Desde que a Americanas (AMER3) divulgou inconsistências contábeis da ordem de R$ 40 bilhões que a levaram à recuperação judicial, a empresa testemunhou sua posição no e-commerce erodir diante de suas principais competidoras.
O dado é parte de um monitoramento elaborado pela consultoria em tecnologia Similarweb, e veiculado em relatório do banco de investimento UBS BB, divulgado no último dia 11.
De dezembro para janeiro, mês em que o rombo foi anunciado, o relatório do UBS BB mostra que a Americanas registrou uma redução de 14% para 10% no número de visitas web mensais de consumidores. Entre janeiro e fevereiro, há uma nova queda de 3% no tráfego.
Com isso, a varejista tutelada pelo trio Lemann-Sicupira-Telles amarga agora a última posição entre os maiores players de e-commerce do Brasil, com apenas 7% do tráfego disputado no varejo digital.
O cenário do UBS BB converge com o do Itaú em BBA, que aponta que, de 11 de janeiro até o fim de fevereiro, a companhia perdeu cerca de 57% do tráfego em seu site.
Para Fernando Ferrer, analista de varejo da Empiricus Research, a queda do tráfego gera um impacto reconhecido, mas difícil de ser quantitativamente estimado sobre o GMV (total de mercadorias vendidas) da varejista.
A Americanas ainda não divulgou os resultados do último trimestre de 2022 e não deu indicações de quando divulgará os números do primeiro trimestre deste ano, tornando mais difícil uma análise das linhas de negócio da companhia.
O que se sabe é que a companhia está enfrentando dificuldades com fornecedores e precisando pagar à vista pelos produtos dispostos no seu e-commerce, uma vez que as operações de risco sacado foram inviabilizadas.
Essa nova realidade traz uma diminuição da variedade de mercadorias vendidas, que, aliada à perda de prestígio da plataforma, acaba espantando o consumidor.
Amazon e Shopee puxam o tapete da AMER3, mas também de outras brasileiras
Apesar de catalisador, o colapso financeiro tornado público no início de 2023 não é o ponto inicial do declínio da empresa, em termos de predileção do público.
Em dezembro de 2021, a Americanas era a segunda maior empresa do setor de e-commerce, detendo 21% do total do tráfego online e perdendo apenas para o Mercado Livre (MELI34) — a empresa argentina é a líder consolidada do e-commerce brasileiro há mais de seis anos. Dois meses depois, a Americanas começou a cair, chegando ao fim de 2022 com uma fatia de apenas 10%.
A série histórica levantada no período mostra que Shopee (braço de e-commerce da chinesa Sea Limited) e, sobretudo, a Amazon (AMZO34) foram as principais beneficiadas pela derrocada da Americanas.
As fatias das brasileiras Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3) permanecem relativamente inalteradas.
Para Ferrer, o crescimento da Amazon e da Shopee no Brasil se dá de maneira orgânica e está vinculado ao tamanho continental do mercado brasileiro, visto como uma grande oportunidade para os players internacionais que possuem caixa, infraestrutura e logística para competir por mais consumidores.
No caso da Amazon, os analistas ainda destacam a prática de descontos agressivos em datas especiais, como o Prime Day, que acabam conquistando o consumidor para a compra do grupo de produtos que é considerado uma especialidade da Americanas, qual seja, a linha de eletroeletrônicos.
Já para a Shopee, a aposta na venda de itens de baixo ticket vem rendendo frutos para a empresa no mercado brasileiro.
Mas o tempo bom para a Shopee pode estar acabando: a plataforma de e-commerce pode perder uma vantagem valiosa ante suas concorrentes, dada a intenção do governo em tornar obrigatória a taxação sobre compras importadas, incluindo aquelas inferiores a US$ 50 (o que compõe o maior ticket médio das gigantes asiáticas).
Se esta medida será o suficiente para reviver a AMER3 dos mortos ainda é algo a ser conferido.
Americanas tenta paz com credores
A Americanas tenta estender a bandeira branca com os principais credores no processo de recuperação judicial anunciado ainda em janeiro.
Segundo a varejista, a suspensão permitirá que as partes envolvidas foquem seus esforços na negociação de um plano de recuperação judicial aceitável para a maior parte dos credores e que ainda viabilize o futuro operacional da companhia.
A empresa diz esperar que “as negociações culminem em um plano que conte com o apoio da maior parcela possível dos credores da Americanas e que possa ser submetido a uma assembleia geral de credores dentro do prazo estabelecido pela legislação”.
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira considerariam adicionar até R$ 2 bilhões ao valor inalterado de R$ 10 bilhões. O montante adicional seria realizado em duas parcelas separadas em uma data futura se a alavancagem da companhia crescer muito ou se a liquidez cair abaixo de um nível não especificado, segundo o comunicado.
Fonte : https://www.moneytimes.com.br/como-a-americanas-amer3-virou-lanterninha-do-e-commerce-para-alegria-da-amazon/