O que é único no varejo brasileiro

O varejo brasileiro tem algo que seja único e que pode ser considerado benchmark global?

Esse era o desafio ao falarmos sobre o varejo do Brasil, pela primeira vez, no Chinashop, o mais importante evento do setor na Ásia e que reuniu mais de 65 mil pessoas em uma área de exposição de 130 mil m². Em quase tudo, mais que o dobro do que é a NRF.

Pela primeira vez, uma delegação brasileira foi convidada oficial para o evento e nos foi solicitado coordenar um painel que mostrasse as características, a estrutura, a organização, o desempenho, os conceitos relevantes e as melhores práticas do varejo e do consumo do Brasil.

Tudo dentro da realidade da parceria econômica entre Brasil e China, sucedendo a primeira visita do presidente Jair Bolsonaro à China e antecedendo a reunião dos Brics, em Brasília, que teve a participação do presidente Xí Jìnpíng da China ao Brasil.

Afinal, temos algo para mostrar ao mundo que seja só nosso em termos de varejo?

Em um cenário onde a tecnologia e o digital se tornam dominantes, no qual temos sido seguidores, numa perspectiva que cresce o uso dos meios de pagamentos digitais ou por reconhecimento facial – e estamos só começando nesse aspecto. Na realidade brasileira, em que o e-commerce representa apenas perto de 6% das vendas totais do varejo e nos mercados líderes, China, Inglaterra e Coreia do Sul, oscila entre 22 e 35%.

Para complicar um pouco mais, teríamos o que destacar como único, além da resiliência do setor, quando saímos de uma recessão que gerou desemprego de 13%, fechou mais de 200 mil lojas e fez o setor ter desempenho negativo ou pífio por quatro anos?

Somos únicos no varejo em algo que possamos nos orgulhar e mostrar para o mundo?

A resposta nasceu da revisão da atuação do setor na história recente do país, das marcas e conceitos que nos mais diversos canais, formatos e negócios, têm se diferenciado e das empresas brasileiras que, ainda timidamente, começam a expandir no mercado internacional, seja organicamente ou por aquisições, e que o fazem diferenciando sua atuação com um jeito brasileiro de fazer varejo.

O que há em comum e que pudesse ser considerado um diferencial do varejo brasileiro em empresas como O Boticário, Natura, Renner, Riachuelo, Magazine Luiza, Panvel, Raia-Drogasil, Atacadão, Assaí, Cacau Show, Alpargatas, Pernambucanas, Grendene, Schultz, Hering, Bob’s ou as operações locais das globais McDonald’s, Burger King, Carrefour, Pão de Açúcar, C&A, Telhanorte, Leroy Merlin, Dicico-Sodimac e muitas outras?

No passado a atuação do varejo no crédito, como também acontecia no México, pode ter sido um diferencial, que chegou até ser exportado pela C&A e Walmart para suas operações na Ásia, mas a transformação estrutural do mercado brasileiro deixou alguns poucos varejistas com essa diferença estratégica.

Existe um diferencial no modelo brasileiro de varejo?

O varejo brasileiro pode ser considerado único na combinação da valorização das pessoas, clientes e funcionários, com o uso da tecnologia como integrador de Serviços, Conveniência, Inovação, Valor e Design para criar Experiências Emocionais que gerem resultados.

No momento em que o mercado se torna exponencialmente mais competitivo, global, digital, omnicanal e concentrado, tem sido valorizado e destacado, o quão fundamental se torna a geração de experiências em busca da diferenciação, mas, cada vez mais, é preciso que essas experiências tenham uma componente emocional para que seja de fato relevante.

O uso da tecnologia para simplificar e agilizar, o formato inovador, o atendimento competente e individualizado, o oferta de produtos e serviços de acordo com a demanda, a entrega rápida, o pagamento de forma simples e eficiente, preços competitivos e com clara percepção de valor, e todo o mais, se tornam, crescentemente, condição mínima para operar no setor de varejo. Mas não um diferencial competitivo.

O verdadeiro diferencial e o varejo brasileiro têm muito para mostrar. E é a combinação virtuosa desses elementos com o toque humano, natural e autêntico, que pode gerar as experiências que tocam.

Essa proposta foi inspirada nas muitas discussões que ocorrem quando estamos participando nas delegações internacionais com dirigentes, executivos e empresários do varejo brasileiro e temos oportunidade de comparar nossa realidade com a de outros países e o tema, invariavelmente, acaba na genuína e autêntica valorização das pessoas, sejam os clientes ou os funcionários, como fator estratégico de diferenciação e combinada com outros fatores, inevitáveis, de uso e incorporação das melhores estratégias e práticas globais.

A genuína, autêntica, quase natural, valorização das pessoas tem muito a ver com nossa cultura latina e foi aperfeiçoada, estruturada, premiada e incentivada ao longo do tempo, pois cria a diferenciação definitiva.

Toda tecnologia ou inovação tecnológica, diferenciação digital, formatos, canais híbridos, processos, modelos de negócios, comunicação, design, arquitetura ou sistema, é uma questão de tempo, podem ou serão copiados. Mas a diferenciação através das pessoas demanda gerações para ser copiada, se é que é possível tentar copiar em algum momento, pois está apoiada em cultura organizacional, algo de difícil, se não impossível, cópia em um período limitado de tempo.

Temos ouvido e assistido muitas apresentações de empresas locais ou globais, em diversos mercados no mundo, envolvendo Américas, Europa, Ásia, Emirados e Oceania, onde o discurso da valorização das pessoas, internas e consumidores, está sempre presente, mas onde a realidade se choca com a proposta exposta.

Só no Brasil temos visto, pelos vários casos citados e muitos mais, essa diferenciação.

Vale a pena aprofundar e considerar.

Fonte : mercado e consumo

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