Empresa de galpões logísticos ganhou com a crise do coronavírus e busca se posicionar para captar as mudanças no consumo brasileiro.
A Log Commercial Properties (LOGG3), empresa de condomínios logísticos, reportou um lucro líquido de R$ 21,9 milhões no segundo trimestre de 2020, o que representa um crescimento de 33,4% sobre o mesmo período do ano passado. A companhia ainda teve seu melhor semestre em novas locações de galpões logísticos (231,2 mil m²) e sua menor taxa de vacância da história (4,5%), tudo em meio à pandemia de coronavírus.
Em entrevista ao InfoMoney, o presidente da Log, Sérgio Fischer, afirma que o isolamento social promovido para evitar um contágio ainda maior pela Covid-19 acelerou a tendência que já existia de aumento da importância do comércio eletrônico no varejo brasileiro. Como consequência, mais empresas foram obrigadas a comprar ou alugar galpões para distribuir suas mercadorias vendidas on-line.
“Em torno de 13% dos brasileiros compraram on-line pela primeira vez na pandemia. As pessoas hoje estão comprando até produtos de limpeza pela internet, algo que não ocorria antes”, explica.
Para Fischer, esta mudança de comportamento do consumidor é definitiva, embora algumas tendências de curto prazo possam se reverter passada a pandemia. “O mix de produtos comprados on-line pode voltar aos níveis pré-coronavírus, porém a participação do e-commerce no varejo deve continuar a aumentar.”
O executivo lembra que nos EUA o comércio eletrônico responde por 12% do total das vendas do varejo, enquanto no Brasil esta fatia está perto de 5%, de modo que haveria ainda muito espaço para crescer.
Para além do avanço do e-commerce, os números do segundo trimestre também refletem um movimento de flight to quality, que é a transição de inquilinos de galpões obsoletos para imóveis de qualidade, Classe A.
A ideia a partir de agora, segundo Fischer, é investir organicamente na diversificação geográfica dos galpões para que a empresa fique bem posicionada de forma a capturar essas duas tendências. “Salvador [BA] tem 5 milhões de habitantes e muito pouco galpão classe A. Ou seja, há ainda uma demanda expressiva para os grandes centros do País”, avalia.
O plano de expansão batizado de “Todos por 1” remete à meta de adicionar 1 milhão de m² de Área Bruta Locável (ABL) entre 2020 e 2024. “Fizemos a entrega no segundo trimestre de 2020 da totalidade da área prevista conforme cronograma, quase 20 mil m², e iniciamos duas novas obras”, aponta a mensagem da administração no release de resultados.
Um ponto positivo é que esses investimentos para deixar a empresa mais próxima dos consumidores estão longe de trazer alguma preocupação a respeito da saúde financeira da companhia.
Com uma alavancagem em pouco mais de uma vez no múltiplo dívida líquida dividido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), a empresa pretende buscar mais financiamento para esses projetos sem medo de ficar refém do capital de terceiros.
“A diferença entre nossa rentabilidade e o custo da nossa dívida está em um momento de recorde. Nossa dívida é CDI mais 1% e entregamos um produto que rende 12% mais a inflação”, comemora.
Vale lembrar que no ano passado, a Log já captou R$ 600 milhões via emissão de mais ações (follow-on) no mercado.
Expansão precificada
A receita líquida da Log cresceu 13% a R$ 35 milhões no trimestre na comparação anual, dentro das projeções da equipe de análise do Bradesco BBI. De acordo com os analistas do banco, Victor Tapia e Pedro Hajnal, o dado reflete o aumento da atividade de leasing.
O Bradesco BBI destaca também que, apesar do aumento de 8% nas despesas gerais e administrativas e de 18% nas despesas com vendas, o Ebitda ajustado da Log cresceu 14% na base anual para R$ 28 milhões impulsionado pelo crescimento nas receitas. Ao mesmo tempo, as despesas financeiras caíram 39% em relação ao segundo trimestre de 2019.
Não obstante, os analistas mantiveram recomendação neutra para a companhia por acreditarem que, embora o e-commerce deva ganhar mais peso no varejo brasileiro, esse potencial de expansão já está parcialmente precificado pelo mercado.
“Adicionalmente, embora o curto prazo seja desafiador para os shopping centers no Brasil, vemos melhores oportunidades no futuro para os centros de compras e não esperamos que a Covid-19 traga mudanças estruturais de longo prazo para esse tipo de negócio, algo que não está refletido nos preços das ações do setor atualmente”, comentam Tapia e Hajnal.
Todavia, a visão do Bradesco é minoritária. Das cinco casas de análise consultadas pela Reuters, três recomendam compra e duas recomendam forte compra nos papéis LOGG3. O preço-alvo médio está em R$ 35,48, cotação 2,15% menor que o patamar atual das ações. Na sessão da última quinta-feira, 30, os papéis LOGG3 avançam cerca de 5%, na casa dos R$ 36,00.
Fonte : infomoney.com.br