As empresas que atuam no setor de Operações de Transportes Multimodais (OTM) produzem e aplicam, diariamente, um conhecimento primordial no desenvolvimento da logística nacional. É o segmento que melhor conhece a infraestrutura com visão de integração, entende a complexidade das normativas e desenvolve competências para conectar produção, distribuição e consumo.
O desenvolvimento do setor de OTM levou à consolidação do perfil do integrador multimodal. Esta especialização foi possível com investimento no aumento da eficiência em inteligência logística, aplicando o melhor resultado da equação: rota, tempo e custo.
As empresas que apostam em criatividade e inovação tecnológica, com soluções pensadas “fora da caixa”, com integração e multimodalidade, por terra, pela água e pelo ar, conseguem oferecer aos seus clientes condições diferenciadas na formação do preço do serviço a ser prestado.
No ritmo imposto pelo aumento dos volumes de cargas, o operador logístico transformou-se em OTM e nos leva a nos tornarmos integradores multimodais. Ao adotar a cabotagem onde ela não era usada, propiciando maior segurança e zero avaria e ao desenvolver novas rotas, uma OTM tornou-se parceira de negócio com o cliente.
Conforme a Antaq, de janeiro a maio de 2023, a movimentação de cabotagem no Brasil foi de 116,0 milhões de toneladas, 23,4% da movimentação total nos portos nacionais. A expectativa é de crescimento da atividade com a regulamentação da BR do Mar, a nova legislação para o setor.
No segmento de OTM, ganhou importância a capacidade de integrar as variáveis modais para obter a melhor integração e operar com diferentes parceiros, de segmentos e naturezas diversos. Para ser uma empresa de OTM é necessário se organizar para ter essa versatilidade de atuar das mais diversas formas.
Na construção de parcerias, o conhecimento de integrador multimodal foi testado e ampliado. Atuar como única responsável por todas as etapas logísticas agregou valor à produção e à distribuição. Na multimodalidade, com uso da cabotagem, a aproximação com os armadores e a confiança são condições fundamentais para a viabilidade das operações.
Em uma década, fazer com que a conteinerização e a navegação costeira se tornassem possíveis para pequenos e médios produtores e distribuidores foi uma das maiores contribuições do setor para a economia.
A democratização da cabotagem foi possível por iniciativa dos integradores multimodais, quando da adoção do transporte de carga fracionada em contêiner no modal marítimo da costa do Brasil. Até então, apenas grandes produtores ou distribuidores utilizavam contêineres, já que os de menor potencial não possuíam carga suficiente para tal.
Para garantir contêineres carregados, com a melhor produtividade, o integrador multimodal assumiu a consolidação de carga. Nessa etapa logística, reúne cargas de diversas origens, unitiza os volumes, realiza a estufagem e viabiliza o embarque, fazendo ainda a distribuição diversificada no destino final.
Nós, OTMs, evoluímos também setores de maior complexidade, por exemplo, na logística de produtos de siderurgia. Para melhor eficácia, em determinada operação mostrou-se indicado manter uma equipe de colaboradores dentro da unidade de produção do cliente, aplicando logística desde a expedição até o destinatário final.
Em produtos de siderurgia, a adoção do contêiner na cabotagem provou ser uma solução adequada. No entanto, para colocar uma bobina de aço dentro de um contêiner, foram pensadas novas soluções, como o desenvolvimento de um equipamento que tornou isso possível.
As empresas de OTM aprimoraram métodos e operações, reorganizaram processos, como a integração da equipe de logística dentro da indústria, combinaram etapas da logística, associando os modais terrestres, marítimo ou aéreo para a melhor relação custo/benefício.
As operações multimodais evoluíram com os setores produtivos, agregando valor à produção e permitindo o acesso a novos mercados. O setor avançou na busca de soluções para atender tanto a indústria pesada, quanto distribuidores ou atacadistas. A integração multimodal ocupa hoje um lugar de destaque na distribuição das riquezas nacionais, unindo o Brasil de Norte a Sul.
Hoje, a explosão do e-commerce amplia a demanda por soluções de logística integrada, exigindo o serviço porta a porta. Ao mesmo tempo, mercadorias já podem ser entregues por meio de drones. A pressão por veículos elétricos, ou voadores, bate à nossa porta. E o futuro reserva ainda mais transformações.
A lógica proposta é atender ao mercado com maior sustentabilidade, demandada pelos compromissos globais do acordo climático. O desenvolvimento de projetos de substituição da matriz energética também é muito bem-vindo.
No mercado doméstico, a cabotagem, com menor emissão de CO2, ganha importância. O modal reduz em até 80% a emissão de gases do efeito estufa, se comparado ao mesmo volume transportado pelo modal rodoviário.
A experiência mostrou que a solidez em logística multimodal requer desenvolver a infraestrutura necessária para garantir o crescimento sustentável do negócio, fortalecimento da estrutura organizacional, governança corporativa, soluções tecnológicas, relevância comercial no segmento do serviço prestado, amplo portfólio de serviços para garantir competitividade e diversificação das fontes de receitas.
Tudo isso é possível com visão de futuro, investimentos em recursos, em inovação e em pessoas. Afinal, para o cliente o que interessa é ter a sua carga entregue com menor tempo e custo, com segurança e qualidade. Isso é obtido com atendimento especializado em integrar modais, rotas e soluções por terra, pela água e pelo ar.
* Marcio Salmi é diretor-executivo da integradora multimodal Costa Brasil.