A América do Sul é o mercado regional de comércio eletrônico que mais cresce mundialmente. Com população estimada de 625 milhões de habitantes até 2027, é o lar de uma em cada dez pessoas no mundo.
Só com compras online, esses consumidores devem movimentar mais de US$ 16 bilhões. Os dados são do relatório South America E-Commerce Logistics Market Outlook 2027, da Bonafide Research e se referem ao período 2021-2027. O levantamento aponta que o mercado logístico do e-commerce sul-americano se divide, basicamente, entre Brasil, Argentina e Colômbia. Entre os três, espera-se que o Brasil domine o mercado durante o período de previsão.
Mesmo considerando-se a sombra da recessão que paira em 2023 sobre as economias desenvolvidas, o cenário de expansão do mercado da América do Sul, e do Brasil em particular, detalhado na pesquisa, é uma excelente notícia. Mas há outras variantes internas que precisam ser consideradas para que o horizonte nacional fique mais claro.
Conforme o relatório, o mercado de logística de comércio eletrônico da América do Sul se divide nos serviços de transporte, armazenagem, retorno e gerenciamento de estoque. Entre esses, o segmento de transporte — incluindo o rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo — deverá registrar significativo crescimento, com destaque para o modal rodoviário, que deve acompanhar as taxas de expansão exponencial da América do Sul.
Aqui, surge o primeiro desafio, pela histórica falta de infraestrutura das estradas de boa parte do país, que continua a gerar prejuízos frequentes para as transportadoras. Nesse modal, outra barreira é a alta do preço dos combustíveis, que devem subir ainda mais nos próximos meses.
O investimento em tecnologia, essencial para os operadores logísticos responderem ao dinamismo do e-commerce e à demanda dos consumidores, ainda está em retração por conta da alta dos juros bancários. No curto prazo, esse é o grande obstáculo da logística do e-commerce em 2023 e não há perspectivas de mudança nos dados atuais. Evidentemente, as empresas que decidem se arriscar e encarar financiamentos, mesmo com taxas proibitivas, alcançam patamares mais vantajosos, mas tal ousadia ainda está restrita aos grupos com operações de médio e grande porte.
O brasileiro que compra online quer receber a mercadoria cada vez mais rápido, às vezes em poucas horas. Para responder a tais anseios, os operadores logísticos têm que buscar a otimização de processos. Nesse sentido, tende a se expandir a solução ship from store, modelo de entrega que aciona o entregador mais próximo do consumidor, viabilizando a entrega em até três horas. Da mesma forma, os lockers, armários nos quais o cliente retira sua compra usando QRCode ou senha, viabilizam as entregas em prédios sem portaria e em algumas comunidades. Ambas ferramentas fortalecem a last mile, central no processo logístico, tanto B2B quanto B2C. As duas soluções permitem monitoramento do consumidor via aplicativo, item obrigatório na fidelização da clientela.
Em paralelo, temos a questão da sustentabilidade. Responder às exigências do mercado com uma pegada de carbono cada vez menos impactante é crucial para todos e demanda investimentos em veículos não poluentes, como caminhões elétricos e bicicletas, além da revisão dos processos, oferecendo, sempre que possível, entregas a pé.
Operar em meio a tantas e tão complexas variáveis exige do empresário brasileiro do setor de logística para e-commerce um beta contínuo nos processos, resposta estratégica que deve seguir em alta nos próximos meses.
* Guilherme Juliani é administrador especialista em Negócios e Gestão de Transportes. Atualmente, é CEO do Grupo MOVE3, que reúne empresas como Flash Courier, Moove+, Moove+ Portugal, JallCard, M3Bank, goX Crossborder e Rodoê.
Fonte : https://mundologistica.com.br/artigos/desafios-do-e-commerce-brasileiro-em-2023