Logtechs relatam crescimento de demanda de entregas em diversos setores no país.
De acordo com recente relatório da Compre&Confie, o e-commerce no Brasil registrou um crescimento expressivo no primeiro trimestre de 2020. O faturamento atingiu R$ 20,4 bilhões, uma alta de 26,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Por causa da quarentena imposta em diversos estados em resposta à pandemia de COVID-19, o número de compras online teve um salto no período: 49,8 milhões, número 32,6% maior do que o do primeiro trimestre de 2019.
Para atender a toda essa crescente demanda do e-commerce, startups de logística precisaram se adequar à nova realidade, e muitas delas registraram crescimento durante esse período. “Tivemos um aumento de demanda em torno de 10%”, conta Thiago Witte, CEO da Carguero.
Impactos
De acordo com o CEO, os impactos negativos da crise causada pelo coronavírus não foram sentidos pela startup, que aumentou o quadro de funcionários e pretende dobrar o tamanho do time ainda este ano. “fomos surpreendidos positivamente por conseguir manter a performance da empresa mesmo tendo 100% do quadro de funcionários em home office desde 16 de março”, afirma Thiago.
Para os motoristas da Carguero, as medidas de segurança foram reforçadas para evitar o contágio. “A solução por si só já inibe o contato físico, pois permitimos ao motorista evitar contato físico usando a tecnologia. Além disso, fizemos algumas campanhas de conscientização para os caminhoneiros (inclusive um vídeo) com dicas para que pudessem evitar o contágio, incluindo distanciamento mínimo, medidas de higiene pessoal constante entre outras pontuadas pela OMS.”
Para Thiago, o futuro pós-coronavírus para o segmento de logística forçará mudanças nas empresas. “O Covid-19 trará uma realidade que ainda está distante para a logística no geral: o incremente da tecnologia e automatização de processos. As exigências que o cenário atual está nos impondo certamente criará uma nova forma de fazer logística no Brasil: muito mais eficiente, tecnologia e colaborativa”, acredita.
Entregas
A Intelipost, de tecnologia e soluções de logística, afirma ter percebido um aumento de até 10% nas entregas, com variações dependendo do setor. “A coleta e a entrega estão dificultadas nos municípios com circulação restrita, o que está impactando SLAs (Acordo de Nível de Serviço). Quanto aos prazos, em média, houve um acréscimo de 1 a 3 dias”, explica Stefan Rehm, CEO da empresa.
Outra mudança diretamente ligada à quarentena foi a redução de insucessos na entrega por “cliente ausente”, visto que os consumidores estão ficando mais em casa. “Fora isso, as entregas estão acontecendo mais rapidamente, por conta da redução de carros nas grandes cidades”, conta.
A empresa também está sentindo uma crescente na quantidade de cotações e pedidos recebidos. “Nas primeiras semanas de isolamento social, vimos uma pequena queda, mas nas últimas semanas já é possível notar um aumento, justificado pela mudança no comportamento do consumidor que está evitando sair e fazendo mais compras online”, explica Stefan.
A empresa realizou recentemente um estudo sobre os impactos da COVID-19 no ecossistema logístico. De acordo com o levantamento, do lado dos varejistas, foi necessária uma adaptação nos armazéns, somada a conscientização diária sobre a importância dos cuidados, acompanhamento de temperatura e higienização, turnos sem sobreposição e a eliminação de contato físico com os motoristas ou fornecedores.
Do lado das transportadoras, as empresas estão disponibilizando kits de higienização para cada motorista e abolindo a assinatura de comprovação de entrega, com a orientação de utilizar apenas o RG e nome do recebedor ou comprovante de entrega por voz.
Para auxiliar clientes e parceiros a continuarem no mercado mesmo com as lojas físicas fechadas, a Intelipost firmou uma parceria com a Neomode e a Uello para a criação de um canal de vendas online para quem já atua no offline, transformando as lojas físicas em pequenos centros de distribuição possibilitando a oferta de entregas em casa.
“Para a logística, com certeza, este é um momento de transformação, de grande aprendizado e adaptação. As empresas que adotaram medidas preventivas para a saúde dos seus profissionais, como a higienização e otimização de turnos, provavelmente irão adotar esses procedimentos permanentemente. Modalidades de entrega como lockers, PUDOs e ship from store podem ter seu desenvolvimento acelerado durante a crise. O que podemos ver é que a tecnologia terá um papel importante, com o aumento da demanda por sistemas inteligentes de otimização da cadeia de suprimentos”, prevê o CEO.
Transporte
A TruckPad, uma das maiores plataformas de conexão entre caminhoneiros e cargas na América Latina, também está sentindo os efeitos da pandemia. A startup notou que 90% das empresas transportadoras de cargas cadastradas na plataforma tiveram queda em seu movimento. “Algumas com queda de até 40% em sua demanda. No entanto, empresas que atuam no setor do agronegócio continuam com 100% de suas operações rodando quase que normalmente”, explica Carlos Mira, CEO e fundador da empresa.
Ele explica que a pandemia forçou uma pequena pausa no ritmo de crescimento da empresa, “mas temos planos de quadruplicar nosso quadro de funcionários ainda este ano, em relação ao ano passado. Por isso já estávamos em um ritmo de contratações intenso antes da pandemia e pretendemos – o quanto antes, voltar a este ritmo intenso”, diz.
Por ter investidores chineses, a TruckPad começou a se preparar para a pandemia bem antes dos brasileiros começarem a tomar iniciativas neste sentido. “Para apoiar o setor, lançamos a iniciativa Transporte Voluntário, na qual nos oferecemos para localizar e contratar gratuitamente caminhoneiros para entrega doações de produtos de saúde, e o frete para o motorista é custeado pelo TruckPad”, conta Carlos. Até agora, já foram mais de 20 entregas pelo país. PAra solicitar transporte, as instituições podem acessar o site da iniciativa. “Além disso, em parceria com a Anfir (Associação Nacional Fabricantes de Implementos Rodoviários), estamos distribuindo mil refeições aos motoristas nas rodovias brasileiras, para apoiar esses profissionais tão importantes nesse momento de crise.”
Em pesquisa realizada com cerca de 10 mil contratantes de fretes, como indústria, comércio, atacadistas e transportadoras que utilizam a plataforma TruckPad, a empresa mostrou que houve uma queda de cerca de 40% no volume de cargas nas últimas semanas, em relação à movimentação normal.
O levantamento ainda registrou que o movimento das cargas chamadas “last mile” (entregas de última milha) tiveram uma queda de quase 40%. “Estão são as entregas realizadas em estabelecimentos comerciais como lojas de ruas e de shopping centers, supermercados etc. Já para as cargas tipo ‘Full Truck Load’ (ou completa) – que ocupam toda a capacidade de um veículo, nossa pesquisa aponta queda de 30%, demonstrando que também há uma desaceleração no comércio atacadista e em uma boa parte da indústria”, explica Carlos.
“Contudo, o agronegócio nos parece estar a todo vapor. Acredito que este percentual de queda deve aumentar nas próximas semanas quando teremos o reflexo de um período maior de dias nos quais a população consumidora tenha sofrido com as restrições de movimentação. Embora alimentos e produtos de higiene tendam a continuar sendo comercializados normalmente, podemos esperar uma queda em produtos considerados supérfluos, como eletrônicos e roupas, por exemplo”, finaliza.
Fonte : itforum365.com.br