Como fazer o pacote chegar intacto ao destino? Uma história de bicicletas

Imagine que você é dono de uma fábrica de bicicletas. O negócio vai bem, suas vendas estão crescendo, mas há um problema: na entrega, a falta de cuidado dos carregadores ao manusear os volumes acaba danificando várias delas. E o lucro da venda de bicicletas vira prejuízo. O que você faz?

Imagine que você é dono de uma fábrica de bicicletas. O negócio vai bem, suas vendas estão crescendo, mas há um problema: na entrega, a falta de cuidado dos carregadores ao manusear os volumes acaba danificando várias delas. E o lucro da venda de bicicletas vira prejuízo. O que você faz?

A VanMoof, fabricante holandesa de bicicletas elétricas, estava diante do mesmo dilema. A marca é famosa entre os jovens por produzir bicicletas inteligentes. Tanto que é chamada de “a Tesla das bicicletas”, numa comparação com a avançada montadora de carros elétricos.

Se você faz compras pela internet, talvez já tenha recebido um pacote danificado no transporte. É uma chateação para todo mundo, mas, para a empresa que vai repor o produto, significa prejuízo. Era especialmente prejudicial à fabricante holandesa, que usa equipamentos sensíveis e caros, como dispositivos antirroubo e motores elétricos. Muitas vezes a bicicleta era entregue, nas palavras de um diretor, “como se tivesse passado por uma colheitadeira de metal”.

Será que escrever “frágil” na embalagem resolve? A revista Popular Mechanics em 2010 enviou vários pacotes, contendo localizadores e sensores, para testar. Alguns não tinham nenhum aviso, porém outros tinham etiquetas indicando “frágil”.

Um problema é que, ao pedir cuidado, você não está sozinho. Em um centro de triagem, uma boa quantidade de pacotes tem o mesmo aviso de “frágil”, o que dificulta o tratamento especial a todos ou só a um deles. E destacar a fragilidade do produto também deixa irritadas algumas pessoas. Os carregadores agiam com muito menos cuidado e as caixas com o aviso chegaram muito mais maltratadas ao destino.

A VanMoof tentou lidar primeiro com o problema fazendo o óbvio: trocou de transportadora. Mas não funcionou e logo depois precisou fazer o mesmo. E assim foi trocando para serviços maiores e menores, sem que as bicicletas deixassem de chegar destruídas.

Finalmente a empresa inovou na resposta, se valendo de um truque emprestado dos estudos de comportamento. Entregadores não manuseiam bicicletas sem maiores cuidados para estragá-las, mas por imaginar que o equipamento é resistente. Há uma razão: por décadas, os modelos foram mesmo simples, sem adicionais eletrônicos sofisticados.

Já as TVs sempre foram reconhecidas como equipamentos frágeis, que precisam ser manuseados com mais delicadeza. Essas duas informações são uma referência mental para os entregadores em um dia de trabalho.

E se em vez de explicar aos entregadores que o equipamento é frágil fosse estampada a imagem da TV na caixa de bicicleta?

Nem foi preciso mudar tanto: as caixas da bicicleta e de uma TV tela plana são parecidas. No começo de 2016, as novas embalagens começaram a ser enviadas. Com um “puxão” nos entregadores – uma pequena mudança de cenário para mudar um comportamento -, a VanMoof viu os danos na entrega caírem entre 70 e 80%.

Será que se trata de um caso bem específico ou será que daria certo com outro tipo de produto? Seja como for, é um exemplo de como conceitos econômicos podem ajudar a resolver problemas do dia a dia. Só não avisem os entregadores.

Matéria sugerida pelo colaborador: Gerson Diacov

Fonte: G1.com.br

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