O que vai definir o desempenho do varejo em 2024 – Parte 2

A primeira e quase óbvia constatação é que o varejo de valor continuará a ter desempenho superior à média dos setores. Varejo de valor é aquele que reúne formatos, categorias e canais orientados para a proposta de mais por menos.

Seu crescimento será superior à média de outros setores, porém um pouco inferior aos períodos anteriores, quando a crise da pandemia estimulou um crescimento muito mais alto. Mas segue uma tendência histórica de aumento de sua participação no mercado como um todo.

Essa evolução acima da média era um processo que já ocorria em âmbito global, em especial nos países mais desenvolvidos e no Brasil e que envolve formatos e conceitos que atendem um consumidor mais informado, discriminante e racional em seu comportamento de compras.

Seu principal representante no Brasil é o formato atacarejo, conceito derivado dos clubes de compras no mercado internacional que teve o maior e melhor desempenho nos anos recentes. E cresceu tanto que atraiu muito mais marcas, lojas e operadores, a ponto de diluir o crescimento individual das unidades enquanto o crescimento consolidado evoluía.

E talvez já possamos começar a pensar numa segunda ou terceira geração desse formato que incorpora novas categorias e serviços, se afastando do modelo puro original.

Praticamente todas as maiores redes de supermercados acabaram por desenvolver, ou converter unidades, em especial de hipermercados, para ter seu formato de atacarejo. Pela óbvia constatação do desempenho superior de vendas.

No varejo de valor no Brasil, o que não se encontrou similar à altura do que acontece no mercado europeu ou norte-americano é o formato hard ou soft discount, sendo o que mais se aproximou, mas ainda não decolou, foi o Dia.

Cremos que a principal razão está no fato de que a informalidade, em especial nas pequenas operações de vendas de alimentos, cria uma barreira natural à conquista de uma escala que torne a opção mais interessante. E tudo indica que assim permanecerá em especial pelo que deva ser o resultado prático na área tributária da reforma recém aprovada.

Outro formato que tem se reconfigurado nos últimos tempos e mostra relevante poder de crescimento são as alternativas de conveniência ou vizinhança, que têm aumentado participação por conta de um aumento do consumo local, ou seja, tudo que é mais próximo ou consuma menos tempo para ser acessado.

A expansão da Oxxo é um claro exemplo de aproveitamento positivo dessa realidade, tanto quanto as lojas de proximidade do Pão de Açúcar ou do Carrefour.

Mas no consumo e varejo de alimentação pode-se prever a continuidade do crescimento do foodservice, que envolve toda a compra e consumo de alimentos preparados fora do lar. Ele deverá ficar acima da média do varejo de alimentos pelo que consolida da tendência de mudança de hábitos de consumo. Em especial nas cidades de médio e grande porte em todo o País.

Saúde, beleza e bem-estar

Outro segmento que tenderá a ficar acima da média, como tem ocorrido nos últimos anos, mesmo antes da pandemia, é o de saúde, beleza e bem-estar, também por uma combinação virtuosa de fatores que envolve a crescente preocupação dos consumidores com essas categorias e o aumento da oferta de formatos, marcas e operadores.

O aumento da oferta pode gerar no presente e no futuro próximo efeito similar ao do atacarejo, quando o crescimento do número de unidades dilui as vendas entre lojas e canais, mas contribui para o crescimento do todo da categoria.

Modelos de negócio

Tudo indica que os modelos de negócio que envolvem franquias e licenciamento deverão ter um ciclo de ainda maior crescimento pela combinação de grandes redes, que também usarão essas alternativas como modelo de expansão, e fornecedores e marcas, trabalhando no conceito DTC (Direto ao Consumidor), que usarão essa possibilidade para diluir riscos em sua expansão e crescimento.

Ao mesmo tempo, independentes, pequenas e até mesmo médias redes de varejo tenderão à agregação em centrais de negócios, nas suas várias alternativas, novas ou por adesão às já existentes, como forma para sobreviverem ou serem mais competitivas num cenário que será, sem dúvida mais complexo e ainda mais disputado.

E-commerce

Outro destaque na evolução de participação de canais é o e-commerce, pelo que atende na combinação de hiper conveniência com valor, ao permitir comparação direta e atual das condições e preços praticados com a facilidade de receber rápido no local de entrega. E sem considerar que ainda está sendo jogado um jogo decisivo de compra de participação de mercado pelos principais players, que estão investindo pesado para assegurar liderança.

Com isso a operação tem margens menores para os operadores e aumenta o benefício para os consumidores.
Mas precisa ser lembrado que o e-commerce é também um dos principais canais de distribuição do cross border que coloca na casa dos consumidores em todo o Brasil produtos vindos de todo o mundo com o inaceitável benefício da isenção de imposto de importação, concorrendo diretamente com a indústria e o varejo formal do País.

No âmbito do comportamento dos canais, ao lado do forte crescimento e aumento de participação do e-commerce, temos os desafios enfrentados pela venda direta que, de fato, tem sido a mais afetada pelo momento do seu ciclo de vida, no mundo e no Brasil, e o crescimento da concorrência direta do e-commerce.

Nas regiões o Nordeste vai brilhar

A combinação do crescimento dos auxílios diretos à população e mais a sustentação da importante base política do governo na região Nordeste deverá proporcionar um crescimento maior do potencial de consumo e vendas naquela região comparativamente com o restante do país.

Em especial para tudo que signifique o varejo de valor, mas também irradiando para outros segmentos e categorias pela maior expansão econômica que ocorrerá.

O maior crescimento de todo Centro-Oeste e Sul, derivado da contínua expansão do agronegócio, também deverá permanecer, ampliando a participação do potencial de consumo dessas regiões, que se sustenta de forma estrutural e natural pela evolução contínua dos investimentos privados e uso racional de recursos naturais.

Onde mora o perigo

As mais desafiadoras questões envolvem segmentos e categorias formais que devem sofrer com o previsível aumento da informalidade nos setores de alimentação, confecções, material de construção e outros, derivados do que temos previsto como consequência de uma reforma tributária que deverá aumentar a carga de impostos para quem já paga – ainda que facilitando o processo de apuração e pagamento –, mas que não contemplou antes a redução do tamanho e custo do Estado.

Ao contrário

Ao mesmo tempo que será regulamentado o que se propôs na reforma e quando serão definidas alíquotas finais, o Estado cresce e engrandece com aumento de benefícios de curto e médio prazo para os seus e para alguns segmentos escolhidos.

Como consequência será inevitável o aumento da carga para as empresas que já pagam e o nível médio de informalidade tenderá a crescer, afetando indiscriminadamente todos os setores, segmentos, categorias e canais que operam na formalidade.

E é aí que mora o perigo, pois informalidade estimula informalidade pela percepção de desigualdade competitiva.

Fonte: “https://mercadoeconsumo.com.br/25/02/2024/artigos/o-que-vai-definir-o-desempenho-do-varejo-em-2024-parte-2/”

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