Futuro do transporte terá vias inteligentes para carros autônomos.

Imagine a seguinte cena: você chama um carro pelo aplicativo, recebe a mensagem avisando que ele chegou e vai até a porta. Até aí, nada de novo. O automóvel está te esperando – mas é só o carro mesmo, sem nenhum motorista. Ele já sabe seu destino e te leva até lá por ruas em que veículos autônomos circulam em harmonia, o trânsito flui orquestrado por computadores e eventuais erros são rapidamente corrigidos pelo sistema.

O futuro da mobilidade urbana tem essa cara, pelo menos de acordo com os planos de quem está projetando os próximos passos dos veículos autônomos. Pode até ser que uma cidade totalmente digitalizada para os carros ainda seja um sonho distante, mas já estamos dando passos nessa direção, inclusive aqui no Brasil.

Preocupada com o período de transição, quando os automóveis como conhecemos hoje terão de conviver com os autônomos, uma equipe da consultoria de inovação e design Questtonó desenvolveu um projeto para que os diferentes modais dividam o espaço público em harmonia.

“Fala-se muito sobre as cidades do futuro, mas pouco se aborda a questão da transição, que vai demorar décadas”, afirma Barão di Sarno, sócio-fundador da empresa, que foi criada em São Paulo e hoje tem escritórios no Rio de Janeiro e em Nova York (EUA). “Como vão coexistir veículos guiados de formas completamente diferentes? Uns por pessoas, com toda sua imprevisibilidade, e outros com o sistema da máquina, mais previsível e ordenado?”, questiona.

Para solucionar essa mistura, levando em conta ainda os pedestres, os ciclistas, o transporte público e outros modais, Sarno relata que foi preciso pensar em termos de design sistêmico para criar o que a equipe batizou de digital rails (trilhos digitais, em tradução livre). São pistas dedicadas apenas a carros autônomos, nas quais os veículos poderão circular em formação de comboio (ou seja, bem próximos uns dos outros) e sem parar. Como tudo será digitalizado, essas frotas de carros seguirão sempre em velocidades pré-determinadas, em sincronia com os semáforos.

O sistema das digital rails será assunto no Festival Path durante a palestra de Barão. O festival é apresentado pelo TAB em 2019 e ocorre nos dias 1 e 2 de junho em diversos pontos da Avenida Paulista, em São Paulo.

E é justamente a Avenida Paulista, cartão postal da capital, que o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) está usando para estudar o comportamento das digital rails em simulações computacionais.

Em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), pesquisadores estão usando dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e outras informações sobre o trânsito na capital paulista para calcular se o projeto seria viável. Ao que tudo indica, a resposta é sim. Mesmo se apenas 25% dos carros que usam a Paulista fossem autônomos e utilizassem as digital rails, o tempo médio para atravessar a avenida já diminuiria um pouquinho para todo mundo, aponta o IME-USP.

Além da economia de tempo, a ideia é que os carros autônomos sejam menores no futuro e ocupem menos espaço. Com o tráfego automatizado, eles poderiam circular bem próximos uns aos outros, tornando a área de carros ainda menor. “O conceito principal é o carro inserido em um cidade para as pessoas”, explica Sarno. A consequência seria um aumento da área para pedestres, para ciclistas, para parques e outros espaços de convivência. Tudo isso sem um grande investimento na infraestrutura para os carros, já que a mudança seria basicamente toda computadorizada.

No Festival Path, o designer pretende apresentar o projeto das digital rails ao público, além de discutir as cidades inteligentes de maneira mais ampla. “Acima de tudo o projeto vem como uma exemplificação de como podemos trabalhar a questão da mobilidade a partir da ideia de smart cities e digitalização”, explica.

Fundador do instituto A Cidade Precisa de Você, coletivo que se propõe a melhorar o espaço público, Sarno se define como ativista e confessa que escuta muitas críticas de colegas que defendem o fim do uso dos carros. “Eu quase concordo com eles”, diz. “Mas a função que um carro exerce pode ser otimizada, porque em alguns casos ele é importante. Eu acho mais inteligente pensar numa cidade que leve em consideração os vários modais e crie uma solução para que os automóveis não ocupem demasiado a cidade e deixem-na pouco humana.”

Fonte: Tab.uol

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