitos de consumo, reciclamos nossos resíduos?

Mesmo sem perceber estamos nos adaptando a mudança climática, já enfrentamos as tempestades com cautela, nos preparamos melhor para enfrentar as altas temperaturas, levamos o clima mais seriamente ao planejar nossas viagens e por aí vai.

Olhando o cenário como um todo, é possível imaginar um trade-off de custo entre a transição energética e o impacto das mudanças climáticas. Se não começarmos a agir agora, talvez tenhamos uma conta muito maior a pagar no futuro. A jornada é longa, mas em 2030, o primeiro marco dos compromissos de redução de GEE do Pacto de Paris está logo aí. Então, mãos à obra!

* Marcos Azevedo é head de Sustentabilidade da Bravo Serviços Logísticos.

‘https://mundologistica.com.br/artigos/a-cop-e-a-transicao-energetica-no-transporte

FedEx investe em motos elétricas para frota brasileira

Segundo a empresa, os novos veículos são direcionados ao transporte de pequenos pacotes em localidades com tráfego intenso, para garantir mais agilidade à operação.

A FedEx Express anunciou o investimento em 15 motos elétricas para frota do Brasil, passo em direção à meta global de ter operações neutras em carbono até 2040. Os novos veículos são direcionados ao transporte de pequenos pacotes em localidades com tráfego intenso, para garantir mais agilidade à operação.

Segundo a companhia, eles se juntam às 10 vans elétricas que compõem a frota brasileira de emissão zero da FedEx no país, nove delas inseridas neste ano. A Em parelelo, a FedEx Brasil está substituindo veículos mais antigos e menos eficientes movidos a combustão por novos veículos zero km, visando reduzir as emissões.

A frota da FedEx no Brasil tem, atualmente, uma idade média de 7,4 anos. Até o final do ano fiscal de 2024 (maio/2024), a empresa espera que essa idade média seja reduzida para 6,7 anos, uma das mais baixas do mercado nacional.

Os novos ativos possuem motor Euro 6, conjunto de normas que regulamentam a emissão de poluentes de motores a diesel. Eles também seguem o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) L7, que tem como objetivo reduzir os poluentes gerados por veículos leves.

‘https://mundologistica.com.br/noticias/fedex-invest-em-motos-eletricas-para-frota-brasileira

ESG na logística: realidade ou desafio distante?

Dado o impacto das atividades de transporte – e também sua importância econômica – esse esforço precisa ser otimizado, sobretudo no sentido do ganho de maturidade estratégica das empresas, para que mais exemplos de sucesso surjam no mercado e os pilares de governança se tornem diretrizes.

Quando consideramos que a temática ESG se tornou uma das pautas mais discutidas no ambiente de negócios contemporâneo, esse fato, por si só, é digno de reconhecimento, afinal de contas, é a partir de um debate mais amplo e maduro que diferentes setores do mercado serão alcançados e poderão se mobilizar em prol de mudanças que beneficiam toda a sociedade.

Um exemplo desse alcance pode ser observado na logística, setor que, nos últimos anos, viu um aumento progressivo dos investimentos e do interesse de operadores em relação aos pilares de governança social, ambiental e corporativa.

Sobre esse ponto, é válido destacar uma pesquisa da ILOS de 2022 na qual 81% dos entrevistados indicaram que sua empresa contava com uma área específica de sustentabilidade. Nesse mesmo sentido, a consultoria Allied Market Research apontou que, só no ano passado, o segmento de logística verde movimentou US$ 1,3 trilhões dentro de uma tendência que deve se expandir, em média, 8,3% até 2032.

Isso não significa afirmar, no entanto, que não existam desafios para a construção de uma “cultura ESG” na logística – e eles abarcam os três eixos do conceito.

Da disparidade de gênero a responsabilidade do setor de transportes e dos operadores acerca da emissão de gases de efeito estufa – especialmente quando consideramos o modal rodoviário, mas não só ele –; o compromisso do segmento se coloca como crucial para que o país possa, dentre outros pontos, cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas).

A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA LOGÍSTICA

Em relação aos desafios, uma primeira questão que merece ser analisada se refere a supracitada emissão de gases de CO2. De acordo com um levantamento da Deloitte, com diferentes segmentos econômicos, o setor de distribuição e transportes é responsável por cerca de 16% das emissões globais (atrás apenas dos segmentos industrial, com 24%, e de construção, 18%).

Desse montante, a maioria das emissões vem do transporte rodoviário – principal modal logístico do Brasil, o que denota a urgência no compromisso das empresas acerca das políticas de governança ambiental.

O lado positivo dessa discussão, como vimos na pesquisa da ILOS, diz respeito ao avanço na criação de áreas de sustentabilidade nas empresas. No entanto, para que esse esforço se traduza em resultados, há uma necessidade da aplicação de dados, indicadores e metas (fato que não foi observado em 51% das organizações consultadas no levantamento).

Sem tais métricas, a definição e validação das estratégias de sustentabilidade correm o risco de não se tornarem prioridades dos operadores, uma vez que a mensuração de suas ações tende a ser imprecisa e não se desdobrar em objetivos práticos.

Globalmente, existem progressos também nesse sentido: o mesmo estudo da Deloitte, divulgado em 2021, identificou em uma amostra de sua pesquisa que 63% das empresas divulgaram ao menos um relatório ESG dentro do período do levantamento. É válido salientar ainda que os reports de sustentabilidade tem um valor importante dentro de uma economia que observa a consolidação dos fundos verdes no mercado de capitais.

“O setor de distribuição e transportes é responsável por cerca de 16% das emissões globais (atrás apenas dos segmentos industrial, com 24%, e de construção, 18%). Há, no entanto, um esforço para o alinhamento aos propósitos ESG nas empresas: 81% das empresas consultadas em uma pesquisa recente afirmaram contar com uma área de sustentabilidade.”

INCLUSÃO E DIVERSIDADE

Sobre o pilar social do ESG na logística, temos também um cenário que apresenta dois polos distintos: temos, por um lado, um genuíno esforço das empresas no tocante, por exemplo, a contratação mais diversas em diferentes níveis organizacionais (na pesquisa da ILOS, esse foi o principal direcionamento estratégico – em conjunto com a segurança do trabalho – dos operadores com ações de ESG implementadas em seus negócios).

Dentro desse contexto, em 2021, a Gupy identificou um aumento significativo de 229% no número de vagas ocupadas por mulheres na logística. Em contrapartida, a discrepância ainda é alta, uma vez que mais de 71% dos postos de trabalho do setor – também segundo a Gupy – é ocupado por homens.

Para mudar esse cenário, é fundamental, além da criação de áreas de ESG e do uso de tecnologias e métricas que possam apoiar lideranças em processos de governança social, que o mercado estude exemplos de sucesso do mercado que podem, por sua vez, oferecer um norte para ações mais efetivas.

Um case interessante nesse sentido é o da Pepsico.

ESG X LOGÍSTICA

Como é possível observar, a temática ESG não só alcançou a logística: há avanços consideráveis em tempos mais recentes que colocam o setor como protagonista desse debate. Por sua vez, dado o impacto das atividades de transporte – e também sua importância econômica – esse esforço precisa ser otimizado, sobretudo no sentido do ganho de maturidade estratégica das empresas, para que mais exemplos de sucesso surjam no mercado e os pilares de governança se tornem diretrizes para o futuro.

ESTRADAS DO FUTURO

Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Para contribuir com a transformação desse cenário, a MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.

‘https://mundologistica.com.br/noticias/esg-na-logistica-realidade-ou-desafio-distante

DHL apresenta Política de Transporte Verde visando padrão global de sustentabilidade

Companhia fará a transição de 2 mil veículos para alternativas mais ecológicas, como hidrogênio, biogás, eletricidade e óleo vegetal tratado com hidrogênio.

Os serviços de transporte são um dos principais fatores que contribuem para a pegada de emissões da empresa e a política fornece orientações sobre a alternativa mais ecológica, levando em consideração fatores como disponibilidade, infraestruturas e custos por mercado/País.

“Nosso objetivo ambicioso é ter 30% de unidades e combustíveis sustentáveis na nossa frota própria até ao final de 2026, aproveitando o potencial das alternativas de combustíveis verdes através da nossa pioneira Política de Transportes Verdes”, revela Oscar de Bok, CEO da DHL Supply Chain.

Como medida inicial, a DHL fará a transição de cerca de 2 mil dos seus veículos de motores de combustão convencional no mundo para alternativas mais ecológicas, como hidrogênio, biogás, eletricidade ou óleo vegetal tratado com hidrogênio. Nos próximos três anos, a DHL comprometeu-se com um investimento adicional global de 200 milhões de euros em alternativas aos combustíveis fósseis.
Essa iniciativa promete reduzir quase 300 mil toneladas de emissões de CO2, representando um passo decisivo em direção à sustentabilidade ambiental e à redução das emissões de carbono da empresa. Estas reduções equivalem a compensar as emissões de CO2 produzidas por 2.200 caminhões que percorrem, cada um, 500 quilômetros por dia ao longo de um ano. Para começar, esta nova política abrange investimentos em 17 países com as maiores pegadas de emissões, abrangendo o Brasil.

“Juntos, esses países são responsáveis por 94% das emissões da nossa frota própria no setor de transportes. Não estamos apenas estabelecendo um novo padrão na indústria, mas também reforçando nosso compromisso inabalável com as gerações futuras”, enfatiza Oscar de Bok. “Além disso, ao convidar nossos clientes a se juntarem a nós nesta jornada transformadora e apoiar ativamente o transporte rodoviário verde, oferecemos a eles uma ferramenta poderosa para tornar suas cadeias de suprimentos ainda mais verdes”, finaliza o executivo.

Na América Latina, a DHL anunciou recentemente um investimento de 500 milhões de euros em um plano de cinco anos que inclui projetos de descarbonização da frota regional através de alternativas mais verdes, entre outras iniciativas. Atualmente na região existem mais de 160 veículos operando com alternativas ecológicas, movidos por eletricidade, gás ou com sistema híbrido, sendo 85 deles no Brasil.

‘https://mercadoeconsumo.com.br/15/12/2023/destaque-do-dia/dhl-apresenta-politica-de-transporte-verde-visando-padrao-global-de-sustentabilidade/

Sustentabilidade e e-commerce no Brasil

Embora o termo ‘ecologicamente correto’ não seja novo, sua relevância tem crescido ao longo dos anos e ganhado espaço significativo nos debates que permeiam diversas esferas da sociedade, desde políticas governamentais até estratégias de varejo e sustentabilidade nos negócios.

É inegável que estamos testemunhando um aumento exponencial no consumo e na produção de bens e materiais. No entanto, o debate atual não gira em torno simplesmente da redução da produção ou da desaceleração do consumo, mas sim da implementação de políticas que fomentem um consumo consciente e promovam o desenvolvimento sustentável.

Urgência na mudança de padrões de consumo

Quando direcionamos nosso foco para as importações, o comércio eletrônico e o varejo nacional, deparamo-nos com números alarmantes que instigam uma urgência por mudanças nos padrões de consumo e na cadeia de abastecimento de produtos. Conforme um estudo divulgado em 2022 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, as embalagens plásticas utilizadas para o envio de produtos adquiridos pela internet totalizaram cerca de 100 mil toneladas de resíduos plásticos. Estima-se que apenas um quarto desse resíduo tenha sido efetivamente reciclado.

De acordo com dados fornecidos pelo Mercado Livre, aproximadamente dois bilhões de compras foram realizadas na plataforma em 2022 e, destas, cerca de 90% demandaram entregas residenciais, utilizando veículos movidos por combustíveis fósseis. O mesmo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro indica que 1% das emissões totais de gases poluentes em 2022 derivaram do transporte e da entrega de compras efetuadas por meio do comércio eletrônico.

E-commerce: crescimento desenfreado x políticas sustentáveis

Esses dados levantam um questionamento crucial sobre o e-commerce: até quando o meio ambiente suportará o crescimento desse setor sem a implementação de mudanças e políticas sustentáveis? Realmente necessitamos de tanto plástico nas embalagens de envio? As entregas precisam ser tão imediatas, a ponto de não permitirem um planejamento mais eficiente, como a consolidação de cargas e a otimização do consumo de combustível?

No próximo ano, a pressão por iniciativas sustentáveis aumentará consideravelmente, forçando empresas já estabelecidas a reavaliarem suas políticas de aquisição, venda, entrega e descarte. O discurso ambiental estará cada vez mais presente na mente do consumidor, que tenderá a optar por empresas que abracem a bandeira da sustentabilidade.

Uma pesquisa conduzida pela Union+Webster em 2019 revelou que a maioria dos brasileiros prefere adquirir produtos de empresas que adotam práticas sustentáveis. Surpreendentemente, 70% dos entrevistados afirmaram não se importar em pagar um pouco mais por produtos que possuam essa característica.

Sustentabilidade em grandes empresas

Grandes empresas estão atentas a essa tendência e estão assumindo publicamente o compromisso com a questão climática. Um exemplo notável é a Apple, que, em 2020, ao lançar o iPhone 12, optou por não incluir o carregador na embalagem, argumentando que era dispensável para usuários que já possuíam o dispositivo em casa. Nesse mesmo ano, a marca experimentou um crescimento de 3% nas vendas, evidenciando o impacto positivo das políticas de reuso e do discurso sustentável.

Essa tendência também se reflete em outros setores, como o da moda, no qual marcas estão investindo em algodão ecológico, adotando práticas de descarte consciente de peças e incentivando compras mais conscientes. Embora seja um processo gradual, o compromisso com causas sociais e ambientais é uma realidade que merece atenção de todos. Além de ser estrategicamente lucrativo, esse compromisso serve como ponto de partida para uma série de mudanças significativas.

Com certeza, a compreensão do tema é crucial para quem vende produtos online. As transformações não estão restritas apenas às plataformas de e-commerce. Como evidenciam as pesquisas, os consumidores estão cada vez mais inclinados a escolher produtos e anúncios que tenham algum comprometimento com a sustentabilidade. Isso requer uma grande dose de inovação por parte dos empresários do ramo, que precisarão se reinventar para adequar seus produtos aos novos padrões de consumo. Estar atento às mudanças sociais é fundamental para se manter relevante nesse contexto.

Amazon anuncia investimento no Pará

O empresário Jeff Bezos, fundador da marca Amazon, anunciou investimento de R$ 80,2 milhões para o Pará. O anúncio foi feito pelos representantes da Bezos Earth Fund, fundo filantrópico de Bezos, na última sexta-feira (1), na reunião da COP28, em Dubai.

Recentemente, a marca foi cobrada pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, por usar o nome Amazon e não investir no estado. Apesar da cobrança do governador, a fundação de Bezos disse que vai investir US$ 16,3 milhões (dólares), cerca de R$ 80,2 milhões (reais), direcionados para o estado do Pará, que faz parte da Amazônia brasileira, para o combate do desmatamento.

Assim, a empresa comunicou que busca apoiar os “planos inovadores do estado do Pará, no Brasil, para alcançar o desmatamento ilegal zero nos próximos três anos, criando o maior sistema de rastreabilidade animal do mundo”.

No total, a Bezos Earth Fund destinou US$ 57 milhões (de dólares) para projetos ligados ao futuro da alimentação e do meio ambiente e, além disso, outros US$ 850 milhões serão investidos até 2030 para apoiar a implementação da agenda global sobre sistemas alimentares e clima.

A instituição de Bezos disse: “Juntamente com a The Nature Conservancy, IMAFLORA, Earth Innovation Institute, Aliança da Terra e outros parceiros, podemos rastrear carne, lacticínios e couro para eliminar a desflorestação das cadeias de valor e trazer incentivos florestais positivos para criadores de gado e pecuaristas”.

‘https://bacananews.com.br/amazon-anuncia-investimento-no-para/

Para repensar os impactos que vêm da China na economia, consumo e no varejo

O que acontece na China definitivamente não fica na China.

E isso é razão para que se busque conexão mais próxima e constante com esse país que já é a maior economia do mundo no critério PPP – Paridade de Poder de Compra –, está pisando firme no acelerador do consumo interno e avançando para levar suas práticas e conceitos a outros países e regiões. Em especial para quem atua nos setores de Varejo, Consumo, Tecnologia, Digital, Inteligência Artificial, para não falar no Agro e nos diversos setores industriais e de serviços. Mas sem esquecer questões políticas e institucionais e seus impactos positivos e negativos em outras realidades.

Uma das estratégias globais importantes e recentes da China é a New Silk Road Initiative, programa lançado em 2013, completando dez anos agora, para ampliar o seu poder de influência especialmente em economias emergentes. A finalidade dele seria assegurar mercado para seus produtos e conceitos, ao mesmo tempo em que ampliaria seu protagonismo político nas relações bilaterais com esses países. Os investimentos e empréstimos da China à Argentina são um bom exemplo disso.

Esse movimento se tornou ainda mais importante à medida que o bloqueio tecnológico e comercial norte-americano sobre a China cresceu de importância e envolveu também países mais alinhados econômica e politicamente aos Estados Unidos.

Esse projeto tinha orçamento anunciado de US$ 900 bilhões e era nominado como China’s Belt and Road Initiative (BRI), mas também ficou conhecido como New Silk Road com a ambiciosa visão de ser um instrumento estratégico para expansão e crescimento de exportações com integração logística, alianças de negócios e reposicionamento das relações diplomáticas.

Passada uma década, um balanço simplista mostra que os investimentos foram “overestimados”, assim como os resultados esperados, enquanto os problemas a serem enfrentados foram subestimados.

Tudo isso determina que o programa seja ajustado e já se discuta a Belt and Road Initiative 2.0, com objetivos similares, porém considerando de forma distinta as dívidas não pagas pelos países e empresas e o que foi gerado de corrupção no processo que comprometeu os objetivos e investimentos iniciais.

Na visão mais atual, haverá redução nos investimentos com taxas de juros zeradas pelo Ministério da Economia da China e mais direcionamento por meio de instituições financeiras multilaterais.

Nessa nova versão, é possível que África e América Latina tenham uma redução de foco por conta dos riscos de crédito nos negócios e países dessas regiões, mas é estimado que esse novo ciclo gere recursos adicionais totais da ordem de US$ 100 bilhões. Bem mais realista do que o que foi antes anunciado.

Nesse novo momento, dois elementos devem crescer de importância na alocação de investimentos e envolvem os temas digitais e de sustentabilidade.

Esses fatores estão em linha com o que pudemos observar sendo aplicados na própria China, na expansão do consumo e do mercado interno ao privilegiar Educação, Tecnologia e Digital como fatores críticos na continuidade de seu reposicionamento estratégico e no estímulo ao aumento das exportações. E com uma menor ênfase no setor imobiliário e de construção, algo que caracterizou os períodos anteriores.

Da forma como se possa enxergar e entender a realidade em transformação na China, é importante considerar seus impactos em outras economias, e, no caso do Brasil, pelo fato de aquele ser o maior e mais importante parceiro do País no comércio bilateral.

Mas também porque os esforços de ampliação das exportações e negócios bilaterais envolvendo consumo trazem e trarão ainda mais conexões e é razoável prever seus impactos nos mais diversos setores, do automobilístico à moda, dos alimentos ao material de construção e acabamento, dos eletrônicos aos calçados, sem falar na tecnologia, no digital, no cross border e outros mais.

Tornou-se ainda mais relevante criar proximidade e conhecimento para avaliar impactos no presente e no futuro, considerando todo o redesenho político, econômico e estratégico no reconfigurado cenário global, avaliando seus impactos na nossa realidade envolvendo consumo e varejo. E pode e deve ser motivo para novas visões no mesmo momento que assistimos à retomada da economia norte-americana e aguardamos o ainda imprevisível resultado das eleições presidenciais por lá.

Bem-vindos ao admirável mundo novo. De novo.

Lições do Cotidiano

Era um final de um longo dia em Shanghai e que terminava em um jantar com o grupo do BTG que esteve conosco nesta viagem. Como não podia faltar um pouco de conteúdo, às vésperas do Singles’ Day contávamos com uma apresentação de ex-executivo sênior do Alibaba compartilhando tudo que envolvia os preparativos da empresa para fazer dessa data o maior faturamento em datas promocionais do mundo. Isso num restaurante ao lado do Bund, com sua vista espetacular e única.

Depois do jantar e de mais um longo dia “multifuso” – sintonizado nos horários e atividades locais e ao mesmo tempo também por aqui no Brasil -, uma caminhada ao longo do Bund para relaxar e “resetar” ideias e aprendizados.

Uma hora depois, a busca do táxi e uma complexa negociação “multidiomas” (mandarim, inglês e outras tentativas mais) para a corrida de volta ao hotel que começou em 100 yuans e ficou por 30. Deve haver um programa global de franquias para taxistas tentarem explorar estrangeiros.

Mas, no trajeto de retorno, terminada a difícil negociação, o clima mudou por iniciativa do próprio taxista. Usando o tradutor de seu celular, de forma quase inconsequente enquanto dirigia, quis saber sobre nosso país de origem, hábitos, família e também contava sobre sua própria realidade e expectativas.

Foram 40 minutos de aproximação multicultural digital que mostraram de forma direta e básica a crescente integração do país no mundo mais global, diferente do isolacionismo do passado, trocando informações e se conectando, quebrando barreiras e se aproximando em termos pessoais. O que até sensibilizou e justificou o acréscimo pago de 10 yuans como gorjeta.

O futuro do e-commerce em 2024: tendências de ESG moldando o cenário

O comércio eletrônico, uma revolução na forma como compramos e vendemos produtos e serviços, tem visto um crescimento constante nas últimas décadas. Com o advento da pandemia de Covid-19, essa tendência acelerou de forma impressionante, à medida que o mundo se adaptou à nova normalidade do distanciamento social.

Em um cenário em que o e-commerce se torna cada vez mais onipresente, as tendências de ESG (Ambiental, Social e Governança) desempenham um papel crucial, não apenas moldando o comportamento do consumidor, mas também direcionando o curso das empresas. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como o cenário do e-commerce evoluirá até 2024, destacando as tendências de ESG que impulsionarão essa evolução.

Crescimento exponencial do e-commerce: uma análise aprofundada

O e-commerce tem sido um setor de crescimento impressionante ao longo dos anos, com projeções igualmente promissoras para o futuro próximo. A pandemia de Covid-19 não apenas acelerou sua adoção, mas também provocou uma expansão substancial das operações das empresas de comércio eletrônico. Isso incluiu investimentos significativos em tecnologia e infraestrutura para atender à crescente demanda dos consumidores por conveniência e eficiência nas compras online.

1. Acesso global à internet

Até 2024, é esperado que o acesso global à internet continue a se expandir, ampliando o alcance do e-commerce. Novas infraestruturas e tecnologias, como a implementação de redes 5G, proporcionarão uma experiência de compra mais rápida e eficiente, aproximando ainda mais as pessoas do comércio eletrônico.

2. Inovação tecnológica

A inovação tecnológica continuará a ser um dos principais impulsionadores do crescimento do e-commerce. Integrações de realidade virtual e aumentada, assistentes de compras baseados em IA, chatbots e análises avançadas permitirão experiências de compra personalizadas e eficientes.

3. Expansão de ofertas de produtos e serviços

A gama de produtos e serviços disponíveis no e-commerce continuará a crescer, abrangendo desde produtos tradicionais até soluções mais especializadas. Setores como saúde, educação e até mesmo experiências de entretenimento online verão um aumento notável na oferta e na demanda.

Tendências de ESG no e-commerce: um exame detalhado

As tendências de ESG estão cada vez mais no centro das atenções das empresas, com o e-commerce não sendo uma exceção. Entender como essas tendências se manifestam no contexto do setor é essencial para prever o cenário em 2024.

Ambiental (E)

1. Sustentabilidade e eficiência energética
Reduzir o impacto ambiental tornou-se uma prioridade para as empresas de e-commerce. Isso inclui a redução do uso de plástico nas embalagens, a otimização da logística para minimizar emissões de carbono e o investimento em fontes de energia renovável para alimentar os centros de distribuição.

2. Logística verde
A entrega de última milha, uma das partes mais críticas da cadeia de suprimentos do e-commerce, está passando por uma transformação verde. O uso de veículos elétricos e a otimização de rotas estão se tornando a norma, reduzindo significativamente a pegada de carbono do setor.

Social (S)

1. Diversidade e inclusão
Empresas de e-commerce estão comprometidas em promover locais de trabalho mais diversos e inclusivos, refletindo uma força de trabalho que espelha a diversidade de seus clientes. Além disso, as empresas estão cada vez mais atentas a questões como equidade salarial e oportunidades de crescimento para todos os funcionários, independentemente de sua origem.

2. Responsabilidade do produto
A responsabilidade do produto é uma preocupação crescente no e-commerce. Isso inclui garantir a segurança dos produtos vendidos, a procedência ética dos produtos e práticas justas de produção, especialmente na cadeia de suprimentos.

Governança (G)

1. Transparência e ética
A transparência e a ética são fundamentais na governança corporativa. As empresas estão focando em tomar decisões éticas, divulgar informações relevantes e manter práticas de governança responsáveis, o que contribui para a confiança dos investidores e dos consumidores.

2. Compliance legal
O cumprimento de leis e regulamentos é um elemento crítico para a governança eficaz no e-commerce. Empresas devem estar atentas às normas locais, regionais e globais que regulam suas operações.

Impacto previsto das tendências de ESG no e-commerce até 2024

À medida que avançamos em direção a 2024, as tendências de ESG terão um impacto cada vez mais substancial no cenário do e-commerce. Aqui estão algumas previsões mais detalhadas:

1. Maior foco na sustentabilidade

Empresas de e-commerce continuarão a adotar práticas sustentáveis em todas as áreas, desde embalagens ecologicamente corretas até programas de reciclagem e medidas de eficiência energética em suas instalações. Além disso, a tendência de “consumo consciente” incentivará os consumidores a escolher produtos e serviços de empresas comprometidas com a sustentabilidade.

2. Diversidade e inclusão no centro das organizações

A diversidade e a inclusão não serão apenas consideradas como uma responsabilidade social, mas como uma vantagem competitiva. As empresas que adotam políticas de diversidade e inclusão terão uma equipe de funcionários mais criativa e eficaz, o que se traduzirá em melhores produtos e serviços.

3. Transparência e ética na tomada de decisões

A transparência e a ética na tomada de decisões serão valores fundamentais no e-commerce. Isso inclui fornecer informações claras sobre a procedência dos produtos, práticas de produção éticas e políticas de privacidade detalhadas. As empresas que não aderirem a esses princípios enfrentarão desafios significativos de reputação e aceitação pelos consumidores.

4. Tecnologia para o bem e impacto positivo

A tecnologia, especialmente a inteligência artificial e a análise de dados, será usada para rastrear e melhorar o desempenho ambiental e social das empresas. Algoritmos de IA serão aplicados para otimizar a logística, melhorar a personalização de produtos e serviços e prever tendências de mercado.

5. Consumidores como defensores da mudança

Os consumidores se tornarão ainda mais conscientes das questões de ESG e usarão seu poder de compra para apoiar empresas que compartilham seus valores. Isso colocará uma pressão significativa sobre as empresas de e-commerce para se alinharem com as tendências de ESG.

Preparando-se para um futuro sustentável e ético no e-commerce

O cenário do e-commerce em 2024 será caracterizado por um crescimento contínuo, sustentável e impulsionado pela tecnologia, com as tendências de ESG desempenhando um papel central.

Empresas que adotarem práticas sustentáveis, promoverem a diversidade e a inclusão, e demonstrarem transparência e ética em suas operações estarão bem posicionadas para prosperar.

A transição para um futuro mais sustentável e ético no e-commerce não é apenas uma opção, mas uma necessidade para atender às demandas dos consumidores e garantir um sucesso duradouro no mercado global. Assim, o e-commerce em 2024 será um campo não apenas de expansão, mas também de transformação positiva em direção a um mundo mais consciente das questões de ESG.

Créditos de carbono: Uma resposta para a demanda de preservação ambiental

Os créditos permitem a transferência de recursos financeiros de atividades poluentes para projetos que capturam carbono da atmosfera, ou evitam a emissão deles.

Assim como praticamente as demais indústrias, seguindo os preceitos do Acordo de Paris, a descarbonização do setor de transportes passa pela substituição tecnológica, o que representa um desafio enorme para todas as empresas deste setor.

No que tange o segmento rodoviário, apesar de avanços tecnológicos importantes e acelerados estarem acontecendo na cadeia de produção de caminhões, ainda não há sinais de um caminho concreto e escalável para a descarbonização das estradas.

Ganhos de eficiência operacional representam iniciativas importantes, porém limitadas. Isso significa que, por vários anos, operadores logísticos e transportadoras vão seguir relativamente travados para atuarem sobre o problema de maneira efetiva.

Por outro lado, clientes, investidores, bancos, dentre outros stakeholders, têm demandado cada vez mais ações positivas e relevantes no combate às mudanças climáticas. Créditos de carbono são, definitivamente, uma resposta para essa demanda.

Atores e acontecimentos diversos no mercado local e internacional têm trazido sombras de suspeição sobre a validade do crédito de carbono como instrumento de promoção de sustentabilidade. Há motivos legítimos para precauções, porém negar a importância dos créditos de carbono no combate às mudanças climáticas é algo totalmente contra produtivo.

Créditos de carbono permitem a transferência de recursos financeiros de atividades poluentes para projetos que capturam carbono da atmosfera, ou evitam a emissão deles. De maneira bastante simplificada, estamos falando de prevenção ao desmatamento e restauração de áreas degradadas. Cada iniciativa confiável nessas áreas gera benefícios reais.

Há projetos de créditos de carbono questionáveis do ponto de vista de credibilidade? Sim. Esse problema é, fundamentalmente, inerente a um complexo processo de homologação de projetos ainda em fase de amadurecimento. A boa notícia é que há muita gente séria, em todo o mundo, trabalhando para mudar esse enredo.

O problema é muito crítico para empresas descartarem a utilização de créditos de carbono como instrumento de combate às mudanças climáticas, especialmente aquelas que discursam em favor da proteção das florestas, incluindo aqui a Amazônia.

O modelo de desenvolvimento econômico vigente não convive com a preservação da Amazônia sem a existência de créditos de carbono. Precisamos todos ser realistas, coerentes e responsáveis a esse respeito.

Outro ponto frequentemente postulado por críticos sugere que créditos de carbono desestimulam iniciativas de descarbonização. Trata-se de uma hipótese aceitável, mas nada além de uma hipótese. Um estudo recente publicado pela Ecosystem Marketplace indica que empresas que lançam mão de créditos de carbono para compensar voluntariamente suas emissões são mais ativas no processo descarbonização do que empresas que não utilizam tais instrumentos sem suas iniciativas de sustentabilidade.

Ainda que iniciativas voluntárias sejam nobres e importantes, é ingênuo acreditarmos que o problema das mudanças climáticas vai ser resolvido por meio delas. O relatório AR6 Synthesis Report – Climate Change 2023 publicado pelo IPCC traz evidências claras de que isso não vai acontecer.

Sendo assim, com ou sem o uso de créditos de carbono, a solução do problema passa por regulações locais estabelecidas pelos países, especialmente aqueles signatários do Acordo de Paris. É com esse pano de fundo que o senado brasileiro aprovou recentemente o Projeto de Lei 412/2022 que regulamento o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões.

Essa regulação estabelece que empresas com emissões anuais superiores a 10 toneladas de dióxido de carbono equivalente terão de medir e reportar suas emissões para o órgão regulador, enquanto aquelas com emissões anuais superiores a 25 toneladas terão de reduzir suas emissões de acordo com planos setoriais a serem definidos.

O setor de transportes vai ser diretamente impactado por essa regulação e uma estimativa realizada pela startup Verda indica que operadores logísticos e transportadoras com frota superior a 150 caminhões serão impactados. Nesse contexto, o crédito de carbono ganha um papel adicional e passa a ser um instrumento de informação, conhecimento e engajamento.

O setor de transportes no Brasil é uma das pontas frágeis da cadeia de suprimentos. A enorme fragmentação do setor reduz dramaticamente o poder de negociação dos operadores logísticos e transportadoras, o que faz com essas empresas operem sob pressão constante de seus clientes por qualidade, prazo e preço.

O fato de a transição tecnológica representar um gerador de custo incremental combinado a esse ambiente empresarial hostil faz com que o setor de transportes não tenha condições mínimas de se conectar, de maneira relevante, ao contexto da sustentabilidade.

Tenho percebido, em toda conversa com operadores logísticos, que o crédito de carbono muda bastante esse jogo em função da combinação de 3 fatores:

Curiosidade: o tema crédito de carbono é percebido como “atraente” pelo setor de transportes, talvez ainda por um pouco de desconhecimento combinado com o significado da palavra “crédito”, e isso faz com que gestores e executivos se mostrem abertos a conversar sobre ele
Flexibilidade operacional: operadores logísticos têm flexibilidade para compensar parcialmente suas emissões de carbono, o que possibilita uma gestão controlada do custo atrelado a esse processo;
Flexibilidade financeira: operadores logísticos e seus clientes conseguem definir conjuntamente como tratar, de maneira coordenada, o custo relacionado a compensações de emissões por meio de créditos de carbono.
Ao entenderem esse contexto, noto claramente nos operadores logísticos conectados à Verda uma mudança de postura drástica onde a ansiedade é substituída por perspectiva. É como se uma porta se abrisse com a possibilidade de os operadores logísticos fazerem a coisa certa dentro de um contexto de respeito às suas limitações, especialmente econômicas.

Ainda que as formas de expressão sejam muito diferentes, ainda não encontrei um gestor ou executivo do setor de transportes que não se sensibilize com a ideia de fazer a “coisa certa” do ponto de vista ambiental. Por outro lado, temos de aceitar e respeitar que há outras forças importantes que fazem com que a “coisa certa” não possa ser uma prioridade nesse momento.

Também precisamos entender e aceitar que, na maioria das vezes, tais forças são impostas pelos clientes desses operadores logísticos. Isso significa que, em termos práticos, a indústria e o varejo precisam entender e apoiar esse enredo. De nada vai valer os esforços do setor de transportes na compensação das suas pegadas se as empresas contratantes dos serviços não apoiarem esse movimento.

A emissão de carbono pelo setor de transportes resulta, fundamentalmente, de serviços prestados para atender demandas desses segmentos da economia. Não há como desvincular esses segmentos da solução, e para que as coisas caminhem de maneira ordenada, faz-se necessário a coordenação de estratégias e execuções de compensações.

Trata-se de um problema clássico e complexo, porém já resolvido pela Verda por meio da orquestração do que chamamos de “dinâmica do carbono”, conceito que representa a gestão integrada das pegadas e compensações ao longo das cadeias de suprimentos das empresas.

Isso permite que a indústria e o varejo tenham controle pleno da maneira como as suas pegadas geradas por fornecedores de transportes sejam calculadas e compensadas, evitando, inclusive, a dupla contagem. Mais do que isso, permite que a indústria e o varejo cooperem com seus operadores logísticos para que os planos de descarbonização de todos os agentes se conectem e se complementem.

A partir desse contexto, as possibilidades trazidas pelo crédito de carbono, seja do ponto de vista de instrumento, seja do ponto de vista de aprendizagem são poderosas e promissoras. Informação, conhecimento e coordenação vão ser fundamentais para darmos escala a esse processo.

O Programa Rota 2050 desenvolvido pela Verda busca contribuir com esse processo promovendo o fortalecimento dos operadores logísticos, de maneira integrada com seus clientes, para juntos enfrentarem os desafios relacionados ao Acordo de Paris. Vemos esse programa como uma iniciativa estruturante no setor de transportes brasileiro, fazendo com que o Acordo de Paris seja seu maior beneficiário.

Deixo explícita a minha convicção de que o crédito de carbono é um instrumento poderoso e fundamental para a jornada do setor de transportes no combate às mudanças climáticas.

* Rafael Fanchini é Founder & CEO da Verda
‘https://mundologistica.com.br/artigos/creditos-de-carbono-resposta-para-demanda-de-preservacao

Neoindustrialização pode aumentar valor competitivo do Brasil mundo afora

Possibilidades do Brasil em energia limpa foram debatidas no U-Talks, evento organizado por Ultragaz e Mercado&Consumo

A agenda ESG segue em alta pelo Brasil e pelo mundo, alertando o mercado de problemas, muitas vezes conceituais, mas possibilitando também inúmeras oportunidades, principalmente para o futuro. Considerado por muitos como um celeiro natural de energia limpa, o Brasil se encaixa bem neste cenário das oportunidades.

“A transição energética pode trazer ao Brasil a neoindustrialização. Não basta produzir energia limpa. É preciso também utilizar essa energia limpa para produzir produtos limpos”, revelou Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), em entrevista exclusiva com Aiana Freitas, editora-chefe da Mercado&Consumo, no U-Talks, evento que debateu o futuro da indústria e da transição energética na última semana, em São Paulo.

O executivo entende que a utilização da energia limpa pode ser um diferencial competitivo para o Brasil no mercado mundial. “Temos que exportar produtos feitos com energia limpa. E o mundo tem que pagar mais caro por aqueles produtos que são produzidos com essa energia. O aço brasileiro, por exemplo, tem que valer mais do que o aço chinês que é produzido com carvão”, afirmou Adriano Pires.

Confira abaixo o bate-papo completo com Adriano Pires e entenda um pouco mais do momento da transição energética no Brasil.

Brasil deve criar condições para atrair capital
Com cenário econômico favorável, o Brasil precisa criar condições para atrair o financiamento externo para a transição energética. Segundo relatório de investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil recebeu US$ 114,8 bilhões de dólares em investimentos internacionais no setor de energias renováveis entre 2015 e 2022.

“O crescimento no Brasil tem surpreendido positivamente e a boa posição relativa do País no quadro internacional poderá contribuir para o financiamento da transição energética”, afirma Zeina Latif, sócia-diretora da Gibraltar Consulting.

Zeina destaca que há muito interesse no Brasil e que o mix de financiamento dependerá da natureza de cada projeto.

“O setor privado é muito heterogêneo. Há segmentos mais sofisticados, com elevados ganhos de produtividade e com escala de produção que permite maior engajamento na transição energética, que é custosa e não necessariamente traz ganhos de eficiência. Terão de liderar esse processo”, diz.

‘https://mercadoeconsumo.com.br/06/11/2023/economia/neoindustrializacao-pode-aumentar-valor-competitivo-do-brasil-mundo-afora/