Perspectivas 2021: Salto digital guia negócios

Ano será marcado pela consolidação de tendências como maior autonomia profissional e companhias transformadas em plataformas digitais de produtos e serviços.

Profissionais mais autônomos, líderes menos controladores, empresas transformadas em grandes plataformas digitais, explosão de startups, consumidores exigentes. Bem-vindo a 2021, o ano em que o mundo dos negócios e o mercado de trabalho vão consolidar as mudanças aceleradas pela pandemia. De cara nova, terão que se adaptar a uma realidade cada vez mais tecnológica e encontrar um ponto de equilíbrio entre o físico e o remoto.

— A pandemia acelerou a digitalização do mundo em uma década ao menos. Em 2030, teremos cem vezes mais startups de tecnologia resolvendo problemas dos mais simples aos mais complexos. A opção de trabalhar remotamente veio para ficar. Isso será ótimo para cidades pequenas e médias com boa infraestrutura digital e qualidade de vida. As empresas de tecnologia serão majoritariamente virtuais — diz Reinaldo Normand, CEO da Innovalab, empresa de educação no Vale do Silício que prepara alunos e educadores para o mundo tecnológico.

José Augusto Figueiredo, country manager do Grupo Adecco, de consultoria de recursos humanos, aponta a valorização da autonomia.

— Os funcionários estão com mais liberdade. O profissional se torna mais empreendedor, e isso descamba para as startups, para a proliferação de pequenos negócios.

Figueiredo destaca que as empresas estão virando plataformas de negócios e vão requerer profissionais diferentes. Para atrair os consumidores nesse novo mundo, saem na frente as empresas que não oferecem apenas produtos e serviços, mas também um propósito. Preservação ambiental, ética e bem-estar passam a ser diferenciais.

Leilão do 5G será marco

Ainda no primeiro semestre deste ano, as atenções do mundo da telecomunicação estarão voltadas para o Brasil, com a realização do leilão do 5G, apontado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como a maior oferta pública do mundo de capacidade para a tecnologia móvel de quinta geração. Será também o maior leilão de radiofrequências da História do país.

— O 5G é mais que um upgrade do 4G: traz vantagens técnicas muito importantes que vão permitir o desenvolvimento de uma série de novas aplicações— afirma José Rizzo, presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII).

O professor e pesquisador especializado em cidades inteligentes André Luiz Azevedo Guedes lembra que a experiência de países onde o 5G já opera, ainda que de forma experimental, mostra avanços em áreas como planejamento urbano, energia, transporte, saúde, segurança e meio ambiente.

Brasil lidera transição verde

Queimadas, desmatamento, escassez de água, fome e desigualdade são desafios do planeta. A vastidão de recursos naturais faz do Brasil um dos mais importantes atores nessa nova visão de produção. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que o país terá um saldo de 440 mil novos empregos se adotar os princípios da economia verde. É o resultado de 180 mil empregos que seriam perdidos e 620 mil vagas abertas nesse mercado mais sustentável. No mundo, seriam 18 milhões de novas vagas.

— O Brasil já tem uma matriz energética renovável muito maior do que a maioria dos países e uma crescente participação, com potencial muito grande, de energia solar e eólica. O gás natural pode ser matéria-prima para geração de energia, muito menos poluente. E o potencial agropecuário brasileiro pode dobrar de produção sem tocar em um metro quadrado da Amazônia — diz o presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebrid), José Pio Borges.

Ciência de dados ganha força

Por trás dos melhores planos para conquistar clientes, lançar um novo produto, controlar estoque ou formular uma política pública, há uma estratégia comum: a coleta, o processamento e a interpretação de dados.

No mundo cada vez mais tecnológico, reunir informações e saber o que fazer com elas tornou-se um ativo precioso. É nesse contexto que a Ciência de Dados ganha relevância e forma profissionais cada vez mais procurados no mercado.

— O que o gestor faz é tomar decisão e, quando tem dados de qualidade, ele tem uma tomada de decisão com menor risco. As organizações foram aumentando muito o acúmulo de dados, os mecanismos de armazenagem ficaram mais baratos e, de uns oito anos para cá, essa capacidade analítica explodiu. O Big Data trouxe capacidade de analisar dados não estruturados, que não estão organizados, mas você vai cruzá-los e entender comportamentos interessantes — resume a professora Elaine Tavares, diretora do Copada/UFRJ.

Home office será frequente

Fundador da Turbe, Matheus Goya chama atenção para a diferença da geração home office 2021 para os profissionais que já faziam trabalho remoto antes da pandemia:

— Uma coisa é a pessoa ter a prerrogativa de trabalhar de casa. Outra coisa é o home office forçado, que gera uma carga de trabalho muito maior na vida pessoal, com as crianças fora da escola e muitas vezes sem a casa estar preparada para o trabalho remoto. De qualquer forma, o mundo nunca mais vai ter a mesma configuração de trabalho, vai existir um nível muito maior de flexibilização — diz Goya.

IA transforma medicina

Em 2020, os profissionais da área da saúde precisaram se reinventar para enfrentar uma situação inédita na História. Em 2021, não será diferente. As Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica estimam que, apenas nos dois primeiros meses de pandemia, 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer porque evitaram fazer consultas e exames.

Para atender a demandas novas e reprimidas, a tecnologia é um aliado importante. A inteligência artificial, em especial, tem um grande potencial de apoiar os profissionais na análise preditiva, no diagnóstico e na documentação clínica.

Exames de imagem, por exemplo, já são processados por algoritmos que identificam padrões com uma rapidez muito maior do que o olhar humano. Na sequência, sugerem análises para a equipe médica, que assim baseia seus diagnósticos com mais agilidade, precisão e eficiência.

— A inteligência artificial necessita de dados. Quanto mais dados, mais precisa ela é. Por isso, precisamos de um sistema de prontuário eletrônico unificado para o Brasil — explica o pesquisador Alexandre Chiavenato Filho, coordenador do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da Universidade de São Paulo.

Telemedicina conquista pacientes

A regulamentação atual para a telemedicina no Brasil data de 2002. Em 2018, ela foi atualizada, mas as mudanças acabaram sendo descartadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para que o debate sobre o assunto fosse retomado. Em 2020, a realidade se impôs: com a pandemia, o atendimento médico à distância foi autorizado pelo CFM, em caráter emergencial, enquanto durar a situação de emergência em saúde pública.

A adesão foi rápida: apenas no primeiro semestre, mais de 73 milhões de brasileiros foram atendidos pelo TeleSus.

A rede de centros médicos dr.consulta, que conta com 1.400 médicos, de 27 especialidades, instaurou um sistema de teleatendimento ainda em março, em apenas nove dias. Atualmente, gerencia duas mil consultas on-line por dia, realizadas por 300 médicos.

Num cenário de envelhecimento da população, a procura por consultas on-line tende a se multiplicar.

Ensino à distância evolui

Quando as escolas se viram forçadas a migrar para o ensino à distância do dia para a noite, 89% dos professores da rede pública não tinham experiência em dar aulas remotas. Superado o primeiro contato, 21% ainda relatavam grandes dificuldades para lidar com as tecnologias digitais.

A educação à distância foi implementada no ensino básico de forma abrupta. A pandemia chegou ao Brasil em fevereiro de 2020, e em abril, segundo o instituto Datafolha, 74% dos estudantes das redes municipais e estaduais de todo o país já estavam recebendo aulas não presenciais.

Para Guilherme Cintra, diretor de Estratégia da Eleva Next, área de inovação do grupo de educação Eleva, o caminho está na formação híbrida, conciliando atividades presenciais e remotas. Ele avalia que o ensino médio, em especial, poderia se beneficiar de uma carga horária de 20% à distância.

— O ensino híbrido traz possibilidades nas metodologias ativas. Com ele, você sabe se o aluno está fazendo as questões, quanto tempo ele passa em cada uma.

Profissões tecnológicas em alta

Especialistas em inteligência artificial, machine learning e ciência de dados aplicada a marketing. Essas serão algumas das profissões mais disputadas pelas empresas nos próximos anos. A conclusão está no relatório “The future of job 2020”, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em dezembro.

O estudo indica que a tecnologia vai criar mais postos de trabalho, 97 milhões, do que os 85 milhões que serão eliminados. Atividades repetitivas vão cair dos atuais 15,4% do total de vagas para ocupar 9% em 2025, enquanto que as profissões emergentes, que atendem, principalmente, à interação entre humanos, máquinas e algoritmos, vão saltar de 7,8% para 13,5%.

Durante o período de isolamento social e abandono dos escritórios, foi graças a profissionais como os de segurança da informação, os desenvolvedores e os engenheiros de dados que a economia pôde avançar na transformação digital.

Num cenário de open banking e novos modos de pagamento, incluindo o Pix, as áreas de finanças e contabilidade também ganham destaque. Para o PageGroup, um dos postos mais valorizados nesse contexto é o de coordenador de controladoria, que atrai analistas contábeis capazes de oferecer insights e revisões que vão além do operacional e agregam sugestões de melhorias de processos e redução de custos.

Novidades no streaming continuam

O ano da pandemia e do consequente isolamento social representou o boom do streaming no Brasil. O Globoplay registrou alta de 145% na base de assinantes só no primeiro semestre do ano passado. Com a estreia do Disney Plus no Brasil e a expectativa da chegada do HBO Max, o streaming pode crescer ainda mais no país.

A Disney Plus começou a operar no Brasil no fim do ano passado e já chamou a atenção do público com o lançamento da animação da Pixar “Soul”. Todas as animações da Pixar e produções da Marvel, da própria Disney e da National Geographic estão no catálogo. A empresa promete lançar em 2021 outras séries e filmes exclusivos na plataforma.

Para o diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e professor de Inovação no Instituto da Universidade Harvard Fabro Steibel, 2021 é um ano de consolidação do streaming.

O professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS Alex Primo lembra que essas novidades permitem também novas formas de consumir entretenimento, como poder ver o mesmo filme com os amigos, cada um na sua casa.

Fonte : oglobo.globo.com

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