O comércio eletrônico deixou de ser uma simples alternativa ao varejo tradicional e se consolidou, ao longo da última década, como pilar central da economia digital global. Segundo dados da Euromonitor International, em 2024, cerca de 64% da população mundial esteve conectada à internet – o que representa mais de cinco bilhões de pessoas com acesso potencial a bens e serviços via canais digitais.
Ainda segundo a Euromonitor International, no ano passado, o e-commerce global de bens e serviços movimentou aproximadamente US$ 11 trilhões, com previsão de crescimento médio de 10,7% ao ano até 2029. O varejo de bens liderou esse movimento, seguido por pagamentos digitais, viagens, foodservice e outros serviços.
A concentração do comércio eletrônico permanece nas duas maiores economias globais: China e Estados Unidos. Em 2024, os dois países responderam, juntos, por 61,2% de todo o e-commerce mundial, movimentando cerca de US$ 2,6 trilhões em transações online. Individualmente, a China foi responsável por 30,7% desse volume, enquanto os Estados Unidos contribuíram com 30,5%.
E-commerce transfronteiriço
Embora o e-commerce já esteja consolidado como um dos principais canais de consumo de bens e serviços no mundo, apenas uma fração desse mercado corresponde a transações internacionais de produtos – o chamado e-commerce transfronteiriço ou cross-border.
Nesse cenário, China e Estados Unidos seguem na liderança global. No ano passado, a China movimentou cerca de US$ 145 bilhões em e-commerce transfronteiriço, enquanto os Estados Unidos registraram US$ 113,1 bilhões. Entre 2019 e 2024, os dois países mantiveram taxas médias de crescimento anual expressivas: 9,8% e 24,8%, respectivamente.
Por sua vez, o Brasil despontou como um dos mercados emergentes mais relevantes. Em 2024, o país atingiu US$ 12,6 bilhões em transações internacionais online, impulsionado por um crescimento médio anual de 26,3% nos últimos cinco anos.
Outras economias como México (35,3%), Índia (29,5%), Tailândia (29%) e Indonésia (24,2%) também se destacam pelo desempenho expressivo nas taxas médias de crescimento anual em cross-border no mesmo período.
Cenário do e-commerce brasileiro
Em 2024, o e-commerce de bens no Brasil movimentou US$ 56,3 bilhões. Segundo dados da Euromonitor International, as categorias com maior participação foram: eletrônicos, moda, alimentos e beleza.
Os marketplaces seguem desempenhando papel estratégico no varejo digital brasileiro, especialmente ao facilitar o acesso a pagamentos digitais e impulsionar a inclusão de micro e pequenas empresas (MPEs). Plataformas como Mercado Livre e Amazon se destacam por oferecer ecossistemas acessíveis, permitindo que empresas de menor porte ampliem sua presença online e alcancem novos mercados.
Diagnóstico da maturidade digital brasileira para o e-commerce internacional
A Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (ApexBrasil) oferece gratuitamente para as empresas nacionais o Diagnóstico de E-commerce Internacional. Trata-se de uma ferramenta que avalia a maturidade digital de uma empresa e propõe ajustes para melhorias. Após uma classificação baseada na análise realizada, a ferramenta indica os produtos e serviços adequados para a empresa que deseja conquistar o mercado internacional.
Das 800 empresas brasileiras analisadas no Diagnóstico de E-commerce Internacional da ApexBrasil no primeiro trimestre de 2025, cerca de 90% ainda não haviam realizado vendas online para o exterior, apesar do interesse.
Segundo a análise, os destinos mais visados pelas empresas brasileiras são: Estados Unidos, Europa e Colômbia. Enquanto médias e grandes empresas demonstram maior maturidade digital – com sites multilíngues e estrutura profissionalizada -, as micro e pequenas empresas (MPEs), de forma geral, enfrentam gargalos estruturais.
Entre os principais desafios para as MPEs destacam-se:
– Falta de planejamento logístico para envios internacionais (identificada em 80% das empresas);
– Ausência de sites adaptados ao idioma do mercado-alvo;
– Desconhecimento sobre regras alfandegárias, marketplaces internacionais e meios de pagamento globais;
– Baixo investimento em marketing digital voltado para mercados externos (menos de 10% investem em mídia paga internacional).
Esses dados reforçam a necessidade de políticas públicas para capacitação digital e de medidas que incentivem a presença internacional das empresas brasileiras, especialmente das MPEs.
Segundo a Fitch Solutions, a expansão do e-commerce em mercados emergentes demanda principalmente: inovações em logística – criação de redes de entrega confiáveis – e mecanismos para fortalecer a confiança do consumidor nas transações online. Empresas que oferecerem soluções escaláveis para esses desafios terão enorme potencial de crescimento, especialmente em regiões onde o e-commerce ainda está em fase de consolidação.
Um futuro digital para o Brasil
O e-commerce consolidou-se como um vetor estratégico da economia digital e da competitividade internacional. O Brasil, com sua robusta base de consumidores e infraestrutura digital em expansão, tem potencial para protagonizar esse movimento global, mas isso exige ação coordenada.
Transformar esse potencial em resultados concretos dependerá da capacidade das empresas brasileiras de acelerar sua transformação digital, inovar seus modelos de negócio e alinhar suas estratégias a práticas sustentáveis, inclusivas e orientadas ao mercado externo.
A adoção de políticas públicas que promovam a capacitação tecnológica das MPEs será fundamental para que o país avance de forma estruturada, ampliando sua presença no comércio eletrônico internacional e garantindo um posicionamento competitivo em um cenário global cada vez mais dinâmico e exigente.
A jornada para uma maior presença brasileira no comércio eletrônico global está em curso.
Fonte: “https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/o-avanco-do-e-commerce-global-e-a-jornada-do-brasil-rumo-a-internacionalizacao-digital”