Autosserviço: O consumidor está maduro para ele?

Nascido no varejo de alimentos, o conceito de autosserviço se expande para outros segmentos; o avanço depende de mais tecnologia e antecipação às necessidades do consumidor.

O autosserviço, que preconiza a autonomia do cliente em sua jornada de compra começou na década de 30 nos EUA, com a padronização de preços e o surgimento do cash & carry, e apontava para um futuro já presente em que a inteligência artificial e a visão computacional eliminam a intermediação humana e, até mesmo, a interação do cliente com equipamentos dedicados.

No Brasil, essa modalidade chegou em 1953, com a inauguração da Cooperativa dos Funcionários da Tecelagem Parahyba, em São José dos Campos (SP) e, no mesmo ano, com o Sirva-se, primeiro supermercado do País, também em São Paulo, que posteriormente seria comprado pela Rede Pão de Açúcar.

O livro Do Armazém ao Supermercado, dos autores Daniel Bento Paletta e Sergio Sanches Marin, traz relatos curiosos do estranhamento que esse formato de canal de venda causou aos consumidores, acostumados ao atendimento no balcão em estabelecimentos com pouca oferta de produtos. Até mesmo as leis tiveram de se ajustar para permitir a venda de itens diversos num mesmo local.

Nota-se que, à época, houve um esforço pedagógico dos varejistas para mostrar ao cliente como funcionava aquele formato de negócio que acabaria com as antigas vendas e armazéns.

“Sempre existiu, por parte dos varejistas, uma grande resistência ao autosserviço, principalmente porque o custo da mão de obra, historicamente, se mostrou mais competitivo na comparação com o custo da automação”
Gerson Charchat, sócio da PwC Brasil

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) define supermercado como “estabelecimento varejista que, ao adotar o autosserviço, expõe e vende no mesmo local, permanentemente, gêneros alimentícios, artigos de consumo imediato e utilidades domésticas e é explorado por uma pessoa física ou jurídica”. Assim, o conceito de autosserviço nasce no varejo de alimentos, se expande para outros segmentos e avança com o conhecimento de gestão e marketing e o uso das tecnologias.

Em quase sete décadas, o Brasil caminhou lentamente na escala evolutiva do autosserviço. “Sempre existiu, por parte dos varejistas, uma grande resistência ao autosserviço, principalmente porque o custo da mão de obra, historicamente, se mostrou mais competitivo na comparação com o custo da automação”, explica Gerson Charchat, sócio da PwC Brasil.

O perfil cultural é outro aspecto relevante na avaliação do executivo. “Gostamos de ser atendidos, gostamos da intermediação. Esta é uma característica do brasileiro e do latino-americano.”

Porém, nos últimos três anos essa tendência vem mudando. “O fator fundamental foi o crescimento do mercado on-line, que fez com que o consumidor se acostumasse com o autosserviço do ponto de vista digital. Assim, quando vai à loja, ele já está acostumado, de alguma forma, a escolher seus próprios produtos sem a necessidade de um atendente e, muitas vezes, já vai informado ao ponto de venda”, diz o sócio da PwC Brasil.

Charchat menciona ainda que o uso do check-out e o processo de “bancarização” dos brasileiros, com a utilização de cartões de crédito ou cartões por aproximação, contribuíram para a familiarização dos clientes com o autoatendimento.

“O usuário consegue se autosservir de diferentes formas, desde o onboarding, enviar dinheiro ou até contratar um seguro residencial, por exemplo”
Jeferson Honorato,
diretor do Next

PANDEMIA IMPULSIONA MUDANÇA

Se os clientes já vinham num processo de adaptação ao autosserviço, com o início da pandemia de Covid-19, em 2020, essa tendência se intensificou, conforme indica a pesquisa Global Consumer Insights Pulse Survey 2021 da PwC.

“Percebemos que o consumidor não quer relacionamento por questão de segurança, de risco de contaminação. Então, ele compra on-line ou, se vai à loja, quer o mínimo de interação. Isso fez com que explodisse o modelo de autosserviço no Brasil nos últimos dois anos”, comenta Charchat.

Contudo, ele lembra que no varejo existem múltiplas subcategorias com segmentos mais desenvolvidos e outros em estágios primários. Os grandes varejistas dos setores alimentício e de moda, além do setor de materiais de construção, estão entre os mais evoluídos, em sua análise.

“Já no pequeno varejo, de lojas de moda customizadas, em que é importante provar a mercadoria ou discutir detalhes com a vendedora, ou que exija o pagamento em dinheiro, a adoção ao autosserviço se torna mais complicada.”

O setor de fármacos, embora exija interação, em função do receituário médico, avança em ferramentas de autoatendimento nos EUA e na Europa, conforme explica o sócio da PwC Brasil. “A parte de pagamentos passou a ser self-service, e há um incremento muito forte no que chamamos de Over The Counter (OTC) ou ‘negócios sobre o balcão’, que abrange uma quantidade grande de produtos que não necessitam de receita.” Já no Brasil, o executivo diz que este canal não tem apresentado progresso nessa área.

As lojas inteligentes que operam com base em inteligência artificial e visão computacional, em que o cliente faz suas compras desassistido, precisando apenas baixar o aplicativo da marca em seu smartphone, como a Amazon Go, em Seattle (EUA), tendem a se popularizar nos países desenvolvidos.

Aqui, apesar da constatada expansão do autoatendimento, é de se supor que esse tipo de estabelecimento ainda demore a se disseminar, em função dos altos custos de sua implantação.

Entretanto, se não dá para imaginar, em curto prazo, o Brasil aderindo às lojas inteligentes, é possível prever o uso dos celulares dos próprios clientes como dispositivos para a compra de produtos no comércio físico, dispensando a necessidade de equipamentos dedicados nas lojas.

Hoje, em alguns varejos, o cliente já pode fazer o pagamento diretamente por um aplicativo que escaneia o código de barras dos produtos com a câmera do smartphone. O único contato que o consumidor tem com uma máquina é na retirada do cupom fiscal, cuja impressão é acionada por meio da leitura do código de barras no celular.

Maturidade do consumidor

A pesquisa Global Consumer Insights Pulse Survey 2021 da PwC revelou mudanças no comportamento do shopper, após um ano da pandemia de Covid-19. As compras pelo celular seguem em elevação, de 30% para 33% em um ano, enquanto a compra na loja teve queda, passando de 47% para 41% no período. O hábito é, como se pode prever, mais desenvolvido entre os jovens.

Nas Gerações Z e Millennials, os compradores estão mais propensos a comprar diária ou semanalmente usando seus telefones celulares.

No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o comércio on-line teve crescimento de 68% em 2020. Para este ano, a projeção é que continue crescendo, de forma mais amena, e atinja os 18%.

“Tivemos a entrada de milhares de novos consumidores on-line em 2020, além da popularização de compras para diferentes categorias que incluem desde produtos de bens duráveis até os itens de supermercado ou farmácia. Este comportamento deve se manter neste ano, elevando ainda mais as projeções para as vendas do varejo on-line”, afirma Rodrigo Bandeira, vice-presidente da ABComm.

As alterações nos hábitos dos compradores brasileiros foram sentidas pelos players de todos os setores, dando um impulso para a aceleração do autosserviço em todas as suas formas.

Edinelson Santos, diretor de Atendimento ao Cliente da Via, observa uma transformação significativa. “Com o fechamento das lojas físicas, tornou-se essencial abrir mais pontos de contato humanizado com os clientes acostumados a ir até esse ambiente. Já para consumidores habituados a comprar por meio das plataformas digitais, a palavra de ordem era agilidade no atendimento, fosse ele humanizado, fosse automatizado.”

O executivo completa que o atendimento deve contemplar todos os perfis de cliente. “Por isso, adaptamos nossos pontos de contato para auxiliar nosso consumidor em diferentes frentes, otimizando sua jornada de compra e reduzindo etapas de atendimento no pós-venda.”

A Via implantou recursos para facilitar a vida dos clientes em seus aplicativos. “Incluímos no topo da página principal as opções de consulta de pedidos em andamento, o botão para o Me Chama no Zap e o acesso aos itens favoritados pelo cliente. E, nos próprios pedidos, os clientes encontram as opções para realizar troca, cancelar, rastrear o pedido, obter a segunda via da nota fiscal, a segunda via do boleto e avaliar o pedido” conta o diretor.

Para que o autosserviço progrida, na opinião de Santos, é preciso tecnologia e antecipação das necessidades do consumidor. “Um dos pontos-chave é a integração sistêmica, para que tanto na página do site, no app, no WhatsApp ou numa URA o cliente consiga encontrar sua solução sozinho”, resume.

Na visão de Celso Tonet, diretor de Atendimento e Call Center da Claro, o consumidor brasileiro está apto para o autoatendimento, “mas ainda há boas oportunidades para a parte de serviços”. O atendimento humano na companhia representa menos de 20% das transações.

“Na área de serviços, vemos um crescimento considerável na utilização de autosserviços nas empresas de telecom, energia e gás, utilização impulsionada por conta da pandemia, que obrigou todos a se acostumar com uma nova forma de se relacionar. Porém, ainda observamos oportunidades no engajamento e na disponibilidade de novas funcionalidades, o que ajudará no ganho de uma maior maturidade para esses serviços”, diz Tonet.

Ele informa que a empresa tem trabalhado na consolidação dos canais existentes (app Minha Claro Residencial, app Minha Claro Móvel e Atendimento via WhatsApp) e na abertura de novos canais. “Além disso, temos também o ‘NOW online’, que disponibiliza a plataforma de conteúdo para nossos clientes.”

O número de clientes únicos que acessam as plataformas da empresa, independentemente da idade ou do perfil, supera 25% ao ano, segundo o diretor. “Esse crescimento é uma boa amostra de que nossos clientes têm se adaptado a esse novo modelo de relacionamento”, sintetiza.

À frente de um banco digital, idealizado há quatro anos com as premissas do autosserviço, o diretor do Next, Jeferson Honorato, comenta que em determinadas situações ainda se observa a busca pelo atendimento humano, mas entende que “estamos vivendo um ciclo evolutivo de aprendizado e maturidade no comportamento digital. As gerações nativas digitais já possuem esse comportamento natural, e as demais gerações vêm num processo acelerado de inclusão digital”.

Honorato conta que a base de clientes mais que dobrou do fim de 2020 até o momento: mais de 4,8 milhões clientes. “Em relação ao engajamento, foram mais de 267 milhões de transações realizadas, volume 244% superior ao mesmo período no ano anterior.”

Ele acrescenta que, com o app, o cliente acessa todos os serviços sem consumir o plano de internet. “O usuário consegue se autosservir de diferentes formas, desde o onboarding, enviar dinheiro ou até contratar um seguro residencial, por exemplo.”

Os clientes do banco concentram-se na faixa etária dos 18 aos 34 anos – 77% deles, o que evidencia a adesão dos mais jovens a esse serviço. No entanto, o diretor reforça que atende um público amplo: de 18 a 50 anos, com diferentes ofertas e experiências.

Primeiro do setor imobiliário a criar uma experiência digital completa, o QuintoAndar usou a tecnologia para desburocratizar o aluguel, a compra e a venda de imóveis residenciais. Gabriel Braga, co-founder e CEO da plataforma, acredita que os consumidores mais resistentes ao autoatendimento e ao universo digital, com o surto de Covid, foram forçados a aderir.

Segundo o executivo, o inquilino possui um perfil mais digital e fica à vontade com as etapas de autosserviço. “Porém, alguns proprietários são um pouco distantes do ambiente digital e, consequentemente, solicitam o suporte da empresa. Para facilitar essa jornada, criamos os ‘consultores imobiliários’, que são corretores parceiros especializados no apoio aos proprietários off-line.”

Esse modelo de negócios permite o autosserviço em todas as etapas. “Exemplo disso é a possibilidade de se alugar um imóvel pela plataforma sem a necessidade de visita presencial, já que o interessado pode conhecer a casa ou o apartamento por fotos e vídeos no anúncio e pedir que um corretor parceiro faça uma ‘live’ para apresentar o local e tirar as dúvidas”, explica Braga.

A empresa lança novas ferramentas com frequência. A mais nova delas, Smart Pricing, permite que o usuário calcule o valor ideal para precificar o seu imóvel.

“Por sermos 100% digitais, acreditamos que a principal resistência dos clientes hoje está no uso e no espaço disponível nos aparelhos celulares, que vêm evoluindo anualmente e, com isso, nos ajudando a crescer de forma consistente”
Jeronimo Santos, presidente da abastece aí

Em 2020, a abastece aí deixou de ser apenas um app que oferecia descontos na compra de combustíveis e outros produtos e serviços nos postos Ipiranga e passou a ser uma empresa que oferece uma plataforma completa de serviços, incluindo contas de pagamentos digitais, além de descontos e cashback em uma rede de parceiros varejistas.

Os créditos em reais, resultantes do cashback, são depositados para os usuários em suas carteiras digitais e podem ser usados a qualquer momento, tanto nas empresas parceiras quanto para transferência a outros participantes do app abastece aí. Os clientes continuam a acumular e a resgatar pontos no Programa Km de Vantagens.

Com esse movimento, o app abastece aí e o Programa Km de Vantagens deixaram de ser parte da Ipiranga e passaram a formar uma nova empresa, independente do Grupo Ultra, que funciona sob a marca abastece aí. A empresa informa que possui mais 34 milhões de usuários que abrangem uma larga faixa etária, que vai dos 25 aos 55 anos. “O cliente não precisa de cartão nem de dinheiro. Basta ver o valor na bomba e fazer o pagamento diretamente no app. Temos, em média, 15% dos pagamentos de abastecimentos feitos diretamente pelo app abastece aí”, comenta Jeronimo Santos, presidente da empresa.

Na visão do executivo, o amadurecimento do autosserviço digital é questão de tempo. “Cada vez mais, vemos ambientes de autosserviço em todo tipo de negócio, como os self-checkouts em redes de varejo e o próprio cardápio eletrônico nos restaurantes. Os aplicativos de delivery são outro bom exemplo, por meio dos quais os clientes escolhem o que querem comer e em qual restaurante pedir.” Como spoiler, ele diz que, em breve, também terá novidades nesse ambiente.

NO ON OU NO OFF, SEJA SEMPRE AMIGÁVEL

Como modelo de atendimento que visa, entre outros aspectos, diminuir tensões na jornada de compra, o autosserviço está no ambiente físico e no e‑commerce e, em qualquer um deles, não há dúvidas de que o principal desafio continua a ser o de oferecer a melhor experiência ao consumidor. Afinal, uma jornada mal traçada, que impõe obstáculos ao cliente, pode interromper uma compra e até impor uma ruptura com a marca.
Dentre os elementos considerados fundamentais nesse processo estão a usabilidade, que pavimenta o caminho do cliente até a resolução de seu problema, juntamente com a padronização de lojas e a aplicação de métodos consagrados como a layoutização e o planograma.

O autosserviço reduz a necessidade de mão de obra e otimiza os custos de manutenção e de produção, mas exige que os pontos de venda, on ou off, sejam bem estruturados e que os empregados, responsáveis pelo suporte aos clientes, recebam capacitação digital.

A autonomia do consumidor não pode ser confundida com negligência. Há consumidores que possuem demandas mais específicas ou que têm dificuldades para aderir ao autoatendimento e que precisam de suporte.

No entanto, a necessidade de suporte pode ocorrer mais pelas falhas na experiência proporcionada pela empresa que pela ausência de familiaridade do consumidor com as tecnologias.

Por isso, do mesmo modo que os pioneiros do varejo precisaram educar seus clientes para entenderem como se portar naquele novo e revolucionário canal de venda, em que o cliente poderia escolher uma imensa variedade de produtos sem a intermediação de um balconista, as empresas atuais precisam facilitar a adesão do comprador às inovações do autoatendimento e do mundo digital, criando ambientes amigáveis, física e virtualmente.

Todavia, observa-se que regras básicas de usabilidade e padronização muitas vezes são deixadas de lado. É comum, por exemplo, encontrar clientes perdidos dentro de hipermercados porque o produto que procuram está com itens de uma categoria totalmente diversa.

No caso das plataformas digitais, o nível de usabilidade ainda é sofrível e percebe-se a ausência de um trabalho baseado em design thinking e arquitetura da informação.

Para Gerson Charchat, da PwC Brasil, o Brasil ainda engatinha em termos de planograma e layoutização de loja. “Há toda uma ciência por trás desses conceitos, que leva em conta variáveis estatísticas, modelos preditivos, gerenciamento de categorias e demais aspectos, e que não se desenvolveu no Brasil. Aqui é tudo muito empírico, pautado em lógicas que não consideram as características do consumidor, a região onde o ponto de venda está situado, o planograma, o espaço nos corredores, o giro dos produtos, entre outros aspectos”, comenta.

A presença forte da indústria no varejo é mencionada pelo executivo como um fenômeno muito brasileiro e que interfere na ambientação dos estabelecimentos comerciais. “Muitas vezes, os profissionais da indústria, presentes nos pontos de venda, colocam seus produtos em locais que contrariam o layout da loja.”

“Exemplo disso é a possibilidade de se alugar um imóvel pela plataforma sem a necessidade de visita presencial, já que o interessado pode conhecer a casa ou o apartamento por fotos e vídeos no anúncio e pedir que um corretor parceiro faça uma ‘live’ para apresentar o local e tirar as dúvidas”
Gabriel Braga,
co-founder e CEO do QuintoAndar

OMNICHANNEL

No mundo virtual, a aplicação da UX, experiência do usuário, para a construção de plataformas amigáveis também deixa a desejar.

Denis Alves, especialista em performance digital, explica que a experiência do usuário é um conceito amplo que envolve tudo no aspecto de interação do usuário final com a empresa e os seus produtos e serviços. “O foco é ter sinergia entre os objetos dos negócios versus as necessidades do usuário. Simplificando, trata-se de como o usuário se sente ao usar um aplicativo, um site ou até mesmo a experiência de um rápido checkout dentro de uma loja física.”

Segundo ele, quando aplicada a UX, em alguns casos, é possível aumentar em até 400% a conversão. Além disso, amplia-se o fator de satisfação.

Alves destaca, ainda, a importância de se investir no omnichannel, para que o usuário não sinta diferença entre comprar no mundo off-line e no on-line. “De nada serve uma bela UX para o e‑commerce e a loja física não ir em cross com esta experiência.”

O profissional acredita que a experiência do cliente ultrapassará o produto e o preço como um diferenciador-chave da marca. “Este é o momento de mudar o foco das metas de negócios para as metas do usuário, para ficar à frente da curva no restante de 2021 e nos próximos anos”, conclui.

Shopee lança página dedicada a grandes marcas no Brasil

Nivea, Reserva, Empório Nestlé, Free Fire e Philips, entre outras, já têm espaço no marketplace.
A plataforma de comércio eletrônico Shopee agora possui uma página dedicada a grandes marcas no Brasil. A Shopee Oficial já conta com mais de 30 empresas, como Nivea, Reserva, Empório Nestlé, Free Fire, Faber-Castell, Duracell, Mundo Danone, Everlast, Philips, Huawei, Realme e Black&Decker, que oferecem mais de 15 mil produtos em diversas categorias com o selo vermelho “Oficial” e preços diferenciados.

“Além de mais exposição e visibilidade no marketplace da Shopee com uma página dedicada para marcas e conexão com consumidores online, esses parceiros ainda podem contar com outras vantagens, como cupons de frete grátis aos consumidores. Já os nossos usuários conseguirão encontrar os produtos de suas marcas favoritas de forma ainda mais fácil com os melhores preços, segurança e garantia de autenticidade”, destaca o responsável pelo marketing da Shopee Brasil, Felipe Piringer.

A Shopee Oficial possui um botão de acesso na página principal da plataforma, tanto do aplicativo no celular quanto no computador. Os consumidores podem visualizar as marcas em destaque, as favoritas, todas juntas ou selecionar por categorias: “Para a família”, “Moda”, “Lar e Decoração” e “Eletrônicos e Automotivo”.

Liquida Lojas Oficiais
Durante a campanha 9.9 Super Shopping Day – que começou essa semana e irá até 9 de setembro (com R$ 3 milhões de cupons de desconto), as marcas da Shopee Oficial também terão promoções exclusivas. A Liquida Lojas Oficiais será no dia 30 de agosto e terá produtos com até 50% de desconto, além de cupons de 10% de desconto nas compras acima de R$ 40, válido para todos os itens com o selo Oficial. Já no dia 8 de setembro, da 0h às 20h, a Shopee promove a Batalha de Descontos com grandes marcas em que três produtos serão colocados para votação e o mais votado será vendido por R$ 9,99 no dia seguinte (9 de setembro).

Para comprar das marcas participantes da Shopee Oficial, é preciso baixar o aplicativo na App Store ou na Google Play Store e se cadastrar. A plataforma aceita pagamentos via boleto bancário e cartão de crédito com parcelamento em até seis vezes sem juros. A plataforma conta com a Garantia Shopee, uma ferramenta que retém o pagamento do produto até que o usuário receba o que comprou em perfeitas condições.

Chineses do Alibaba abrem disputa pelo lojista on-line brasileiro

O executivo turco Yaman Alpata, líder de marketplace local do AliExpress para a América Latina, ainda não fala português, nem espanhol. Ao atender a imprensa na última segunda-feira (23), para anunciar a abertura da plataforma para lojistas brasileiros, se expressou em inglês.

Este é só um detalhe que a gigante chinesa de tecnologia Alibaba, dona do AliExpress, serviço de vendas internacionais do grupo, vai ter que resolver para se aproximar do seu novo alvo, os lojistas brasileiros.

Os consumidores ela já convenceu há 11 anos, desde que desembarcou no Brasil e, mais recentemente, avançou no prazo de entrega. Dos meses de espera por um produto chinês, o paulista passou a receber a encomenda em oito dias e, os demais brasileiros, em duas semanas, graças a uma frequência de quatro voos semanais vindos da China. Também o serviço de pós-venda, com logística reversa e atendimento ao consumidor, passou a ser feito localmente.

Mas depois da logística mais rápida, a nova fronteira da disputa do comércio eletrônico nacional se concentra na conquista dos “sellers”, os lojistas que vendem nos marketplaces, as plataformas de venda dos grandes varejistas brasileiros –com destaque para Magazine Luiza, Americanas.com, Via e o argentino Mercado Livre.

Tudo por um mercado de comércio eletrônico que movimentou R$ 87,4 bilhões no ano passado e deve crescer 24% este ano, chegando a R$ 108,4 bilhões, nas estimativas da consultoria e-Bit Nielsen. Ainda assim, estima-se que apenas 10% das vendas do varejo aconteçam online, contra até 50% do mercado chinês.

“Ao incluir sellers brasileiros, o AliExpress aumenta a recorrência de compra, tráfego no site e retém a base de clientes”, diz o especialista em varejo Alberto Serrentino, da Varese Retail, que também aponta a agressividade dos chineses na oferta de crédito aos lojistas.

Para atrair lojistas, a empresa afirma que irá cobrar comissões de 5% a 8% e ofertar um serviço integrado de logística que vai permitir frete gratuito para todo o país em compras acima de R$ 50. Também promete aos lojistas brasileiros um fluxo de repasses financeiros mais rápido que a média do mercado, com a possibilidade de saques diários, sem custos.

No Magazine Luiza, a comissão paga pelos sellers varia de acordo com o setor. Nos segmentos de moda, joalheria e relojoaria, por exemplo, o valor é de 16%. Para os demais, 12,8%. Já o Mercado Livre, que aceita cadastrar como vendedores tanto pessoas físicas quanto jurídicas, o valor das comissões vai de 11% a 19%.

“Para o pequeno seller, não é interessante estar em vários marketplaces diferentes. Ele vai eleger um e ficar nele, para adaptar sua venda àquela plataforma, que tem um jeito específico de promover o fluxo de pagamentos, apresentar e ranquear o seu produto”, diz o consultor em varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer. “Já para o marketplace, quanto mais sellers ele tiver, em diferentes e em uma mesma categoria, melhor para atender a sua audiência”.

Na semana passada, a Magazine Luiza anunciou uma campanha de incentivo aos lojistas, com direito a maquininhas de cartão da empresa. Na ocasião, o presidente da varejista, Fred Trajano, disse que o marketplace da companhia não é “camelódromo” –numa referência aos sellers que não emitem nota fiscal.

“O Mercado Livre sempre foi o ambiente em que o pequeno, o informal, tinha espaço”, diz Serrentino. “Mas houve avanço do sistema próprio de entregas, o Mercado Envios, que já responde por 90% das vendas do marketplace, e onde só são aceitos fornecedores que emitem nota fiscal”.

Yaman Alpata diz que o AliExpress está atento para a venda sem nota fiscal. “Normalmente, não comentamos falas de competidores, mas posso dizer que a AliExpress coloca importância em compliance e regulamentos do país. Nos adequamos às leis nos locais onde operamos”.

Segundo Viviane Almeida, gerente comercial da AliExpress, a empresa só trabalha com vendedores com CNPJ e não aceita pessoas físicas. “Quando o vendedor faz seu registro, é analisada a idoneidade da empresa”, afirma. Além de CNPJ, a chinesa também aceita MEI (Microempreendedores Individuais).

Para o professor Giorgio Romano, do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil da Universidade Federal do ABC (OPEB/UFABC), responsável por um estudo sobre a concorrência entre gigantes do varejo local e big techs chinesas, a entrada de cabeça do AliExpress no mercado brasileiro não é necessariamente ruim para as grandes varejistas locais.

“Os chineses vão ajudar a fomentar o comércio eletrônico no país, que ainda está engatinhando perto do que eles têm em casa”, afirma. Mas Romano chama a atenção para a necessidade de contrapartida. “Se eles vêm com quatro aviões toda semana para o Brasil, com o que essas aeronaves voltam? Podiam levar produtos brasileiros para a China também, incentivando o comércio bilateral”, afirma.

A plataforma chinesa começou a abertura para operações locais em 2019, em países como Turquia e Espanha. O Brasil será o primeiro país das Américas a entrar na modalidade de operação local. As entregas nacionais serão feitas pela Cainiao, empresa de logística do grupo Alibaba, que já opera no Brasil.

A chinesa ainda não tem um centro de distribuição próprio no país mas, segundo Viviane, está nos planos a abertura nos próximos meses. Além da Cainiao, a plataforma faz entregas via Correios, com prazos entre dois e quatro dias.

No próximo dia 1º, a AliExpress vai promover um evento online para que os lojistas brasileiros conversem diretamente com representantes da empresa no Brasil e no exterior. A “Sellers Conference” promete ser “totalmente em português”. É a chance para a empresa mostrar o quanto sabe se adaptar.

RAIO-X DO GRUPO ALIBABA NO 2º TRIMESTRE DE 2021

Lucro líquido atribuído aos acionistas – US$ 6,9 milhões

Faturamento – US$ 31,865 milhões

Funcionários – Mais de 251 mil

Principais concorrentes – Tencent, Baidu, Meituan, Didi Chuxing, ByteDance

RAIO-X DO MERCADO LIVRE NO 2º TRIMESTRE DE 2021

Lucro líquido – US$ 68,2 milhões

Faturamento – US$ 7 bilhões

Funcionários – Mais de 17 mil na América Latina, sendo 5.461 no Brasil

Principais concorrentes – Magazine Luiza, Via, Amazon

RAIO-X DO MAGAZINE LUIZA NO 2º TRIMESTRE DE 2021

Lucro líquido – R$ 95,5 milhões

Faturamento – R$ 43,5 bilhões

Funcionários – 47 mil

Principais concorrentes – Mercado Livre, Via, Amazon

Mercado Livre anuncia compra da empresa de operação logística Kangu

Empresa conecta vendedores de e-commerce à sua rede de lojas de bairro parceiras.
O Mercado Livre adquiriu a Kangu, companhia brasileira de serviços logísticos com operação no Brasil, Colômbia e México. Assim, o Mercado Livre, que já atuava como parceiro estratégico, ampliou sua participação com a aquisição da totalidade da empresa. Este movimento vai ao encontro da estratégia da plataforma, que investe cada vez mais em sua malha logística para garantir eficiência aos vendedores e entrega mais rápida aos clientes.

Atualmente, mais de 40 mil vendedores usam a rede da Kangu, nos três mercados onde a empresa atua, que somam mais de 5 mil pontos de coleta e entrega, mais da metade deles no Brasil. A empresa, que presta serviço para diversas companhias, dentre elas o Mercado Livre, conecta vendedores de e-commerce à sua rede de lojas de bairro parceiras, como petshops, papelarias dentre outros pequenos comércios. Estas lojas atuam como uma rede altamente capilarizada de pontos de coleta, onde os vendedores podem deixar os seus produtos para envio ao consumidor, ou pontos de entrega, onde compradores podem buscar suas encomendas.

“A Kangu já exerce um papel importante em nosso ecossistema, conectando compradores e vendedores do Mercado Livre em mais de 5 mil pontos. A transação vai trazer ainda mais eficiência e capilaridade à nossa operação, que trabalha diariamente para levar a entrega mais rápida ao consumidor brasileiro”, destaca Renato Pereira, diretor de Novos Negócios do Mercado Livre. “Durante a pandemia, quando o volume de pedidos aumentou, a rede auxiliar fornecida pela Kangu foi muito importante para complementar a eficiência da nossa entrega”, completa Renato.

Redução do tempo de entrega
Atualmente, o Mercado Livre realiza entregas em até um dia para 2,1 mil cidades do Brasil, assim como faz entregas no mesmo dia para dezenas de localidades. “Desenvolvemos soluções internamente, ao mesmo tempo em que buscamos parceiros e oportunidades para democratizar o comércio eletrônico e reduzir ainda mais o tempo das nossas entregas”, afirma Leandro Bassoi, vice-presidente de Logística do Mercado Livre para a América Latina. “Além da sinergia logística, a Kangu aporta ainda mais sustentabilidade à operação, oferecendo alternativas que reduzem o tráfego de veículos e as emissões, assim como amplia nosso impacto social, gerando renda para pequenos lojistas que integram sua rede.”

Em 2020, a receita da Kangu cresceu mais de 100 vezes na comparação com o ano anterior. O modelo de negócio da empresa inclui, além dos serviços de pontos de coleta e entrega, o transporte de produtos com o apoio de parceiros externos e a logística reversa. O investimento tecnológico, sobretudo na gestão inteligente de dados, permitiu à Kangu otimizar as entregas e oferecer serviços complementares.

“A parceria com o Mercado Livre impulsionou o rápido desenvolvimento da nossa operação nos últimos anos, que seguirá crescendo ainda mais para atender nossos atuais e futuros clientes”, ressalta Marcelo Guarnieri, co-CEO e fundador da Kangu. “Somente no Brasil, onde já operamos 2,6 mil pontos e cinco cross dockings próprios, devemos saltar para 3,5 mil pontos e 13 cross dockings da Kangu até dezembro.”

Gestão independente
A gestão da Kangu continuará de forma independente, sob a liderança dos atuais co-CEOs, seguindo sua estratégia para conquistar novos vendedores de e-commerce, que demandam soluções para coleta, entrega e logística reversa. “O crescimento do market share da Kangu é resultado, sobretudo, do impacto positivo que geramos na cadeia. Seguiremos atendendo o Mercado Livre e outras empresas, assim como desenvolvendo novos serviços para o mercado”, enfatiza Ricardo Araújo, co-CEO e fundador da Kangu.

A aquisição da Kangu reforça o ecossistema de negócios do Mercado Livre, em linha com a estratégia da plataforma, que conta com a prestação de serviços de empresas de logística terceiras, reduzindo prazos de entrega e expandindo a capacidade do Mercado Envios, seu braço logístico. No segundo trimestre, esta unidade de negócios enviou mais de 230,5 milhões de itens, aumento de 46,4% em relação ao mesmo período de 2020.

A conclusão da operação aguarda a aprovação das autoridades de defesa da concorrência.

Retomada do varejo: novas lojas físicas voltam a surgir

Dados apontam aumento das compras em lojas de rua.
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, aos poucos, os consumidores têm visitado mais o varejo físico. De acordo com o levantamento do Índice de Performance do Varejo (IPV), em junho, a alta no fluxo foi de 1,2% nas lojas de rua e de 3% nos shoppings centers em comparação a maio.
Na comparação com junho de 2020, logo após a primeira flexibilização das medidas restritivas, o aumento no fluxo foi de 184,5% nos shoppings e de 63,4% nas lojas físicas. Isso indica que o varejo está retornando ao cenário pré-pandemia.
Aproveitando o momento, muitos varejistas têm se preparado para a retomada apostando em novas lojas. A Magazine Luiza, por exemplo, iniciou os investimentos para abrir 50 lojas no Rio de Janeiro este ano, sendo que 23 delas já foram inauguradas no mês de julho em diversos pontos do estado.
“A operação logística da Magalu no Rio de Janeiro será ampliada, com novos cross-dockings, expansão do centro de distribuição e com centenas de entregadores parceiros na Logbee”, diz o comunicado publicado pela empresa na CVM.
Mesmo com 32% das lojas física fechadas em abril, por conta das medidas restritivas para manter o distanciamento social, as vendas presenciais da rede atingiram US$ 4 bilhões, sendo um aumento de 112% sobre o mesmo trimestre de 2020 e de 16% sobre o mesmo período de 2019, quando ainda não havia a pandemia. Os resultados da Magalu mostram a relevância do comércio físico e a aposta da varejista, que, em três anos, pretende aumentar o número de lojas de cerca de 1.300 para 1.683.
Outras empresas também anunciaram a inauguração de unidades físicas – entre elas, a Via Varejo anunciou para 2021 cerca de 120 novas lojas, sendo 90 delas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Em ritmo acelerado de expansão, a Cacau Show também planeja inaugurar mais 400 novas lojas neste segundo semestre. A meta é abrir 500 novas unidades em 2021, chegando a 2,9 mil no total, com a maior parte delas franqueada.
Mais aberturas foram previstas por redes como Casa & Video, com 70 novas lojas, Tok & Stok e Havan, com dez lojas, e Assaí, que planeja conquistar 123 novas unidades no período de cinco anos.
Nos mais diferentes segmentos, o crescimento das vendas digitais parece não intimidar a presença física, haja vista que as compras on-line representam cerca de 10% do total no Brasil e que grande parte dos consumidores ainda vai às lojas para fazer a transação final ou ver produtos como Makita, eletrodomésticos e eletrônicos de perto.

Mais protagonista, plural e digital. Eis o varejo do presente e do futuro pós-pandemia.

O varejo global e principalmente local que emerge da pandemia se tornou ainda mais protagonista, assim entendida sua importância econômica, política e social, além de mais diversificado e plural em sua atuação e muito mais digital. Talvez seja esse o extrato da síntese da visão do varejo do presente e do futuro.

A dimensão digital de toda a transformação está expressa para muito além do relevante crescimento da participação das vendas pelo e-commerce no total das vendas do varejo em todos os mercados – que, na maioria dos mercados, como no Brasil, dobrou por conta a pandemia.

A correta análise dessa dimensão deve incluir toda a transformação precipitada pelo crescimento de tudo que envolve tecnologia nos negócios do varejo e seus fornecedores de insumos, produtos, serviços e soluções em todos os canais, modalidades e formatos de lojas.

Deve incluir o aumento significativo de investimentos e foco para permitir às empresas monitorarem comportamentos e usar essas informações para fins preditivos. Assim como tudo que envolve a gestão dos negócios e o empoderamento das equipes pela tecnologia para torná-las mais conectadas, atualizadas, eficientes e produtivas. Tomem como exemplo o que Natura, Via, Renner, O Boticário e outros têm feito para colocar mais recursos nas mãos de suas equipes.

Envolve também os fundamentais avanços na gestão dos estoques, na logística e na busca de diferenciais competitivos nas entregas para oferecerem mais conveniência e nível de serviço, num cenário em que a disputa pela preferência se tornou muito mais crítica exatamente porque os recursos disponíveis, em especial a própria tecnologia, se tornaram de acesso mais amplo e disseminado. Criar e manter vantagem competitiva por algum tempo é o desafio crescente e permanente. Vejam o que tem sido feito nas questões de prazos de entrega envolvendo, por exemplo, Magalu, Americanas e Mercado Livre.

Sem falar nas preocupações ligadas à segurança de dados e os investimentos necessários para tentar blindar sistemas em momentos em que as invasões de bases e pedidos de resgate se tornam mais frequentes exatamente pela expansão das portas de entrada possíveis, como aconteceu com Cosan no passado, JBS nos Estados Unidos (EUA) e nesta semana com Renner.

A evolução e o peso do digital se tornaram quase que o KPI fundamental para análise da maturidade e potencial futuro de uma organização, em especial do varejo.

Mas o varejo que emerge e sua visão do futuro estão também muito impactados por sua pluralidade, assim entendida sua capacidade de usar dados e informações de seus consumidores, dentro das regras da LGPD, para expandir suas fronteiras. A visão histórica do varejo de lojas é uma visão absolutamente superada.

O varejo atual e futuro é muito mais plural nos formatos de lojas que opera, nos canais, de lojas à venda direta, WhatsApp e live commerce, e nas regiões e mercados nos quais opera, física e virtualmente, e o cross border torna tudo isso mais claro. Também incorpora serviços e soluções, para além de produtos em sua oferta.

Avança célere para ocupar cada vez mais espaço nos serviços e alternativas financeiras, no extremo gerando meios de pagamentos próprios. Basta acompanhar um pouco do que Magalu, O Boticário, Mercado Livre, Via, Americanas e Vivo, entre outros, estão fazendo por aqui, seguindo os passos de Amazon, Alibaba, Tencent e outros fora do Brasil.

Tudo isso só fez, faz e fará crescer o protagonismo econômico, político e social do varejo.

Num ambiente muito mais competitivo gerado pelo acesso mais disseminado à tecnologia, ao digital e recursos financeiros, alavancado pelo aumento do valor das empresas do setor que se redefinem como Ecossistemas de Negócios, em que as fronteiras de atuação se tornam menos nítidas, quem tem informação recorrente, constante, atualizada e tratada sobre o consumidor se torna protagonista em outra dimensão em relação ao passado.

O foco no consumidor, que sempre foi o mantra do Marketing, é parte do DNA do varejo. Para a indústria, de fato, o foco era produto. Para os bancos, os recursos financeiros. Para a agricultura, a produção. E daí para frente.

O único setor que genuína e naturalmente focava sua atuação no conhecer, entender e atender consumidores sempre foi o varejo. E isso faz toda a diferença agora e cada vez mais no futuro.

Enquanto outros setores têm que se reposicionar e transformar sua cultura para esse novo enfoque, para o varejo tudo isso é natural e sempre foi fundamental.

Por conta disso, seu protagonismo atual e futuro está assegurado ao usar mais tecnologia, recursos financeiros mais facilmente acessíveis, mais diversificação, mais pluralidade e se reestruturando como Ecossistemas de Negócios pela inspiração disseminada a partir da China. O varejo tem sido privilegiado pela escalada de valorização que se observa no mercado brasileiro.

Isso terá impactos para além do próprio setor, envolvendo concentração, globalização, polarização e pressão competitiva, sem falar nas relações de poder nas cadeias de valor, locais e globais.

Se em um tema tão complexo é possível alguma ambiciosa simplificação para condensar a visão presente e futura do varejo que emerge desse período sombrio da História da Humanidade, talvez seja essa: simplesmente mais protagonista, plural e digital, ajudando a transformar tudo o que conhecíamos sobre o tema.

Nota: Durante o Latam Retail Show virtual, de 14 a 16 de setembro, ocorrerá ampla discussão sobre as transformações que a realidade global e local vivenciam pós-pandemia e seus impactos nos negócios, no mercado, no consumo e no varejo potencializado pelas mudanças que ocorrem no cenário mais amplo que envolve a emergente Sociedade 5.0, macro tema do evento deste ano. Serão 205 palestrantes, 82 horas de conteúdo, 5 palcos simultâneos e mais 3 pesquisas inéditas e exclusivas. Uma imersão da realidade do presente e na visão do futuro.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.

Riachuelo aumenta aposta em financeira para conhecer jornada do consumidor

Numa ação inusitada promovida há alguns dias, 14 lojas da Riachuelo amanheceram com uma fachada diferente, onde lia-se o nome Midway. Ao mesmo tempo, o avatar do perfil da varejista de moda no Instagram também foi trocado pelo logo da financeira. O objetivo era mostrar que a Midway faz parte do mesmo conglomerado que a Riachuelo, o Grupo Guararapes. Com mais de 33 milhões de clientes em sua base, a financeira é a maior emissora de cartões private label do Brasil, mas quer ampliar a oferta de serviços para os consumidores.

“O cliente conhece a Midway por meio do cartão Riachuelo. Quando decidimos fazer a migração para um banco digital, passamos a oferecer outros serviços financeiros. A conta, assim, substitui o cartão como grande integradora desses serviços”, diz Paulo Mendes, diretor-executivo de serviços financeiros da Riachuelo e Midway, em entrevista ao portal Mercado&Consumo.

A plataforma agora disponibiliza empréstimos, sorteios e rendimentos diários indexados ao CDI na conta remunerada. Também oferece saques em bancos 24 horas, pagamentos, transferências para outros bancos, depósitos, contratação de seguros e assistências. Em breve, oferecerá aos clientes solução Open Banking e Pix.

“A conta tem vantagem sobre o cartão porque não depende de aprovação, o que vai ao encontro do nosso objetivo de democratizar o acesso à moda”, afirma Mendes. “Além disso, oferecemos crédito num ambiente que o cliente conhece, que é o da moda, fora da zona fria dos bancos.”

O aprofundamento da relação com os consumidores é, também, um foco da empresa. Por meio da conta digital, a Riachuelo amplia o conhecimento que tem do cliente. “A conta é mais um elemento de relacionamento conosco, permitindo um atendimento mais completo e o entendimento de quais são as jornadas o que cliente faz conosco”, complementa o diretor-executivo de Canais e Marketing da Riachuelo, Elio Silva.

Carter’s, Casa Riachuelo e marketplace
O ecossistema ao qual Silva se refere vem ganhando força nos últimos meses, apesar da pandemia de Covid-19 e dos impactos causados por ela no varejo. O Grupo Guararapes abriu no ano passado as primeiras lojas da Carter’s, marca de moda infantil americana licenciada, e da Casa Riachuelo, especializada em itens de casa, mesa e banho, que acaba de ganhar sua maior unidade no Midway Mall, operação de shopping center da companhia.

Em tempos de omnicanalidade, a aposta no digital também é intensa. Inaugurado há dois meses, o marketplace da Riachuelo já conta com cerca de 100 lojistas (sellers) e permitiu um grande aumento de sortimento de itens que complementam a jornada do consumidor.

“Na loja física, oferecemos uma experiência sensorial mais forte e adequada ao timing daquele cliente que decidiu ir até lá. Mas o colaborador também passa a contar com uma prateleira infinita. O cliente pode comprar uma moto elétrica ou uma TV de 60 polegadas e usar nossa ferramenta de crédito para parcelar em 10 ou 15 vezes. Nossos produtos financeiros permitem que ele navegue entre vários canais”, explica Elio Silva.

Para ele, apesar de o consumidor ter se acostumado a usar mais serviços digitais ultimamente, ele não vai deixar de ir na loja física – mas também vai querer ter experiências digitais nelas. “No ano passado, todo mundo deixou de ter e-commerce e passou a ter um sistema de venda digital. Existe o e-commerce, o WhatsApp é integrado à loja, o live commerce e outros meios de relacionamento digital diferentes daquele da jornada pré-pandemia.”

A loja da Casa Riachuelo do Midway Mall, por exemplo, tem um espaço dedicado ao e-commerce de vinhos TodoVino. Nele, o consumidor pode ver todos os rótulos à venda no site, fazer a escolha a partir de uma conversa com um sommelier e pagar por meio do uso de um QR Code – o vinho é entregue em casa. Boa parte dos vinhos vendidos ali não estava nem disponível na cidade de Natal (RN), onde fica o shopping.

Com o consumidor escolhendo o meio, o tempo e a forma de se relacionar com as empresas, o varejista que não tiver os canais certos perderá relevância, afirma o diretor-executivo de Canais e Marketing da Riachuelo. O cliente nunca teve tantas possibilidades. A boa notícia é que as empresas também nunca estiveram tão preparadas para terem uma relação longa com eles como agora.

Consumidor brasileiro é o que mais está mudando no mundo

Pesquisa da Accenture indica que fatores como reputação, confiança, origem dos produtos, segurança e saúde estão em alta na tomada de decisão de compra dos brasileiros.
Os fatores que mais impactam na decisão de compra de um consumidor são, tradicionalmente, dois: qualidade do serviço ou produto oferecido e o seu preço. No entanto, os consumidores, em especial o consumidor brasileiro, estão passando por uma transformação em escala global, acelerada pela pandemia, que aumenta o peso de outros elementos na hora de decidir de qual marca comprar.

Este movimento de mercado foi identificado na pesquisa mundial Accenture Life Reimagined, que entrevistou 25 mil pessoas em 22 países, incluindo o Brasil. O levantamento divide os consumidores em três grupos: os tradicionais, que correspondem a 17% dos entrevistados, os reimaginados (50%), e os em evolução (33%), cujo comportamento indica uma transição da forma de consumo tradicional para a reimaginada.

Na prática, isto significa que, hoje, pelo menos metade das pessoas tomam decisões de compra com base em fatores que vão muito além do custo-benefício. Como mostra o gráfico (acima), os consumidores reimaginados dão mais importância ao conjunto de elementos que engloba: personalização, reputação, conveniência, segurança e origem do produto.

Vale ressaltar que o relatório leva em consideração 14 indústrias diferentes, que vão desde o setor automotivo até o varejo, passando por turismo e seguros. Ou seja, engloba a tomada de decisão desde produtos e serviços triviais como os mais caros, duradouros e importantes na trajetórias dos consumidores.

Consumidor brasileiro
Dentre todos os países que participaram da pesquisa, o Brasil é o líder em proporção de consumidores reimaginados. Por aqui, 71% dos compradores estão neste grupo; 21% estão em evolução; e apenas 8% tomam decisão de compra considerando mais os fatores de qualidade e preço.

Em uma série de focus groups (conversas com grupos de consumidores sobre os temas em questão) realizados pela Accenture, o consumidor brasileiro se destacou com frases como “eu espero um maior cuidado com o consumidor após a pandemia, porque as marcas perceberam o quanto precisam de nós” e “eu comecei a ler os rótulos dos produtos para entender mais sobre a origem deles”. Estas falas são indicadores de uma mudança de comportamento do cliente, que se posiciona no centro do negócio e sabe da sua relevância na crescente concorrência digital.

Segundo a Accenture, é interessante notar que a única coisa que une os consumidores reimaginados é a forma como tomam decisões de compra. Não há indícios de que fatores como idade, classe social, emprego ou formação influenciem diretamente no comportamento de consumo.

E você, empreendedor, com isso?
Com os consumidores cada vez mais preocupados com fatores que vão além do preço e qualidade do que sua empresa oferece, é fundamental oferecer uma boa experiência como um todo. Isto significa, entre outras coisas:

– Transformar clientes em fãs, ou seja, embaixadores da sua marca, estabelecendo uma relação mais próxima com eles.

– Utilizar formas inovadoras para fidelizar os clientes, como cashback, personalização de brindes e programa de pontos.

– Coletar e analisar os dados dos clientes em sistemas de CRM para realizar uma boa gestão do relacionamento com o consumidor.

Varejo cresce 7,2% em julho, de acordo o ICVA

As vendas no Varejo no mês de julho cresceram 7,2%, descontada a inflação, em comparação com o mesmo mês de 2020. Em termos nominais, que espelham a receita de vendas observadas pelo varejista, o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) registrou alta de 21,6%.

Efeitos de calendário beneficiaram o resultado de julho deste ano. Houve um sábado, dia forte para o comércio, a mais e uma quarta-feira, data em que a movimentação do comércio é menor, a menos em relação a julho do ano passado. Sem tais efeitos de calendário, o índice registrou alta de 6,5%, descontada a inflação. Em termos nominais, com os ajustes de calendário, o faturamento subiu 20,7%.

“O patamar de faturamento do varejo continua, em termos nominais, próximo àquele observado no período pré-pandemia.”, afirma Pedro Lippi, Head de Inteligência da Cielo. “No entanto, esse crescimento está associado ao aumento da inflação no período. Desconsiderando esse efeito, o Varejo ainda está cerca de 14% abaixo do patamar observado em 2019”.

Inflação
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE, apontou alta de 8,99% no acumulado dos últimos 12 meses, com alta de 0,96% em julho. Os reajustes no preço da energia elétrica foram a principal causa do aumento do índice. Ao ponderar o IPCA pelos setores e pesos do ICVA, a inflação no varejo ampliado foi de 13,3%, acelerando em relação ao índice registrado no mês anterior.

Setores
Descontada a inflação e com o ajuste de calendário, o macrossetor de Serviços sofreu aceleração na passagem mensal, enquanto Bens Duráveis e Semiduráveis e Bens Não Duráveis experimentaram desaceleração.

No macrossetor de Serviços, os destaques da aceleração foram Bares e Restaurantes e Turismo e Transporte.

No macrossetor de Bens Duráveis e Semiduráveis, Materiais para Construção e Vestuário foram os que mais contribuíram para a desaceleração.

Já no macrossetor de Bens Não Duráveis, os setores que mais colaboraram para a desaceleração foram Veterinárias e Pet-shops e Drogarias e Farmácias.

Regiões
De acordo com o ICVA deflacionado e com ajuste de calendário, todas as regiões do país apresentaram crescimento em relação a julho do ano passado. A região Nordeste registrou alta de 9,3%, seguida do Centro-Oeste (+8,2%), Sul (+7,2%), Sudeste (+6,5%) e Norte (+4,1%).

Pelo ICVA nominal – que não considera o desconto da inflação – e com ajuste calendário, a região Nordeste registrou aumento de 24,2% nas vendas. Na sequência aparecem: Centro-Oeste (+22,0%), Sudeste (+20,6%), Norte (+19,2%) e Sul (+17,8%).

Magazine Luiza lança 3 versões de maquininhas de pagamento para vendedores do marketplace

O Magazine Luiza (MGLU3) lançou nesta terça-feira (17) três modelos de maquininhas de pagamento com cartão aos vendedores que fazem parte do seu marketplace.
A companhia já tinha anunciado que entraria com um pacote de soluções financeiras na semana passada. O lançamento ocorreu no evento anual do Magazine Luiza, o Expo Magalu.
Chamadas de Magalupay, as maquininhas de pagamento foram idealizadas para diferentes perfis de vendedor. Uma é voltada ao microempreendedor, outra a estabelecimentos mais robustos e a terceira, batizada de Smart, funciona como um sistema de gestão do negócio, pois, além da função de pagamento, a maquininha gerencia o estoque após as vendas on-line e off-line.

As três versões de maquininhas contam com a funcionalidade do pagamento com cartão por aproximação e funcionam sem bobina de papel. Os aparelhos não têm cobrança de aluguel, e os três modelos estão disponíveis para CPF e CNPJ. O sistema é integrado com a conta PJ gratuita, outro lançamento do Magazine Luiza que permite realizar PIX ilimitados, TEDs, pagamentos de boletos e depósito dos recebíveis. O sistema é totalmente integrado à plataforma da companhia. Os usuários recebem um cartão de crédito que também pode ser usado fora do ecossistema da companhia.
Outra novidade anunciada hoje foi o sistema de crédito para alavancar os negócios dos parceiros. Com ele, os vendedores poderão realizar empréstimo para investir no negócio, como aumentar a produção ou estoque.
“Criamos um produto fácil, ágil, atrativo e com muitas vantagens”, afirma Robson Dantas, diretor de Fintech do Magazine Luiza.
A contratação de crédito pode ser realizada de forma 100% digital. O serviço não tem pedido de garantia, as taxas de juros são competitivas e a primeira parcela pode ser paga em 60 dias. Durante uma semana, a taxa de juros para quem tem crédito pré-aprovado terá 30% de desconto com parcelamento em até 18 meses.

Resultados
O Magazine Luiza reverteu o prejuízo e lucrou no segundo trimestre, impulsionada pelas vendas nas lojas físicas com a flexibilização das medidas restritivas. O montante atingiu R$ 89 milhões.
As vendas totais do grupo saltaram 60,5%, para R$ 13,7 bilhões, reflexo do aumento de 46,4% no e-commerce e de 111,6% nas lojas físicas.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado cresceu 209% no comparativo anual, com avanço de 2,5 pontos percentuais na margem.
Além dos resultados trimestrais, a companhia disse que pretende dobrar sua área de logística de entregas até 2023 para 2 milhões de m², com 450 centros de distribuição e a inauguração de mais 341 lojas.
No prazo de dois anos, a empresa prevê elevar de 185 para 450 os hubs logísticos e centros de distribuição.