O potencial para o crescimento do consumo interno e das vendas no varejo no Brasil é brutal e está engessado por questões que envolvem a Confiança do Consumidor no curto prazo e o acesso ao crédito no vetor mais estrutural. Como consequência, diversos setores industriais ligados ao consumo sofrem de inanição há vários anos, o investimento é limitado e o país anda de lado.
Sob o ponto de vista estrutural, existe um espaço enorme para o crescimento econômico apoiado no consumo interno impulsionado pelo crédito as pessoas físicas, especialmente porque os atuais níveis de inadimplência, comprometimento de renda e endividamento das famílias está em patamares baixos em relação ao seu padrão histórico.
No momento atual, apesar do elevado desemprego, temos um crescimento real da massa de salários em relação aos últimos três anos que poderia ser convertido em aumento de consumo e nas vendas do varejo.
Mas o Índice de Confiança do Consumidor teima em oscilar mês a mês ao sabor das notícias e informações contraditórias que misturam ações positivas de recuperação da economia com o mi-mi-mi político-partidário que desanima o mais inveterado otimista. Mesmo quando questões estruturais importantes, como a Reforma da Previdência, Tributária e outras, mostram que caminhamos na direção correta.
A combinação da gradual melhoria do emprego, mesmo que com boa parte informal, com o aumento real da massa salarial e a baixa inflação seria, em tese, fator determinante de um significativo aumento do consumo e das vendas do varejo, não fosse a confiança do consumidor que teima em oscilar em patamares mais baixos em relação ao que tivemos no período 2004-2012, período recente de maior expansão econômica e do consumo.
Em 2009, a carteira total de crédito de pessoas físicas no Brasil foi de R$ 627 bilhões, segundo dados do Banco Central. Dez anos depois, esse número atinge R$ 1.800 bilhões.
E a inadimplência está nos seus patamares mais baixos de sua série histórica.
No segundo semestre de 2013, pico do ciclo de consumo iniciado em 2004, a inadimplência, medida pelo percentual de atrasos acima de 90 dias, oscilava entre 4,8 a 5%. No primeiro semestre deste ano, esse mesmo percentual varia de 3,2 a 3,4%. Ou seja, aumentou muito a carteira de crédito para as famílias, mas nem por isso a inadimplência cresceu de forma a preocupar.
Ao contrário, os instrumentos e o rigor na análise e concessão do crédito ao consumo associados ao amadurecimento do consumidor mantém a inadimplência em patamares muito baixos, sem inspirar qualquer preocupação. Tão importante quanto analisar a inadimplência é observar o endividamento.
Em meados de 2009, o endividamento das famílias, sem contabilizar as dívidas imobiliárias, representava 28,3% da massa salarial dos últimos 12 meses. Pelo mesmo indicador, esse percentual agora é 25,6%.
Se acrescentarmos dívidas imobiliárias, ou seja, o endividamento total das famílias, no mesmo período, o índice variou de 33,9 para 43,7% mas, nesse caso, é importante lembrar que as famílias estão trocando gastos com aluguel por aquisição de imóvel, o que é saudável economicamente.
Para confirmar o potencial adormecido de consumo através do crédito às famílias, é relevante considerarmos também a evolução do nível de comprometimento da renda com dívidas para as famílias. No primeiro semestre de 2009 esse percentual de comprometimento em relação à renda do mês era de 18,5% e agora baixou para 17,7%, ou seja, as famílias têm menor comprometimento de renda com dívidas do que há dez anos atrás.
A oportunidade é ainda maior
Com base de dados do BIS, a GS&Inteligência analisou comparativamente o volume de crédito ao consumo no Brasil e em alguns países tomados como referência.
O quadro abaixo mostra quanto o crédito ao consumo em relação ao PIB desse países evoluiu nos anos recentes destacando, em primeiro lugar, o quão baixo é no Brasil e o fato de que a evolução de 2013 a 2018, período de nossa maior recessão econômica, foi muito baixa, pois variou de 26,2 para 28,2%, em relação ao PIB.
Quando se compara que no Brasil o crédito às famílias representa apenas 28,2% do PIB, enquanto nos Estados Unidos é 76,3%, na França 60,1%, no Reino Unido 87,1%, todos países maduros e avançados mas, no Chile, nosso vizinho da América do Sul o índice é 45,4%. Imaginemos que saltássemos dos atuais 28,2 para 40% do PIB o impacto econômico que isso poderia ter.
Isso mostra o quanto há de oportunidade para crescer a oferta de crédito ao consumo, gerando aumento de vendas no varejo, investimentos na indústria local de consumo e aumento generalizado de emprego, considerando que o comércio é o maior empregador privado do país. Sem falar na arrecadação de impostos que poderia ajudar a minorar os problemas de caixa dos diferentes níveis de governo.
Fonte : mercado e consumo