Varejo pede taxação de AliExpress, Shein e Shopee e ação antipirataria

Entidades do varejo têm pressionado o governo e o Congresso na tentativa de melhorar a competição com e-commerces estrangeiros que passaram a atuar no mercado de vendas online no Brasil. Empresas nacionais vêm se sentindo prejudicadas por sites como Shein, Shopee e AliExpress, alegando que eles não pagam tributos e tampouco respeitam regulamentações de segurança e antipirataria no País.

A estimativa de representantes do setor é que a evasão fiscal por conta desse cenário gire em torno de R$ 14 bilhões anuais. Com o aumento das vendas, a situação vem piorando, dizem as entidades. Questionadas sobre a cobrança de tributos, porém, a AliExpress, a Shopee e a Shein afirmam que atuam conforme as regras e os regulamentos estipulados pela lei brasileira.

De acordo com as varejistas brasileiras, o problema ocorre, principalmente, por causa do atual esquema de tributação na importação de produtos. Compras internacionais entre pessoas físicas são isentas de taxas até o valor de US$ 50. Muitas vezes, vendas em plataformas estrangeiras são consideradas transações deste tipo.

“Nas operações B to C (business to consumer), onde você tem uma pessoa jurídica de um lado, no caso, as plataformas internacionais, e os consumidores brasileiros do outro, não é legal este tipo de operação”, defende Edmundo Lima, porta-voz da Associação Brasileira de Varejo Têxtil (Abvtex).

A situação tem feito com que representantes do setor acusem a participação dessas empresas no mercado como uma espécie de concorrência desleal. Com sites e apps traduzidos para o português e opções de pagamento iguais às das varejistas nacionais, os consumidores têm a mesma facilidade de compra em e-commerces estrangeiros do que nas versões digitais de varejistas nacionais.

Concorrência
“Gera concorrência desleal com os e-commerces situados aqui no Brasil, que estão regulados, que têm estoque e têm de cumprir com a legislação tributária e trabalhista”, diz Mauro Francis, presidente da Associação Brasileira de Lojistas Satélites (Ablos), que reúne os principais varejistas brasileiros.

Além dos problemas tributários, os varejistas alegam que os e-commerces internacionais também não respeitam as normas técnicas para venda de produtos, além de abrirem espaço para a comercialização de produtos falsificados nas plataformas.

“Afeta a concorrência, já que as empresas têm uma preocupação em relação à origem dos produtos, não comercializam produtos falsificados, além de todo o cumprimento da legislação vigente em relação à etiquetagem e à saúde e segurança do consumidor”, explica Edmundo Lima, da Abvtex.

Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, afirma considerar que a situação atual é uma “evolução tecnológica do que a gente tinha antigamente com o camelô”. “Agora, o consumidor consegue comprar diretamente da China. Ficou muito fácil comprar”, diz.

Em relação às normas técnicas para a venda de produtos, a AliExpress diz que monitora “qualquer produto suspeito que possa desrespeitar os direitos intelectuais”. Já a Shopee diz que toma “medidas proativas para impedir que tais produtos sejam listados no marketplace”. Também em nota, a Shein afirma exigir que seus fornecedores “cumpram todos os parâmetros legais”.

Fonte : https://www.contadores.cnt.br/noticias/empresariais/2023/02/27/varejo-pede-taxacao-de-aliexpress-shein-e-shopee-e-acao-antipirataria.html

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Governo Federal descarta assinar MP para taxar compras do exterior adquiridas através da Shein, Shopee e AliExpress

O Governo Federal afirma que não assinará a Medida Provisória para taxar compras feitas por consumidores da Shein, Shopee e AliExpress, aplicativos chineses que disponibilizam produtos mais baratos.

O presidente Jair Bolsonaro anunciou em suas redes sociais no último sábado (21), que o Governo Federal não assinará nenhuma Medida Provisória (MP) para taxar compras do exterior feitas em aplicativos internacionais como Shein, Shopee e AliExpress. A afirmação foi feita dois dias após o ministro da Economia, Paulo Guedes, adotar uma posição contrária do presidente.

Todos os detalhes sobre a decisão do Governo Federal sobre não taxar compras internacionais

De acordo com Bolsonaro, em uma publicação no Twitter e Instagram, não será assinado nenhuma MP para taxar compras em aplicativos como Shein, Shopee e AliExpress, como grande parte da mídia está divulgando e para que irregularidades nestes serviços sejam corrigidas, a saída deve ser a fiscalização e não o aumento de impostos.

Na última quinta-feira (19), Guedes criticou as plataformas em um evento de uma consultoria. De acordo com o ministro, os aplicativos praticam fraude por não pagarem impostos. A regra atual permite a entrada de produtos de até US$ 50, sem nenhuma taxa, desde que a venda seja dada entre pessoas físicas. De acordo com o titular da pasta em um evento da Arko Advice com o Traders Club, o objetivo da MP é que “a regra do jogo” seja pelo menos igual para todo mundo.

Não deve ser permitido lojas que estão, claramente, aplicando fraudes, que entram sem imposto, sem nada e também afirmou que é uma fraude porque o valor do bem é falsificado.

Entenda como funciona o sistema de taxar compras da Shein, Shopee e AliExpress

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Tributário da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), Hamilton Sobreira, remetentes pessoas físicas podem enviar encomendas de até US$ 50 sem a cobrança de taxas para o consumidor final residente no Brasil, como dito anteriormente.

Acima deste valor, é cobrado 60% de tributos de importação. A partir de US$ 500, é acrescentado o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e uma tarifa de despacho aduaneiro. O presidente destaca que manipular dados ao registrar mercadorias mais caras com preço abaixo do limite estabelecido é caracterizado como evasão fiscal tipificada como crime de sonegação.

É importante frisar também, que sites asiáticos como Shein, Shopee e AliExpress são uma alternativa para consumidores que buscam comprar artigos infantis, aparelhos eletrônicos e roupas infantis mais baratas. Para se ter uma noção, um brinquedo com 1 mil peças de blocos de montar, que em uma loja brasileira custa mais de R$ 330 reais, cai para R$ 39 a R$ 126,84 nestas plataformas online.

De onde surgiu a Medida Provisória para taxar compras internacionais?

O comércio por meio da Shein, Shopee e AliExpress tem se tornado cada vez mais popular no Brasil nos últimos anos, numa espécie de “camelódromo digital”. Sendo uma boa alternativa ao aumento de impostos, o governo federal defende a fiscalização das vendas com objetivo de evitar possíveis irregularidades.

O dono da rede de lojas Havan e aliado de longa data do atual presidente, o empresário Luciano Hang, ao lado do presidente da Multilaser, Alexandre Ostrowiecki, costuraram a articulação para o texto da Medida Provisória. Os empresários também se uniram a outros empresários do ramo.

Sendo assim, sob pressão da indústria e do varejo, o intuito seria tornar as regras para importação mais rígidas. Na receita Federal, há uma avaliação de que empresas internacionais estariam vendendo a brasileiros de forma ilegal. Outra fraude possível seria declarar o bem por um valor inferior, abaixo do limite estabelecido.

Fonte : https://neofeed.com.br/blog/home/na-cola-do-mercado-livre-olx-desapega-e-investe-em-cartao-e-logistica/

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Shopee e Shein podem sofrer (e muito) se governo alterar taxação de produtos; entenda

Por pressão do setor das varejistas e e-commerce, está nos planos do governo criar uma MP (Medida Provisória) para alterar o tipo de taxação de produtos vendidos em aplicativos cross-border, ou seja, vindos de outros países. As principais empresas atuantes nesse segmento no Brasil são a Shopee, Shein, AliExpress e Wish. Analistas da XP Investimentos observam o impacto dessa medida.

A MP seria baseada no conceito de tributar qualquer mercadoria comprada nessas plataformas em 60%, independente de seu valor. Hoje, os produtos só são taxados pela Receita Federal se o valor total dos produtos alcançar US$ 50.

“Hoje, a discussão está restrita ao Ministério da Economia, contando com algum apoio interno, apesar de preocupações com o potencial impacto da sua aprovação na imagem do governo”, aponta o relatório. “Caso ela avance, nós vemos as varejistas de moda como as mais beneficiadas.”

A Shein, uma das empresas que trabalham com o modelo de negócios baseado em moda, seria a mais afetada. O ponto forte do e-commerce da Shein é justamente um preço diferente do que se vê no mercado nacional, afetando a competitividade. A Shopee, por outro lado, aceleraria as operações locais, de acordo com a XP.

O time de política da XP lembra que a discussão está em seus estágios iniciais, no Ministério da Economia e a Receita Federal. “Para além do Ministério da Economia, a discussão também precisaria passar pelo corpo técnico do Palácio do Planalto antes de a medida provisória ser efetivamente editada, o que ainda não havia acontecido até esta semana. Não há prazo para essa análise, que acaba tendo seu timing definido principalmente por fatores políticos”, ressaltam os analistas.

Perspectivas sobre a medida

A XP Investimentos aponta que a MP poderia ser popular e impopular ao mesmo tempo, dependendo do ângulo da questão. O dois principais desafios para a implementação da medida:

  • Potencialmente impopular por reduzir um poder de compra já pressionado do consumidor médio brasileiro;
  • Desafios na fiscalização do lado da Receita, uma vez que apenas o Shopee foi responsável por 140 milhões de pedidos no 4º trimestre (cerca de 1,5 milhão ao dia).

“Nosso time de política confirmou que de fato há alguma resistência à medida pelo primeiro ponto, enquanto uma solução para o segundo seria tributar a compra direto no site”, afirmam.

Já o lado oposto mostra que a medida seria popular por dar fôlego aos varejistas e indústrias brasileiras, o que poderia potencializar a geração de renda/emprego no país.

Quem sai ganhando?

O relatório destaca que ainda há desafios para a aprovação da medida pelo potencial de viés negativo, assim como pelas eventuais priorizações do governo em um ano de eleições. Assim, a XP acredita que ela pode ser um gatilho positivo para ações de e-commerce e varejistas de moda.

Dessa forma, a XP mantém cautela com as empresas de e-commerce, enquanto vê uma visão mais construtiva para Lojas Renner (LREN3).

“Existe um impacto positivo mais estrutural para varejistas de moda, uma vez que o modelo de negócio da Shein é essencialmente baseado em importação e seu baixo preço se mantém como um diferencial importante”, diz o texto. Já no caso de Shopee o possível aumento de tributação faria a companhia acelerar a captação de vendedores locais, que já ultrapassam 2 milhões e representam mais de 85% das vendas do marketplace.

Fonte : https://www.suno.com.br/noticias/shopee-shein-mp-aumento-tributacao/

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Shopee está com os dias contados com maior tributação?

Com a expectativa do governo criar uma MP (Medida Provisória) para aumentar a taxação de produtos vendidos em aplicativos cross-border, ou seja, com atividade comercial vinda de outros países — como é o caso da Shopee, Shein, AliExpress e Wish —, a XP divulgou relatório sobre o possível impacto nas ações de varejo.

O possível aumento da tributação é uma demanda das varejistas brasileiras, que pedem maior fiscalização dessas plataformas, para conter sua escalada impulsionada principalmente pela alta competitividade de preço oferecido.

Entretanto, o relatório destaca que a medida pode ter uma receptividade positiva ou negativa, a depender do ângulo analisado.

Medida pode ser impopular em ano de eleições

Segundo o relatório, os principais desafios para a implementação da medida e que a tornam potencialmente impopular são a redução do poder de compra já pressionado do consumidor médio brasileiro e os desafios na fiscalização pelo lado da Receita, visto que apenas o Shopee foi responsável de 140 milhões de pedidos no 4º trimestre (média de 1,5 milhão ao dia).

Varejistas da moda serão as mais beneficiadas

Caso a Medida Provisória avance, os analistas da XP observam as varejistas de moda como as mais beneficiadas.

O impacto positivo é visto como mais estrutural para varejistas de moda, uma vez que o modelo de negócio da Shein é essencialmente baseado em importação enquanto seu baixo preço é um diferencial importante.

O relatório destaca que a XP segue cautelosa com as empresas de e-commerce, com uma visão mais construtiva para a Lojas Renner (LREN3).

Fonte : https://www.moneytimes.com.br/shopee-esta-com-os-dias-contados-com-maior-tributacao/

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Shopee, Shein, AliExpress : governo prepara medida para aumentar preço nestes apps

Ministério da Economia prepara tributação no momento da compra em plataformas.

O governo federal pretende aprovar uma medida provisória para taxar produtos de baixo valor que são vendidos por plataformas internacionais, como Shopee, AliExpress, Wish e Shein, por exemplo.

Segundo a revista Exame, a medida é uma reposta a um pedido de empresários brasileiros liderados por Luciano Hang, dono das Lojas Havan.

As plataformas de marketplace são ambientes onde o consumidor final pode fazer compras sem ser tributado, dentro de um limite estabelecido pelo governo.

A nova tributação mudaria essa atual legislação, que taxa em alíquota única de 60% apenas os produtos que passam dos 50 dólares — o equivalente a cerca de R$ 250.

Nos cálculos feitos pelo Instituto Brasileiro de Gestão e Planejamento Tributário (IBGPT), e divulgado pela revista Exame, esta mesma regra valeria para produtos de qualquer valor.

“Comprar produtos do exterior por aplicativo deve se tornar mais burocrático, caro e demorado, retraindo a relação de consumo do brasileiro”, avaliou Douglas Herrero, sócio-diretor do IBGPT.

Fonte : https://interior.ne10.uol.com.br/noticias/2022/05/15003201-shopee-shein-aliexpress-e-mais-governo-prepara-medida-para-aumentar-preco-nestes-apps.html

Receita cria novos programas de combate ao contrabando

A Receita Federal está intensificando o combate a bens contrabandeados ou que burlam as regras tributárias vigentes. Um programa de rastreabilidade fiscal recém-lançado e uma medida provisória com foco nos “camelódromos virtuais” são parte da estratégia para vencer esses problemas, e foram tema da entrevista do secretário Especial da Receita Federal, Júlio César Gomes, para o Brasil em Pauta, do último domingo (1º) na TV Brasil.

O programa de rastreabilidade fiscal começou neste mês e foi desenvolvido com base em boas práticas já executadas por outros países. “Nós temos uma grande quantidade de produtos e mercadorias que ingressam no país de forma irregular. Sem pagar tributo e sem saber a procedência”, disse o secretário.

Segundo ele, por meio do programa, se conhecerá toda a trajetória de um produto desde a origem até que ele chegue ao consumidor. “Você pode saber se houve o pagamento do tributo, se esse produto não foi desviado, se a procedência é legal, regular”, explicou.

Outra iniciativa é uma medida provisória que deverá tratar sobre plataformas e aplicativos de e-commerce que vendem diversos produtos importados, mas sobre os quais não se sabe a verdadeira procedência. De acordo com o secretário, muitos vendedores se fazem passar por pessoas físicas quando, na verdade, são empresas constituídas para se valer de isenções, o que constitui fraude.

César Gomes chamou esses aplicativos de “camelódromos” virtuais. Segundo ele, hoje o Brasil recebe cerca de 500 mil dessas encomendas por dia. “É uma quantidade muito elevada. A gente precisa interferir nessa dinâmica para proteger nossa indústria nacional, nossas empresas e o emprego no nosso país. A ideia é dar um novo tratamento tributário a esses produtos”.

O secretário da Receita Federal também falou sobre outros programas da Receita com foco no contribuinte.

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Magazine Luiza prepara ‘caravana digital’ para atrair lojistas para marketplace, diz Trajano

CEO do Magazine Luiza vê melhora nas lojas neste trimestre e fala dos ajustes feitos na companhia.

Há um ambiente mais positivo se formando entre investidores estrangeiros, em relação aos ativos brasileiros em bolsa, com sinais mais claros de um momento de virada em termos de entrada de recursos externos, diz Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza. O executivo vem recebendo gestores com maior frequência – parte da agenda de abril está voltada para isso – e diz que, apesar do ambiente macroeconômico difícil, num ano eleitoral, há fatores que pesam favoravelmente.

“Economicamente, ainda é um cenário complexo. Inflação e juros altos, PIB com tendência à estagnação ou levemente negativo. Mas hoje este é um quadro já dado, que já se esperava para este início de ano”, diz. “As medidas que estão sendo tomadas pelo BC estão corretas e hoje a questão fiscal está mais equacionada. Aquelas discussões passadas, muito heterodoxas, baixaram de tom. É uma situação no curto prazo ainda ruim, mas com tendências de melhora.”

Trajano cita ainda a queda no dólar, que está levando as redes a fazerem pedidos de novas compras a preços menores, e o efeito da desaceleração da economia nos EUA. “Está sobrando produto no mundo, com os americanos subindo juros e a demanda parando, e a Rússia, que comprava 5 milhões de IPhones ao ano, parou de receber”.

Duas semanas atrás, após apresentar números abaixo do esperado por analistas no quarto trimestre de 2021, a ação de Magazine fechou o pregão em queda de 8,6% e acumulava recuo de 25% no ano. Relatórios de bancos revisaram o preço-alvo da ação, mas mantiveram recomendação de compra do papel – desde a publicação do balanço, a ação subiu 29% (no ano todo, cresce 2%). O recado que vem sendo dado ao mercado pelo comando do grupo é de que há uma tarefa feita dentro de casa, com congelamento de contratações e repasses de pressões em custos aos preços. E que as vendas em lojas dão sinais de recuperação, com um primeiro trimestre melhor que os três últimos meses de 2021.

“Estamos conseguindo [comprar] mais quantidade de produtos com custos menores em função do dólar em queda”

Em maio, a empresa se prepara para sair numa “caravana digital”, visitando centenas de cidades pelo país na busca por lojistas para sua plataforma on-line – com direito à presença do CEO e de Luiza Trajano, presidente do conselho de administração. A seguir, os trechos da entrevista concedida ontem, na sede do grupo:

Valor: O Sr. acha que há um movimento de inflexão em termos de percepção do Brasil pelos mercados? Porque há essa liquidez de recursos no mundo, mas também há um quadro de incerteza. Como vê o país e o Magazine Luiza inserido nisso?

Frederico Trajano: O que eu tenho sentido mais claramente é um aumento muito grande da demanda de investidores internacionais para conversar conosco. Inclusive, temos recebido vários aqui presencialmente na arena [Arena Magalu, sede da empresa]. São grupos de cinco, dez investidores vindo para o Brasil, com perguntas muito construtivas e visão de longo prazo. Em relação ao Magalu, quando o investidor vem com esse nível, ele vem com interesse em aumentar a posição no país e na companhia. São muitos fundos diferentes, muitos dos quais nunca vieram ao Brasil ou que nunca me visitaram antes. Eu me lembro que em janeiro houve um aumento de fluxo de estrangeiros na bolsa e muitos comentavam ‘ah, tomem cuidado que pode ser temporário’. Só que a quantidade de entradas continua aumentando e a sua qualidade também. Há a crise na Rússia, que antes absorvia muito desse capital, e na América Latina não temos tantos países num bom momento. E o nosso cenário eleitoral está meio já desenhado, de uma maneira que não parece que vai haver grandes surpresas. O investidor com posição fundamentalista de longo prazo está olhando o Brasil esperando pelo momento certo para montar posições grandes. Então eu vejo uma mudança de ‘mood’, e esse capital antecipa o que acontecerá à frente. E a gente tem ouvido isso também de outras empresas. Acho que estamos possivelmente no momento de virada em termos de entrada de recursos externos na bolsa.

Valor: Então, há efeitos positivos ao país nesse cenário global, mesmo num ambiente eleitoral, que sempre afeta o humor dos mercados, e os indicadores ‘macro’ ainda ruins?

Trajano: Vamos separar o cenário macroeconômico do político. Economicamente, é um quadro ainda complexo e difícil. Inflação e juros altos, PIB com tendência à estagnação ou levemente negativo. Mas hoje este é um cenário dado, que a gente já esperava para este início de ano. As medidas que estão sendo tomadas pelo Banco Central estão corretas [alta nos juros] porque não há nada pior que o câncer da inflação. A segunda questão é a fiscal, que me parece mais equacionada. Aquelas discussões do ano passado, muito heterodoxas, baixaram de tom. É uma situação no curto prazo ainda ruim, mas com tendências de melhoria no longo prazo, tanto é que esse fluxo está vindo pra cá. Do ponto de vista político, tudo indica que caminhamos para um dos polos, e acho muito difícil que algo se configure de maneira muito diferente do desenhado agora.

Valor: O Sr acha difícil uma terceira via a essa altura?

Trajano: Eu acho. Eu trabalho com internet há 22 anos, e a gente consegue entender muito bem o padrão das redes, o que viraliza, há uma relação muito simbiótica hoje das redes com a população, e a rede social tende a polarizar. Então acho muito difícil nesse momento, que haja algo vindo do centro. Vejo pouco espaço para uma terceira via, infelizmente. Mas não sou especialista em mercado, e quero frisar bem isso. O que pode atenuar um pouco essa situação é a eleição do Congresso Nacional, com novos nomes aparecendo, e acho que deveríamos fazer esforço de bons e novos nomes para Câmara e Senado.

O que essas plataformas [estrangeiras] estão fazendo é digitalizando a sonegação, o contrabandista e a pirataria”

Valor: A empresa tem um cenário de curto prazo mais difícil, e no longo prazo, o sr. vem reforçando essa questão estratégica, que não mudou após crise. Pode detalhar melhor esses cenários?

Trajano: Eu administro essa empresa com foco no longo prazo, mas a gente tem ciclos, e para chegar no longo prazo tem que passar pelo curto prazo também, pelas volatilidades. Entramos no novo ciclo em 2019, voltado para nos transformamos numa plataforma digital com pontos físicos e calor humano. Com uma estratégia muito baseada no modelo de ecossistema, diversificação de categorias, nível de serviço alto, entrega rápida, novas fontes de receita. E usar o que estamos desenvolvendo para digitalizar o negócio analógico [por meio da plataforma de marketplace]. O foco é ajudar os 6 milhões de varejistas brasileiros a se digitalizarem. Há 6 milhões de varejistas físicos no Brasil e só 160 mil vendendo on-line. Se você pegar o Magalu pós-pandemia, a gente dobrou de tamanho. A gente triplicou o nosso comércio eletrônico e quadruplicou o marketplace. Temos 160 mil “sellers” [vendedores] no marketplace, a grande maioria vem desse mundo analógico e nunca vendeu no digital antes. Saímos da pandemia com números que indicam que a gente está caminhando muito bem do ponto de vista de longo prazo.

Valor: E sobre essa questão de que vocês sentiram mais a desaceleração nas vendas no fim de 2021 e o efeito no curto prazo?

Trajano: A gente esperava um segundo semestre muito mais pujante do que efetivamente aconteceu, mas acho que ninguém esperava inflação e juros tão altos no segundo semestre.

Valor: Mas já havia uma sinalização de que venda desaceleraria e vocês sempre conseguiam antever…

Trajano: A desaceleração foi mais forte do que todo mundo esperava. Você pega o boletim da Focus e vê, ninguém conseguiu antever o cenário de inflação e juros tão altos.

Valor: Olhando 2022 e 2023, o que tem sido feito pela empresa para esse período?

Trajano: Do ponto de vista de curto prazo o que nós fizemos foi um ajuste de dimensionamento da companhia, como por exemplo, em termos de redução de estoque, porque a demanda por bens discricionários caiu [após o terceiro trimestre]. Houve uma queda de mais de 20% em lojas físicas. Em termos de estoque, de área de armazenagem, contratos publicitários, e quadro [de pessoal]. Então entregamos anexos de centros de distribuição, reduzimos ou cortamos contratos de terceiros e redimensionamos o quadro. Nós fechamos a porta da entrada.

Valor: Então congelaram vagas e também demitiram?

Trajano: Fizemos algum ajuste interno e congelamos vagas, porque o “turnover” do varejo é alto. E o problema da demanda está mais em loja, logo, você consegue ajustar basicamente fechando a porta de entrada.

Valor: Quando essas medidas darão resultado?

Trajano: Acho que a partir de março, mas com certeza já no segundo trimestre. Então já estamos agora num nível adequado para a demanda atual, e em termos de estoque também. A gente também já repassou um pouco do aumento de custo das mercadorias [efeito da inflação] para o preço, e passamos a cobrar juros no parcelado, porque praticamente toda venda era sem juros. Então há uma série de medidas aqui de impacto em aumento da margem bruta.

Valor: A empresa tem que tomar medidas para ajustar o negócio à outra realidade agora e, ao mesmo tempo, tem que manter uma estratégia em investimentos, que de certa forma também impacta nos números. Como gerir isso?

Trajano: Como a estratégia da empresa está muito baseada no marketplace, isso são outras linhas do negócio. E ele acaba ajudando no curto prazo também. O que aconteceu com o marketplace é que os investidores estão cobrando das plataformas maior rentabilidade, e todo mundo veio revisando suas condições [dos contratos comerciais com lojistas]. Fizemos isso em fevereiro e o mês foi histórico pra companhia, pois o marketplace passou a vender mais do que as lojas físicas em fevereiro.

Valor: O marketplace continuou sendo maior que as lojas em março e isso é tendência mais gradual daqui para frente?

Trajano: Sim, e não é gradualmente, não. Vai abrir mais [essa diferença]. Mas a loja também está melhor no primeiro trimestre, até pela base de 2021, do que esteve no quarto trimestre e o faturamento do varejo físico vai melhorar no segundo semestre.

Valor: Depois da publicação do balanço do quarto trimestre, os analistas citaram em relatórios alguns desafios do Magalu, como rentabilizar os investimentos, escalar e rentabilizar soluções financeiras e o ambiente mais competitivo com outras plataformas ficando mais robustas, como Americanas. Como o sr. entende essas questões?

Trajano: Eu tenho falado com inúmeros investidores do Brasil e de fora. Acho que eu tenho zero ‘push back’ na nossa estratégia, nenhum questionamento em relação a isso. E todas as questões que eu tenho tido de investidores são referentes ao curto prazo, às lojas físicas, bens discricionários. Até porque, quadruplicamos marketplace, o TPV [transações de pagamento] atingiu R$ 65 bilhões em 2021, são 7 milhões de clientes com cartão de crédito e 5 milhões de contas digitais. Todos os negócios novos estão indo bem tanto em receita como lucro. Então o único “push back” do mercado em relação ao Magalu é o curto prazo.

Valor: O mercado está mais racional, mais focado em rentabilidade, mesmo com competição forte?

Trajano: Desde que assumi como CEO, a gente deu o lucro seis anos e gerou caixa em cinco dos seis anos. O que aconteceu no ano passado foi a desaceleração, e um mercado com os juros mais altos acaba exigindo que as empresas equilibrem melhor crescimento com rentabilidade. E esse é o lugar que a gente gosta de estar. Juros altos exigem que os “players” operem com maior racionalidade, diminui a liquidez daquele que é absolutamente ineficiente e que a acaba conseguindo levantar capital só com narrativa. A gente tinha “player” no Brasil operando com zero de “take rate” (taxa de comissão no marketplaces). Eu cheguei a ouvir declarações que “take rate” é um detalhe. Há um movimento voltado a um melhor equilíbrio entre crescimento e rentabilidade.

Valor: Ao mesmo tempo que há cobrança do mercado por maiores retornos, vemos marketplaces queimando caixa e sendo acusados de operar plataformas com venda de produtos falsificados ou que sonegam impostos. Parece que temos dois “Brasis”?

Trajano: O Brasil é um dos maiores mercados do mundo, então ele naturalmente vai atrair todas as plataformas. Para ter escala, ser rentável e cumprir a legislação tem que ser muito eficiente. Existem plataformas que acabam compensando a sua ineficiência e conseguindo lucros ou receitas de movimentações que são ilegais. Vendem um celular com o preço de capinha. O ponto é que essa evasão fiscal poderia bancar um Bolsa Família de R$ 600 por um período longo. Ou poderia aumentar investimentos em educação e saúde. Mas isso está indo para plataformas que ganham em cima da venda de “sellers”, na maioria, estrangeiros, que estão ganhando e até tirando empregos das empresas brasileiras.

Valor: Mas o sr. acha que o brasileiro já entendeu isso? Parte da população compra esses produtos nessas condições.

Trajano: O cidadão, o consumidor compra o produto mais barato, mas não percebe que tem uma economia pior porque não gera arrecadação de imposto para ele mesmo. Você não tem uma boa saúde, uma boa educação porque está tendo uma evasão fiscal enorme. É fruto de uma vista grossa que nós estamos fazendo. Não podemos ser coniventes com a sonegação porque achamos que pagamos muito imposto. O que essas plataformas estão fazendo é digitalizando a sonegação, elas tão digitalizando o sonegador, estão digitalizando o contrabandista e a pirataria.

Valor: Qual o efeito da guerra no leste europeu na cadeia de suprimentos e da queda do câmbio?

Trajano: Segundo nossas conversas com fornecedores há um cenário de melhora, e eu diria significativa. Há um aumento de juros nos Estados Unidos freando a demanda americana, que antes estava consumindo todos os produtos produzidos no mundo. E alguns fornecedores que tinham um mercado grande na Rússia viram isso cair muito. A Apple chegou a vender 5 milhões de iPhones na Rússia. Sinto que vamos ter uma normalização da cadeia suprimentos após o segundo trimestre. Estamos conseguindo mais quantidade com custos menores em função do dólar em queda. Então, estamos reduzindo estoque para a chegada de novo mais barato. A pressão hoje que há é no aço, na indústria de linha branca.

Valor: O Magalu vai expandir a atuação para outras categorias no marketplace? As aquisições de negócios devem se manter?

Trajano: Vamos focar na integração dos negócios, fizemos 20 aquisições recentemente e estamos mais focados em integrar isso agora. A KaBuM, por exemplo: temos uma perspectiva excepcional pra esse universo “gamer”, e a KaBuM vai entrar em outros segmentos também, e não só a venda de hardware. Nós vamos ter os nossos próprios jogos. Na categoria de mercado [alimentos], estamos trazendo parceiros novos para o marketplaces por meio da VipCommerce. Ela ajuda esses varejos a vender diretamente a seus clientes. Estamos em fase de teste com 10 lojas em Belo Horizonte, São Paulo e Campinas. Há 300 clientes da Vip em 280 cidades e a ideia é que eles entrem em nossa plataforma.

Valor: Então vocês não pretendem comprar uma operação de alimentos grande?

Trajano: A gente acredita que negócios com tíquete baixo, como alimentos, têm que ter entrega local, têm que ser feitos pelo varejo local. Claro que eu não digo que nunca vai ocorrer [uma aquisição maior no segmento alimentar]. Mas o que quero deixar claro é que há esse esforço da empresa em trazer o varejo local para dentro da empresa. Há milhões e milhões de negócios analógicos que não vendem on-line. Para mim, isso vai ser um dos grandes motores de crescimento. Nessa linha, estamos montando um projeto que chamamos de caravana digital.

Valor: O que é a caravana?

Trajano: Nós vamos rodar centenas de cidades a partir de maio e já começamos com o piloto em março. Já fizemos esse mapeamento, que ainda vamos divulgar. Será uma caravana com a presença de minha mãe, junto com nossa equipe e todo o ecossistema de negócios do Magalu. Vamos atrás de novos “sellers” que querem vender no Magalu, no KaBum, na Netshoes, e esse vendedor vai ser avaliado e credenciado e ter acesso a nosso ecossistema. Vamos passar dias nas cidades trabalhando nisso, dentro dessa ideia de digitalizar todas as cidades por onde a gente passa. Eu vou entrar nessa, também estarei nas visitas. Nós acreditamos que nosso forte é o nosso calor humano e ficamos dois anos falando no on-line, mas nós temos isso de gastar sola de sapato e de barriga no balcão.

Fonte : https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/03/31/ha-uma-mudanca-de-humor-favoravel-ao-brasil-diz-trajano.ghtml

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Análise: Shopee sai da Índia, mas isso não torna o Brasil a ‘bola da vez’

Não é difícil imaginar que, após a decisão da Shopee de deixar o mercado indiano, como anunciado hoje pela companhia, o Brasil poderia ser visto como foco central dos investimentos da Sea Limited entre os mercados emergentes. Especialistas hoje correram para analisar este como um dos principais impactos da decisão anunciada.

É fato que a aceleração no Brasil passou a ser citada pelo comando da Sea em teleconferências recentes, e o grupo já deixou claro que quer crescer mais rápido por aqui.

Mas o que é lógico não é necessariamente o caminho adequado em determinado momento, ou tem fundamento considerando o cenário global das empresas — especialmente num negócio complexo como os “megamarketplaces” (plataformas globais de venda de itens de terceiros).

A Sea Limited passa por uma fase de maiores pressões do mercado, que busca sinais de mais racionalidade no negócio. E investir numa operação on-line no Brasil agora (e terá que ser por um bom tempo) é queimar dinheiro, como já ocorreu em outros negócios por aqui (não custa lembrar que Amazon e Aliexpress, há bem mais tempo no Brasil, não seriam lucrativas até hoje).

Analistas estrangeiros da Sea e investidores vêm levantando a questão do aumento da queima de caixa no grupo e o risco para resultados mais fracos na operação de “games” da Sea (a Garena é a operação da empresa nessa área, dona do “Free Fire”). O alerta começou a tocar neste mês, depois que o cofundador e CEO da Sea, Forrest Li, citou “ventos contrários” em seus negócios de jogos, e necessidade de equilibrar os números com a operação da Shopee e da SeaMoney (divisão de serviços financeiros).

Desde o início de março, quando a empresa publicou seus números do quarto trimestre, e após a sinalização do CEO, a ação da empresa caiu 21% — é um terço da queda acumulada desde outubro (em seis meses, o recuo é de 62%).

Em recente relatório, a equipe do Goldman Sachs chegou a chamar atenção para essa fase mais dura na Sea, e o impacto na Shopee no Brasil. Dizem que o capital ficando mais caro no mundo e a reação dos papéis na bolsa americana Nyse podem levar a gestão a ter que mostrar maior disciplina na alocação de capital. E aí, em relação a Brasil, há algumas formas de se ver esse posicionamento.

A perda da Shopee no Brasil por pedido (em termos de resultado antes de juros, impostos, amortização e depreciação) está na faixa de R$ 10 (e no mundo a média é de R$ 2,25), então gastar mais por aqui implica em aumento de despesas, margens comprimidas e desembolsos maiores — apesar de isso se traduzir em ganho de mercado. “A maioria olha Shopee como se fosse um negócio isolado, mas ele sempre foi sustentado pelo Free Fire, só que o negócio de ‘game’ foi banido em algumas regiões e a concorrência apertou em outros mercados. A vida deles ficou mais difícil”, diz um competidor direto da Shopee no país, dias depois da teleconferência do quarto trimestre.

É fato que a Shopee já reviu condições comerciais junto a seus lojistas no país, aumentando as taxas de comissão no ano passado (era de um dígito em 2020, mas já está num patamar dentro da média de mercado, na faixa de 18% por venda), num sinal de que os gastos precisam ser melhor divididos com seus parceiros.

Ainda entra nessa conta a série de reações organizadas, de concorrentes, contra marketplaces estrangeiros no país. Esse cerco vem crescendo e há executivos do setor que acreditam em maiores ações de fiscalização de governos estaduais e municipais às plataformas internacionais.

O Valor noticiou na semana passada que pode ser elaborada uma medida provisória que deve endurecer a legislação tributária no on-line, após empresários brasileiros terem reforçado críticas à certos marketplaces junto à ministérios e autarquias, em relação à importação de itens falsificados ou sem devido pagamento de impostos.

Isso, naturalmente, gera ruído maior para as marcas, e tem que entrar no desenho do plano de expansão dos marketplaces estrangeiros, no mínimo, como aspecto concorrencial. É sabido que mercados fechados ou de legislações menos abertas às plataformas não são preferência dessas empresas — mesmo que sejam países com milhões de consumidores ávidos por produtos que custam alguns dólares.

Apesar desse ambiente com novas tensões, grande parte dos analistas setoriais no Brasil não espera que a Shopee vá acenar com menor vigor por aqui — talvez adote uma estratégia mais racional por determinado período. As projeções animadoras de analistas de expansão da Shopee no país acabam sustentando a lógica de alguns consultores que esperam que a Sea volte boa parte de seu arsenal de investimentos para cá, mesmo com mercado mais atento aos números do grupo.

 

Fonte : https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/03/28/analise-shopee-sai-da-india-mas-isso-nao-torna-o-brasil-a-bola-da-vez.ghtml

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