Ameaças e oportunidades que podem reforçar vantagens competitivas do varejo

“Os recentes episódios envolvendo “as blusinhas”, ou seja, a regulamentação e a necessária equidade competitiva entre produtos vendidos com benefícios tributários por meio de plataformas internacionais, tornou mais real a diferença do comportamento de consumidores entre o que dizem e o que fazem, de fato.

Da mesma forma que os temas que envolvem o alinhamento com as práticas ESG, cada vez mais demandadas por empresas com maior e melhor nível de governança.

Esses elementos deveriam se refletir no comportamento de consumidores ao optar por produtos, marcas, empresas, mas de fato o “faça o que digo e não faça o que faço” parece predominar, em especial, em momentos de maiores restrições de qualquer natureza.”

O crescimento exponencial das vendas pelas plataformas foi, em boa parte, beneficiado pela demora para a adoção de medidas que regulamentassem, controlassem e tributassem de forma adequada e similar a que as empresas formais atuando no Brasil eram obrigadas a cumprir, sendo um dos mais fortes estímulos para permitir que produtos chegassem ao consumidor final com preços até 70% menores aos encontrados no comércio e varejo local.

Em especial, nas categorias ligadas à moda e ao vestuário, daí a expressão do “episódio das blusinhas”. E que se estendeu para outras categorias, até que, vencendo a inércia e o apelo popular dentro do próprio governo, foram reduzidas, mas não eliminadas, as diferenças tributárias que geravam o benefício dos preços. E ainda sem exigir todas as regulamentações de conformidade impostas às empresas e produtos manufaturados no País.
E consumidores e o próprio governo se aproveitaram da situação, ignorando impactos no emprego, na renda e na economia pelo benefício imediato em preço para os consumidores e em popularidade imediatista para o governo.

Igualmente, ocorre com o tema ESG, em que preocupações com sustentabilidade, governança, melhores práticas e outras abrangidas pela sigla são ignoradas pelos eventuais benefícios mais imediatos que possam existir quando optam por marcas, produtos ou empresas com uma lógica de benefícios aqui e agora.

E tudo fica mais sensível quando o ambiente e a realidade conspiram para criar um sentimento de benefício ou satisfação no curto prazo na realidade dos consumidores.

Como ficou marcante durante as crises geradas pela covid e as que se seguiram causadas pelo aumento da inflação, das taxas de juros, da inadimplência e com reflexos também no emprego.

Da mesma forma como a ilusão criada e alimentada pelo fenômeno das “bets” está impactando a saúde mental de parte da população e o consumo de forma mais abrangente.

No caso brasileiro, tem sido perceptível e até agravado por um menor, mais difuso e cada vez menos presente sentido de cidadania, apesar desses comportamentos terem características mais abrangentes em termos geográficos e quase sempre está correlacionado à maturidade de cada sociedade.

O “levar vantagem sempre”, que já foi descrito como um comportamento inerente ao jeito de ser e agir do brasileiro – e sempre desejado fosse minimizado –, aflora de forma marcante em momentos de pressão, restrição e tensão. Como temos vivido em tempos recentes.

Tudo isso tem menor relação direta com os indicadores macroeconômicos de aumento de renda, redução de desemprego, inadimplência ou diretamente com a confiança do consumidor, pois existe o efeito residual dos problemas vividos e seu impacto no consumo.

Na prática, os filtros de valores e atitudes ficam comprometidos, impulsionando o comportamento da gratificação e de benefícios mais imediatos no cenário atual com a combinação da massiva exponenciação da comunicação P2P (peer to peer) gerado pelas redes sociais e mais o aumento marcante da atuação dos “influencers”.

O envolvimento de alguns deles com atividades ilícitas é apenas um dos indicativos desse risco iminente.

Em muitos desses aspectos, o varejo tem privilegiada condição para medir, testar e avaliar comportamentos em tempo real e poder de redirecionar sua comunicação e relação com os consumidores em busca dos elementos que agreguem valor na percepção de mercado e alinhando com propostas que se sustentem no curto, médio e longo prazo.

E pode fazer de forma isolada ou em combinação com seus fornecedores de marcas, serviços e soluções e, igualmente, com suas marcas próprias.

Mas pode e deve fazer de maneira formal, informal ou de forma mais estruturada para exercitar essa vantagem competitiva fundamental de ter o consumidor no centro de tudo, próximo e em tempo real.

Vale refletir. E agir.

Nota: Nos temas das 12 pesquisas inéditas que serão apresentadas e discutidas no Latam Retail Show, de 17 a 19 de setembro em São Paulo, terão forte ênfase aspectos dedicados às discussões dos impactos das transformações no comportamento do consumidor, no mercado, na geografia, na política, na economia, no consumo, no comércio e no varejo nos diferentes canais, categorias, formatos de lojas e modelos de negócios nos mercados mundiais e no Brasil. O evento também terá transmissão virtual de parte do conteúdo para quem não possa participar presencialmente.

Fonte: “https://mercadoeconsumo.com.br/09/09/2024/artigos/ameacas-e-oportunidades-que-podem-reforcar-vantagens-competitivas-do-varejo/”

 

 

O redesenho do mapa do consumo do Brasil e seu impacto no varejo

A cidade de Extrema no sul de Minas Gerais tinha 15 mil habitantes em 1994. Em 2024 chegou perto de 60 mil com crescimento de quatro vezes em 30 anos. No mesmo período a população do Brasil cresceu 34%.

Extrema é a cidade de Minas mais próxima de São Paulo no eixo da via Fernão Dias, o mais importante corredor ligando os dois estados.

Seu explosivo crescimento se deu pela implantação de centros de distribuição, indústrias e negócios que se beneficiam dos incentivos ficais oferecidos por Minas e abastecem parte de São Paulo, o principal potencial de consumo do Brasil.

Esse é um dos resultados das distorções geradas pelo “manicômio tributário” no Brasil e que impactou o desenho do mapa do país baseado em benefícios fiscais que determinaram movimentos dessa natureza.

Apenas mais uma distorção logística ao lado de tantas outras que ajudaram a desenvolver o “turismo fiscal” no Brasil, ou seja, mercadorias e muitas vezes apenas notas, circulando física ou virtualmente para tirar proveito de incentivos fiscais regionais ou locais.

Mas em boa parte, muitas dessas distorções poderão acabar dependendo da evolução da proposta da reforma tributária em discussão quase final no Senado. Ainda que num prazo relativamente longo de tempo.

Esse é um dos fatores que determinará um redesenho do mapa do Brasil e que terá inegáveis impactos no consumo e no varejo, físico e digital.

Outro elemento importante impactando o redesenho do mapa de consumo no Brasil envolve o crescimento dos programas do governo como Auxílio Brasil e o rebranding do Bolsa Família, que cresceu de 14,2 milhões de beneficiários em 2020 para 20,8 milhões no presente, uma expansão de 46,5%. Isso fez com que diversos estados, como Maranhão, Piauí, Alagoas e Paraíba, entre outros, em especial no Norte e Nordeste, tenham mais pessoas beneficiadas com o programa do que com carteira de trabalho assinada.

O lado positivo é o apoio e a geração de algum consumo de curto prazo e o negativo envolve as distorções que estão gerando no plano econômico e social pelo desestímulo ao trabalho regular e registrado, potencializando o problema previdenciário.

Sem considerar o fato de que a reforma tributária e as necessidades de aumento da receita do Estado ocorrem nesse ambiente que, sem dúvida, carrega muitas distorções que precisariam ser corrigidas.

Vão faltar trabalhadores contribuindo para a previdência para sustentar a aposentadoria de tantos que irão se aposentar por idade e sem contribuírem para o sistema. Uma bomba armada.

Outro elemento fundamental no redesenho do mapa do consumo no Brasil é o marcante crescimento de todo o setor agropecuário, que tem sido o maior emulador da expansão econômica do Brasil, ao lado do setor de serviços e criando novos e mais desenvolvidos polos de potencial de consumo.

Em 30 anos (1994-2024) quase que dobrou o tamanho do setor agropecuário no Brasil que saltou de R$ 1,37 para R$ 2,45 trilhões e tudo indica continuará a puxar o crescimento do PIB, junto com o setor de serviços.

O setor de serviços, que já representa perto de 60%, também deverá manter essa expansão bem acima da média pela reconfiguração da economia inerente à transformação estrutural e de maturidade que o país vive.

Essa reconfiguração setorial também impacta diretamente o desenho do mapa do consumo no Brasil com regiões crescendo em participação e outras perdendo, alterando a realidade presente e futura.

No momento que se impõe reflexões estratégicas e de mais longo prazo para revisar projetos e prioridades torna-se ainda mais importantes essa revisão do mapa do consumo no Brasil e seus impactos no varejo e no comércio e em seus múltiplos canais e modelos de negócio.

O impacto direto no passado seria maior por conta da dependência desses setores das vendas físicas em lojas ou das vendas diretas domiciliares e tudo que envolvia também a logística desse abastecimento. O crescimento da participação das vendas digitais, que continuará a crescer nos próximos anos, reduziu um pouco o impacto direto na venda e avaliações de potencial de consumo, mas continua muito relevante na questão logística e fiscal.

São todos elementos importantes na reconfiguração da realidade atual do país que precisam ser considerados nas revisões estratégicas de atuação presente e futura, gerando oportunidades e ameaças que precisam ser consideradas.

Nota

No Latam Retail Show de 17 a 19 de setembro, no Center Norte em São Paulo, com apoio do IDV, haverá especial ênfase, conteúdo e programação dedicados às discussões dos impactos das transformações no mercado, na geografia, na política, na economia, no consumo e seus impactos no consumo, no comércio e no varejo nos diferentes canais, categorias, formatos de lojas e modelos de negócios nos mercados mundiais e no Brasil. O evento também terá transmissão virtual de parte do conteúdo para quem não possa participar presencialmente. Os ingressos limitados já estão disponíveis pelo site.

Fonte: “O redesenho do mapa do consumo do Brasil e seu impacto no varejo – Mercado&Consumo (mercadoeconsumo.com.br)”

Americanas foca em distintas jornadas visando a experiência do consumidor

Seja no marketplace ou na loja física, a ideia é dar alternativas a um consumidor cada vez mais exigente.

Em tempos em que a tecnologia avança com uma rapidez tremenda, não pegar esse trem e deixar o digital para depois vai contra qualquer movimento de adequação ao mundo moderno. Porém, vale lembrar que o básico ainda precisa ser feito ao pensar no consumidor. E focar apenas no digital, esquecendo o físico, também pode ser um tiro no pé. Por isso a importância da tão falada “omnicanalidade”.

“As jornadas do consumidor não são únicas. Tem o momento em que eu preciso do frete rápido, tem o momento em que eu abro mão do frete pelo preço, algumas vezes a própria categoria, como móveis, por exemplo, agrega outros atributos, como a montagem do produto. É importante identificar os diferentes tipos de jornada e oferecer a mais interessante para aquele consumidor”, garantiu Marco Zolet, diretor de Digital e Marketplace da Americanas, em webcast gravado nos estúdios da Mercado&Consumo.

Roberto Wajnsztok, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, também participou da conversa. Os dois estarão em um dos painéis da 9ª dição do Latam Retail Show,  principal evento de varejo e consumo B2B da América Latina, que deve receber cerca de 10 mil pessoas entre os dias 17 e 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo.

“Eu vejo dois blocos de consumidores hoje. Aqueles que buscam um produto mais imediato, que têm um grau de exigência maior quando falamos de tempo de entrega. Ele acaba encontrando nos marketplaces de grande volume uma resposta muito positiva. Essa é uma proposta de valor. Já as empresas que têm as lojas físicas trabalham com um outro valor, que precisa estar bem latente na comunicação. Pegando o exemplo de Americanas, são 1600 lojas. Todo mundo tem uma Americanas perto da sua casa ou do seu trabalho. Então muitas vezes faz sentido chamar o consumidor para a loja. Por vários motivos”, afirmou Wajnsztok.
Para o consultor, a omnicanalidade entra para ajudar as empresas a estarem prontas para qualquer tipo de consumidor. “Essa visão dos dois canais, o online que pega no físico e o físico que recebe em casa, é uma via de mão dupla. São dois perfis de clientes e duas entregas. Cada empresa, pelo seu perfil, vai escolher o foco do momento”, revelou Wajnsztok.