Dado o impacto das atividades de transporte – e também sua importância econômica – esse esforço precisa ser otimizado, sobretudo no sentido do ganho de maturidade estratégica das empresas, para que mais exemplos de sucesso surjam no mercado e os pilares de governança se tornem diretrizes.
Quando consideramos que a temática ESG se tornou uma das pautas mais discutidas no ambiente de negócios contemporâneo, esse fato, por si só, é digno de reconhecimento, afinal de contas, é a partir de um debate mais amplo e maduro que diferentes setores do mercado serão alcançados e poderão se mobilizar em prol de mudanças que beneficiam toda a sociedade.
Um exemplo desse alcance pode ser observado na logística, setor que, nos últimos anos, viu um aumento progressivo dos investimentos e do interesse de operadores em relação aos pilares de governança social, ambiental e corporativa.
Sobre esse ponto, é válido destacar uma pesquisa da ILOS de 2022 na qual 81% dos entrevistados indicaram que sua empresa contava com uma área específica de sustentabilidade. Nesse mesmo sentido, a consultoria Allied Market Research apontou que, só no ano passado, o segmento de logística verde movimentou US$ 1,3 trilhões dentro de uma tendência que deve se expandir, em média, 8,3% até 2032.
Isso não significa afirmar, no entanto, que não existam desafios para a construção de uma “cultura ESG” na logística – e eles abarcam os três eixos do conceito.
Da disparidade de gênero a responsabilidade do setor de transportes e dos operadores acerca da emissão de gases de efeito estufa – especialmente quando consideramos o modal rodoviário, mas não só ele –; o compromisso do segmento se coloca como crucial para que o país possa, dentre outros pontos, cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA LOGÍSTICA
Em relação aos desafios, uma primeira questão que merece ser analisada se refere a supracitada emissão de gases de CO2. De acordo com um levantamento da Deloitte, com diferentes segmentos econômicos, o setor de distribuição e transportes é responsável por cerca de 16% das emissões globais (atrás apenas dos segmentos industrial, com 24%, e de construção, 18%).
Desse montante, a maioria das emissões vem do transporte rodoviário – principal modal logístico do Brasil, o que denota a urgência no compromisso das empresas acerca das políticas de governança ambiental.
O lado positivo dessa discussão, como vimos na pesquisa da ILOS, diz respeito ao avanço na criação de áreas de sustentabilidade nas empresas. No entanto, para que esse esforço se traduza em resultados, há uma necessidade da aplicação de dados, indicadores e metas (fato que não foi observado em 51% das organizações consultadas no levantamento).
Sem tais métricas, a definição e validação das estratégias de sustentabilidade correm o risco de não se tornarem prioridades dos operadores, uma vez que a mensuração de suas ações tende a ser imprecisa e não se desdobrar em objetivos práticos.
Globalmente, existem progressos também nesse sentido: o mesmo estudo da Deloitte, divulgado em 2021, identificou em uma amostra de sua pesquisa que 63% das empresas divulgaram ao menos um relatório ESG dentro do período do levantamento. É válido salientar ainda que os reports de sustentabilidade tem um valor importante dentro de uma economia que observa a consolidação dos fundos verdes no mercado de capitais.
“O setor de distribuição e transportes é responsável por cerca de 16% das emissões globais (atrás apenas dos segmentos industrial, com 24%, e de construção, 18%). Há, no entanto, um esforço para o alinhamento aos propósitos ESG nas empresas: 81% das empresas consultadas em uma pesquisa recente afirmaram contar com uma área de sustentabilidade.”
INCLUSÃO E DIVERSIDADE
Sobre o pilar social do ESG na logística, temos também um cenário que apresenta dois polos distintos: temos, por um lado, um genuíno esforço das empresas no tocante, por exemplo, a contratação mais diversas em diferentes níveis organizacionais (na pesquisa da ILOS, esse foi o principal direcionamento estratégico – em conjunto com a segurança do trabalho – dos operadores com ações de ESG implementadas em seus negócios).
Dentro desse contexto, em 2021, a Gupy identificou um aumento significativo de 229% no número de vagas ocupadas por mulheres na logística. Em contrapartida, a discrepância ainda é alta, uma vez que mais de 71% dos postos de trabalho do setor – também segundo a Gupy – é ocupado por homens.
Para mudar esse cenário, é fundamental, além da criação de áreas de ESG e do uso de tecnologias e métricas que possam apoiar lideranças em processos de governança social, que o mercado estude exemplos de sucesso do mercado que podem, por sua vez, oferecer um norte para ações mais efetivas.
Um case interessante nesse sentido é o da Pepsico.
ESG X LOGÍSTICA
Como é possível observar, a temática ESG não só alcançou a logística: há avanços consideráveis em tempos mais recentes que colocam o setor como protagonista desse debate. Por sua vez, dado o impacto das atividades de transporte – e também sua importância econômica – esse esforço precisa ser otimizado, sobretudo no sentido do ganho de maturidade estratégica das empresas, para que mais exemplos de sucesso surjam no mercado e os pilares de governança se tornem diretrizes para o futuro.
ESTRADAS DO FUTURO
Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Para contribuir com a transformação desse cenário, a MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.
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