O processo histórico de aumento da concentração no varejo brasileiro cresceu nos últimos anos e, por conta da pandemia, suas consequências e desdobramentos, deverá se acelerar nos próximos períodos.
Existe globalmente uma tendência natural de aumento do nível de concentração no consumo e no varejo como resultado do maior acesso a recursos financeiros, crédito, inteligência, tecnologia, poder de compra e, especialmente, recursos humanos diferenciados.
Isso permite projetar que, quase que inexoravelmente, caminhamos para um processo de consolidação e concentração no consumo e no varejo no mundo. E no Brasil não é diferente.
Em 2005, a participação média ponderada dos cinco maiores operadores no varejo brasileiro era de 22%, número que cresceu para 28,3% em 2017 e para 28,7% em 2019.
Nesse último período, 2019, as maiores concentrações ocorreram nos setores de bens duráveis, com 47,1 %, super e hipermercados, com 34,4%, farmácias, com 22,9%, vestuário, com 19,9%, e material de construção, com 11,1%.
O recente período marcado pela pandemia só acelerou esse processo de concentração por conta da essencialidade de alguns setores que permaneceram abertos e pela potencialização das diferenças geradas pelo acesso a recursos financeiros, tecnologia, relacionamento estratégico com fornecedores, digitalização, multiplicação de canais, crédito e capacidade e velocidade de mobilização.
Nos últimos anos, outro elemento de relevante importância foi a aceleração dos processos de fusões e aquisições no varejo e no consumo e o número de IPOs ocorridos, que foram antecipados ou seguidos de movimentos de transferência de controle em diversas organizações e setores.
Como resultado e ainda sem os números finais de 2020, mas com base no desempenho das vendas na Black Friday e no período das festas de final de ano, é factível e seguro projetar que o indicador médio ponderado entre todos os setores deverá superar os 30% no ano de 2020, liderado pelo setor de bens duráveis e aproximando o Brasil dos patamares dos países mais desenvolvidos, concentrados e competitivos.
Nos próximos anos, essa diferença de comportamento entre maiores e menores poderá ser em parte reduzida, mas não alterada significativamente. Ao contrário, as questões que envolvem acesso a crédito e tecnologia, além da formação dos Ecossistemas de Negócios Made in Brazil, deverão assegurar a continuidade do processo de concentração com todas implicações decorrentes desse fato.
Aliás, o fenômeno da formação dos Ecossistemas de Negócios Made in Brazil poderá ser um elemento importante no processo de aceleração dessa tendência, mas, ao mesmo tempo, deverá dificultar todo o modelo de apuração pelas mudanças estruturais precipitadas por esse modelo de organização empresarial, incluindo sua atuação como marketplaces, tornando mais complexo separar o desempenho por categorias, negócios, canais e serviços.
Mas, definitivamente, estamos acelerando a tendência à concentração e antecipando estágios que viveríamos no Brasil apenas nos próximos cinco ou dez anos.
Para o que tem de positivo ou negativo, é parte da nova realidade.
Marcos Gouvêa de Souza é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.
Fonte : mercadoeconsumo.com.br