Na disputa com Magazine Luiza, AliExpress quer trazer ao Brasil data comemorativa que movimenta mais de R$ 640 bilhões por ano na China

A disputa no comércio digital no Brasil é acirrada, mas a gigante chinês do comércio digital AliExpress está preparada para brigar com a brasileira Magazine Luiza (MGLU3), a asiática Shopee e outras concorrentes por esse mercado — e já tem planos ambiciosos para suas operações no país.

O primeiro passo estratégico da asiática é mudar a direção da companhia no Brasil. A partir de agora, a ex-chefe de marketing da Americanas, Briza Rocha Bueno, vai assumir a presidência por aqui.

Dia do Solteiro no Brasil

Bueno chega ao comando da empresa do grupo Alibaba com um projeto para unir as tradições chinesas ao “jeitinho brasileiro” — e importar uma data comemorativa da China que movimenta bilhões e bilhões.

A data surgiu na China como uma espécie de “anti-Dia dos Namorados”, além de rivalizar com a Black Friday dos Estados Unidos.

Porém, o dia acabou se tornando tão popular que se transformou na principal data do comércio da China — e passou até mesmo a ser considerada a Black Friday chinesa.

“Trago um ‘jeitinho’ brasileiro para o AliExpress, algo que adquiri nos meus anos de experiência no e-commerce nacional”, disse a nova presidente do AliExpress no Brasil.

No ano passado, o Dia dos Solteiros bateu recorde e movimentou o montante de US$ 139,1 bilhões — equivalente a aproximadamente R$ 644,9 bilhões, na conversão atual.

A aposta da chinesa em importar a data comemorativa ainda preenche o espaço vazio no calendário brasileiro, uma vez que existe uma janela entre o Dia das Crianças e o Natal, de acordo com Ulysses Reis, professor de varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A “pré-Black Friday” do AliExpress no Brasil ainda deve aumentar as compras de presentes de Natal antecipadas, segundo Reis.

Expansão do AliExpress no Brasil

A expansão do AliExpress no Brasil não é de hoje. A companhia de e-commerce aumentou o número de voos que transportam produtos para o Brasil, que subiram de cinco para seis vezes por semana.

Mas a disputa para conquistar o comércio digital no Brasil e impulsionar os negócios no país também inclui os vendedores locais na plataforma.

A empresa quer aumentar o número de comerciantes brasileiros, uma vez que o Brasil é o único país que o AliExpress permitiu a entrada de vendedores locais no site.

Shopee: Conheça a estratégia por trás do crescimento de 300% no Dia do Consumidor

A Shopee divulgou os resultados que obteve com as ações realizadas para o Dia do Consumidor. A empresa informou que teve um aumento de 300% de compradores e de 290% no número de novos vendedores e marcas.

O Dia do Consumidor, “comemorado” no dia 15 de março, é a primeira data do ano de grande movimento para as varejistas.

Segundo dados do Neotrust, o e-commerce brasileiro registrou faturamento de R$ 722 milhões, um crescimento de 22% em comparação à data no ano passado.

A Shopee teve mais de 470 mil menções no Twitter no dia do consumidor. Para promover as vendas, o marketplace disponibilizou cupons de desconto, promoções, ativações nas redes sociais e também passou a aceitar o Pix como forma de pagamento.

Segundo a empresa, as categorias que mais se destacaram foram a de casa e lazer; saúde e beleza e, por fim, de roupas femininas.

Segundo Felipe Piringer, responsável pelo marketing e estratégia na Shopee, o propósito de todas as ações de marketing da empresa é “proporcionar uma experiência de compras fácil, divertida e segura para os usuários e, ao mesmo tempo, alavancar as vendas dos empreendedores brasileiros na nossa plataforma”.

A campanha do Dia do Consumidor foi a primeira grande ação do ano da empresa seu planejamento foi pautado em criar uma conexão do público com a marca. Por isso, a Shopee apostou no grupo Barões da Pisadinha com um jingle paródia, além de desenvolver ações com mais de 20 influenciadores.

As ações contaram com ativações nas redes sociais e o lançamento da Shopee Live, plataforma de live commerce dentro aplicativo.

Estratégias para manter o crescimento

Para manter um crescimento sustentável, Felipe Piringer diz ser importante uma combinação de fatores, que vão desde o propósito da empresa até a continuidade de ações voltadas para os vendedores e consumidores ao longo de todo o ano.

Pensando em manter o engajamento do cliente e o crescimento da plataforma, a Shopee oferece benefícios ao longo de todo o ano, além de pensar em experiências de compra aliadas ao entretenimento, por meio de jogos que geram cashback, por exemplo.

“Possuímos também uma variedade de produtos locais e internacionais em mais de 30 categorias disponíveis na plataforma”, diz Piringer.

Dicas para estratégias efetivas em datas comemorativas

Piringer destacou alguns pontos aplicados na Shopeee que são fundamentais para a efetividade das estratégias para empresas que atuam no mesmo ramo:

  • Foco na experiência de compra do consumidor;
  • Ações para tornar as compras mais fáceis, seguras e divertidas;
  • Meios de pagamento diversos;
  • Engajar o público;
  • Conteúdo personalizado para cada campanha.

“Outra dica que posso dar é desenvolver uma estratégia de marketing que esteja conectada de fato com o seu negócio e com o seu propósito, que tenha a cara da sua marca, sem a pressão de estar presente em todas as datas comemorativas simplesmente porque todas as empresas estão fazendo”, finaliza.

Invasão Amarela: o futuro do Mercado Livre na América Latina

O e-commerce pode chegar a 500 bilhões de reais no Brasil em 2025. Só neste ano, o Mercado Livre vai investir 17 bilhões de reais no país para seguir liderando em todas as frentes.

Assim como os grafites coloridos e os emaranhados de cabos de energia, as vans amarelo-fluorescentes do Mercado Livre passaram a fazer parte da paisagem urbana de São Paulo — e de quase todas as cidades brasileiras. Até três anos atrás, a maior varejista online da América Latina fazia 95% de suas entregas pelos Correios. Era, portanto, um gigante escondido aos olhos da população. Hoje, faz 95% das entregas por conta própria, e passou a ter uma exposição inédita.

A tomada das cidades coincidiu com o auge da pandemia, em que, confinados a suas residências, os brasileiros compraram como nunca pela internet — e mais de 1.000 veículos de entrega do Mercado Livre viraram figuras onipresentes nas cidades brasileiras. “Passamos a ter um reconhecimento de marca tão grande quanto nossa relevância para o varejo do Brasil e da América Latina”, diz Marcos Galperin, fundador e presidente do Mercado Livre, em entrevista exclusiva à EXAME.

A conversa, marcada inicialmente para ser presencial na Melicidade, a imponente e arborizada sede da companhia, em Osasco, precisou ser feita por videoconferência por um imprevisto comum neste início de 2022. Com um teste positivo para covid-19, Galperin não pôde vir ao Brasil. Mas, por vídeo, falou em primeira mão sobre um volume de investimentos sem precedentes no varejo brasileiro: 17 bilhões de reais. “Nossa meta é manter e ampliar a liderança em e-commerce e entre as fintechs no Brasil”, diz. “A logística é a face mais visível, mas estamos fazendo muito mais.”

O Mercado Livre, que divulgou seus resultados anuais na terça-feira, 22 de fevereiro, virou um império de números superlativos. É a segunda maior empresa da América Latina, com valor de mercado de 52 bilhões de dólares, atrás apenas da mineradora Vale, avaliada em 77 bilhões de dólares. A companhia, criada em 1999 na Argentina, opera hoje em 18 países da América Latina e tem escritórios em oito — a meta é abrir escritórios onde não está presente, e seguir ampliando o número de países atendidos.

Todo trimestre, envia cerca de 250 milhões de pacotes às casas de seus clientes. No Brasil, a capacidade de entrega é de 1,5 milhão de pacotes por dia, e vai crescer para 2,5 milhões com a construção de quatro novos centros de distribuição (em São Paulo, Barueri e Araçariguama, todos no estado de São Paulo). Com isso, o número total de galpões, que era zero até 2017, vai chegar a 11 neste ano. Há ainda 3.000 agências, espalhadas pelo país, em que os clientes podem retirar as mercadorias. Isso sem contar a frota de aviões, que passará de cinco, atualmente, para 15 até 2024. 

No total, a empresa vai investir no Brasil 70% mais do que os 10 bilhões de reais investidos no ano passado e quatro vezes mais do que os 4 bilhões de reais investidos em 2020. O número de funcionários vai passar de 12.000 para 19.000 neste ano no Brasil, e de 30.000 para 50.000 em toda a América Latina. “A escala permitiu acelerarmos os investimentos. Nossas necessidades não eram as mesmas das oferecidas e vamos investir cada vez mais em soluções de pagamento e envios, as duas maiores fricções do e-commerce”, diz Galperin. “Queremos ter os melhores vendedores, que ofereçam a melhor experiência de compra.”

A empresa não pode parar de acelerar porque, segundo Galperin, o mercado brasileiro de e-commerce é o mais competitivo do mundo. A pandemia de covid-19 acelerou o ritmo de expansão e a competitividade. As vendas do varejo online passaram de 93 bilhões de reais ao ano em 2019 para 201 bilhões em 2021, segundo estimativa do banco Goldman Sachs. O crescimento deve seguir acima dos 20% ao ano.

De acordo com o banco BTG Pactual, as vendas podem chegar a 500 bilhões de reais ao ano em 2025. A penetração do e-commerce no total do varejo terá passado, nessa toada, de 7% em 2019 para mais de 20% — de acordo com o BTG, chegará a 21,8% em 2025. Ainda assim, o Brasil estaria atrás do patamar que já têm países como a China, onde 25% das vendas são online, segundo a plataforma Statista.

A tendência dos próximos anos é de uma concentração crescente nas mãos dos líderes Mercado Livre, Magazine Luiza e Americanas — segundo o Goldman Sachs, eles terão 77% do mercado em 2024. O restante será distribuído entre grandes competidores nacionais, como a Via, e os gigantes estrangeiros, sobretudo a americana Amazon e a novata Shopee, de Singapura. 

A possibilidade de a Amazon ou alguma asiática, como a Shopee, atropelarem a concorrência nacional é o tema de dez entre dez rodas de conversa de especialistas em varejo e tecnologia no Brasil. Mesmo em mercados maduros, como o americano, empresas mais jovens e mais ágeis mostram que há, sim, espaço para peitar os gigantes. Por lá, a canadense Shopify, que cresceu com serviços pensados para os pequenos varejos, vendeu, em 2021, 175 bilhões de dólares, 40% do total do gigante Amazon.

Por aqui, a Amazon atua desde 2012 e já tem 11 centros de distribuição. Ainda está longe do apetite que demonstra em mercados como o indiano, onde já investiu 6 bilhões de dólares e de onde pode vir até 20% de seu crescimento nos próximos anos. Mas a maior ameaça recente é a Shopee. A empresa tem um investimento crescente em anúncios e oferece aos clientes um nível de interação, com jogos e chats, que a fez chegar, em pouco mais de um ano, a 30% dos smartphones brasileiros, segundo estimativa do Itaú — percentual comparado apenas ao do Mercado Livre. Mas os volumes comprados ainda são muito menores — o Itaú calcula que a Shopee vendeu 15 bilhões de reais em 2021, ou 7% do total do mercado brasileiro.

“A companhia diz que as compras online devem evoluir para atender às necessidades sobretudo dos clientes mais jovens, que cresceram comunicando, colaborando e se entretendo em aparelhos móveis”, de acordo com relatório do BTG Pactual. O relatório mostra, ainda, que a estratégia de gamificação da Shopee seguirá um diferencial da empresa nos próximos anos. Mas não deve ser o suficiente para ameaçar os líderes atuais do mercado, que têm como maior diferencial, segundo a instituição, os investimentos em serviços para reduzir os prazos de entrega. Shopee, Alibaba, Tencent, Amazon e outros estrangeiros devem, portanto, seguir como coadjuvantes no mercado local — embora tenham muito a ensinar. 

 (Arte/Exame)

“Não podemos ser paranoicos. Jogamos nosso jogo pensando no longo prazo. Em 22 anos, é uma estratégia que tem funcionado muito bem”, diz Galperin. A estratégia do Mercado Livre é unir o melhor de cada grande varejista global: o nível de serviço do Shopify para os pequenos, a qualidade­ de entrega da Amazon, a proximidade com os grandes vendedores que tem o Magalu, por exemplo, e a inovação dos asiáticos. 

O Mercado Livre tem uma posição de liderança típica do pioneirismo no mundo online, e possui o desafio de mantê-la num contexto em que a presença física é cada vez mais relevante. Os maiores competidores locais da companhia, Magazine Luiza e Americanas, começaram suas operações no mundo dos tijolos, e não dos bits e bytes — a única exceção é o Submarino, que hoje está dentro da Americanas.

A presença física é agora o diferencial que vai ajudar esses concorrentes a crescer no modelo de marketplace e a desafiar o Mercado Livre. No Magalu, por exemplo, a loja física é o ponto de entrada dos pequenos varejos — mais da metade dos negócios que se plugam à plataforma chega dessa forma. É ela que faz a captura dos negócios que estão ao seu redor para levá-los ao mundo digital.

A companhia aposta no conceito chamado internamente de hiperlocalidade. A ideia de crescer pela venda de produtos de outros varejistas só virou realidade na empresa em 2017, mas no balanço do terceiro trimestre de 2021 (último disponível) essa operação já representou 35% de toda a venda digital e mais de 25% dos 13,8 bilhões de reais vendidos pela companhia entre julho e setembro. 

Para ganhar terreno, os varejistas tradicionais oferecem aos pequenos varejos a logística e também seus vendedores. A força de vendas das companhias, que antes era dedicada apenas às lojas físicas, agora atua também online e trabalha em ambos os atendimentos com tudo o que está no sistema, como se o marketplace fosse um estoque ampliado. Exemplo disso é que funcionários de lojas da Via, que só mais recentemente entrou na briga do marketplace, já venderam para clientes produtos de parceiros, como trator e saxofone.

Mesmo quase uma estreante, a dona da Casas Bahia e do Pontofrio já viu 20% de suas vendas totais no terceiro trimestre virem do comércio eletrônico do marketplace. Portanto, as mais de 1.400 lojas e 22 centros de distribuição do Magalu e os mais de 1.100 pontos de venda e 31 centros de distribuição da Via não devem ser encarados apenas como infraestrutura logística no mundo da omnicanalidade.

É por essa combinação de capilaridade e força de vendas desses grupos que nasceram no mundo físico que o Brasil tem uma particularidade — além de seu tamanho continental. Nenhum analista acredita que em um horizonte visível haverá prevalência absoluta de um ou outro modelo, uma ou outra companhia. “Não vejo nenhum concorrente com posição de 50% do mercado ou mais”, diz Luiz Guanais, analista do BTG Pactual. 

Entrega do Mercado Livre: aplicativo permite também que donos de motos e carros particulares façam entregas (Leandro Fonseca/Exame)

Apesar de ser o mercado mais concorrido do mundo, como diz Galperin, o Brasil é visto ainda como um mar de oportunidades. Por isso a disputa é tão acirrada. O Magalu, por exemplo, focado apenas em CNPJs, ou seja, em varejistas menores, e não em vendedores individuais, calcula que existam no país mais de 5,7 milhões de pequenos negócios e apenas 330.000 estariam digitalizados. Só que o esforço das empresas nacionais em alcançar esses milhões de oportunidades custa.

E, enquanto as concorrentes domésticas lutam com a queda na rentabilidade causada por essa expansão no modelo de shopping virtual, o Mercado Livre tem diversificação de receitas com suas diferentes frentes de negócios, com vendas, entregas, cobranças, empréstimos, anúncios. Magalu, Americanas e Via ainda apresentam prejuízo operacional ou lucros espremidos, enquanto o Mercado Livre reportou um ganho de 90 milhões de dólares na última linha de seu balanço no terceiro trimestre. A venda dos serviços é algo que ainda está engatinhando entre as domésticas e, na luta por espaço, muita coisa é oferecida de graça a quem se pluga na plataforma. 

AliExpress: live commerce e games estão entre as fortalezas dos asiáticos na competição global (Angel Garcia/Bloomberg/Getty Images)

Por isso, nessa briga, a quantidade de vendedores cadastrados em cada uma das plataformas faz muita diferença: é deles que vem — ou virá — receita não apenas pelas vendas mas pelo serviço prestado. Não por acaso a preocupação do Mercado Livre com os pequenos é até hoje prioridade na forma como a varejista, que nasceu em 1999 como um site de leilões, se posiciona. A companhia tem 12 milhões de vendedores cadastrados. O Magalu tem 120.000; e a Via, pouco mais de 100.000. Apesar de os CPFs corresponderem atualmente a apenas 5% do volume de vendas do Mercado Livre, todas as soluções de entregas e de pagamentos oferecidas aos grandes vendedores são também disponibilizadas aos pequenos.

Um microempresário consegue, por exemplo, ter acesso a entregas no mesmo dia, parcelamento em 18 vezes e linhas de financiamento dentro da fintech Mercado Pago. “A relevância na plataforma é pela qualidade do serviço. E todas as nossas soluções são pensadas primeiro para os pequenos”, diz Gabriela Szprinc, head de pagamentos do Mercado Pago. Desde o início da pandemia, a companhia ajudou a formalizar 135.000 empresas que atuam em sua plataforma e que precisam da documentação em dia para usar os serviços logísticos e de pagamentos.

Os pequenos têm acesso a cursos sobre temas como estoques e precificação e a conteúdos de influenciadores como a Nath Finanças. “Amplitude importa. Nascemos com os pequenos, e digitalizar vendedores e compradores é um passo importante para ampliar nossa base no futuro”, afirma. 

 (Arte/Exame)

Na América do Norte, modelo semelhante é adotado pelo Shopify, fundado há 15 anos no Canadá pelo alemão Tobi Lütke. Seu negócio permite que 2 milhões de empreendedores gerenciem lojas online e se mostrou essencial para a sobrevivência de muitos varejistas na pandemia. Sua ambição é crescer democratizando o comércio — uma visão que não poderia ser mais parecida com a adotada pelo Mercado Livre na América Latina há 22 anos. 

Neste momento, Lütke está diante de um dilema: como continuar crescendo e peitando a Amazon? A empresa de Jeff Bezos tem 75 aviões, 175 centros de distribuição de grande porte e mais de 1.100 endereços de entrega e retirada de mercadorias. Talvez olhar para o Mercado Livre mostre alguns caminhos a Lütke. A empresa de Galperin, que nasceu focada nos pequenos, virou um gigante logístico. Em 2017, abriu seu primeiro centro de distribuição no Brasil. Hoje são 11 centros desse tipo no país, 17 centros de cross ­docking (que recebem a mercadoria do vendedor e a enviam ao comprador), 91 centros de serviço que permitem que distribuidores terceirizados retirem e entreguem produtos, e 3.000 agências de entrega e retirada de mercadorias. Além da enorme frota própria das vans amarelas, a empresa permite que entregadores particulares se cadastrem num aplicativo e trabalhem algumas horas por dia entregando mercadorias em suas regiões, o Mercado Envios Extra. A amplitude permite entregar 90% de seus produtos em até dois dias úteis e fazer 80% das entregas com frete grátis. 

Centro de distribuição do Magazine Luiza: presença física será decisiva para o sucesso nos maiores mercados (Leandro Fonseca/Exame)

A qualidade do serviço é essencial para que o Mercado Livre ganhe terreno não só com os pequenos mas, sobretudo, com os grandes vendedores. A companhia tem hoje parceria com 1.750 marcas, de Pão de Açúcar a ­Apple, para oferecer seus produtos em lojas oficiais dentro da plataforma. No ano passado foram 360 novas marcas, numa investida que vai continuar. Como estratégia para chegar a mais clientes grandes, o Mercado Livre tem destacado seus investimentos para evitar fraudes, uma preocupação constante dos marketplaces online. Fica difícil atrair uma grande marca se vendedores oferecem produtos falsificados na prateleira vizinha. Segundo Galperin, a empresa tem 100 engenheiros dedicados a coibir fraudes e já excluiu 40.000 vendedores da plataforma. O Mercado Livre investe para garantir segurança sem abrir mão da cauda longa de vendedores que está em seu DNA. É uma preocupação que ressoa na concorrência. Segundo o Instituto para Desenvolvimento do Varejo, a evasão tributária no Brasil atingiu entre 460 bilhões e 600 bilhões de reais em 2020. 

Grandes marcas são essenciais para ampliar a penetração online de categorias que ainda dependem essencialmente do varejo físico. Enquanto 20% das vendas de smartphones são online, o e-commerce representa apenas 9% das vendas de moda, 1,5% das vendas de comidas e bebidas e 1% das vendas de produtos para pets, segundo dados do BTG. Moda é uma das prioridades, com parceria com mais de 100 marcas, das quais algumas, como Nike e Adidas, vendem só no Mercado Livre.

Outra prioridade, antecipada pela pandemia, é em alimentos e bebidas, com parcerias com redes de supermercados como Pão de Açúcar e Mambo. A estreia foi em maio de 2020 e as ambições são enormes para um negócio que representa 5% do PIB brasileiro. “É uma frente que traz novos compradores, amplia a concorrência e alimenta as vendas em outras verticais”, diz Julia Rueff, diretora de marketplace do Mercado Livre. Essas frentes ainda subexploradas trazem algo pelo qual todos brigam: recorrência.

Numa companhia do tamanho do Mercado Livre, um debate crescente é sobre quais oportunidades abraçar e de quais abrir mão — ou buscar um parceiro. A companhia não faz grandes aquisições, numa estratégia diferente do Magazine Luiza, por exemplo. “Fazemos as coisas da nossa maneira. Compras distraem. E integrar culturas diferentes é muito difícil”, diz Galperin. Soluções consideradas essenciais para o sucesso do negócio são desenvolvidas internamente. A mais emblemática é a fintech Mercado Pago, que nasceu para oferecer um serviço digital aos vendedores e compradores e cresce 45% ao ano há 12 anos, com 25 milhões de clientes ativos em dezembro.

Aos poucos a empresa foi ampliando a atuação para fora do Mercado Livre e do universo online, e hoje dois terços das transações são feitos fora do Mercado Livre. A companhia é, por exemplo, líder em distribuição de maquininhas de pagamento na América Latina, com 3 milhões de novos terminais no ano passado. O Mercado Pago processa mais de 20 bilhões de dólares em pagamentos por trimestre e tem uma carteira de crédito de mais de 1 bilhão de dólares. Em abril do ano passado, criou o cartão de crédito, e já tem 15 milhões de clientes no serviço. Em dezembro, passou a permitir o investimento em criptomoedas, e já tem 1 milhão de usuários. 

“Vamos seguir ampliando a oferta para os clientes atuais e buscaremos novos. Metade da população da América Latina ainda faz as transações no varejo com dinheiro. E metade é sub-bancarizada”, diz Osvaldo Giménez, presidente do Mercado Pago. Atualmente, a fintech é responsável por 40% da receita do Mercado Livre e, segundo estimativas, por 50% de sua geração de caixa.

Giménez afirma que há mais oportunidades na sinergia, mantendo os negócios unidos, do que em uma eventual cisão, como há anos se comenta entre investidores. Em 2022, o braço financeiro tende a ser ainda mais essencial para os resultados do grupo num ambiente de inflação e juros em alta. “Temos muita experiência com inflação. Seguiremos investindo em descontos, mas com equilíbrio. A migração para o varejo online seguirá sendo uma oportunidade maior do que as condições macroeconômicas desafiadoras”, diz Giménez. 

Entre os desafios para a frente, o Mercado Livre começou em novembro a vender produtos em lives, seguindo um modelo de sucesso na Ásia. Segundo o Goldman Sachs, 16% das vendas online na China já são feitas durante transmissões ao vivo. No Brasil, o aplicativo do AliExpress já oferece a possibilidade, sucesso em seu país de origem. Players internacionais como o Shopee devem trazer lives para o mercado brasileiro em breve, e competidores locais também devem ampliar as iniciativas.

Uma frente que não está no radar do Mercado Livre, por sua vez, é a produção própria de conteúdo de streaming, um caminho adotado pela Amazon, por exemplo. A varejista fechou em setembro parcerias com produtores como Disney e HBO para ampliar a oferta de serviço aos assinantes. “Estou sempre estudando novidades e entendendo como impactarão nosso mercado. Saber o que não fazer é quase tão importante quanto decidir onde investir”, afirma Galperin.

Ao completar 50 anos, o fundador da empresa afirma que em algum momento chegará a hora de sair da linha de frente dos negócios e deixar que uma nova geração assuma. Em março, um dos cofundadores, Stelleo Tolda, deixará o dia a dia da empresa. Outros chegam. Na foto que ilustra a abertura desta reportagem, apenas Osvaldo Giménez faz parte do time inicial da companhia. Fernando Yunes, líder da empresa no Brasil, veio do Sem Parar; Tulio Oliveira, responsável pelo Mercado Pago no Brasil, veio do Itaú; ­Pethra Ferraz, vice-presidente de marketing do Mercado Pago, da XP; Julia Rueff, da CNova; Gabriela Szprinc, do PayPal. São eles os responsáveis por conduzir a segunda maior empresa da América Latina.  


Entregador da Amazon: companhia tem 175 centros de distribuição nos EUA (Alexi Rosenfeld/Getty Images)

O DESAFIO DAS BIG TECHS

Alta dos juros e da concorrência ameaça crescimento de estrelas da bolsa  | Beatriz Quesada

Depois de dois anos de fortes ganhos em meio à pandemia de ­covid-19, a conta parece ter chegado aos gigantes de tecnologia, as big techs. Com o iminente aumento na taxa de juro nos Estados Unidos e a concorrência crescente, investidores estão reavaliando as perspectivas de ganhos com as empresas com grande potencial de crescimento. O principal símbolo do maior rigor de investidores é a Meta, novo nome do Facebook, que, em um só dia de fevereiro, perdeu 1,32 trilhão de reais em valor de mercado.

O tombo aconteceu em razão da divulgação do balanço do quarto trimestre, que revelou a primeira queda de usuários ativos na história da empresa famosa pela rede social. Mark Zuckerberg, CEO e fundador da Meta, admitiu — também de forma inédita — que a popularização do chinês TikTok preocupa. Para completar o cenário desafiador, enquanto os lucros do presente estão ameaçados, o futuro segue incerto: a Meta não ofereceu perspectivas de quando o metaverso, novo carro-chefe da empresa, será lucrativo. 

O caso ilustra o ceticismo do investidor com as ações de tecnologia. A alocação líquida de capital para o setor é a menor desde agosto de 2006, segundo sondagem do Bank of America na primeira quinzena de fevereiro, e o índice de tecnologia Nasdaq acumula perdas de quase 15% no acumulado do ano. Seria a hora de deixar as big techs de lado na carteira? A resposta é não, segundo analistas.

Grandes bancos estrangeiros, como Goldman Sachs e UBS, mantiveram suas recomendações de compra para os papéis da Meta, mesmo com os recentes contratempos, e as perspectivas são ainda mais positivas para outros gigantes do Vale do Silício. “As big techs tendem a ser menos afetadas por esse cenário de alta dos juros. Mas o mercado ficou desesperado e acabou penalizando todas as empresas que têm valuations relacionados a performance futura. É uma janela interessante para a compra dessas ações”, avalia Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, gestora especializada em ações de tecnologia.

 (Arte/Exame)

A situação, a propósito, não é a mesma para todas as empresas. Meta e Microsoft sofrem na bolsa neste ano, mas Amazon e Apple não chegam a registrar 10% de perdas. Para Bernardo Carneiro, analista de BDRs (os recibos de ações listadas no exterior mas negociadas na B3) do BTG Pactual, a diferença entre as quedas demonstra que as big techs não podem mais ser avaliadas dentro da mesma cesta.

“O mercado preferiu companhias que entregaram um bom guidance [projeções] e não sofreram com o risco de competição. Como exemplo, a Meta deu indicações para 2022 abaixo do consenso de mercado e admitiu a força do TikTok, enquanto a Amazon surpreendeu no crescimento de receita e lucro. Cada companhia está dentro de um momento muito diferente”, afirmou. 

O que une os grandes conglomerados de tecnologia e grandes varejistas digitais hoje é a capacidade de expandir horizontes e virar referência em outras áreas. A Amazon lidera soluções de consumo digital, que abrangem de dados a conteúdo. Quando o assunto é software, a Microsoft tem mostrado força com ferramentas corporativas, com destaque para o Azure, seu serviço de computação em nuvem.

A Apple é líder em dispositivos, enquanto a Alphabet (Google) é grande desenvolvedora de inteligência artificial com aplicações diversas. As varejistas digitais com atuação no Brasil estão diante do mesmo escrutínio: apenas planos não garantem bom desempenho presente. Diversificação e consistência na entrega serão mais importantes do que nunca. 

Shopee, marketplace de Cingapura, enfrenta problemas de logística no Brasil

Lojistas criticam atrasos após grupo elevar venda para ganhar mercado – equipe foi criada para gerenciar a crise

A plataforma de venda on-line Shopee, controlada pela Sea Limited, de Cingapura, está enfrentando uma série de problemas em sua logística no Brasil, apurou o Valor. Crescimento acima da capacidade de gerenciamento, excesso de ações comerciais em curto espaço de tempo – para tentar acelerar tráfego de clientes e vendas – e estrutura de transporte e atendimento insuficientes obrigaram a companhia a montar um plano de ação, dizem fontes.

São gargalos na operação num momento em que aumenta a pressão dos rivais sobre os “marketplaces” estrangeiros, inclusive a Shopee, que importam itens da Ásia – numa estratégia liderada pelas principais plataformas on-line brasileiras, como antecipou o Valor semanas atrás.

Nas últimas semanas, o Valor conversou com lojistas, transportadoras, consultores e funcionários da Shopee, sob condição de anonimato, para traçar um histórico dos problemas e das ações tomadas para reduzir o gargalo nos serviços. Uma equipe de gestão de demanda criada pela Shopee trabalha no assunto e há reuniões semanais entre esses funcionários e as transportadoras para ajustar as medidas tomadas.

As dificuldades começaram a aparecer, principalmente, após novembro, quando a empresa decidiu lançar ações comerciais de grande porte em curto espaço de tempo. Foram quatro datas, com frete grátis em certos itens, e promessa de entrega rápida, no intervalo de cerca de 45 dias (campanhas de 11/11 e 12/12, além de “Black Friday” e Natal) que levaram a um acúmulo de pedidos, dizem fontes. “Eles deram um passo maior que a perna, e a situação foi piorando após outubro. Entre novembro e dezembro, foram quatro, cinco vezes mais pedidos [que o ano anterior], e eles não estavam preparados”, diz um prestador de serviço logístico para a Shopee.

A cada data nova criada, em volume de pedidos, era uma espécie de “mini-Black Friday”. “Nós fomos administrando dentro da logística acertada com eles e, de repente foi um ‘boom’. Para a ‘Black’ normal, de todos os anos, a gente se prepara por meses, e isso não é á toa. Porque dá problema se não se programar”, afirmou.

Outro parceiro da Shopee diz que, como a empresa tem alta concentração de encomendas de itens leves (miudezas de baixo preço), eles precisam de grandes quantidades para gerar venda. “A questão é que isso enche galpão, sobrecarrega a equipe e empata a vazão”, afirma ele. Segundo três fontes, pelo menos duas transportadoras – CargoBR e J&T Express – fecharam acordos recentes com a Shopee para acelerar entregas e tentar melhorar o nível de serviços.

A J&T virou parceira neste ano e a CargoBR entrou na segunda metade do ano passado. Além delas, entre as grandes que já operam para a Shopee estão Total Express, Sequoia, Loggi, Rede Sul e Correios (por onde passa a maior parte dos envios). Vendedores têm ido ao site Reclame Aqui, plataforma voltada a consumidores, para pedir solução de atrasos em coletas de pedidos. Eles dizem que boa parte dos problemas com a Shopee se concentra no atendimento da Sequoia. “Eles são o segundo maior contrato da Shopee, só perdem em envios para os Correios, e quando os pedidos dispararam, proporcionalmente quem sentiu o baque mais foi a Sequoia”, diz uma fonte a par dos contratos.

A estratégia que tem sido adotada é congelar a conta da plataforma quando os pedidos de retirada junto à Sequoia se acumulam. “Alguém sabe como faço para tirar a Sequoia da minha conta Shopee?”, diz um deles, num grupo de mensagens formado por vendedores que o Valor teve acesso. “Pus a conta em modo férias [paralisa a chegada de pedidos por certo período] pois não aguentava mais as reclamações no chat. Aparece pedido entregue [ao cliente], mas que não foi enviado pela Sequoia”, diz um lojista, na semana passada, num grupo reunido no Telegram, com 2,2 mil lojistas. Neste domingo, eram 2,9 mil menções no grupo em críticas à Shopee. Mercado Livre tinha menos da metade, sendo bem maior que a rival – bancos calculam que a Shopee venda no Brasil (em valor que passa pela plataforma) entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões ao ano, e Mercado Livre fez R$ 68 bilhões em 2021.

De acordo com Anderson Candido, dono de uma loja de produtos naturais na Shopee, há falhas de processos. “O cliente vê a demora para entregarem, cancela o pedido e pede estorno. Só que a encomenda chega dois, três dias depois. E aí, o cliente fica com o produto e o dinheiro. E nós ficamos com o prejuízo”, diz.

Reclamações de lojistas não são incomuns – muito menos relativos à entregas on-line no Brasil. Mas as reações conjuntas das empresas a isso só ocorrem quando o cenário é mais crítico. O Valor apurou que a Sequoia vem tratando há meses dos problemas junto à Shopee – há reuniões semanais sobre o assunto. Foi criada área específica de atendimento na Sequoia, com cerca de 70 pessoas, para lojistas da Shopee por causa dos problemas. Vinte e cinco equipamentos de separação de pedidos, que seriam distribuídos para toda a base de clientes da Sequoia, hoje estão voltados só para dar vazão às encomendas da Shopee.

A ação da Shopee nesta semana, quando o varejo realiza campanha promocional batizada de Semana do Consumidor, foi desenhada com prazo de entrega (em dias) até duas vezes maior daquele do fim de 2021, apurou o Valor. Isso tende a reduzir as pressões na sua estrutura. “Houve melhora no nível de serviço nas últimas semanas, depois que montaram uma equipe focada, mas não normalizou ainda. Eles foram agressivos e subestimaram a demanda. O trabalho que dá para entregar um fone de ouvido é o mesmo de entregar um celular, que vale muito mais. Só que eles entregam muito mais fones que celulares”, disse um parceiro logístico.

Vista como uma ameaça às plataformas brasileiras, a Shopee incomoda as grandes cadeias locais pelo seu crescimento e também pelo volume de importados oriundos da Ásia. Em 2021, o Procon-SP questionou a Shopee sobre a autenticidade de seus produtos. A empresa disse na época que está comprometida com a lei.

Fontes próximas à empresa negam gargalos e citam “transformações para se adequar à expansão”. Dizem que as reuniões entre transportadoras e a empresa são normais e que 85% das vendas no Brasil são de lojistas locais. E vai manter os Correios como parceiro, apesar de estar migrando, desde janeiro, parte dos lojistas atendidos pela estatal para a sua operação de entrega própria, a Shopee Express.

Migrações desse tipo levam um tempo para ficar redondas, mas fonte próxima à empresa diz que a evolução é boa. Em nota ao Valor, a Shopee afirma que à medida que cresce, está oferecendo “mais opções de parceiros logísticos aos vendedores brasileiros para otimizar a coleta e a entrega de produtos aos consumidores”. Afirma que em breve terá “novas opções logísticas” e que todos os parceiros logísticos devem seguir os altos padrões de serviço” da empresa. Diz ajudar no empreendedorismo e “oferecer uma experiência segura, fácil e divertida de compras”.

O CEO da Sea, Forrest Li, disse a analistas em março que a Shopee Brasil registrou mais de 140 milhões de pedidos no quarto trimestre, avanço de 400% frente a 2020, e cerca de US$ 70 milhões de receita, alta de 326%. Também destacou que, apesar dessa melhora, atingiu um prejuízo antes de juros, impostos, amortização e depreciação de cerca de R$ 10 (US$ 2) por pedido no Brasil, uma melhora de 40% em um ano. No mundo, a perda por pedido foi de US$ 0,45.

Entre novembro e dezembro, a empresa começou a operar, inicialmente na fase de testes, a sua primeira área de “cross-docking” no Brasil. O local fica em Barueri (SP) e faz a armazenagem para despacho em poucas horas, diferente de um centro de distribuição. A ideia com o espaço é acelerar as entregas, mas ele ainda opera em fase de testes. Com novos pontos de armazenagem de apoio, a Shopee quer criar por aqui uma espécie de Mercado Envios, o modelo próprio de entregas do Mercado Livre. Não à toa, quem lidera a logística na Shopee é Rodrigo Calderaro, que saiu do Mercado Livre em junho para ir para a Shopee, para montar uma estrutura local.

Procurada, a Sequoia não se pronunciou.

Quick commerce: 95% dos consumidores gostariam de reduzir os prazos de entrega

Depois de analisar o comportamento dos consumidores no mobile commerce, a segunda parte da pesquisa do Capterra, plataforma líder mundial de avaliação e seleção de software para empresas, foca nos serviços rápidos de entrega, também chamados de quick commerce.

Com prazos mais curtos, quick commerce já é realidade no Brasil

Em um país com as dimensões continentais como o Brasil, a logística pode parecer um entrave para o comércio eletrônico. Um exemplo é a Black Friday de 2021. Mal havia começado o evento e a principal reclamação na plataforma Reclame Aqui estava relacionada à entrega de produtos, já que muitas empresas passaram a oferecer prazos bastante curtos (e inalcançáveis).

O fato é que o consumidor espera seus pedidos entregues “para ontem”, conforme mostra nova pesquisa do Capterra, que entrevistou 1.063 pessoas de todo país para entender suas expectativas sobre o processo de entrega rápida de suas compras, em torno do conceito de quick commerce —confira a metodologia completa no final do texto.

Não alheias à realidade estão as grandes varejistas que já se empenham em oferecer entregas rápidas, inclusive batalhando pelo uso do slogan de “entregas mais rápidas” do Brasil.

Para ganhar mais agilidade no tema de logística e fazer entregas mais rápidas, a Amazon, por exemplo, inaugurou três centros de distribuição no país em apenas dois meses, nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará.

Além disso, o setor logístico também se mostra empenhado em atender às demandas dos consumidores. Por exemplo, o Brasil registra atualmente 19 startups consideradas unicórnios, sendo que três delas atuam na área de logística.

Apesar disso, o esforço realizado tem sido suficiente? Qual a expectativa dos consumidores acerca das entregas online? Veja os dados da pesquisa para entender o comportamento dos consumidores.

O que é o quick commerce?

Também conhecido pelo acrônimo q-commerce, o quick commerce é uma modalidade de comércio eletrônico em que o tempo de entrega é o protagonista das transações. Tratam-se de processos de entregas mais rápidos e ágeis que deixam de acontecer em dias para serem efetuados em horas, se possível.

Para essa estrutura se tornar realidade, emprega-se estruturas com foco em agilidade: entregas sob duas rodas (em bicicletas ou motos), armazéns estrategicamente organizados e posicionados, além do uso de “dark stores” —galpões destinados apenas ao armazenamento, separação e envio dos pedidos dos clientes. Outro importante fator é que as operações podem ser executadas 365 dias por ano, durante 24 horas, nos sete dias da semana, para atender os consumidores mais apressados.

Nesse sentido, empresas buscam estratégias para se tornar mais eficientes e reduzir o prazo de entregas. O Mercado Livre inaugurou um centro de distribuição na Grande São Paulo para itens de grande porte com o objetivo de reduzir para um dia o prazo de entrega na capital paulista –atualmente esse número varia entre 3 e 10 dias.

Já a Rappi lançou o serviço de entregas chamado Rappi Turbo, que promete entregas em até 10 minutos para produtos de conveniência, que ficam armazenados em suas próprias dark stores.

Consumidores querem entregas em até dois dias

Consumidores estão mais imediatistas em relação ao prazo de entrega das suas compras online. Isso porque a maior parte dos entrevistados (49%) declarou que a rapidez é o item mais importante na entrega dos seus pedidos, superando inclusive questões como preço.

Com q-commerce, rapidez é mais importante que preço

No entanto, de nove categorias de produtos analisadas pelos entrevistados, para cinco delas os respondentes disseram que a entrega demora mais de cinco dias para chegar, conforme demonstra o gráfico a seguir.

Maioria dos produtos são entregue em mais de 5 dias

Obviamente o tipo de mercadoria e sua finalidade influencia diretamente no tempo de entrega.

Enquanto os produtos de casa e decoração, que podem incluir utensílios grandes, são os que mais demoram para chegar na casa dos clientes (43% disseram que esse tipo de produto costuma ser entregue em mais de 5 dias), os medicamentos e produtos farmacêuticos são os que chegam com maior rapidez —34% dizem que eles costumam ser entregues em menos de uma hora.

Sendo assim, os resultados levantados pelo Capterra mostram que, nas compras online, expectativa e realidade parecem não caminhar juntas, e isso fica evidente especificamente por dois fatos:

  • Quase a totalidade dos entrevistados (95%) relatou que gostaria de reduzir os prazos de entrega.
  • Na análise do período de entrega aceitável para cada tipo de produto, a maioria dos entrevistados sinalizou que espera que seus pedidos sejam entregues entre um e dois dias úteis.

Em relação à última informação, as únicas exceções foram medicamentos e produtos farmacêuticos –para este tipo de produto, a maioria espera que chegue em menos de uma hora–, e produtos fitness que, na maior parte dos casos, não são comprados de forma online.

Metade quer entregas de supermercado em até uma hora

A crise de COVID-19 tirou as pessoas das prateleiras de supermercados e as levou a fazer compras em páginas web. Este hábito de consumo parece ter se consolidado porque, mesmo com a flexibilização do distanciamento social, as pessoas esperam entregas rápidas para supermercados. As compras de supermercado pela internet foram uma das categorias que mais cresceram na pandemia –o número de pessoas que fez pedido online em supermercados saltou de 9% em 2019 para 30% em 2021.

Depois de medicamentos e produtos de farmácia, a segunda categoria que as pessoas esperam entregas ultra rápidas, em menos de uma hora, são os produtos de supermercados. Um a cada dois entrevistados acham aceitável que sejam entregues em menos de uma hora. Os itens de supermercado incluem produtos de açougue, hortifrutis e empórios.

Embora os números possam parecer pouco realistas, as empresas tentam se adaptar às demandas. Grandes supermercados se organizam para acelerar entregas. Por exemplo, a plataforma de entregas Rappi, fez parceria com os supermercados para realizar suas entregas, entre eles, o Mambo em que passou a prometer entregas em até 10 minutos para uma de suas unidades na capital paulista.

Outro exemplo foi o fortalecimento de supermercados digitais, com foco em entregas rápidas. A plataforma Shopper recebeu duas rodadas de investimento em 2021 para impulsionar sua expansão. No mesmo caminho, a plataforma de supermercado online Daki, que oferece entregas em 15 minutos, tornou-se o novo unicórnio brasileiro com apenas 10 meses de existência.

Estimativa de entrega influencia nos pedidos de delivery em restaurantes

No estudo do Capterra, 85% dos entrevistados disseram que fazem pedidos online para entrega de comidas e bebidas.

De acordo com a maioria dos entrevistados (69%), o prazo aceitável para este tipo de transação é de 30 minutos a 1 hora. Em seguida, um quarto dos entrevistados defende que seus pedidos de comida deveriam ser entregues em menos de 30 minutos.

Quick commerce em restaurantes: como cada item influencia na entrega

Na avaliação do estabelecimento onde compram bebidas e comidas online, 81% dos entrevistados disseram que o tempo estimado de entrega influencia muito. Ainda sobre questões logísticas, para 63%, as informações de rastreamento possuem muita influência.

Entretanto, embora as questões logísticas tenham um peso importante, a avaliação de um restaurante é mais influenciada pela qualidade da comida e bebida, já que 87% dos entrevistados disseram que esse fator tem muita influência.

Maioria vê relevância em entregas no mesmo dia

O lançamento de serviços como Amazon Prime deu visibilidade às entregas rápidas. Também chamadas de same day delivery, no estudo do Capterra, a maior parte dos entrevistados (73%) disse acreditar que a modalidade de entrega no mesmo dia é relevante.

Para algumas pessoas, inclusive, este é um fator que as levaria a deixar de comprar em uma loja. Por exemplo, as pessoas entre 26 e 35 anos, também denominadas como geração millennial, são as que estão mais propensas a não comprar em uma loja que não oferece entregas no mesmo dia.

Millennials são os mais influenciados por quick commerce

Atualmente, 38% disseram pagar por um serviço premium que dá mais rapidez às entregas de seus pedidos. Dos que pagam, 8 em cada 10 disseram que estão satisfeitos com o serviço e pretendem continuar pagando por ele.

Já aqueles que não pagam pelo serviço, pouco mais da metade dos consumidores (51%) acham o preço muito alto desses serviços.

Clientes querem entregas rápidas, mas não pretendem pagar a mais por elas

Embora sejam entusiastas das entregas no mesmo dia, a maioria dos consumidores não está disposta a pagar a mais, em nenhum tipo de produto, para recebê-lo no mesmo dia.

No entanto, na categoria de eletrônicos, é relativamente expressiva a quantidade (50%) daqueles que topam pagar entre 5% e 10% para receber rapidamente seus produtos.

Quanto a mais as pessoas topam a pagar por produtos dentro do q-commerce

No outro extremo, os produtos que as pessoas estão menos dispostas a pagar mais para receber com rapidez são cosméticos e produtos fitness —ambos registraram uma cifra acima de 50%.

Atualmente, somente 25% dos entrevistados disseram que estão dispostos a deixar de comprar em uma loja que não oferece entrega no mesmo dia. Apesar de a maioria não deixar de comprar por esse motivo, ainda assim é importante ter em mente que as pessoas buscam agilidade na entrega de seus pedidos.

Decisão de compra também está atrelada à logística

O nível de satisfação com uma loja é muito influenciado pelo serviço de entrega, de acordo com a maior parte dos entrevistados (56%).

Na seleção de um fornecedor, quase dois terços dos entrevistados (64%) são influenciados em algum grau pelo tempo de entrega oferecido por uma loja.

Ainda assim, o principal problema com as entregas das compras são as altas taxas de frete (38%), e, em seguida, os atrasos na entrega (26%).

Com pandemia, consumidores esperam pagar menos pela entrega dos pedidos

A guinada das empresas ao oferecimento de serviço q-commerce parece ter sido impulsionada pela pandemia, que influenciou mais pessoas a comprar online. Segundo a pesquisa do Capterra, 66% compram mais em lojas online atualmente do que costumavam comprar antes da crise sanitária.

Antes do COVID-19, 72% costumavam comprar online mais de uma vez por mês. Após março de 2020, quando houve a disseminação do coronavírus, 90% passaram a fazer compras online mais de uma vez por mês.

Em relação à expectativa com logística, 41% disseram que ela mudou com a pandemia, pois passaram a esperar pagar menos pela entrega dos produtos. Em seguida, 40% passaram a esperar que os produtos cheguem no mesmo dia.

4 importantes pontos para a criação de um sistema de entregas rápidas

Não apenas grandes redes de supermercado fortaleceram sua presença online. Pequenos e médios mercados também tiveram que modificar a operação para abocanhar os clientes digitais. Pesquisa da Sincovaga mostra que, dos mercados que aumentaram as vendas na pandemia, 63% dos estabelecimentos registrou alta com venda online. Para criar uma operação online para mercado é necessário:

1. Recebimento de pedidos

Crie um canal para receber os pedidos online de seus clientes. Através de softwares para criação de sites, você poderá criar uma versão online da sua loja ou restaurante. Se quiser oferecer mais um tipo de canal para atendimento, vale a pena considerar a criação de um aplicativo próprio –plataformas low code tornam mais acessível o desenvolvimento. Contas de redes sociais também são uma opção para a criação de uma operação online.

Outra maneira de receber os pedidos de seus clientes é por meio de uma conta WhatsApp  Business, em que os pedidos podem ser feitos via chat.

2. Administração de pagamentos

Para finalizar as compras, é possível tramitar as transações por meio de sistemas de pagamentos, que ajudam a processar vendas por cartão de crédito, por exemplo. Segundo pesquisa do Capterra, o cartão de crédito ainda é o principal método escolhido pelos brasileiros para pagar suas compras, no entanto, não há como ignorar outros potenciais métodos, como PIX e cartão de débito.

Além disso, dependendo do suporte que você escolher para levar a sua operação online, será necessário pensar em outros métodos de recebimento. Por exemplo, sistema de pagamentos por celular pode ser relevante em uma operação focada em dispositivos móveis.

3. Expedição de mercadorias

Uma das partes críticas para a criação de uma logística rápida é um bom serviço de separação e expedição de mercadorias. A boa organização do estoque é o primeiro passo. É possível realizá-lo manualmente, mas ferramentas como software de gestão de estoque e sistema de controle de estoque ajudam no gerenciamento de pedidos ao permitir um rápido rastreamento de mercadorias, também emitindo relatórios que ajudam a reposição do estoque.

Software de código de barras também ajuda na eficiência do inventário e, no caso do software de impressão de etiquetas, a emissão de etiquetas dá agilidade no processo de embalagem de mercadorias.

4. Organização da entrega

Para montar um sistema de entrega a domicílio é necessário decidir entre a criação de uma frota própria ou uso de aplicativos de entrega.

No caso da frota própria, além da aquisição de veículos e contratação de funcionários, é importante usar ferramentas que tornem a entrega mais eficiente. Por exemplo, sistemas de roteirização e softwares de gestão de entregas ajudam na criação de uma rota mais inteligente, inclusive quando inclui diversas paradas. Já programas rastreadores de GPS e sistemas de gestão de frotas colaboram com a administração e manutenção dos veículos utilizados na entrega.

Para dar visibilidade aos consumidores acerca do seu pedido, vale a pena usar software de rastreamento de entregas, que ajuda a mantê-los informados.

No caso da escolha de aplicativos de entrega, além de administrar o serviço de delivery, essas plataformas administram o fluxo de usuários, a distribuição entre entregadores e o sistema de pagamento mediante a cobrança de uma taxa. Neste caso, é importante avaliar qual empresa oferece as melhores condições para o seu negócio.

Na escolha da melhor opção logística, tenha em mente que atualmente o grau de sustentabilidade de uma empresa influencia a escolha dos consumidores por uma marca. Portanto, é importante considerar o uso de entregas sustentáveis.


Metodologia

Para reunir os dados presentes neste estudo, o Capterra realizou um levantamento online entre os dias 7 e 9 de novembro de 2021. Na ocasião, foram ouvidos 1.063 consumidores que costumam comprar online, com mais de 18 anos e de todas as regiões do país (com 50% dos entrevistados do sexo feminino e 50% do sexo masculino), pertencentes a diferentes faixas de renda. Os resultados são representativos da pesquisa, mas não necessariamente da população como um todo.

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Empresa gastou US$ 16,9 bilhões em publicidade e promoções em 2021, um aumento de 55% em relação a 2020.

O investimento publicitário da empresa cresceu 55% em 2021 em relação ao ano anterior, o que representa um aumento de US$ 6 bilhões e o aumento mais rápido em dez anos. O índice é maior do que o nível geral de crescimento da publicidade no ano passado, que aumentou 23,8%, e mais que o dobro do crescimento observado na categoria de varejo mais ampla, de 20,6%.

A Procter & Gamble, principal concorrente ao título de maior anunciante, fica para trás. Embora os números não sejam diretamente comparáveis, os custos de publicidade da P&G aumentaram 12%, para US$ 8,2 bilhões nos 12 meses até o final de junho de 2021.

Segundo a Warc, isso ocorre à medida que a Amazon se expande para novas áreas e vê um forte crescimento de receita em seus segmentos de negócios – a receita total da empresa aumentou 21,7% em 2021, para US$ 470 bilhões.

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Lucro acima do esperado

A Amazon registrou lucro líquido de US$ 14,3 bilhões no quarto trimestre de 2021, o equivalente a US$ 27,75 em lucro por ação, superando muito o lucro por ação de US$ 3,63 esperado por analistas consultados pela FactSet. A empresa quase dobrou os US$ 7,2 bilhões que registrou de lucro líquido no mesmo período do ano anterior.

No ano, lucro líquido aumentou para US$ 33,4 bilhões, ou US$ 64,81 por ação diluída, comparado ao lucro líquido de US$ 21,3 bilhões, em 2020.

A companhia revelou ainda que as vendas líquidas aumentaram 9% para US$ 137,4 bilhões no quarto trimestre, em comparação com US$ 125,6 bilhões no mesmo período de 2020.

Como o perfil do consumidor influenciará as estratégias de marketing?

Não precisa voltar muito no tempo para perceber as mudanças no perfil do consumidor ao longo dos anos. Na década de 2000, por exemplo, a maioria das pessoas procuravam nas listas telefônicas os contatos das empresas que desejavam ligar ou iam até as lojas físicas para tirar uma dúvida ou fazer uma reclamação.

Hoje, as visitas aos empreendimentos físicos diminuíram consideravelmente e o relacionamento entre marca e cliente passou a ser construído por meio de plataformas digitais. Com tantas transformações nos hábitos de consumo, fica a pergunta: como, de fato, o comprador vai afetar a jornada do atendimento e as tendências de CX em 2022?

Para a diretora de customer experience na fornecedora de equipamentos de distribuição de combustível, Dover Fueling Solutions (DFS), Paula Flórido, o perfil e o comportamento do consumidor sofreram inúmeras alterações por conta da pandemia e da quarentena.

Além do isolamento social, houve ainda a adoção do home office por parte da população e aumento da preocupação com questões relacionadas à saúde, ao bem-estar e à sustentabilidade. No cenário de consumo, o aumento das compras online foi visível, assim como a procura do público por empresas que prezam pela experiência do cliente e que se atentem à temática da Agenda ESG.

Assim, com as novas necessidades dos consumidores, surgiram novas tendências de CX que modificaram a jornada de compra e promoveram verdadeiras revoluções no modo de vender. “Muitas empresas precisaram se reinventar e acelerar todo o processo de transformação digital e de adequação logística. Ademais, precisaram conhecer, entender e se aprofundar nos hábitos e interesses do seu público-alvo, a fim de customizar cada vez mais os produtos, serviços e soluções”, inicia Paula Flórido.

Tecnologia promete fazer parte da rotina produtiva das marcas

Segundo a diretora de customer experience, espera-se que neste ano as marcas invistam ainda mais em novas tecnologias para se conectarem com seus clientes e entenderem suas preferências e anseios a fundo: “inteligência artificial, ferramentas de big data, chatbots automatizados e robôs estarão ainda mais presentes nas estratégias de marketing. A cultura ‘data-driven’ permitirá que as empresas conheçam o público-alvo por meio de estatísticas e algoritmos e não suposições”, complementa a especialista.

Omnichannel rompe barreiras do Phygital
e se consolida no mercado

As estratégias omnichannel também estão entre as grandes apostas para 2022, assim como as ferramentas voltadas para a proteção dos consumidores e o atendimento humanizado: “o omnichannel deixou seu papel de integração da experiência phygital (experiencias dos meios físicos aos digitais), para se tornar um meio de oferta de múltiplos canais a fim de satisfazer as ‘necessidades’ de cada persona e criar uma experiência única e exclusiva”, afirma Paula Flórido.

Empresas tornam-se mais humanas para encantar
e fidelizar os clientes

Com relação ao atendimento, a especialista explica que a humanização deve fazer parte da rotina empresarial de qualquer negócio: “após décadas de implantação de alta tecnologia no atendimento, a grande mudança será a humanização do atendimento. Com o distanciamento social surgiu um novo perfil de cliente que busca por um contato humanizado e espera encontrar alguém com quem possa conversar e tirar suas dúvidas de forma personalizada”, finaliza a representante da Dover Fueling Solutions.

Empresas se adequam ao novo perfil do consumidor
no pós-pandemia

De forma geral, a especialista em estratégia de negócios, Priscila Guskuma traça o perfil do consumidor de 2022: “o cliente moderno busca equilíbrio, propósito e pertencimento. Ele está mais sensível emocionalmente, valoriza a humanização no atendimento e não quer desperdiçar tempo nem recursos. Além disso, está mais exigente, já que pesquisa muitos mais antes de comprar, buscando as avaliações e comentários sobre as empresas”, argumenta Priscila Guskuma.

Por fim, a profissional do ramo de estratégia empresarial reúne as principais tendências e inovações com relação ao CX: “hoje, com o cliente buscando multicanais de compra e experiências diferenciadas, as marcas terão que investir ainda mais no marketing teleguiado, apresentando o que realmente vai fazer sentido para o perfil de consumo do comprador”, encerra.

Magazine Luiza e dona da Casas Bahia se acusam na Justiça de concorrência desleal

Na Black Friday do ano passado, o Magazine Luiza foi à Justiça para exigir que a Via deixasse de usar a sua marca como palavra chave para exibição de anúncios: uma prática usada para desviar tráfego da concorrência na internet. A ação foi distribuída para a 2ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem e a empresa conseguiu uma decisão favorável, em que o juiz pediu a desabilitação dos anúncios patrocinados da Via no prazo máximo de duas horas após o recebimento da decisão liminar. Mas não parou por aí. Pouco depois, em dezembro, a Via entrou com uma ação parecida contra o Magalu e também obteve resposta favorável do juiz.

As informações foram divulgadas anteriormente pelo jornal Valor Econômico e obtidas pelo Estadão/Broadcast dentre as peças públicas do processo. Na ação movida pelo Magazine Luiza, a Via é acusada de contratar “serviços de anúncios patrocinados junto ao sites de pesquisas Google para que seu site aparecesse como resultado de destaque caso o usuário utilizasse as marcas ‘Magazine Luiza’ e ‘Magalu’ como termos de pesquisa”.

A decisão do juiz Eduardo Palma Pellegrinelli considerou justo pedido do Magazine Luiza de que essa prática fosse encerrada rapidamente, visto que ela acontecia em um período aquecido de vendas: a Black Friday.

Na ação da Via, o Magazine Luiza é acusado de usar “ferramentas de busca e mecanismos de links patrocinados para atrair clientela comum, ao vincular as marcas Casas Bahia e Ponto Frio como critério de pesquisa”. Nesse caso, o juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi deferiu a tutela de urgência para determinar que o Magalu parasse a “utilização das marcas ‘Casas Bahia’ e ‘Ponto Frio’ [ou qualquer outra expressão que com elas se assemelhe] como títulos e palavras-chave para a disponibilização de anúncios patrocinados em ferramentas de busca como o Google, o Bing e quaisquer outras assemelhadas, bem como de incluir tais reproduções e imitações no título de seus anúncios patrocinados, tudo no prazo de cinco dias”. A ação da Via foi distribuída para a 1ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem.

O sócio do Escritório J Amaral Advogados, Fabio Pimentel, diz que anúncios patrocinados se tornaram uma ferramenta estratégica para vendas na internet e que a pandemia acelerou o comércio online. “Naturalmente, com essa aceleração surgem também desafios concorrenciais. Afinal, a concorrência se desenvolve em âmbito físico e em âmbito digital. O uso indevido de marcas de terceiros pode configurar desvio de clientela, uma conduta que a legislação brasileira proíbe e reprime”, afirma.

Ele pontua ainda que a preservação da livre concorrência, que está em jogo em questões como essa, devem ser cada vez mais importantes para o País. “Nesse sentido, vale lembrar que a retomada das discussões para entrada do Brasil na OCDE certamente demandará do País uma atuação cada vez mais efetiva no que diz respeito à preservação da livre concorrência, especialmente em tempos de uma economia cada vez mais digital e globalizada”, afirma Pimentel.

Para Gustavo Chapchap, líder do Comitê de E-Commerce da Associação Brasileira de Agentes Digitais e diretor da Jet/ZapCommerce, a prática da qual Via e Magazine Luiza foram acusadas não é nova. “A concorrência desleal comprando palavras do concorrente é algo que já acontece faz tempo e em vários mercados”, afirma. Ele diz, inclusive que as plataformas de busca já têm mecanismos que, de alguma forma, penalizam essa forma de tentar desviar tráfego da concorrência. “O robô (de determinada plataforma) identifica que o destino do link não tem nada do termo chave que ele está anunciado e cobra um valor mais alto (pelo clique no anúncio)”, explica.

Procuradas, Via e Magazine Luiza disseram não comentar processos em andamento.

O metaverso é o futuro: as experiências digitais que marcaram 2021

Metaverso foi um tema bastante discutido ao longo de 2021: foram 84 mil menções nas redes sociais, segundo dados da Comscore. O pico foi no dia 28 de outubro, quando o Facebook se apresentou ao mercado como Meta e anunciou que se tornaria uma empresa de metaverso nos próximos anos.

Enquanto grandes corporações, como a Meta e a Microsoft, preparam-se para criar uma nova experiência digital, muitas marcas já estão aproveitando o metaverso, mesmo que no início, para promover uma experiência do cliente inovadora. Isso porque existe tecnologia para isso, especialmente no universo dos jogos. Dados do Kantar Ibope Media mostram que 6% dos internautas brasileiros, ou seja, 4,9 milhões de pessoas, já estão vivenciando experiências em ambientes virtualizados. Confira as principais ações realizadas em 2021 dessa tendência que você precisa ficar de olho!

Metaverso e as interações sociais

Em novembro, a Microsoft anunciou a implementação da plataforma Mesh ao Teams, criando o Mesh for Teams. A intenção é tornar o espaço de reuniões virtuais mais imersivo, divertido e colaborativo, melhorando a interação entre os colaboradores das organizações. O recurso traz ao Teams as capacidades de realidade mista do Mesh e oferecerá espaços pré-construídos para uma variedade de contextos, não só reuniões profissionais. O objetivo é que, com o tempo, as organizações possam construir espaços personalizados, promovendo novas experiências de onboarding e de reuniões colaborativas, por exemplo.

Também com a intenção de promover melhores interações no ambiente virtual, o Tinder está de olho no metaverso e, segundo a presidente executiva da empresa, Renate Nyborg, já existe um plano de criar o “Tinderverso”. A ideia é criar avatares para um ambiente compartilhado no app, com canais de áudio e vídeo para comunicação. Os usuários inicialmente se encontrariam em ambientes como festas e bares digitais, migrando então para conversas privadas, uma tentativa de simular o que acontece nos encontros nos espaços físicos.

Games como possibilidade imediata

O levantamento da Kantar aponta que 89% dos internautas que já experimentaram o metaverso jogam videogame. Chamados de early adopters, esses usuários acompanham as inovações tecnológicas e apresentam maior engajamento virtual. Pensando nisso, algumas empresas já adentraram o mundo dos games, trazendo experiências diferentes para o phygital.

É o caso do iFood, que firmou parceria com o jogo GTA (Grand Theft Auto) V e está presente no Cidade Alta, principal servidor do game na América Latina. Diferente do GTA mais conhecido, em que o objetivo é cometer alguns delitos, no Cidade Alta os jogadores vivem situações do cotidiano, podendo até ser um entregador do iFood para cumprir alguma missão. Mas, mais do que um extra no jogo, a foodtech busca a atração e fidelização de clientes por meio do entretenimento e, por isso, oferece cupons de descontos em alguns pontos do cenário, como outdoors.

Outra empresa que também marcou presença no GTA V foi a Chilli Beans, criando em novembro de 2021 uma ilha digital no servidor Subversion Roleplay. A marca de óculos levou ao jogo o evento Superdose, que apresenta os lançamentos do ano com performances e show exclusivos e nos últimos anos foi realizada em um navio de cruzeiro. Dentro do jogo, colaboradores e público geral podem interagir por meio de avatares e explorar lojas, roda gigante, passeios de avião e outras possibilidades.

“A coexistência entre o real e o virtual já é uma realidade hoje, então fazer a Superdose no formato game é uma extensão natural desse tipo de experiência. A inovação está em criar um game dinâmico, recheado de atividades e conteúdo para todo mundo curtir e emergir na marca. Já que não dá pra ficar junto, com os avatares aí sim a galera pode se juntar, dar um rolê virtual de skate, de helicóptero, visitar o navio e até curtir os bares e espaços da Ilha”, diz o CEO e fundador da Chilli Beans, Caito Maia.

Mas apesar de o termo metaverso ter dominado os trend topics em 2021, ele surgiu na década de 1980 e as ações das marcas dentro dos ambientes virtuais já existem há alguns anos. Em 2019, por exemplo, a Fanta criou uma experiência imersiva no jogo Fortnite. Em 2020, a Ambev criou um bar Brahma no GTA para lançar a long neck da Brahma duplo malte.

Mas o que é o metaverso?

Metaverso é o universo virtual que mescla o virtual com a realidade aumentada, promovendo a imersão dos usuários dentro do ambiente digital. É como se as pessoas pudessem acessar um tipo de realidade paralela pela tecnologia, já que o metaverso busca passar a sensação de realidade, com influências do mundo físico no mundo digital.

Imagine que um avatar seu está em um cenário virtual semelhante a uma sala de apartamento, interagindo com outros avatares que representam seus amigos e vocês decidem pedir algo para comer nesse cenário. Pedem, então, uma pizza pelo aplicativo de delivery e ela chega na porta da sua casa física. Essa mescla entre realidade virtual, realidade aumentada e realidade física é possível no metaverso e é por isso que as empresas precisam ficar atentas à tendência.

Já para 2022, a expectativa é que as marcas direcionem parte de suas estratégias de marketing para o metaverso. Segundo especialistas da another, agência de comunicação estratégica, os influenciadores, inclusive, não competem mais apenas entre si, mas também com influenciadores virtuais que já estão ativos em redes sociais e vão dominar o futuro do metaverso, bem como vão experimentar os tokens não fungíveis (NFTs), vendendo seu conteúdo mais viral, por exemplo. “As empresas começarão a colaborar com os influenciadores para produzir coleções NFT”, destaca a diretora de influencer marketing da another, Mayra Alcántara. A apresentadora e influenciadora Sabrina Sato, por exemplo, já possui o avatar Satiko que, inclusive, já participou de ações de marcas como Lojas Renner e TikTok.

O CEO da More Than Real, Marcos Trinca, destaca que o metaverso vai colaborar com a experiência do cliente em toda a jornada de compra. “O metaverso irá evoluir para criar espaços de interações mais perenes e constantes. As lojas, os shoppings e centros de cultura e entretenimento existirão no metaverso, seja vinculado ou não aos espaços físicos originais. De um jeito ou de outro, ele permitirá a digitalização da experiência de consumo das pessoas e abrirá possibilidades para melhorar o relacionamento das marcas com seus clientes. As empresas passarão a entender muito mais sobre as decisões de compra de seus consumidores por conseguirem extrair informações sobre o seu comportamento através das camadas virtuais apresentadas a eles”.

Avanço da Ômicron faz marcas e agências revisarem planos. Veja Tendências e Previsões de Mídia 2022 dos especialistas da Kantar

O ano começou cheio de otimismo. Mas a necessidade de novas adaptações na era Covid-19 chega como uma ducha de água fria na empolgação do mercado. As marcas já se preparavam para atender às mudanças do cotidiano dos consumidores. Com mais flexibilização pelo crescente número de brasileiros vacinados com duas doses de imunizantes, a nova rotina de conveniência, valor, sustentabilidade e inovação balizava o caminho, baseada em dados, insights e observações diretas do comportamento das pessoas e do mercado. Agora, o retorno pleno das atividades está comprometido com o rápido avanço da variante Ômicron, o que torna a tão aguardada volta às atividades presenciais no trabalho e no comércio, após quase dois anos de restrições, ainda distante neste início de 2022.

SEM CARNAVAL 
Pelo país, as agências de publicidade já começam a se manifestar pela permanência do trabalho em home office. Dados de municípios e dos estados apontam que muitas pessoas foram infectadas com a Covid-19 e também com a nova cepa H3N2 da influenza, que causa síndrome gripal similar à do coronavírus, o que está levando postos de saúdes e UPAs ao cenário de saturação, como no auge da pandemia. A situação traz novas consequências ao Brasil e ao mundo. As principais capitais e cidades brasileiras que têm tradição na festa de carnaval já anunciaram o cancelamento das comemorações para evitar aglomerações, o que afeta diretamente a publicidade.
AGÊNCIAS 
O ritmo de retorno gradual das agências de publicidade aos escritórios volta a ser letárgico. Por todo o país, várias estão revisando planos e deixando os seus funcionários em casa, para evitar mais contágio em seus quadros de trabalho. Pelo menos nesse início de janeiro, a maioria das empresas vai usar o modelo híbrido de trabalho. Algumas já admitem, inclusive, que esse será o formato definitivo. Outras, desde o começo da pandemia, em 2020, assumiram 100% do trabalho remoto.
O Data Stories de dezembro, com foco em Tendências e Previsões de Mídia 2022, oferece uma visão abrangente das principais tendências do mercado com base nos dados mais recentes coletados pela Kantar e das análises e previsões dos especialistas da empresa, para ajudar marcas, anunciantes e veículos a planejarem seus negócios e ativações para os próximos meses.

MEDIÇÃO PERMANENTE 
O estudo, com análise de dados, insights e consultoria, divulgou os novos desafios para o mercado. Os especialistas destacaram, por exemplo, o quanto seria necessária a medição de audiência e que as grandes empresas precisariam mais do que seus próprios dados para crescer. No Natal, por exemplo, a volta do consumidor à compra presencial causou otimismo. Só que, agora, com o cenário anunciado, o modelo comercial de mídia na internet deve recuperar espaço. Porém, com o fim dos cookies, as marcas estão atuando de forma híbrida na estratégia de dados, priorizando a privacidade e coletando diretamente os dados de consumidores. Segundo especialistas, uma remodelagem de como a mídia é comercializada na internet já está em andamento.
PERFORMANCE E CONSTRUÇÃO 
Para a mídia segmentada, esperava-se movimento ao retorno da publicidade contextual. Mas a experiência dos anos anteriores recomenda mais observação direta. Além desses insights, o estudo da Kantar deu destaque para a mídia de performance e marketing, que foram estratégias adotadas por empresas para sobreviver durante a pandemia. Agora, em 2022, é esperada uma competição na alocação de mídia de performance em formatos como social commerce nas redes sociais. Varejistas tendem a investir na sofisticação das suas plataformas de comércio eletrônico e os metaversos devem continuar surgindo. De qualquer forma, os especialistas esperam reequilíbrio entre investimentos de mídia de performance e campanhas de construção de marca, além de medições de campanhas de cross mídia mais avançadas.

RELACIONAMENTO 
Diante da situação, os profissionais de mídia buscam dados atualizados dia a dia para balizar suas decisões, juntamente com as marcas. A recomendação de momento é que utilizem ao máximo o relacionamento construído com seus consumidores, recorrendo aos dados apurados, enriquecendo seus planejamentos com informações de comportamento e atitudes obtidas com outras fontes. Por fim, recomenda-se atenção máxima, para mudanças rápidas, caso sejam necessárias medidas mais duras de restrições de circulação do consumidor.