Mercado Livre: por que é uma das queridinhas do e-commerce e como pode crescer mais?

Itaú BBA vê alavancas claras para continuar crescendo próximo do consenso de 20% no Brasil, mas possivelmente que exigem uma penetração maior em categorias mais desafiadoras.

O Mercado Livre (BDR: MELI34), cuja ação é negociada na Nasdaq, tem sempre aparecido como uma das queridinhas do setor de e-commerce, mesmo em cenários difíceis para o varejo como ambiente de juros altos.

Com base nisso, o Itaú BBA destrinchou em relatório a operação de e-commerce no Brasil, que é o principal impulsionador por trás dos resultados recentes melhores do que o esperado. O banco também manteve recomendação de “compra” para a ação e ajustou o preço-alvo para o final de 2025 para US$ 2.650/ação, o que implica em potencial valorização de 30% em relação ao recente fechamento.

O banco vê alavancas claras para continuar crescendo próximo do consenso de 20% no Brasil, mas possivelmente que exigem uma penetração maior em categorias mais desafiadoras em relação à competição e lucratividade, ao mesmo tempo que mantém a participação em outras.

primeira delas é a alavanca do varejo alimentar, com grande mercado endereçável, baixa penetração online e participação subdimensionada. Sem uma penetração online maior no varejo alimentar (atualmente estável em 1%), a respectiva estimativa para 2030 seria 15% menor, destacando a necessidade de o Mercado Livre impulsionar estrategicamente o crescimento neste segmento para manter o atual momento de crescimento. “Estimamos que o varejo alimentar tenha representado apenas 1% do valor bruto de mercadorias (GMV) da empresa em 2023, valor menor que nossa estimativa de participação de 40% do MELI no Brasil”

Como o maior setor de varejo, o varejo alimentar fatura US$ 200 bilhões em vendas anuais, embora apenas uma pequena fração (1%) seja online. Apesar do enorme potencial de crescimento, a natureza de menor valor agregado dos produtos impõe desafios de lucratividade, avalia a equipe de análise.

A alavanca número 2 é o vestuário, com grande mercado endereçável, participação maior, mas baixa penetração online. O vestuário representa 12% da estimativa de crescimento do mercado online brasileiro de 2023 a 2030. Esse segmento responde por 8% (cerca de US$ 50 bilhões) das vendas no varejo do Brasil, com apenas 17% online em 2023, ficando atrás dos patamares nos EUA (39%), China (37%) e Reino Unido (36%).

Diferentemente do varejo alimentar, que tem pequena participação nas vendas do MELI, estima que o segmento de vestuário tenha representado 15% do GMV do Brasil em 2023, o que é uma vantagem significativa, já que a escala é fundamental para lidar com desafios específicos da categoria, como logística reversa, gestão de múltiplos SKUs, experiência do usuário (UX) e crescente concorrência de players asiáticos.

Em terceiro lugar, está a alavanca de eletrônicos e eletrodomésticos; grande mercado endereçável, alta penetração, mas participação subdimensionada. De acordo com o BBA estimativas, o MELI ainda detém uma participação entre 10 e 15 pontos porcentuais (pp) menor em eletrônicos e eletrodomésticos em comparação com sua participação estimada geral de 40% no Brasil, mesmo após ter avançado significativamente contra os concorrentes locais.

“Esses segmentos continuam sendo uma oportunidade, já que o MELI continua a investir em logística, ofertas de crédito e 1P (canal de venda direta) como ferramentas para sustentar o crescimento futuro”, avalia.

A expectativa da taxa de crescimento anual composta (CAGR) de GMV de 20% é viável, mas não é fácil, apontam, com novas alavancas em destaque.

“Para atingir nossa estimativa de CAGR de GMV de 16% entre 2023 e 2030, assumimos um aumento de sete vezes na penetração online do varejo alimentar, com o MELI ganhando 10 pp em participação de mercado; uma duplicação da penetração do e-commerce em vestuário e acessórios; e um aumento de 20 pp na participação de eletrônicos/eletrodomésticos (para 40%). Isso implica que a penetração online em geral no Brasil praticamente dobrará de 11% para 21% até 2030, com a participação de mercado do MELI subindo para 45% (similar às nossas estimativas para a Amazon nos EUA). Viável, mas desafiador”.

É por isso, ressalta o BBA, que o crescimento e os retornos futuros dependerão cada vez mais de fatores como impulsionadores de take rate (taxa cobrada pela plataforma dos vendedores), operação de comércio eletrônico no México e Mercado Pago.

Fonte: “Mercado Livre: por que é uma das queridinhas do e-commerce e como pode crescer mais? (infomoney.com.br)

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Gestão de touchpoints, canais e um mercado de US$ 580 bilhões

Das diversas características atuais do mercado, aquela que podemos assinalar como mais proeminente e irreversível é a velocidade. Tanto a velocidade pela qual as mudanças acontecem, quanto o imediatismo como fator decisional do consumidor. Neste sentido, nunca é demais afirmar que os maiores diferenciais de uma empresa estão no seu comportamento resiliente, na sua capacidade de aprendizado e, frente ao acirramento do universo de opções disponível ao consumidor, sua competência em ser costumer centric.

Frente à agilidade do mercado mencionada, o tempo entre a tomada de decisão do consumidor e a realização da compra reduz-se a praticamente a uma fração de segundo, o que promove a necessidade de maior integração entre gestão de touchpoints (pontos de contato) e a gestão de canais.

A gestão de touchpoints, segundo Kotler, é responsável pela oferta eficiente dos lugares ou momentos em que o consumidor entra em contato com informações sobre o produto ou serviço. Já a gestão de canais refere-se à rota ou caminho que um produto ou serviço percorre do fabricante ao consumidor final.

Levando-se em consideração o comportamento do consumidor atual, a gestão de touchpoints torna-se extremamente relevante e três tendências de consumo amplamente discutidas colocam este tema ainda mais no holofote: a frugalidade, as características do consumidor da geração Z e a importância atribuída à conveniência.

A frugalidade refere-se a fazer escolhas inteligentes em termos de custo x benefício. Em tempos de restrição orçamentária, devido à inflação que reduz o poder de compra da população, preço importa; porém, em tempos de aumento das opções da oferta, performance de produto também. O consumidor atual irá informar-se profundamente, pesquisando antes de tomar uma decisão. O ofertante que for mais eficaz em mostrar por que o seu produto é uma escolha inteligente terá melhores resultados.

A geração Z, melhor que qualquer outra, está familiarizada com o mundo da informação. Primeiramente, esta geração é nativa digital, então o mundo online é para ela tão natural quanto o mundo offline.

Segundo, sua presença digital também ocorre sem atritos e ela hoje pode, em poucos clicks, se tornar mais especialista em um assunto que muitos especialistas. A utilização de redes sociais e de digitais influencers como fonte de pesquisa também é uma característica relevante a ser considerada. Segundo Euromonitor (2023), se considerarmos apenas o Instagram, o Brasil é o líder global na produção de influenciadores, com 10,5 milhões de profissionais da área, oito vezes mais que a advogados e 20 vezes maior que o número de médicos.

A conveniência muitas vezes é atribuída ao meio de compra, aderente ao imediatismo observado como comportamento atual de consumo. Mas podemos falar também da conveniência da informação. Se a informação sobre o seu produto é difícil de achar, complexa para entender ou está indisponível, você não será uma opção a ser considerada. Considerando a frugalidade e o comportamento da geração Z, a informação não só deve estar disponível, mas deve considerar o ato de educar o consumidor e a criação de vínculos emocionais fortes por meio de comunidade, por exemplo, visando não apenas ser a primeira opção na hora da decisão de compra, mas também a manutenção da fidelidade do consumidor.

A gestão de canais e, principalmente, de meios de compra deve preocupar-se em oferecer aos clientes uma experiência integrada e omnichannel, embasada a todo momento pela gestão de touchpoints, como uma via de mão dupla. O gestor deve se fazer duas perguntas: ao utilizar esta fonte de informação: após tomada a decisão de compra, onde encontra-se o meio de compra mais rápido, conveniente e sem atritos ao consumidor? Dado este meio disponível de compra, qual fonte de informação traz meu cliente a ele? Desenhando uma estratégia completa e integrada entre canal e touchpoint.

É importante recordar que, assim como se segmenta o mercado para definir o posicionamento de produto, cada canal também tem seu público-alvo. O varejo offline permite experimentação e consumo imediato. Os meios online permitem acesso a um número maior de SKUs e a conveniência da compra de casa.

Estratégias phygital, como o click-and-collet, podem oferecer a ampliação de opções dos meios online e a experiência offline de acesso ao produto. Neste sentido, entregar opções diversas permite alcançar diversos públicos com necessidades diferentes, tornando a jornada do consumidor mais fluida e melhorando sua satisfação.

Um mercado que pode se beneficiar enormemente da gestão integrada de touchpoints e canais é o de beleza e cuidados pessoais. Segundo a Euromonitor (2023), este mercado gerou US$ 430 bilhões em receitas em 2022 e deve alcançar US$ 580 bilhões em 2027. Apenas no Brasil, as vendas atingiram aproximadamente R$ 140 bilhões em 2022 e devem crescer a um CAGR de 3,1% até 2027, alcançando R$ 160 bilhões em vendas.

O mercado de beleza e cuidados pessoais apresenta uma variedade enorme tanto de produtos consolidados quanto de novos produtos, o que impulsiona a necessidade de disponibilizar ao consumidor muita informação, para transparência, educação e aumento do valor percebido por meio do conhecimento.

É um mercado com apelo emocional elevado, pois baseia-se no autocuidado, saúde, higiene pessoal e também na beleza, prestígio, status e nos presenteáveis. Neste sentido, as ocasiões de compra são diversas, permitindo recorrência, impulsionadas pelo calendário de compras com aumento de vendas em dadas comemorativas, compras por impulso, pequenas indulgências, compra por status, estilo de vida, aspiracional, luxo, dentre outros motivos.

Neste sentido, no Brasil coexistem e são importantes os diversos canais de compras. O varejo offline, na figura das lojas físicas, desempenha o papel da experimentação, do tato e olfato. Já o varejo online faz o consumidor entrar em um mundo de opções diversas, exploradas por influenciadores digitais e onde as principais informações e fontes de comparação se encontram. E a venda direta, que representa 25% das vendas do setor, é onde há maior proximidade, com relacionamento, atenção exclusiva e a prerrogativa de ter a orientação de uma consultora.

O importante, como frisado anteriormente, é disponibilizar de forma eficaz fontes de informação e opções de canais que se inter-relacionam e retroalimentam. Em termos de canais, a ideia central é que não existe, em termos de satisfação do consumidor, um trade off entre as diversas opções existentes. Existe sim a necessidade de se entender quais canais são prioritários, a quais ocasiões estes atendem, como integrá-los e como gerir os possíveis conflitos existentes. A decisão de adoção de novos canais deve ser realizada com muito planejamento e gestão, pois a indisponibilidade de um canal possivelmente causa menos transtorno do que a ineficiência na operação deste.

Muitas empresas fazem muito bem o dever de casa, ao oferecer produtos de qualidade, mas precisam ser mais eficientes na educação do consumidor, ao valor que entregam e na disponibilização dos meios de compra.

Neste sentido, a gestão integrada de touchpoints e canais é a cereja do bolo da jornada do cliente, pois permite que a informação leve à maior percepção de valor e à decisão de compra, amparada pelo meio adequado, possibilitando a experiência completa e o aumento da satisfação do cliente.

Fonte: “https://mercadoeconsumo.com.br/27/02/2024/artigos/gestao-de-touchpoints-canais-e-um-mercado-de-us-580-bilhoes/”

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