Não é de hoje que falamos de omnichannel. O conceito está estabelecido, as tecnologias estão disponíveis e os cases de sucesso se multiplicam. Mas há uma diferença gritante entre conhecer o conceito e operar, de fato, uma estratégia omnichannel eficaz e fluida. No discurso, o setor varejista reconhece a importância da integração entre canais. Na prática, ainda vemos loja desconectada dos estoques digitais, sistemas que não se comunicam entre si e consumidores forçados a escolher entre experiência e conveniência. É hora de mudar essa equação.
De fato, a loja física precisa ir além da venda. Ela precisa ser um centro de distribuição local, ponto de retirada, hub de devoluções, espaço de experimentação, centro de relacionamento e até canal de conteúdo ou engajamento comunitário. Em outras palavras, ela deve ser o elo vivo e versátil que conecta canais, otimiza recursos e responde às expectativas do consumidor contemporâneo.
Mais do que nunca, o papel da loja é dinâmico. Ela deixa de ser um fim e passa a ser um meio estratégico para tornar a jornada do cliente mais fluida, conveniente e personalizada.
Porém, a complexidade da operação exige inteligência e visão. A adoção de modelos como webrooming, showrooming, BORIS (Buy Online, Return In-Store), endless aisle e ship-from-store não é só uma questão tecnológica — é uma mudança de mentalidade e de modelo operacional. Ela requer integração real de estoques, capacitação de equipes, arquitetura sistêmica robusta e, acima de tudo, decisão estratégica.
É também um caminho para a eficiência operacional: ao utilizar estoques locais, o varejo reduz custos logísticos, acelera entregas e libera os CDs centrais para operações mais complexas. Mas os ganhos não param aí. Quando bem executada, a tão conhecida estratégia omnichannel gera satisfação, recorrência e diferenciação em um mercado cada vez mais competitivo.
O varejo verdadeiramente omnichannel não é estático; está em constante evolução, impulsionado por tecnologia, dados e — acima de tudo — pelo comportamento do consumidor. O que estamos testemunhando agora é uma nova fase dessa transformação, na qual a integração entre canais precisa ser não apenas operacional, mas inteligente, preditiva e automatizada.
A Inteligência Artificial, combinada com analytics avançado, está se tornando um elemento crítico para orquestrar operações omnichannel com precisão. Sistemas baseados em IA já são capazes de analisar variáveis como geolocalização, volume de estoque, rotas logísticas, histórico de compras e capacidade operacional de cada ponto físico para decidir, em tempo real, de onde atender a um pedido com o menor custo e maior agilidade — sem comprometer a experiência do cliente.
Essa sofisticação também se reflete na infraestrutura física. Lockers urbanos, armários inteligentes e pontos automatizados de retirada surgem como soluções altamente escaláveis e convenientes, especialmente para áreas urbanas de alta densidade. Eles oferecem uma alternativa eficaz tanto para quem deseja evitar filas quanto para redes que buscam reduzir custos com entregas de última milha — um dos maiores gargalos logísticos da atualidade.
Outro pilar dessa evolução é a integração total dos estoques físicos e digitais. A separação entre estoque da loja e estoque do e-commerce está se tornando obsoleta. Para que a experiência seja fluida e sem rupturas, o varejo precisa enxergar o inventário como uma rede unificada e responsiva. Ferramentas como digital twins — réplicas virtuais que simulam e monitoram estoques em tempo real — já são adotadas por players de vanguarda, permitindo visibilidade total, antecipação de demandas e prevenção do chamado apagão de estoque.
Por fim, o futuro aponta para experiências híbridas e altamente personalizadas, em que o papel da loja física vai além da função transacional. Modelos em que a unidade física é simultaneamente um espaço de venda, atendimento, engajamento comunitário e logística exemplificam como a fronteira entre físico e digital se dissolve em favor da relevância e da conexão com o cliente. Essas lojas multifuncionais são projetadas para entregar valor sob diversas perspectivas — conveniência, experiência, relacionamento e propósito — criando um patamar de fidelização e diferenciação.
A verdadeira logística omnichannel acontece quando cada ponto de contato se torna uma oportunidade de entrega e encantamento. A loja deixa de ser um silo e passa a ser parte orgânica de um ecossistema interligado. O consumidor ganha autonomia. O varejo ganha agilidade. E a experiência se torna contínua — do clique à loja, da loja até a casa.
Não existe mais online ou offline. Existe o cliente no centro — e a tecnologia ao redor dele.
Fonte: “https://mercadoeconsumo.com.br/11/04/2025/artigos/do-estoque-ao-encantamento-a-loja-como-orquestradora-da-experiencia-e-da-logistica-no-varejo/”