Para acompanhar a explosão na demanda das compras on-line e reagir ao avanço de novos rivais em seu terreno, a gigante americana de entregas expressas investiu em sete novas unidades, expandiu a capacidade de um centro e adicionou mais de 100 mil metros quadrados à sua malha no País.
Acostumada a cumprir diferentes roteiros em todo o mundo com suas encomendas expressas, a FedEx, no fim de 2018, tinha poucas perspectivas quando o que estava em jogo eram a entrega de resultados, a capacidade de enfrentar o avanço de rivais como a Amazon e o destino da sua operação.
Esse contexto pouco otimista se refletia na queda acentuada das ações, cuja cotação chegou ao nível mais baixo em março de 2020. Entretanto, desde então, os papéis da companhia são negociados perto de patamares recorde. O motivo? A chegada da pandemia e a aceleração do e-commerce.
A FedEx renovou seus esforços e recursos para acompanhar o salto expressivo dos cliques. E essa estratégia também teve reflexos em sua operação brasileira que, nos últimos sete meses, foi alvo de um novo pacote de investimentos, com a abertura de sete centros logísticos e a expansão de uma unidade.
“O e-commerce é um plano de longo prazo da empresa no País e no mundo”, afirma Luiz Vasconcelos, vice-presidente de operação e principal executivo da FedEx no Brasil, ao NeoFeed. “Esse crescimento já estava planejado, mas em alguns desses projetos, tivemos que acelerar a implementação. ”
Na trilha da movimentação dos carrinhos virtuais, a FedEx chegou a 27 centros e a uma área total de 310 mil metros quadrados no Brasil. Isso sem levar em conta as 18 operações que a companhia mantém na “casa” de clientes.
A entrega das sete estruturas, que oferecem serviços de fulfillment, seguiu três critérios: a expansão das vendas virtuais de clientes, especialmente em categorias como bens de consumo, calçados, vestuário e tecnologia; a ampliação da carteira atendida nessas regiões; e a localização estratégica.
“São centros próximos a grandes aeroportos, portos e rodovias, além de regiões metropolitanas e clientes relevantes”, diz o executivo. “Temos a possibilidade de avançar muitos estoques e colocar os produtos cada vez mais perto do consumidor final”
Na região Sul, são dois novos projetos. O primeiro, em Itajaí (SC) e, o segundo, em São José dos Pinhais (PR), cidade na região metropolitana de Curitiba. O centro em questão fica próximo aos portos de Antonina e Paranaguá e tem fácil acesso às rodovias BR-116 e BR-376.
Mais duas unidades foram instaladas em Minas Gerais. Uma no município de Extrema, às margens da rodovia Fernão Dias, e outra em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, perto das saídas para o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Ainda na região Sudeste, a FedEx inaugurou um centro em Viana (ES), a poucos minutos da BR-101 e do Porto de Vitória. Já no Nordeste, a expansão veio com uma unidade em Simões Filho (BA), perto do Porto de Aratu e da rodovia BR-324.
Revelado com exclusividade ao NeoFeed, o plano também inclui a ampliação do centro logístico em Queimados (RJ), a pouco mais de 40 quilômetros da capital fluminense, que passou de 7 mil metros quadrados para 12 mil metros quadrados.
O pacote é fechado com a nova unidade em Cajamar (SP), que concentrou um aporte de R$ 30 milhões e que já havia sido divulgada em outubro do ano passado. Com mais de 50 mil metros quadrados e 12 metros de pé direito, esse é o maior centro da FedEx na América Latina e um dos maiores da empresa no mundo.
A FedEx não revela o investimento total nesses projetos. Mas alguns números justificam o aporte. Segundo a Ebit Nielsen, o e-commerce movimentou R$ 38,8 bilhões no Brasil no primeiro semestre do ano passado, um salto de 47% sobre igual período, em 2019, e a maior alta do setor em 20 anos.
Para seguir no ritmo das compras on-line, a FedEx contratou aproximadamente 800 profissionais e está tocando mais projetos. Com foco na última milha e ainda em gestação, uma dessas iniciativas também busca estender os tentáculos da empresa para reduzir as distâncias, os custos e os prazos de entrega.
O plano é testar filiais de menor porte, ainda sem número definido, em regiões mais distantes dos grandes centros. Essas unidades terão entre cinco e dez funcionários, em espaços de 150 a 200 metros quadrados. “Elas não terão back office e serão 100% voltadas a operar cargas”, explica Vasconcelos.
Segundo a Ebit Nielsen, o e-commerce movimentou R$ 38,8 bilhões no Brasil no primeiro semestre do ano passado, um salto de 47% sobre igual período, em 2019
No Brasil, onde a empresa desembarcou em 1989, a estrutura da FedEx inclui ainda cerca de 13 mil funcionários, um Boeing B737-300 e uma frota própria de 3 mil veículos. Com mais de 100 filiais, a operação cobre aproximadamente 5,3 mil municípios.
Os números globais também chamam atenção. Dona de uma receita de US$ 69,2 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de maio de 2020 e com operações em 220 países e 679 aeroportos, a companhia entrega, diariamente, mais de 16 milhões de pacotes em todo o mundo.
Carga pesada
Com os novos investimentos, a operação local busca replicar o desempenho global da FedEx. Desde a primeira semana de março de 2020, as ações da empresa, hoje avaliada em US$ 67,5 bilhões, acumulam uma valorização de cerca de 140%.
Em seu primeiro semestre fiscal encerrado em 30 de novembro, a companhia reportou um salto de 16% na receita, para US$ 39,8 bilhões. A divisão Express, mais centrada no e-commerce, respondeu por boa parte dos ganhos, com uma receita de US$ 20 bilhões no período.
A FedEx passou a dar mais peso ao e-commerce há cerca de dois anos, justamente quando seu futuro passou a ser questionado. Como parte dessa estratégia, em meados de 2019, a empresa encerrou um contrato que tinha com a Amazon nos Estados Unidos.
Entre outras questões, o fim desse laço foi visto como uma resposta aos movimentos da empresa fundada por Jeff Bezos. Ao mesmo tempo em que era um grande cliente, a companhia surgia como uma ameaça aos negócios da FedEx, pois começava a dar tração às suas próprias operações de logística.
Para Mauro Schluter, professor e especialista em logística do Mackenzie, esse mesmo cenário, com o acréscimo de outros grandes atores, ajuda a explicar os investimentos realizados pela FedEx no Brasil.
“É uma reação estratégica, pois os grandes marketplaces do País também estão entrando nessa arena”, afirma. “A FedEx está dando um recado ao mercado. É algo que eles já deveriam ter feito há mais tempo. ”
Em seu primeiro semestre fiscal encerrado em 30 de novembro, a companhia reportou um salto de 16% na receita, para US$ 39,8 bilhões
O anúncio mais recente da concorrência veio da Via Varejo. Em janeiro, a empresa lançou a Envvias, plataforma de serviços de logística voltada aos sellers dos marketplaces da Casas Bahia e do Pontofrio, as duas bandeiras do grupo.
A infraestrutura própria da Via Varejo, que tem 27 centros de distribuição, distribuídos em mais de 1 milhão de metros quadrados, e 500 mini-hubs em suas 1.061 lojas é o ponto de partida dessa oferta, que abrange desde serviços de armazenamento até entregas e logística reversa.
Com operações de fulfillment no Brasil há pouco mais de dois anos, o Mercado Livre também vem reforçando sua capacidade. Em novembro, a empresa adicionou 340 mil metros quadrados à sua malha com a abertura de cinco centros logísticos.
Esse também foi o volume de centros de distribuição inaugurados pela B2W em 2020. Hoje, a empresa tem 21 unidades e uma área total de mais de 800 mil metros quadrados.
Também com foco nos sellers do seu marketplace, o Magazine Luiza, além de uma rede de 21 centros logísticos, tem investido na construção de uma estrutura própria de entregas na última milha, por meio de aquisições, outra frente que vem ganhando relevância entre seus pares.
Questionado sobre esse avanço, Vasconcelos prefere manter a política da “boa vizinhança”. “O fato desses marketplaces terem operações próprias é um caminho natural”, diz. “Mas, em muitos outros momentos, eles vão precisar do nosso apoio e da nossa amplitude para cobrir todo o País. ”
Fonte : neofeed.com.br