Quase 10% dos microempreendedores viraram empresas maiores com a pandemia

Segundo levantamento da Serasa Experian, MEIs voltados para o comércio foram os que mais passaram a micro ou pequenas empresas no último ano, impulsionados pelas vendas on-line.

A pandemia turbinou os negócios dos microempreendedores brasileiros, especialmente por causa das vendas do comércio on-line. Quase 10% dos que iniciaram o próprio negócio como microempreendedores individuais em 2019 e se mantiveram ativos nos últimos 12 meses viraram empresas maiores, revela um estudo feito a pedido do Estadão pela Serasa Experian, consultoria especializada em informações financeiras. A taxa de ascensão dos microempreendedores individuais (MEIs) em 12 meses até março deste ano, de 9,1%, é mais que o triplo da registrada entre 2017 e 2019, que foi de 2,7%.

“Aumentou bastante a fatia de microempreendedores que conseguiram fazer um upgrade de seus negócios por conta do desempenho financeiro muito positivo”, afirma o economista Luiz Rabi, responsável pelo estudo.

Para chegar a esse resultado, foi avaliado o faturamento de 700 mil MEIs entre abril de 2020 e março deste ano que estavam funcionando regulamente. “Empresa morta não foi considerada”, frisa o economista. Os microempreendedores que ganharam musculatura e passaram a ser micros ou pequenas empresários faturaram mais que R$ 81 mil no ano ou R$ 6.750 mensais.

Tornar-se um microempreendedor individual hoje é uma alternativa comum a milhões de desempregados para obter renda no momento em que a desocupação no País atinge níveis recordes. Dos 3 milhões de empresas abertas anualmente no Brasil, atualmente cerca de 80% são MEIs.

Microempreendedores voltados para o comércio foram os que mais conseguiram ascender no período, com 10,8% deles passando a gerir empresas maiores, aponta o estudo. É um resultado que está acima da média (9,1%). A mobilidade dos microempreendedores com negócios ligados à indústria, à produção rural e aos serviços foi menor. Em 12 meses até março deste ano, 7,9% dos microempreendedores individuais industriais viraram empresas de porte maior. Na produção rural e nos serviços, essas marcas foram de 6,8% e de 8,4%, respectivamente.

Vendas on-line

Um porcentual maior de empresas do comércio conseguiu ampliar o faturamento e se tornar maior na pandemia em relação ao de outros segmentos, como o de serviços, por causa da mudança do padrão de consumo. Com as restrições à abertura das lojas físicas, o varejo online avançou. “Na pandemia, os brasileiros passaram a consumir mais produtos do que serviços”, observa Rabi. Além disso, a prestação de serviços é pequena no on-line.

Na análise do economista, os MEIs viraram empresas maiores sobretudo por causa de estímulos fiscais monetários dados pelo governo para atenuar os efeitos da pandemia. E, em razão das restrições à circulação de pessoas, esses recursos foram canalizados para o comércio on-line.

Pesquisa recente da consultoria para avaliar o impacto da pandemia nas micro, pequenas e médias empresas, revelou que 73,4% desses empreendedores vendiam ou passaram a vender produtos e serviços on-line, com destaque para redes sociais – WhatsApp (72%), Instagram (44%), Facebook (36,7%) – e shoppings virtuais ou marketplaces (24,7%).

Entre março do ano passado e abril deste ano, 2,5% dos microempreendedores individuais ativos que vendiam produtos no marketplace do Magazine Luiza, por exemplo, ultrapassaram a barreira de vendas de R$ 81 mil por ano. Eles deixaram a categoria de MEIs e viraram empresas maiores, conta Mariana Castriota, gerente do shopping virtual da empresa. “Essa é uma taxa significativa”, diz.

Na sua avaliação, a ascensão é um movimento muito agressivo para o microempreendedor que nem sempre tem estoque suficiente para vender mais de R$ 6.750 por mês. O traço comum entre aqueles que conseguiram mudar de patamar de vendas foi, na sua opinião, a perspicácia de ter produto com preço adequado.

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No fim de março de 2020, logo no início da pandemia, a varejista acelerou a implantação do projeto batizado de Parceiro Magalu para digitalizar as micro e pequenas empresas analógicas que ficaram de mãos atadas por causa das restrições ao funcionamento do comércio. Foi criada uma série de ferramentas no marketplace para facilitar a conexão dessas companhias com o mundo on-line.

Para o consultor Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), antes mesmo da pandemia, os marketplaces já vinham passando por um processo de modernização. Eles estavam criando vários serviços para os lojistas, como plataforma de pagamento, crédito, logística, por exemplo, para apoiar os empreendedores e deixá-los focados naquilo que eles sabem fazer: compra e vender. “A pandemia só colocou velocidade no processo de modernização para os marketplaces se tornarem ecossistemas, foi coincidência.”

São esses novos serviços oferecidos pelos marketplaces, na opinião de Terra, que têm feito a diferença. Isto é, têm dado as condições para esses microempreendedores crescerem. E a pandemia catalisou esse movimento, com aumento do consumo on-line.

Mesmo após o fim da pandemia, o avanço dos microempreendedores, impulsionado pelo comércio on-line, deve continuar, na opinião de Terra. Ele justifica a sua previsão no fato de a digitalização no varejo ainda ser baixa. Além disso, os shoppings virtuais, o território onde esses microempreendedores estão fincando bandeira para obter renda, têm muito para crescer. “No Brasil e no mundo, o comércio on-line cresce mais que o varejo físico e o marketplace cresce mais que o comércio on-line.”

Rabi, da Serasa, vê esse movimento dos de ascensão dos microempreendedores com cautela. De acordo com o estudo, a inadimplência dos MEIs que aumentaram de tamanho e viraram micro ou pequenas empresas foi, em média, de 20,2% no período, acima da média de 16,8% daqueles que se mantiveram como microempreendedores individuais. “Talvez esse resultado revele que eles deram um passo maior do que a perna, mas é preciso acompanhar.”

Como o grande marketplace salvou o pequeno negócio

A pandemia fechou as portas do pequeno e médio negócio, enquanto o grande marketplace cresceu mais e salvou estes lojistas.

Convenhamos, o ano de 2020 não foi exatamente como grande parte dos humanos esperava e a mudança de rumos ameaçou sonhos, junto de qualquer planejamento de pequenos, médios e grandes negócios. As maiores empresas do varejo já presentes na internet foram afetadas com menor intensidade, mas se tem um segmento responsável por uma revolução no e-commerce foi o das lojas menores, juntas.

Antes da pandemia acertar em cheio o planeta inteiro, a loja do seu quarteirão vendia suas mercadorias para moradores dos entornos. Quando muito aceitava uma ligação para alguém passar por lá e levar o que escolheu pelo telefone – ou e-mail. O mesmo cenário existe para comida, mesmo durante o começo da escalada de acessos com aplicativos de entrega, como iFood, Rappi, Uber Eats e outros.

A partir de março de 2020 muitas destas lojas fecharam, os comerciantes viram suas portas baixarem e o faturamento até poderia segurar os poucos dias sem a freguesia, mas eles viraram semanas, meses e já estamos há mais de um ano sem o mesmo movimento. Não deu certo para uma quantidade grande de negócios, mas outros conseguiram olhar para a internet e encontraram no marketplace uma forma de ter a entrada aberta mais uma vez, indo até para um mercado muito maior e espalhado pelo país inteiro.

Lojas fechadas (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

Lojas fechadas (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

A Ebit/Nielsen notou este movimento já no primeiro semestre de 2020, quando mais de sete milhões de usuários fizeram sua primeira compra em varejo on-line. Trazendo para um momento anterior, essa quantidade de pessoas comprando on-line é quase o somatório de 2019 inteiro.

“O pequeno varejista foi pego de surpresa (…), em um momento de crise onde ele estava fragilizado financeiramente. Num momento de desespero, onde seu principal canal deixa de existir, obviamente o menor (negócio) vai procurar qual é o elo mais rápido e mais fácil. É aí onde vem o marketplace e foi por isso que grande parte deles, no ano de 2020, registrou crescimento maior que 100%”, comenta Felipe Dellacqua, sócio e vice-presidente de vendas da VTEX, ao Tecnoblog

Em alguns destes negócios o WhatsApp chegou a ser ferramenta para o atendimento, mas não com a mesma eficácia e alcance do marketplace oferecidos por grandes players por aqui, como Magazine Luiza, Amazon, Via (antes como Via Varejo), B2W e Mercado Livre. Para Gastão Mattos, conselheiro da Câmara Brasileira de Economia Digital, estes grandes grupos também funcionaram como divulgadores da pequena loja para outros públicos.

Diáspora para o marketplace

O marketplace funciona como terceirização da parte “vou vender na internet”, integrando até mesmo soluções de logística em uma única plataforma. Se você viveu os momentos anteriores aos da internet no Brasil, essa experiência seria como uma evolução para os comércios com anúncios em jornais de bairro ou mesmo da cidade. A diferença por aqui é que este jornal da analogia também processa o pagamento e faz parte ou todo o envio, com alguns trabalhando também com os produtos dentro do próprio centro de distribuição.

Centro de distribuição (Imagem: Divulgação/Amazon)

Centro de distribuição (Imagem: Divulgação/Amazon)

Desta forma é mais fácil para o pequeno negócio entrar em um marketplace, mesmo que concorrente de seu próprio produto, do que tentar brigar com ele na venda on-line. “Antigamente não tinha como você vender televisor e brigar com a Magalu, ou então ter uma loja de confecção e disputar espaço com a Dafiti ou com a C&A”, comenta Gastão Mattos.

A Amazon expandiu seu negócio no Brasil apostando inicialmente somente neste modelo, que passou a ser mais apreciado por outros concorrentes como o grupo B2W, Via e mais recentemente o Magazine Luiza. Outras plataformas mais nichadas também notaram este crescimento, como é o caso do Elo7, para artesãos.

“Você acessa um mercado que se você estivesse em um mercado físico, você não alcançaria. As fronteiras geográficas são quebradas. O vendedor vai encontrando o lugar dele sem o comprometimento de um custo fixo mensal”, diz Carlos Curioni, CEO do Elo7.

Durante o ano de 2020 as grandes redes também perceberam o crescimento deste mercado. É o caso da Via, que reportou um aumento de mais de cinco vezes no número de vendedores cadastrados em sua plataforma. O grupo responsável por Casas Bahia, Extra e Ponto passou de 5 mil lojas em sua plataforma de marketplace ao final de 2019 para 26 mil no primeiro trimestre de 2021.

Ecommerce com marketplace (Imagem: coffeebeanworks/Pixabay)

Ecommerce com marketplace (Imagem: coffeebeanworks/Pixabay)

O número maior de vendedores dentro da plataforma não significou saturação em oferta, já que a demanda seguiu no mesmo passo e resultou em crescimento de 124% no total de vendas on-line entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período deste ano na Via. Só no primeiro semestre, o dinheiro circulando pelos marketplaces aumentou em 56%, para R$ 30 bilhões, quando comparado com o mesmo período de 2019.

Ao Tecnoblog, Helisson Lemos, CDO da Via, pontua: “Nosso marketplace tem crescido em nível de três dígitos tanto em qualidade quanto em quantidade. Empreendedores de vários segmentos, mesmo de varejo offline, começaram a vender em marketplace para manter suas operações e passar por essa fase complicada”.

O Elo7, mesmo sendo menor, também viu seu número de artesãos subir durante a pandemia. “Em alguns meses a gente quase dobrou o número de novos vendedores. O crescimento médio era de 40%, passando a ser um crescimento desproporcional comparando o período de maio a maio do ano anterior”, diz Carlos Curioni.

Tanto Carlos Curioni quanto Helisson Lemos acreditam que este crescimento seguirá existindo de alguma forma, mesmo sem o catalisador representado pelos picos da pandemia de COVID-19. A comodidade para o comprador, aliada ao custo baixo e maior possibilidade de venda para o pequeno e médio negócios, são motivos suficientes para que em um momento de reabertura de lojas as vendas em marketplace continuem presentes nestes locais.

Esperança para crescer mais em 2021

Ecommerce deve crescer mais em 2021 (Imagem: Megan_Rexazin/Pixabay)

Ecommerce deve crescer mais em 2021 (Imagem:Megan_Rexazin/Pixabay)

O ano de 2021 começou e, ao menos até o fim do segundo trimestre, a situação no Brasil não melhorou de verdade, o comércio não reabriu como poderia e a internet continua permitindo esse avanço do marketplace, mas até que ponto?

“A gente ainda não tem um grande líder dominador como a Amazon nos Estados Unidos (…) pelos próximos cinco anos, nós teremos algum movimento de consolidação e junção destes grandes grupos de cinco (grupos grandes de marketplace) para três”, diz Felipe Dellacqua, da VTEX.

O executivo também acredita que um passo seguinte no marketplace é a inserção de produtos do cotidiano, como mercado para itens não perecíveis e farmácias. A ideia é fazer o cliente continuar circulando dentro da plataforma em compras recorrentes, principalmente gerando mais tráfego para a empresa.

Além disso, uma grande parte dos consumidores utiliza o marketplace como forma de compra para retirar o produto no comércio. Dellacqua aponta este movimento como o futuro em um cenário sem a pandemia, com os grandes grupos de marketplace aproveitando os pequenos negócios para aumentar o tráfego dentro da loja, como vem fazendo o Mercado Livre.

“Esse é um caminho sem volta. Digamos que a COVID-19 acabe, eu acho que o canal físico vai voltar a ser importante, mas parte do consumidor dele vai continuar percebendo a conveniência de comprar no celular ou aplicativo. Essas coisas vão se juntar cada vez mais misturada”, acredita Gastão Mattos, da Câmara Brasileira de Economia Digital.

Já o CEO do Elo7 aposta no compartilhamento de experiências entre os próprios usuários para manter o crescimento do marketplace, mesmo após o período de isolamento. “Quanto mais pessoas numericamente tendo essa experiência legal no online, acaba gerando um crescimento ainda maior quando comparado ao que a gente já tinha antes [da pandemia]”, comenta Curioni. . “A maturidade das pessoas e do serviço das empresas, a capacidade de volume, logística com investimento pesado nos últimos anos, tudo isso ajuda para que a experiência do comprador seja boa para ele voltar ao canal”, acrescenta.

Marketplace (Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay)

Marketplace (Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay)

Algumas plataformas utilizam meios próprios para ajudar para este crescimento continuar acontecendo por 2021 e adiante. O Elo7 aposta na capacitação dos vendedores com cursos mais complexos, evoluindo para além das cartilhas e ebooks já oferecidos pela plataforma de artesãos. Já a Via passou a incluir seu crediário (o carnê) dentro deste tipo de negócio, além de incluir bônus aos funcionários de acordo com o volume de vendas on-line.

Se o marketplace foi lembrado como forma de salvar o pequeno e médio negócio, está claro que a presença dele será ainda mais difundida dentro do lojista mais tradicional, seja pelo uso de tantos metros quadrados de endereços com uma espécie de inventário de todo o sistema, seja pelo fim da divisão entre a parte virtual e a física da própria loja.

Este cenário parece muito para frente, mas já está nos planos da Via, que já planeja inserir os dados do lojista do marketplace dentro do sistema das lojas físicas Casas Bahia e Ponto.

O marketplace fez o grande lojista crescer e este grande fez o pequeno sobreviver.

Magalu e o caminho para se tornar o principal ecossistema digital do País

A transformação do Magazine Luiza de uma empresa tradicional de varejo em uma empresa digital com pontos físicos levou 15 anos. A implantação de sistema digital foi concluída apenas em 2018. Desde então, a cultura digital do Magalu se tornou seu principal diferencial.

A empresa caminha para se tornar o principal ecossistema digital de compra e venda no País, seguindo os modelos das plataformas digitais da China, como o Alibaba, e dos Estados Unidos, como a Amazon, por meio de um sistema multicanal, com aplicativos, plataforma de logística e expansão em novas categorias.

“A gente quis ser a empresa que digitalizasse o varejo brasileiro, como a Amazon foi nos Estados Unidos. A nossa missão foi ajudar o País a fazer essa transição digital do varejo que foi tão bem-sucedida na China”, afirma o CEO Frederico Trajano em entrevista exclusiva para a Mercado & Consumo.

Segundo Trajano, o varejo é um terreno fértil para a expansão lateral, com ofertas de outros serviços, principalmente os mais digitalizados, como as plataformas digitais, incluindo apps de delivery e bancos digitais. “Eu demorei mais ou menos 15 anos para digitalizar o Magalu e concluir o primeiro ciclo de multicanalidade. Talvez, o modelo de ecossistema não leve tanto tempo, mas ainda estamos no início do ciclo”, afirma.

Cinco aquisições só em 2021

A transformação do Magalu em um Ecossistema de Negócios tem sido feita por meio de novos negócios e aquisições de empresas. Somente em 2021, foram feitas cinco compras – entre elas, do portal de conteúdo Steal The Look, da plataforma GrandChef e do sistema de e-commerce de supermercado VipCommerce,

O Magalu não abre mão de manter uma cultura corporativa única com as empresas que estão se integrando ao ecossistema de negócios. Ao mesmo tempo, há a preocupação em manter a identidade dessas empresas. “Temos nos dedicado a facilitar conexões entre a nave mãe e as satélites, que são as empresas que estão chegando para integrar o ecossistema”, diz Trajano.

Os pilares do Ecossistema de Negócios já estão formados, explica Trajano, com o super app, o crescimento em novas categorias, entrega mais rápida e a parte de prestação de serviços de tecnologia para terceiros.

Para a expansão, foram escolhidos três mercados endereçáveis: retail, que foi divido em três (fashion e beauty, alimentos e bebidas e alimentos prontos); pagamentos; e advertising. “A amplitude de empresas que podem ser compradas é muito grande. Então, antes de sair comprando as empresas, eu detalhei nossa visão ao mercado, o que evitou grandes surpresas.”

Para fomentar o ecossistema em 2021, o Magalu vai investir significativamente em logística, segundo apontou o relatório de resultados do quatro trimestre de 2021. Para isso, a empresa planeja converter suas lojas em pontos de apoio logístico para os sellers, aumentar o número de CDs e cross dockings e automatizar essa infraestrutura.

Dark stores agilizam entregas do comércio eletrônico no Brasil

Espaços fechados ao público e estrategicamente distribuídos em cidades do país ajudam as marcas a reduzir prazos e melhorar a experiência de quem compra.

O recente acirramento da concorrência no comércio eletrônico, impulsionado principalmente pela pandemia, obrigou as marcas a levar para a internet o imediatismo da experiência das compras físicas. Com isso, a logística tornou-se ponto-chave para atender a um consumidor cada vez mais atento aos prazos de entrega. De nada adianta oferecer uma excelente navegação nos canais digitais se sua mercadoria chega com atraso ou avariada. O cliente exige tratamento impecável do início ao fim. O momento e as condições de recebimento do produto são determinantes para a qualidade da experiência no e-commerce.

Diante da necessidade, uma estratégia dos comerciantes vem crescendo: as chamadas dark stores. Diferentes dos centros de distribuição, que em geral são amplos galpões com espaços enormes de armazenamento, estabelecidos nos entornos das cidades, as dark stores (“lojas escuras”, em tradução livre) são pequenos espaços localizados nos centros urbanos, geralmente com grande concentração de pessoas e pedidos on-line.

O objetivo é, claro, acelerar as entregas. “São como lojas físicas, só que fechadas ao público. Queremos oferecer ao cliente que compra nos canais digitais das marcas a opção de ter uma entrega rápida, podendo muitas vezes receber o item em poucas horas”, afirma Glória Porteiro, head de transportes da Infracommerce, empresa de soluções digitais para e-commerce e líder na implementação no Brasil do conceito de Customer Experience as a Service (CXaaS).

A Infracommerce incluiu em seu plano estratégico de crescimento a abertura de dark stores em áreas selecionadas pelo Brasil. “Nosso objetivo é conseguir uma entrega rápida para que os consumidores sejam surpreendidos de forma positiva, de preferência recebendo suas compras antes do prazo prometido”, diz Glória.

Uma logística mal executada põe a perder um trabalho até então de excelência. E, ainda pior, pode prejudicar a reputação da marca, afastando não apenas o cliente insatisfeito como todos os demais impactados pelas mensagens negativas nas redes sociais.

As marcas já perceberam que a experiência do consumidor é primordial para aumentar as vendas e crescer. As dark stores podem parecer invisíveis, mas são bem tangíveis quando superam as expectativas dos clientes, transformando o digital em físico, em algumas horas.

 

Pandemia puxa alta de US$ 26,7 tri das vendas do e-commerce global

A participação do comércio eletrônico global no varejo, em meio a restrições de movimento induzidas pela Covid-19, cresceu de 16% para 19% em 2020, de acordo com estimativas no último relatório divulgado nessa semana pela Unctad.

As vendas globais de e-commerce saltaram para US$ 26,7 trilhões em 2019, um aumento de 4% em relação a 2018, de acordo com as últimas estimativas disponíveis. Isso inclui vendas business-to-business (B2B) e business-to-consumer (B2C), e é equivalente a 30% do produto interno bruto (PIB) global naquele ano.

“Essas estatísticas mostram a crescente importância das atividades on-line. Eles também apontam para a necessidade de os países, especialmente os em desenvolvimento, terem informações para reconstruir suas economias após a pandemia de Covid-19 ”, disse Shamika Sirimanne, diretora de tecnologia e logística da Unctad.

De acordo com o estudo também, as vendas no varejo online cresceram acentuadamente em vários países, com a Coréia do Sul relatando a maior participação, 25,9% em 2020, contra 20,8% no ano anterior.

A pandemia também mostra que houve uma reversão de ganhos para empresas de plataforma que oferecem serviços como viagem e recebimento de carona. Todas experimentaram quedas acentuadas no valor bruto de mercadorias (GMV) e quedas correspondentes nas classificações.

Por exemplo, a Expedia caiu do 5º lugar em 2019 para o 11º em 2020, a Booking Holdings do 6º para o 12º e o Airbnb, que lançou sua oferta pública inicial em 2020, do 11º para o 13º.

Apesar da redução do GMV das empresas de serviços, o GMV total das 13 maiores empresas de e-commerce B2C aumentou 20,5% em 2020, superior ao de 2019 (17,9%). Houve ganhos particularmente grandes para Shopify (até 95,6%) e Walmart (72,4%). No geral, B2C GMV para as 13 maiores empresas ficou em US$ 2,9 trilhões em 2020.

O relatório estima o valor do e-commerce B2B global em 2019 em US$ 21,8 trilhões, representando 82% de todo o comércio eletrônico, incluindo vendas em plataformas de mercado on-line e transações de intercâmbio eletrônico de dados (EDI).

Os Estados Unidos continuaram a dominar o mercado geral de comércio eletrônico, à frente do Japão e da China.

As vendas de e-commerce B2C foram estimadas em US$ 4,9 trilhões em 2019, um aumento de 11% em relação a 2018. Os três principais países em vendas de e-commerce B2C permaneceram China, Estados Unidos e Reino Unido.

O e-commerce B2C transfronteiriço somou cerca de US$ 440 bilhões em 2019, um aumento de 9% em relação a 2018. O relatório da Unctad também observa que a parcela de compradores on-line que fazem compras internacionais aumentou de 20% em 2017 para 25% em 2019.

Apesar da fortuna considerável das firmas de comércio eletrônico, um índice divulgado pela Aliança Mundial de Benchmarking em dezembro do ano passado as avaliou mal em inclusão digital.

O índice classificou 100 empresas digitais, incluindo 14 firmas de comércio eletrônico, com base em como elas contribuem para o acesso às tecnologias digitais, desenvolvendo habilidades digitais, aumentando a confiança e fomentando a inovação.

As empresas de comércio eletrônico tiveram desempenho inferior em comparação com empresas de outros setores digitais, como hardware ou serviços de telecomunicações.

Por exemplo, a empresa de comércio eletrônico com melhor classificação foi o eBay em 49º lugar. No geral, as empresas de comércio eletrônico obtiveram uma pontuação de apenas 20 em 100 possíveis.

De acordo com o relatório da Unctad, um dos principais fatores para o fraco desempenho é que as empresas de comércio eletrônico são relativamente jovens, normalmente fundadas apenas nas últimas duas décadas.

“Essas empresas têm se concentrado mais nos acionistas do que no envolvimento com um amplo grupo de partes interessadas e na compilação de indicadores de desempenho ambiental, social e de governança”, afirma o relatório.

Varejo precisa olhar para a Black Friday desde já

Principal erro é olhar para a data apenas na véspera. Recomendação é cuidar de fatores da jornada de compra ao longo do ano, e não apenas no pico de vendas.

Precisamos falar de Black Friday. Ainda que o grande evento de consumo aconteça tradicionalmente apenas em novembro, uma pesquisa feita pelo Google a pedido da agência R/GA aponta que os investimentos em e-commerce e jornada do consumidor precisam ser contínuos para oferecer uma boa experiência para usuários — seja antes, durante, ou depois da grande sexta-feira de vendas.

De acordo com a pesquisa, a permanência de falhas encontradas antes e permanecendo depois da Black Friday indica que muitas empresas se preocupam mais com a estabilidade do site no momento de pico de compras.

Sendo assim, certos pontos fundamentais, se olhados hoje, podem melhorar consideravelmente a experiência de compra dos clientes e trazer oportunidades aos varejistas. “Por exemplo, a velocidade de carregamento do site é um fator que pode fazer um consumidor abandonar o site e buscar outro varejista para finalizar a compra. Quanto mais tempo o site demora para carregar, maior a chance de isso acontecer”, chama a atenção Milena Leal, diretora de vendas para grandes empresas de Google Cloud para o Brasil.

No ano passado, as vendas no e-commerce chegaram a R$ 3,1 bilhão no Brasil ao longo da Black Friday, o que corresponde a um crescimento de 24,8% na comparação com 2019, segundo a consultoria Ebit/Nielsen. Imagine como pode ser a Black Friday deste ano se fatores como usabilidade, estabilidade e velocidade de carregamento tiverem mais atenção.

“Esses são os principais fatores relacionados à jornada de compra de um cliente. Por exemplo, uma plataforma de e-commerce que é instável e apresenta erros de aplicação pode até impedir que o cliente finalize a compra”, ressalta a especialista. “Já em termos de usabilidade, analisamos também os recursos apresentados por esses e-commerces que facilitam a jornada de compra do cliente. Detectamos, por exemplo, que nenhum deles apresenta recursos de busca por imagem ou voz ou recomendações de produtos personalizadas. Trata-se de funcionalidades que já estão disponíveis no mercado e podem deixar o processo de compra mais intuitivo.”

Leal conta que foram identificados cerca de 2,7 mil erros, uma média de 108 por site analisado do estudo, que se aprofundou no desempenho de 25 e-commerces no Brasil nas versões mobile e desktop entre 20 e 30 de novembro de 2020. A análise foi realizada, portanto, a partir da semana anterior à Black Friday do ano passado até três dias após a data.

E como se preparar para a Black Friday 2021?

Leal acredita que é importante os e-commerces mudarem a percepção de que é preciso investir em tecnologia apenas para dar suporte ao pico de compras na Black Friday. “A pandemia de Covid-19 revelou um papel fundamental dos sites de e-commerce na estratégia das empresas durante o ano todo”, frisa ela. “Acreditamos que a modernização do e-commerce por meio da computação em nuvem, até a implementação de ferramentas para tornar o atendimento aos consumidores mais próximo do realizado por um atendente humano, deve estar na lista de prioridades dos CIOs (Chief Information Officer) nos próximos meses.”

A especialista lembra que há tecnologias em nuvem que podem ajudar varejistas e que já são amplamente utilizadas para atendimento automatizado, busca por imagem ou voz e recomendação de produtos.

Para atendimento, há tecnologias que permitem a criação de interfaces para conversações mais naturais em sites, aplicativos móveis e plataformas por meio do uso de inteligência artificial. “Empresas como KLM, Domino’s e Ticketmaster já utilizam o recurso em diferentes segmentos do varejo”, comenta Leal.

Para busca por imagem ou voz, APIs possibilitam a busca de produtos a partir de uma imagem usando machine learning para comparar as fotos pesquisadas ao catálogo de produtos de uma loja. Há também ferramentas com a capacidade de converter a fala em texto, apoiando a funcionalidade de busca por voz.

Para recomendação de produtos, há tecnologias de inteligência artificial e machine learning para gerar recomendações de produtos altamente personalizadas e em escala, ajudando varejistas a gerar mais oportunidades de venda durante a jornada de compra dos consumidores.

 

“A gente nunca sabe quantas unidades de negócio o Alibaba tem”

Ex-vice-presidente da empresa, Shaoming Yang, comenta modelo.

AliExpress, Alipay, Taobao, Tmall, Ant Financial, Freshippo. Todas essas empresas fazem parte do Alibaba Group, mas não só. Na verdade, é praticamente impossível saber o tamanho real da gigante chinesa – e isso é difícil até para quem tem experiência dentro dela. “Existe um ditado que diz que a gente nunca sabe quantas unidades de negócio o Alibaba tem”, conta Shaoming Yang, ex-vice-presidente do grupo. Após diversas parcerias e aquisições, a empresa criada em 1999 é, hoje, o principal símbolo do modelo de Ecossistemas de Negócios, que tem sido replicado mundo afora.

Shaoming Yang participou, na manhã desta sexta-feira (28), do primeiro ciclo do Programa de Desenvolvimento Estratégico em Consumo e Varejo da Gouvêa Academy, integrante da Gouvêa Ecosystem, e traçou um panorama geral dos ecossistemas da China.

Como o Alibaba ficou tão grande? “Em 1999, eles eram apenas um negócio B2B, fundado para suprir outros negócios. Com o tempo, novos modelos começaram a ser testados, como o do Tmall, criado em 2008.

O Tmall é o site de e-commerce B2C do grupo. Cria páginas de e-commerce de várias empresas e é definida por Yang como o “portal de todas as marcas”. “A Amazon tentou copiar esse modelo e criar páginas de marcas famosas, mas ainda faz isso de forma muito diferente. O funcionamento do Tmall é portal centralizado, e a da Amazon, descentralizado.”

Outro negócio de destaque no grupo é o Alimama, plataforma de tecnologia de marketing on-line
que oferece aos vendedores serviços de marketing on-line para uso pessoal, computadores e dispositivos móveis. Segundo Yang, é uma das principais fontes de receita do grupo hoje. “Os negócios que fazem parte da camada externa do ecossistema do Alibaba Group fornecem dados e tráfego para o e-commerce.”

Desenvolvimento estratégico

O primeiro ciclo do Programa de Desenvolvimento Estratégico em Consumo e Varejo conta com a participação de Ricardo Geromel, investidor na 3G Radar e autor dos best-sellers “O Poder da China”, sobre tecnologia e inovação da China, e “Bi.lio.nár.ios”.

Participam, ainda, o sócio-líder de Cyber Security & Privacy da KPMG Brasil e para as Américas, Leandro Augusto Marco Antonio, o sócio-diretor de Risk Advisory Services da KPMG Brasil, Eduardo C. Azevedo, e a sócia-líder de Tributos Indiretos – KPMG Brasil, Maria Isabel Ferreira.

A moderação é de Marcos Gouvêa de Souza (fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem) e Eduardo Yamashita (chefe de operações da Gouvêa Ecosystem), autores do whitepaper “Ecossistemas de negócios: Transformando o mercado, o consumo e o varejo”.

O próximo ciclo do Programa de Desenvolvimento Estratégico em Consumo e Varejo será realizado em julho.

 

E-commerce: O que pode o resto do mundo aprender com a China?

A realidade trazida pelos efeitos da pandemia tem sido um dos grandes catalisadores para uma transformação digital à escala global. O mundo é cada vez mais digital e a economia não é exceção.

Por todo o mundo, dos grandes grupos económicos aos pequenos comerciantes, a migração do off-line para o on-line tem sido transversal. No entanto, quando o tema é o comércio eletrônico, a China lidera, muito destacada.

Há cerca de uma década que é o maior mercado de comércio eletrônico do mundo e dados recentemente publicados vieram assinalar ainda mais esta realidade.

Já representava, sozinha, mais de 50% das compras on-line feitas em todo o mundo. Nos primeiros meses de 2021 atingiu uma marca histórica, que muitos poderiam considerar estar ainda bastante distante. A China tornou-se o primeiro país, de sempre, cujas vendas de varejo on-line ultrapassaram o valor agregado das vendas off-line, ou seja, pela primeira vez a maioria das transações aconteceram via comércio eletrônico.

Estes valores podem não chegar com particular surpresa para todos os que conheçam a realidade interna e os hábitos de consumo locais, na verdade poderia facilmente dizer-se que seria apenas uma questão de tempo até as vendas do e-commerce ultrapassarem os 50% das vendas totais de varejo realizadas no país. Ainda assim, não deixam de ser números muito impressionantes, mais ainda se comparados com aquela que ainda é a realidade do resto do mundo. O sucesso do e-commerce da China neste momento é inigualável.

De resto, a expectativa é que estes números continuem a crescer. Por um lado, o crescimento do e-commerce já era uma tendência muito presente antes do período pandêmico e, por outro, este momento de viragem foi sido atingido numa altura em que internamente já se verificavam muito poucos efeitos que pudessem diminuir a possibilidade dos consumidores realizarem as suas compras através das formas mais tradicionais – embora obviamente não possa ser ignorado que os efeitos da pandemia também contribuíram para alterar certos padrões de consumo e acelerar a tendência que já existia.

Não é inconcebível pensar que outros países seguirão os passos do gigante asiático, e poderão até aproximar-se destes valores no futuro. Contudo o estrondoso sucesso do e-commerce chinês resulta também de diversos fatores idiossincráticos e é possível que nenhuma outra região consiga replicar a transformação do país – ou pelo menos não num grau tão extremo.

Por um lado os fatores mais óbvios:

A China tem a maior população on-line do mundo, mais de 900 milhões de utilizadores, e, com o enriquecimento generalizado da população nas últimas décadas, emergência de uma classe média, aumento dos salários e melhoria da qualidade de vida, criou um enorme – e altamente consumista – mercado interno.

Além disso, apesar da dimensão do território, o extraordinário sistema logístico e de infraestrutura existente permite que quase todos os produtos possam ser entregues em todo o país em 24h, ou pouco mais que isso, e com custos adicionais muito reduzidos, independentemente dos valores dos bens ou quantidades adquiridas.

1. Smartphones – Como resultado do desenvolvimento econômico da China e da acessibilidade desde cedo a diversos modelos, a custos muito razoáveis, a maioria dos consumidores chineses entrou na era da internet diretamente através dos dispositivos móveis, saltando os computadores. Com esta proliferação dos smartphones, a inovação e cultura de comércio eletrônico local esteve sempre muito mais orientada para o comércio através destes dispositivos (o m-commerce) o que, pela sua acessibilidade, envolvimento e facilidade de utilização, provou ser um fator essencial para estimular o consumo.

2. Market Places – A emergência do grupo Alibaba e das suas plataformas chinesas de comércio eletrônico, revolucionárias, omnipresentes e extremamente fáceis de usar, como o Taobao, o Tmall ou até o Idle Fish, garantiu aos consumidores acessibilidade a quase todo o tipo de produtos imagináveis, aliando a isso opções de entrega, serviço ao cliente, sistemas de devolução, etc., extremamente favoráveis e convenientes. Várias outras plataformas, como JD.com ou Pinduoduo, surgiram também entretanto, aumentando ainda mais o leque de opções para compradores e vendedores. Quer sejam lojas oficiais das marcas, vendedores em nome individual, aquisição de bens em segunda mão, compras em grupo, revendas, compra e venda de produtos agrícolas ou alimentares, entre tantos outros, existe hoje na China o marketplace apropriado para quase todas as opções imagináveis.

3. Sistemas de pagamentos digitais inovadores – Não há praticamente nenhuma plataforma on-line, aplicação, website, etc., na China, que não incorpore a opção de pagamento através do Alipay (do grupo Alibaba) ou do WeChat Pay (integrado na super aplicação WeChat, do grupo Tencent). Estes sistemas de pagamento estão anos à frente dos seus concorrentes ocidentais em termos de acessibilidade, facilidade de utilização e forma como incorporam as opções de checkout numa compra on-line. Com as informações pré-estabelecidas e diretamente ligados à conta bancária do utilizador, para efetuar o pagamento de uma qualquer transação comercial normalmente pouco mais é necessário do que inserir o código pin, uma impressão digital, ou efetuar o reconhecimento facial do utilizador, tudo isto através do smartphone e dentro da aplicação que estiver a ser usada.

4. Mini Programas do Wechat – Embora a super aplicação chinesa exista há cerca de uma década, e possibilite uma multiplicidade quase infindável de funções e serviços (por vezes descrita como uma combinação entre o sistema de mensagens Whatsapp e a rede social Facebook, na verdade o seu alcance vai muito para além das funcionalidades oferecidas por estes), apenas recentemente o Wechat começou a incluir opções para o comércio eletrônico de terceiros. Os Mini Programas permitem que as empresas aproveitem melhor a base de utilizadores do WeChat e já provaram ser extremamente populares entre comerciantes e consumidores.

5. Experiência social – Enquanto no ocidente as compras on-line são, tipicamente, uma experiência focada na transação em si, na China são muito mais que isso. Muitas das plataformas on-line chinesas misturam hoje características de redes sociais e de vendas, com as mais diversas funcionalidades que promovem o envolvimento dos utilizadores. Além disso, através da pegada digital do consumidor, a interação e interligação entre as diversas plataformas e aplicações, identificam as suas preferências e sugerem constantemente novos produtos, estimulando o consumo. De resto, muito do marketing e campanhas de publicidade desenvolvidas pelas mais diversas marcas acontecem, precisamente, dentro das próprias plataformas on-line e diferentes marketplaces. A promoção de comércio eletrônico ao vivo, através de live streaming, seja através dos gigantes Taobao ou JD.com, ou através de outras plataformas outrora mais dedicadas exclusivamente ao entretenimento, como o Douyin (a versão chinesa do TikToK) ou Kuaishou, é outro fenómeno já bastante popular e em franca ascensão.

A China é, muito possivelmente, o país do mundo que melhor e mais eficientemente coloca as suas infraestruturas, e a sua obsessão por inovação tecnológica, ao serviço dos hábitos de consumo da sua população – e, num ambiente de negócios tão competitivo, assim se espera continue a acontecer nos próximos anos.

Durante muitos anos foi comum ver a China a copiar ideias do Ocidente. Hoje em dia, se há um setor da economia em que poderá fazer sentido praticar o inverso, esse setor pode muito bem ser o do comércio eletrônico.

 

Retailtechs de fidelidade estão em ponto de ebulição no e-commerce

Ao que tudo indica, os programas de fidelidade e cashback tendem a uma naturalização no e-commerce brasileiro. Os cupons de desconto que viraram prática nos Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990 e se popularizam no Brasil com o controle da inflação agora se preparam para um estágio para além de briga de preços. Retailtechs de soluções de fidelidade se tornaram também estratégias de aproximação com o consumidor por meio de retenção e frequência de compras, diminuição de custo de aquisição de clientes e aumento na conversão de vendas.

A força dessa crescente fica evidente nos números. Segundo o mais recente relatório Inside Retailtech, do Distrito, enviado em primeiro mão para a Consumidor Moderno, o mercado brasileiro deve ter utilização dos programas de desconto e cashback crescente. Em 2019, foram cerca de R$ 2,2 bilhões movimentados no e-commerce. Em 2020, com a pandemia, foram R$ 6 bilhões. À medida que o e-commerce continua sua digitalização e aumento de vendas, esta cifra tende a ser ainda maior em 2021.

Outra confirmação da tendência é a quantidade de startups que nascem para resolver as equações de fidelidade do varejo.

Segundo o estudo do Distrito, o setor se prepara para mais uma onda de investimentos e aquisições de startups com a finalidade de aproximar o consumidor.

Isso porque o desenvolvimento de retailtechs voltadas a programas de fidelidade acompanha a evolução geral do e-commerce. Em 2016, por exemplo, a crise levou a uma queda na quantidade de fundação de startups no ramo. No ano seguinte, a quantidade de aberturas seguiu o início de uma recuperação do e-commerce.

O mercado voltado para a proximidade

No geral, de acordo com o relatório, há dois grupos de startups que trazem soluções do tipo: o de “marketplace de oferta”, que gera alto tráfego e disponibiliza cupons e cashback para B2C ou B2B; e as startups com foco B2B que oferecem uma plataforma de fidelidade ao varejista — que passa a oferecer programas de pontuação, promoções, ofertas, etc. Em outras palavras, o mercado tem visto diferentes players atuando com cashback, que pode ser oferecido diretamente por grandes varejistas ou indiretamente com retailtechs parceiras, como Méliuz e Mosaico.

O estudo aponta que é notória a tendência de mescla nos serviços dessas startups, unindo o cashback com serviços financeiros. Tal mescla é vista também no cenário internacional. Grandes marcas internacionais oferecem planos que dão direito a frete grátis, entregas em prazos mais curtos, streaming de vídeos e música e cartões para compras com um percentual de cashback nas compras pelo site.

Publicidade descentralizada

Enquanto a web 3.0 começa a se estruturar com inteligência artificial, tecnologias blockchain, criptomedas e utility tokens, a publicidade descentralizada dá seus primeiros passos no e-commerce brasileiro.

Plataforma de engajamento on-line que usa como base um utility token para divulgação de campanha das empresas, a WiBOO é um exemplo. A proposta da startup é utilizar estratégia de member-get-member transformando usuários comuns em micro influenciadores nas redes sociais. O consumidor compra e indica o serviço ou produto a seus familiares e amigos, recebendo benefícios quando seus contatos também consomem.

É uma forma inovadora de conquistar os efeitos do cashback e ao mesmo tempo ganhar publicidade espontânea e criar comunidades – importante ficar de olho neste modelo.

Startups se destacam

Mas enquanto a web 3.0 e a publicidade descentralizada ainda não são uma realidade concretizada, o mercado de retailtechs de fidelidade conta com investimentos concentrados em poucos players — o que pode levar a um crescimento mais gradual, segundo o estudo. Por outro lado, este é um mercado acima de tudo de micro e pequenas empresas, o que representa uma grande oportunidade de crescimento para o setor.

Esta liderança concentrada está com startups como Méliuz, Cuponomia, Dotz e Cuponeria.

A Méliuz, por exemplo, tem capital aberto no B3.

O relatório ressalta, no entanto, que há startups promissoras, como a Bitcoinback, um extensor de navegador que oferece cashback de bitcoin. Fundada em 2019, já possui um dos maiores acessos na subcategoria.

Nos grupos da tendência

O mercado internacional de fidelidade recebeu US$ 789 milhões de investimentos em 2020. A necessidade de retenção dos clientes abriu os olhos das empresas para startups que oferecem essa solução. Em comparação com 2018, o ano de 2020 teve crescimento de 46% nos aportes. Em 2021, US$ 260 milhões já foram investidos em 12 deals. Ainda que falte um mês para acabar o primeiro semestre, a expectativa é que o número de acordos do período supere o mesmo de 2020.

Isso acontece porque os marketplaces trabalham na formação de grandes ecossistemas. Dessa forma, a aquisição de negócios menores e mais tecnológicos auxiliam nesse movimento.

Segundo o relatório, guardadas as particularidades de cada empresa, é possível observar um certo padrão desses componentes que podem ser divididos em grupos como: soluções para e-commerce (integradores de marketplace), mídia, conteúdo de entretenimento e educação (auxiliam na transformação do relacionamento com o cliente), delivery de comida e supermercados (categoria que garante alta frequência e recorrência), logística (last mile, frete), serviços financeiros e pagamentos, negócios de e-commerce (novas categorias, base de clientes) e infraestrutura tecnológica.

As retailtechs de fidelidade transitam entre alguns dos grupos que dão liga aos ecossistemas dos marketplaces.


AliExpress Cresce no Brasil Plataforma Investe em Live Commerce

O AliExpress, plataforma de e-commerce, pretende expandir no Brasil por meio de live commerce, serviços financeiros e registro de vendedores locais.

No país, a plataforma registrou crescimento em torno de 130% em vendas em 2020. Segundo o AliExpress, o Brasil é um dos seus cinco maiores mercados no mundo.

Neste mês, o marketplace também lançou a entrega de alguns produtos em até 12 dias, para clientes da cidade de São Paulo (SP).