O primeiro caminhão autônomo comercial da sueca AB Volvo mostra que a marca está agregando serviços para gerar receita a partir de uma tecnologia que está a anos de distância da ampla implantação.
O transporte sem motorista tem sido tido como uma oportunidade de receita transformadora, com o Boston Consulting Group esperando que os veículos de alta tecnologia conectados gerem cerca de 150 bilhões de dólares (R$ 563 bi) em novos lucros para o setor automotivo até 2035.
Mas os bloqueios regulatórios, tecnológicos e de infraestrutura dificultam a implantação de veículos totalmente autônomos em vias públicas, e a jornada está se mostrando longa e cara.
A Volvo, segunda maior fabricante de caminhões do mundo, atrás da Daimler, decidiu agora implantar apenas caminhões sem motorista mas monitorados por humanos para os clientes com o objetivo de realizar trabalhos específicos em rotas limitadas, repetitivas e controladas, muitas vezes em locais fechados.
“Há muitas incertezas e é por isso que acreditamos que o caminho certo para se desenvolver autonomamente é com motoristas comerciais, onde fazemos parcerias com clientes, implementações reais e aprendemos com isso”, disse Sasko Cuklev, diretor de soluções autônomas da Volvo Trucks, em entrevista.
A montadora informou no mês passado que seu primeiro pacote comercial de transporte autônomo envolverá sete caminhões transportando calcário na Noruega, de uma mina para um porto próximo no fim de 2019.
“Estamos nos estágios iniciais quando se trata de implementar soluções autônomas, por isso estamos tentando aprender e estamos abertos a configurações diferentes. Mas, em geral, fala-se cada vez mais sobre os serviços e soluções que estão surgindo “, disse Cuklev.
O acordo com a Broennoey – empresa norueguesa para qual a Volvo prestará serviço – reúne o fornecimento de caminhões autônomos com um motorista virtual, sistema de torre de controle, manutenção, reparo e seguro, com a Volvo pagando por tonelada transportada.
“Vemos a autonomia como um complemento dos negócios atuais, sendo limitada a aplicações específicas dedicadas ao que realmente faz sentido”, disse Cuklev.
Ele ainda disse que a Volvo está visando veículos autônomos para operações de mineração e transporte de base a base em uma rodovia, ou transporte regional em distâncias mais curtas – como entre portos e armazéns – usando seu caminhão sem cabine, o Vera.
O Vera da Volvo e alguns outros veículos comerciais de rivais estão experimentando o uso de sistemas autônomos em vias públicas, muitas vezes limitando a velocidade. Para os testes são escolhidas estradas industriais menos movimentadas e pessoas vão na cabine no caso de a tecnologia falhar.
A TuSimple, uma startup apoiada pela Nvidia (empresa de tecnologia), disse em maio que iria colocar seus caminhões autônomos para transportar correspondências entre as instalações do Serviço Postal dos EUA em Phoenix e Dallas, no sudoeste dos Estados Unidos.
A Einride da Suécia está testando seus caminhões sem cabine para transportar cargas entre um armazém e um terminal em vias públicas na Suécia.
Montadoras se unem em prol da automação
As montadoras BMW e Daimler se uniram neste mês para ampliar os custos do desenvolvimento de tecnologia de condução automatizada, à medida que a cooperação dentro do setor se torna mais difundida. A Volkswagen e a Ford estão em fase final de negociações sobre uma aliança estratégica para desenvolver conjuntamente carros elétricos e autônomos, enquanto a Renault e a Fiat Chrysler Automobiles tentaram e ainda não conseguiram se fundir.
O investimento das montadoras em transporte autônomo ocorre enquanto as vendas tradicionais são prejudicadas pela incerteza econômica causada pela guerra comercial EUA-China, com os analistas preocupados que os ciclos de caminhões possam ter atingido o pico e as margens possam cair.
A Volvo previu uma demanda menor na China e na Europa este ano, e a entrada de pedidos de seus caminhões caiu por dois trimestres consecutivos neste ano.
A Volvo, que produz caminhões das marcas Mack, Renault e UD Trucks, está enfrentando um esforço para cooperar com outras empresas da Geely, que se tornou uma das principais acionistas da Volvo e de sua principal rival, a Daimler, no ano passado.
Cuklev se recusou a comentar o assunto, mas destacou o exemplo da recente parceria da Volvo com a Nvidia para desenvolver inteligência artificial para caminhões autônomos como o tipo de cooperação que a Volvo está interessada.
“Quando se trata de automação, estamos abertos a analisar diferentes parcerias em toda a área autônoma”, disse Cuklev.
Fonte: uol.com