No varejo, áreas de Novos Negócios e TI caminham lado a lado

Pandemia evidenciou necessidade de integração em favor do negócio.

Você está pronto para falar com a sua geladeira? A provocação, feita pelo especialista em Novos Negócios do Grupo Bittencourt, João Brito, não está no presente do indicativo por acaso. Se ainda não conversa com um eletrodoméstico, você provavelmente já faz isso com outros produtos, como smartphones, TVs e assistentes virtuais. As tecnologias mudaram a forma de os consumidores agirem não só na hora das compras, mas também em casa ou no carro, e a indústria e o varejo se desdobram para atender a esses clientes hiperconectados e ansiosos. As áreas de TI e Novos Negócios nunca precisaram caminhar tão juntas quanto agora, e assim devem continuar seguindo.

“O varejo em tempo real já é uma realidade. A tecnologia está disponível para gerar novas conexões e deve ser aproveitada”, diz João Brito. Líder de uma consultoria que já atendeu a empresas de segmentos dos mais diversos, como Leroy Merlin, Carrefour, Arezzo&Co e Dia, ele cita quatro tendências para o setor: a oferta de serviços, a personalização, o voice commerce (uso da voz para fazer compra on-line) e o live commerce (venda por meio de interação via streaming).

Os cases estão espalhados pelo mundo e podem ser vistos em movimentos como o da canadense Lululemon, que comprou no ano passado a startup americana Mirror, especializada em aulas e equipamentos de ginástica doméstica. A varejista de moda esportiva agora usa tecnologia para entrar na casa do cliente, garantir receita recorrente e fidelização. E não é preciso ir longe para ver que as tendências apontadas por Brito têm sido usadas na prática pelos clientes. Riachuelo, Dengo e Evino são exemplos nacionais de empresas que usam o live commerce para atender, engajar e criar relacionamentos mais íntimos com os consumidores.

“É preciso inovar com velocidade à luz da pandemia, que acelerou a adoção de novas tecnologias”, afirma a gerente-geral da Rimini Street para a América Latina, Edenize Maron. Atender ao cliente sem interação presencial ou toque, por exemplo, deixou de ser diferencial para ser obrigatório. “A mudança no comportamento do consumidor já vinha ocorrendo há muito tempo, mas a pandemia trouxe uma necessidade emergencial de capacitação das pessoas, funcionários e parceiros que atendem aos clientes finais para que as empresas fossem efetivas diante da dificuldade de se adquirir produtos e serviços”, destaca. A Rimini é uma fornecedora global de produtos e serviços de software corporativo, provedora de suporte independente para produtos Oracle e SAP, entre outros.

Ganho de eficiência operacional

Lançar mão de boas tecnologias, no entanto, requer investimento – o que nem sempre é possível em tempos de incertezas econômicas. A vantagem é que, bem-feito, o processo resulta em eficiência operacional. “A área de TI tem um papel importante na governança. Precisa, ao mesmo tempo, otimizar o legado, o custo do suporte e da operação do ERP [sistema integrado de gestão empresarial]”, cita Edenize.

Além da questão do custo, existe também o desafio cultural. A área de TI das empresas precisa, hoje, saber orquestrar o portfólio de novas tecnologias e sistemas para poder dar vazão ao que o negócio precisa. O papel do líder se torna, assim, ainda mais importante. Estar à frente da TI significa, atualmente, muito mais do que destinar orçamento para manter as “luzes acesas”. É preciso pensar, também, em alavancar o negócio.

“Quando você fala em transformação digital, não é só sobre tecnologia. É sobre como eu emprego, de uma maneira estruturada, lógica e correta, toda essa tecnologia com o melhor custo. Nós precisamos entender quais são os movimentos que precisamos entregar para a empresa para que tudo isso funcione da melhor forma possível”, explica o diretor de Tecnologia & Transformação Digital do Grupo DPaschoal, Osvaldo Keller Junior.

Keller Junior fala com propriedade – e paixão – sobre o tema. A tradicional rede de centros automotivos foi eleita, em 2020, uma das três mais inovadoras do varejo brasileiro pela IT Mídia. Ele mesmo, por mais de uma vez, já foi reconhecido como o CIO do ano. “O nosso diferencial não é a tecnologia, mas como eu vejo a aplicação dessa tecnologia no negócio e como ela vai alavancar o resultado e colaborar com todo o ecossistema”, sentencia.

Afinação na transformação digital

A diretora de Tecnologia da Iguatemi Empresa de Shopping Centers, Samantha Martins, reforça que, hoje, todos na empresa precisam estar afinados quando o tema é transformação digital. “A tecnologia está no dia a dia e as áreas de negócios das empresas amadureceram nesse sentido. Da mesma forma, a área de tecnologia evoluiu e a gente se reúne hoje para falar também de processos e projetos”, afirma.

Os ganhos de uma empresa de varejo cujas áreas de TI e Novos Negócios caminham juntas são vários e vão muito além de questões relacionadas a segurança da informação e arquitetura corporativa. “A área de TI quer que o negócio mude de patamar e faça rupturas. Nesse sentido, esse um ano e meio de pandemia foi crucial. Com o fechamento das empresas de varejo, essa proximidade permitiu que se criassem opções e se buscassem novos formatos. Ajudamos muitos lojistas a vender, viabilizando para eles a presença digital.”

Samantha diz que, além da colaboração entre as áreas, essa nova realidade requer que as empresas contem com parceiros mais próximos e flexíveis, que respondam rapidamente às mudanças de comportamento do consumidor.

Mas segundo João Brito, do Grupo Bittencourt, nem todas as empresas estão avançadas nesse quesito como a Iguatemi e a DPaschoal. “As empresas querem a integração do físico com o digital, ou phygital, mas nosso primeiro contato geralmente é com a área de Novos Negócios. Apenas no desenrolar do projeto é que a equipe de TI entra. As áreas precisam estar juntas para fazer a empresa crescer. Uma não consegue avançar sem a outra.”

 

Fonte : mercadoeconsumo.com.br

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A Experiência vai muito além da Satisfação

A jornada do cliente envolve diversos sentimentos. No Fórum Digital Consumidor Moderno, participantes compreenderam como mapeá-los.

Durante a maior parte da história, aquilo que compreendemos hoje como jornada do cliente foi totalmente linear: começava em uma determinada necessidade, passava por uma busca, pela compra, pelo uso e, eventualmente, por um feedback (positivo ou negativo). Essa experiência ficou no passado, devido à entrada da humanidade na era digital. O antigo funil de vendas foi substituído por um ciclo possivelmente infinito (a depender da capacidade de conquista de uma empresa, inclusive).

Nesse processo, o consumidor também se tornou mais informado e mais exigente, pois cresceu o acesso aos meios de comunicação – tanto com o mundo quanto com outros consumidores. Diante disso, passou a demandar uma jornada cada vez mais sem fricção e sem escalas. Não por acaso, foi esse o tema que introduziu o Fórum Digital Consumidor Moderno realizado com o apoio da Plusoft, empresa de Human Experience (HX).

Com a pandemia de Covid-19 e especialmente após o início das quarentenas ao redor do mundo – em março de 2020 –, o comportamento do cliente mudou ainda mais. O uso do digital, que já era intenso, tornou-se ainda mais constante. “No ambiente digital, o consumidor compartilha muitos dos sentimentos em relação a momentos da jornada como cliente – e as empresas podem capturar essas informações, inclusive respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”, comenta Bruno Alves, vice-presidente Marketing e Inovação da Plusoft.

Ainda assim, como pontua Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão, falhas acontecem – às vezes em momentos cruciais. Por exemplo, uma empresa deve saber que o consumidor cria muita expectativa ao aguardar uma confirmação de compra ou de cadastro por SMS. Desta forma, etapas como essa não podem falhar, mas isso ainda acontece. Mas como as empresas podem evitar tais decepções? Gisele Garuzzi, ouvidora da Seguradora Líder, pontua que é preciso que as empresas tenham seus painéis de acompanhamento das jornadas e de cada etapa. Caso contrário, não terão visibilidade de cada momento.

Por isso, o mapeamento da jornada do cliente não é uma tarefa que deve ser feita uma única vez, pois não é uma informação estática. Ela muda, inclusive quando canais são trocados. A cada momento, o consumidor começa sua relação com a empresa a partir de um ponto diferente.

OLHARES SOBRE A JORNADA

Nesse sentido, Meir pondera que existem diferentes sentimentos e valores que precisam ser levados em consideração ao investigar a opinião do cliente. Portanto, é preciso ir muito além das pesquisas de satisfação. Como pontua Alves, é indispensável compreender a causa raiz –“que é onde começa o problema do cliente”, define.

Ao longo do evento, executivos afirmam que, nas pesquisas de satisfação, os clientes que se manifestam, em geral, são aqueles que estão insatisfeitos – ou seja, não é uma amostra que é confiável para entender o sentimento geral na relação com a marca. E para entender o sentimento completo, inclusive daqueles que são fiéis à marca, Gisele sugere que é preciso conquistar a confiança do cliente.

“No Brasil, ainda estamos muito distantes da consciência de que é preciso se comunicar com a empresa – inclusive para reclamar. É algo cultural”, observa a executiva. “Devemos estimular, por meio de comunicação com o público, essa participação.” O mesmo vale para as pesquisas. “A jornada do cliente precisa ser pensada da empresa para fora, na sociedade como um todo”, conclui.

Fonte : digital.consumidormoderno.com.br

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