Executivos da BASF, Suzano e Viveo discutem as lacunas na infraestrutura logística e o papel transformador da digitalização em evento da nstech.
A logística no Brasil enfrenta desafios significativos, refletidos no aumento expressivo dos custos logísticos nos últimos anos. Dados recentes mostram um crescimento de 50% nos custos logísticos na última década, impulsionado principalmente pelo transporte rodoviário e pela armazenagem.
Para compreender as transformações do setor, a nstech realizou o evento “Panorama da logística brasileira segundo os principais executivos do setor”, que reuniu diretores de Supply Chain da BASF, Suzano e Viveo, além do CEO da nstech.
Um dos pontos centrais discutidos foi a crônica falta de investimentos em infraestrutura no Brasil. Atualmente, o país investe cerca de 0,33% do PIB em infraestrutura logística, muito abaixo do ideal de 2%. Esse déficit reflete-se na dependência excessiva do transporte rodoviário, que movimenta mais de 60% da carga geral, mas consome 85% das despesas logísticas.
A discussão também abordou a importância da tecnologia como um fator de diferenciação competitiva. Apesar dos avanços, ainda há grandes desafios na digitalização das operações logísticas, como a baixa qualidade dos dados e a falta de visibilidade nas cadeias de suprimentos.
Outro tema relevante foi a segurança no transporte rodoviário, que continua sendo um desafio crítico, com altos índices de roubos e sinistros. Além disso, a questão da sustentabilidade foi destacada como uma prioridade emergente, com empresas buscando não apenas a conformidade com legislações ambientais, mas também a aplicação prática de princípios ESG em suas operações.
Durante um painel sobre desafios e oportunidades na logística, O CEO da nstech, Vasco Oliveira, abordou o tema da digitalização como um caminho essencial para superar as deficiências na infraestrutura do Brasil. “Não dá para ficar muito esperançoso de que essa melhoria de produtividade virá da infraestrutura”, afirmou Vasco, ressaltando que as empresas precisam focar no que está mais ao seu alcance: pessoas, processos e tecnologia.
Ele destacou que, embora a tecnologia seja uma peça-chave, ela não resolve os problemas sozinha. Para Vasco, a digitalização e a criação de uma rede de colaboração, tanto dentro quanto fora das empresas, são fundamentais para aumentar a produtividade. Ele apontou que um dos maiores desafios enfrentados pelas operações logísticas hoje é a baixa produtividade dos ativos, e que isso só pode ser resolvido com uma abordagem colaborativa que envolva todos os atores da cadeia logística — do embarcador ao transportador, até quem recebe a carga.
“Visibilidade é fundamental”, acrescentou Vasco, destacando que é o ponto de partida para uma boa gestão. Sem ela, as empresas terão dificuldades em avançar e otimizar suas operações.
INFRAESTRUTURA E TECNOLOGIA
Quanto questionado sobre a infraestrutura brasileira, Eduardo Botelho, da Suzano, destacou as disparidades regionais que impactam diretamente os custos operacionais.
“Nós que exportamos e movimentamos volumes dentro do Brasil em grande escala sempre pensamos: deveria haver uma ferrovia mais eficiente, uma condição de transporte mais adequada”, afirmou. Ele mencionou as iniciativas privadas que têm tomado a dianteira em certos investimentos, citando como exemplo os aportes realizados no Porto do Itaqui, no Maranhão.
As diferenças regionais também foram apontadas como um desafio significativo. “As condições variam muito entre as regiões do Brasil, o que impacta diretamente nos custos logísticos”, explicou. Ele mencionou a região Norte como exemplo, onde a seca dos rios tem dificultado o transporte fluvial, aumentando os custos operacionais.
Para enfrentar esses desafios, a tecnologia foi apontada como uma aliada fundamental. “A tecnologia faz uma diferença impressionante, especialmente no planejamento de curto prazo. Ela nos permite conectar diferentes elos da cadeia logística, ajudando a tomar decisões mais ágeis e eficientes”, disse Botelho.
Fernando Lobo, da BASF, complementou ao enfatizar a importância de uma abordagem integrada e estratégica para superar os desafios logísticos. “Nós vemos que a tecnologia pode ser um grande diferencial, principalmente quando se trata de conectividade e agilidade nas operações. A possibilidade de integrar diferentes partes da cadeia logística permite que as decisões sejam mais rápidas e eficientes, especialmente em situações de curto prazo.”
Segundo Fernando, estar atento aos investimentos públicos e privados que estão em andamento é crucial para manter a competitividade e eficiência das operações logísticas. “A preparação para essas mudanças é essencial”, disse ele, sublinhando a relevância de uma estratégia integrada para adaptar-se às variações de mercado e condições regionais.
Fernando também destacou o papel da tecnologia no planejamento de curto prazo. “A tecnologia nos permite conectar diferentes elos da cadeia logística, ajudando a tomar decisões mais ágeis e eficientes”, afirmou.
NÍVEL DE SERVIÇO NO MERCADO DE SAÚDE
Durante um debate sobre os desafios logísticos no Brasil, Villeon Jacinto, da Viveo, destacou as peculiaridades do mercado de saúde, enfatizando a necessidade de um nível de serviço extremamente elevado, onde qualquer atraso pode ter consequências graves para os pacientes. “O nosso cliente é o paciente, e se você atrasa, ele não só fica insatisfeito, ele pode morrer”, afirmou Villeon, sublinhando a importância crítica da eficiência nas operações de distribuição de produtos médicos.
Villeon mencionou que a Viveo enfrenta o desafio de manter um alto nível de serviço, mesmo operando com margens de lucro estreitas. “Não podemos falhar de jeito nenhum no nosso serviço”, reforçou. Para enfrentar esses desafios, a Viveo recentemente inaugurou uma operação em Cajamar, um dos maiores centros de distribuição de medicamentos da América Latina, que permitirá à empresa atender quase toda a região Sudeste em 24 horas.
Ele também destacou a importância da visibilidade nas operações logísticas como um fator crucial para o sucesso. “O que eu vejo é que, muitas vezes, algumas empresas tomam decisões sem ter plena visibilidade dos números”, explicou Villeon, ressaltou. Ele enfatizou que as empresas precisam investir em visibilidade para garantir que suas decisões sejam baseadas em dados concretos e precisos.