Consumo nas favelas: um termômetro da nossa economia

Estudo retrata a predominância feminina e digital nas compras, valorização da beleza e outros fatores que revelam um consumo de mais R$ 167 bi nas favelas brasileiras.

Com mais de 6 mil comunidades distribuídas pelo país, um número superior a 12 milhões de habitantes e 4 milhões de famílias, as favelas são uma espécie de termômetro da nossa economia e representam um importante canal para o fortalecimento do ambiente de negócios no Brasil.

Para termos uma ideia mais clara desse potencial, a nova edição do levantamento “Persona Favela I Dia da Favela 2023”, desenvolvido pelo NÓS – Pesquisas indicou, por exemplo, que a renda média das famílias das comunidades periféricas do país alcança R$ 3,036,23; gerando um potencial de consumo que supera R$ 167 bilhões ao ano e com a maioria dos consumidores pertencentes a classe C.

Outro dado interessante desse estudo revela uma leve predominância de mulheres consumidoras nas favelas (51%). A predominância etária do público, por sua vez, foi a faixa etária de 25 a 49 anos (30%).

Além disso, há uma ampla diversidade de produtos consumidos dentro dessas comunidades: dos produtos de cuidados pessoais e higiene – que movimentaram mais de R$ 465 milhões em 2023 considerando as maiores comunidades do país – ao consumo digital de aplicativos, streaming e serviços financeiros; há diferentes indicadores que demonstram o quanto a população das favelas é um termômetro relevante para as tendências econômicas do país.

“Com potencial de consumo de mais R$ 167 bi, favelas brasileiras movimentam diversos segmentos da economia brasileira”

“Quando consideramos os fatos coletados na pesquisa, não é difícil afirmar que a favela tem poder de compra e uma ampla capacidade de movimentar o mercado. A favela gera renda, negócios, consumo e é onde empresas, marcas e anunciantes atentos a todo esse potencial econômico devem estar”, explica Emilia Rabello, fundadora e CEO da holding NÓS, o Novo Outdoor Social.

Para mapear o cenário de consumo das favelas, o NÓS – Pesquisas entrevistou e coletou dados das maiores comunidades periféricas do país espalhadas pelos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais, além do Distrito Federal.

A beleza nas favelas e o consumo
Dentre os indicadores de destaque mapeados pelo NÓS, a pesquisa revelou, por exemplo, que a percepção de beleza nas comunidades brasileiras vem mudando ao longo dos últimos anos e isso gera reflexos importantes sobre o consumo de produtos de beleza, moda e higiene nas comunidades periféricas.

Segundo o levantamento, 7 em cada 10 moradores das maiores favelas do país afirmam essa mudança de perspectiva, especialmente entre mulheres (74%) e pretos/pardos (72%). Dentro desse contexto, 66% declaram comprar/usar produtos de acordo com as características físicas (tipo de pele e de cabelo).

Entre os homens, chama a atenção a busca por profissionais de beleza, feita por 79% do público masculino das favelas. De modo geral, a busca por um especialista em serviços de beleza é feita por 7 a cada 10 moradores de comunidades, especialmente aqueles que atuam nas próprias favelas (91%), sendo o principal fator de escolha a confiança no atendimento do profissional (82%).

Em termos quantitativos, além do consumo de produtos de higiene e cuidados pessoais que superou R$ 465 milhões nas maiores favelas do país em 2023, merece destaque também a compra de itens de moda, como calçados (R$ 80,4 milhões). Vale ressaltar ainda que os produtos de beleza geram oportunidade para a revenda de grandes marcas, já que 4 em cada 10 moradores, compram seus produtos com maior frequência com revendedoras/consultoras.

“A beleza, a moda e o autocuidado são elementos que desempenham um papel significativo na vida dos moradores de favelas. Muitas vezes, os moradores assumem um discurso que, cada vez mais, se alinha a uma visão mais inclusiva, que valoriza a diversidade e celebra a individualidade de todas as pessoas, independentemente de sua origem ou contexto de vida”, comenta Emilia Rabello.

Streamings, apps e compras online no radar das comunidades

A inserção digital e a democratização do uso de aplicativos definitivamente, alcança as favelas brasileiras e vai muito além das compras por delivery: 98% dos entrevistados afirmaram ter uma média de 60 aplicativos baixados no celular, com destaque para as redes sociais (82%), aplicativos de bancos (79%), de lojas/compras online (46%), streaming de filmes e séries (43%) e apps de entrega (36% no geral).

Ao todo, vale o destaque dos apps que geram movimentação financeira nas comunidades: além dos aplicativos de compras/lojas, bancos, streamings, deliverys; transportes (24%), streaming de música (20%), apostas (13%) e cursos/apps de educação (12%) são canais muito eficiente e uma verdadeira oportunidade para as marcas, empresas, produtos e serviços se aproximarem desses consumidores.

“Quando consideramos o fato que 59% dos consumidores nas favelas afirmam ter o hábito de fazer compras online de itens que vão dos acessórios e roupas (59%), aos eletrônicos como fones de ouvidos, celulares e computadores (33%), é possível perceber o quanto o público das comunidades tem interesse em explorar as dinâmicas da economia digital. Assim, é importante que as marcas estudem suas necessidades de consumo e invistam em um discurso que chegue aos moradores desses locais”, diz Emilia Rabello.

Dos transportes a alimentação fora do lar
Há mais dados do NÓS – Pesquisas que revelam insights interessantes sobre os hábitos de lazer, viagens e dos meios utilizados para o transporte nas comunidades: 47% dos residentes nas favelas possuem algum transporte próprio, 38% viajam ao menos uma vez por ano e a maioria consome e curte as grandes festas do país, como o carnaval (54%).

Em relação ao transporte, os homens são os que mais investem na compra de veículos próprios (63%) e os que mais viajam (44%), sendo que, de modo geral, o índice de uso de veículos próprios e de ônibus fretados são as escolhas principais quando o assunto são viagens (37% em ambos os casos).

Nesse sentido, é válido ainda ressaltar também que o consumo de alimentos fora do lar gerou um potencial de consumo superior a R$ 438,3 milhões em 2023, chamando a atenção as compras por delivery (30% dos consumidores pedem comida por aplicativos de entrega ao menos uma vez por semana; 54% uma vez por mês e 66% dos jovens entre 18 e 24 anos possuem apps de delivery em seus celulares).

Enquanto isso, os investimentos em alimentação nos domicílios superaram R$ 1,2 bilhões e tem como predominância a aquisição de produtos em mercadinhos/mercearias e supermercados nas comunidades (52%), já que a praticidade, ser perto de casa (81%) é o principal fator de escolha na hora de fazer as compras para a casa. Não por acaso, o empreendedorismo é uma tendência importante nas favelas, com mais de 260 mil comércios mapeados com CNPJ.

Outros hábitos de consumo nas favelas
Tendências que geraram um potencial de consumo expressivo em 2023:

• Habitação – 3,1 bilhões;

• Mobiliário, artigos para o lar e materiais de construção – 518,8 milhões;

• Gastos com saúde – 320,8 milhões

• Matrículas e mensalidades – 294,4 milhões;

• Bebidas – 163,9 milhões;

• Equipamentos e eletrodomésticos – R$ 142,3 milhões.

Inclusão e diversidade como potencial econômico
Como é possível observar, há diversos caminhos pelos quais as marcas podem atrair a atenção dos consumidores das favelas, seja por meio de estratégias para suprir as demandas de estoque e produção dos pequenos empreendedores e prestadores de serviços que atuam e vivem nas comunidades; seja no desenho de campanhas direcionadas que levem em consideração os anseios, hábitos e expectativas de consumo nas favelas.

Ignorar essa força econômica, além de representar uma falha na leitura da diversidade cultural brasileira, impede que as empresas tenham, de fato, uma atuação condizente ao discurso de inclusão que avança no mercado por meio, por exemplo, das pautas ESG e de uma atenção cada vez maior dos consumidores (no âmbito geral, e não só nas favelas) sobre o posicionamento das marcas com as quais se relacionam.

“O potencial de consumo dos moradores de favela é um lembrete do impacto positivo que a inclusão e a diversidade podem ter nos ecossistemas locais e globais. É fundamental que continuemos a apoiar e celebrar a criatividade e a resiliência dessas comunidades, ao mesmo tempo em que reconhecemos seu importante papel na construção de um mundo mais igualitário, plural, vibrante e economicamente muito ativo”, conclui a fundadora e CEO do NÓS holding, Emilia Rabello.
‘https://consumidormoderno.com.br/2023/11/07/favelas-consumo-nos/?utm_campaign=cm_news_071123&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

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Iniciativa conecta moradores e profissionais das favelas com grandes empresas

O potencial de consumo das favelas passa de R$ 200 bilhões anualmente. Paraisópolis, sozinha, movimenta uma economia de R$ 705 milhões.

Ignoradas por grande parte da população de classe média, as favelas fazem parte das metrópoles há décadas. Marginalizadas e sem investimento em infraestrutura, as periferias abrigam grande parte da classe trabalhadora dos setores básicos, seja do comércio ou da indústria, mas continuam segregadas do resto das cidades.

Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, fica localizada ao lado de um dos bairros mais chiques da cidade – quem nunca viu a famosa foto do prédio com piscinas em todas as varandas ao lado das casinhas humildes amontoadas umas sobre as outras? Apesar de (ou extamente por) ser a mais famosa da capital paulista, ela sofre dos mesmos problemas – principalmente o preconceito de diversas empresas em relação aos moradores.

Com o intuito de realizar essa aproximação entre comunicadores e empregadores com profissionais e moradores, Joildo Santos idealizou o Grupo Cria, conglomerado focado em comunicação, inovação, publicidade e tecnologia, especialmente para as periferias e favelas do Brasil. A empresa tem crescido vertiginosamente e atua em mais de 350 favelas e comunidades.

“Percebemos a necessidade de levar expertise e vivência de Paraisópolis para outras favelas, e além do jornal, começamos a trabalhar com outras frentes de comunicação. Com o crescimento de demandas nos diferentes segmentos, percebemos a oportunidade de separar por negócios e criamos o Grupo Cria”, explica Joildo.

Segundo o CEO, a necessidade de fundar o Grupo Cria começou a sentir sentida para visibilizar a rica produção cultural, esportiva e empreendedora que ocorre nas favelas. “O Grupo surgiu a partir do Jornal Espaço do Povo, e ampliamos sua atuação para além do jornalismo, buscando democratizar a comunicação, inovação e tecnologia nas comunidades”, acrescenta. “Investir em Paraisópolis, em particular, provavelmente se deve ao desejo de causar um impacto positivo numa das favelas mais populosas de São Paulo, com grande potencial criativo e empreendedor”, destaca Joildo Santos.

Impactos do Grupo Cria na economia das favelas
Essa iniciativa não serve apenas para trazer inovação para dentro das comunidades, mas acaba afetando outros pontos de forma indireta. “O foco primário do Grupo Cria não é a redução de criminalidade, mas empoderar as comunidades por meio de informação, capacitação e oportunidades econômicas. Isso, de forma indireta, pode ter sim um efeito, um impacto positivo na diminuição da violência”, comenta.

Expor as experiências dos moradores e trazer essa integração entre cidade e favela é uma das mudanças que mais fazem diferença no dia a dia da comunidade. “A visibilidade oferecida pelo grupo ajuda a romper estigmas e abre novas oportunidades para os moradores, sejam elas em forma de emprego, educação ou desenvolvimento de habilidades”, fala.

As informações compartilhadas pelo Grupo Cria focam em mostrar uma perspectiva que normalmente não é vista nos veículos tradicionais de mídia, conta Joildo Santos. Até agora, 13 empresas já se tornaram parceiras do Grupo Cria, além de 20 profissionais fixos, que atendem marcas como Avon, Google, Amazon, Casas Bahia, Bradesco, TecBan, Club Social, Lojas Estrelas. As empresas realizam ativações e campanhas dentro das favelas – um enorme mercado consumidor e muitas vezes negligenciado.

“A favela é potencial, é terreno fértil para alcançarmos voos maiores e não rasantes. Somos a personificação da inovação e do empoderamento nas favelas e periferias”, conta o CEO. Ele explica que o impacto social é mensurado por meio da participação em ações educacionais e divulgações de qualificação, empoderamento e diversidade. “Toda nossa atuação é pensada para minimizar o impacto ambiental, amplificar a economia local e ser transparente em nossa forma de fazer comunicação”, completa.

Para quem acha que a economia das favelas não fazem diferença no panorama geral do país, está totalmente errado. Comunidades no Brasil movimentam algo em torno de R$ 200 bilhões anualmente, movidas pelos mais de 19 milhões de moradores. As 13 maiores favelas do Brasil têm um potencial de consumo que chega a R$ 7,9 bilhões, de acordo com estudo da Outdoor Social. Só a Comunidade de Paraisópolis movimenta R$ 705 milhões anualmente, pelos cerca de 100 mil habitantes que vivem ali.
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