Via Varejo quer ser também uma empresa de tudo. E está tirando até o Varejo do nome

A exemplo de outros rivais, como Amazon e Magazine Luiza, a Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Pontofrio, quer se posicionar com uma empresa que vai além do varejo. Para isso, está adotando nova identidade visual e comprando empresas de outros segmentos.

Em junho de 2019, Roberto Fulcherberguer assumiu o comando da Via Varejo, marcando a volta da família Klein ao comando do negócio. No caminho para recuperar a empresa, uma premissa era clara: resgatar os princípios do “chão de loja” e da “barriga no balcão”, há tempos deixados de lado no dia a dia do grupo.

Prestes a completar dois anos do início dessa jornada de reestruturação, a empresa está deixando claro ao mercado, porém, que as atividades básicas do setor já não definem a sua operação. E essa indicação foi reforçada com três anúncios feitos em menos de uma semana.

O último deles foi divulgado em comunicado ao mercado na manhã da última segunda-feira, 26 de abril. O grupo anunciou que passará a adotar a marca Via, com a assinatura Imagine Caminhos, realçadas por novas cores e uma nova tipografia.

“Para ir além do varejo, a Via mudou sua marca. Tirou o varejo do nome, mudou suas cores, seu logo, num posicionamento que traduz a grande transformação pela qual a companhia passou e simboliza os caminhos amplos que seguirá no futuro”, afirmou a empresa, no comunicado.

Antes, na sexta-feira, 23 de abril, a Via Varejo já havia divulgado a mudança da marca do Pontofrio, uma de suas bandeiras, ao lado da Casas Bahia, para apenas Ponto:>. A nova identidade visual foi acompanhada de uma repaginação em todas as lojas da marca em questão.

“Demos um grande salto, a marca ficou mais jovem, mais moderna e inovadora. E também trouxe mais protagonismo a uma personalidade irreverente, bem-humorada e focada no digital”, afirmou Ilca Sierra, diretora de marketing e marca da Via Varejo, em comunicado sobre a mudança de marca.

O terceiro anúncio nessa direção também foi realizado nessa segunda-feira. O grupo comunicou a aquisição da Celer, fintech que nasceu como uma plataforma de pagamentos e que hoje também tem um portfólio no segmento de banking as a service.

Segundo informou a companhia, a Celer tem aproximadamente 200 fintechs em sua carteira que, por sua vez, oferecem contas digitais, entre outras soluções, a mais de 24 mil estabelecimentos.

Com o acordo, a Via planeja ampliar os serviços financeiros ofertados aos sellers do seu marketplace, a maior prioridade da empresa para 2021. O pacote inclui adquirência e gateway para vendas físicas e on-line; uma plataforma de antecipação e recebíveis e, em especial, a ampliação da conta digital banQi, da própria varejista.

Corporate venture capital

Essa é a quarta aquisição do grupo desde 2020. A relação dá uma dimensão dos caminhos que estão sendo abertos pela companhia e envolve ainda a Airfox, empresa com a qual o grupo desenvolveu o banQi; a Asap Log, de logística; e a i9XP, desenvolvedora de softwares para o segmento de comércio eletrônico.

Além desses acordos, a varejista anunciou, em novembro, a compra de uma fatia de 16,6% do hub de inovação Distrito. Essa relação também está no centro de outra novidade divulgada hoje pelo grupo, que complementa o Via Next, programa de inovação aberta elaborado pela parceria e lançado há um mês.

Trata-se de um Corporate Venture Capital. O Distrito ficará responsável pela criação e a gestão do veículo em questão, que nasce com R$ 200 milhões destinados a investimentos em startups nos próximos cinco anos. Essa cifra poderá ser ampliada com eventuais aportes do Distrito, que terá a opção de investir ao lado da Via nessas startups.

“Nosso objetivo é sermos rápidos e pragmáticos. Não queremos perder o nosso tempo nem o das nossas futuras investidas”, disse Helisson Lemos, vice-presidente de inovação digital e recursos humanos da Via, ao NeoFeed.

Sócio do Distrito, Gustavo Gierun, acrescentou, também na linha do ritmo que será ditado com a iniciativa. “A pandemia criou novos hábitos de consumo e todo o varejo está tendo que se adaptar”, afirmou. “É um jogo de velocidade e esse modelo de corporate venture capital acelera esse processo. ”

A tese formulada pela Via e a Distrito terá, principalmente, no radar, startups em estágio inicial ou que estão começando a ganhar tração. Em linha com o posicionamento reforçado hoje pela varejista, além das retailtechs e de modelos que compreendam toda a jornada do consumidor, o veículo vai focar novatas de logística, finanças e marketing.

De olho, particularmente, em fatias minoritárias, os cheques irão variar entre R$ 500 mil e R$ 500 milhões. “Mas essa faixa não é algo rígido. Existe uma flexibilidade dentro dessa tese inicial”, observou Gierun. “E muitos desses investimentos serão feitos em conjunto com outros fundos do mercado. ”

Diante da movimentação cada vez mais intensa no mercado no campo das aquisições e investimentos em startups, a Via aposta na oferta de toda a sua estrutura e operação como um diferencial para atrair e escalar essas novatas.

“Não estamos dizendo que somos os melhores, mas somos diferentes”, disse Lemos. “Na comparação com outros varejistas, há ativos que só nós temos, como a nossa logística. ”

A movimentação da Via acontece em meio a uma disputa com outros varejistas que estão expandindo seus tentáculos. A Amazon, que reforçou sua operação brasileira, atua em diversas áreas, que vão do varejo tradicional até serviços de computação em nuvem, com a AWS.

O Magazine Luiza também está expandido seu leque de atuação, comprando companhias de conteúdo, como Canaltech e Jovem Nerd, até aplicativos de delivery, como o AiQFome, o ToNoLucro e a plataforma GranChef. Em entrevista ao NeoFeed, Frederico Trajano, CEO da Magalu, disse que a empresa vai competir com Rappi e iFood e até com o Google.

Os anúncios da última segunda-feira(26), foram acompanhados pela divulgação de metas e projeções do grupo para o período que se estende até 2025. A empresa projeta, por exemplo, ampliar sua base de 22 milhões de clientes ativos para 44 milhões. E estima alcançar uma fatia de, no mínimo, 20% do mercado total de e-commerce no período.

Já em relação ao volume bruto de mercadorias (GMV), a projeção é de que dois terços venham de canais digitais. No intervalo, a projeção é aumentar em 20 vezes o volume total de pagamentos (TPV), especificamente no segmento de soluções financeiras e de crédito, que foi de R$ 440 milhões nos 12 meses encerrados em março de 2021.

O grupo também prevê que o banQi alcance o break even até o fim de 2022. Ainda nessa área, a projeção é ampliar em cerca de sete vezes o valor da carteira de crédito concedido nas lojas físicas e canais digitais da operação.

As ações da empresa, avaliada em R$ 20,3 bilhões, acumulam uma queda de 18,8% em 2021, levando-se em conta o preço de fechamento do pregão da sexta-feira, 23 de abril.

Fonte : neofeed.com.br

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