Tombo feio: varejo cai 7 vezes mais que o previsto em dezembro – o que esperar do 1° tri

Lembra da recuperação em V, que era a aposta para a economia brasileira do ministro Paulo Guedes e de parte do mercado em meados do ano passado? Pois dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última quarta-feira (10), terminaram de frustrar quem ainda tinha essa expectativa.

A disparada da inflação de alimentos, a proximidade do fim do auxílio emergencial e a segunda onda de coronavírus pelo Brasil fizeram as vendas do varejo no último mês de 2020 desabarem 6,1% em relação a novembro, pior queda para meses de dezembro da série histórica, que começa em 2001, e a segunda pior para qualquer mês.

O recuo ficou apenas atrás do registrado em abril, auge da pandemia, e chocou principalmente porque a maior parte do mercado esperava uma queda muito menor, entre 0,5% e 0,8% em média –ou seja, o tombo veio pelo menos sete vezes maior do que o esperado.

“Não tem como dourar a pílula: as vendas no varejo em dezembro foram um total desastre”, afirmou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. “Reparem que os juros baixos por si só não resolvem nada. De nada adianta ter os juros no lugar certo e a economia no lugar errado”.

Queda generalizada

De acordo com os dados do IBGE, todas as atividades do varejo medidas pela Pesquisa Mensal de Comércio fecharam em queda na comparação com o mês anterior. As vendas de outros artigos de uso pessoal e doméstico, por exemplo, caíram 13,8%, enquanto as de tecidos, vestuário e calçados recuaram 13,3%.

Mas o que mais pesou na conta foram as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que respondem por quase metade do resultado total e que caíram 0,3%. A culpa da retração foi principalmente da redução do auxílio emergencial e da inflação dos alimentos, além do repique dos casos de covid-19.

“O segmento de supermercados mostrou redução das vendas devido às maiores pressões inflacionárias em alimentos”, avaliam os analistas Isabela Tavares e Thiago Xavier, da consultoria Tendências. “As vendas de bens duráveis exibiram perda de ritmo e redução dos volumes máximos atingidos até então. Isso aconteceu por causa das preocupações com a proximidade do fim dos programas de crédito, emprego e renda.”

Outro motivo foi a segunda onda da pandemia, que aumentou a desconfiança do consumidor. “São dois fatores mais importantes: a volta da pandemia e a percepção que o auxílio emergencial iria de fato acabar em dezembro”, aponta o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. “As pessoas seguraram o consumo com receio da nova rodada da pandemia, mas sem auxílio para compensar. De qualquer maneira, a queda foi significativa e vai impactar nos números de PIB [Produto Interno Bruto] do quarto trimestre”.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o cenário é reflexo da fragilidade da economia brasileira sem o auxílio emergencial. “O desemprego continua elevado, a renda familiar baixa e o medo muito forte”, resume.

E o primeiro trimestre de 2021?

Sem os estímulos à economia concedidos em 2020 e com o agravamento da pandemia em janeiro, a expectativa é que a economia caia neste primeiro trimestre de 2021, segundo economistas.

“Creio que o varejo seguirá em queda neste trimestre”, afirma Vale, da MB Associados. “A dificuldade é que o mercado de trabalho também segue muito ruim e sem os recursos do governo, como o BEM [Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda], a tendência será de um consumo relativamente retraído ao longo do ano, dado que o processo de vacinação provavelmente seguirá muito lento”.

Para José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, o mais provável é que a queda observada em dezembro não se mantenha. “Os dados do varejo indicam uma desaceleração da economia. É um sinal que isso vai continuar acontecendo? Difícil saber, mas o mais provável é que não. A tendência é que as pessoas transformem parte da poupança acumulada no ano passado em consumo. Por outro lado, há medidas de isolamento social em algumas cidades”, pondera.

De qualquer forma, todo esse cenário aumenta as pressões pela prorrogação do auxílio emergencial e outros programas de estímulo. “A pressão por um novo programa emergencial vai crescer. Só não vê quem não quer que não se trata apenas de piedade, é demanda mesmo”, diz Gonçalves, do Fator.

Fonte : 6minutos.uol.com.br

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